Foi hoje – enfim – divulgada a próxima temporada do Teatro Nacional de São Carlos. Contrariamente ao Paulo – cuja opinião muito estimo e prezo -, não embarco no entusiasmo. É certo que os ventos não sopram de feição – muito menos para as questões da cultura -, mas à parte um ou outro ponto de interesse, a coisa fica-se pela mediocridade.
Dir-me-ão que mantenho uma zanga inalterável com o TNSC, talvez com razão... Quem por lá passou nos derradeiros anos assistiu a uma vergonha sem paralelo, obra de uma gestão acéfala e pindérica. Em duas temporadas, apenas, conspurcou-se um notável trabalho de quase uma década.
Martin André terá sido corajoso em aceder a dirigir o São Carlos. Pessoalmente, nem a peso de ouro me tentariam... Mas quem sou eu?!
Destilado o veneno, vamos a factos, por ordem cronológica:
19 comentários:
João,
O meu entusiasmo é relativo. Tenho em conta as melhorias significativas (até prova em contrário) e uma ideia de programação, embora com os tostões contados. Convém não esquecer que se temeu que nem chegássemos a ter temporada e quase me surpreende que tenhamos uma com alguma dignidade.
Penso que teremos algumas coisas boas, mas Lisboa não é Nova Iorque.
Caro Paulo,
Claro que iremos assistir a coisas interessantes! Como bem te rexcordas, noutros tempos, Lisboa foi muito digna, nunca sendo NYC ;-) E basta recuar uns quinze anos!
Com a diferença que nessa época havia muito dinheiro e agora estamos na penúria.
Muito dinheiro? cof cof
Isso talvez há 20 e era uma ilusão de inflação a 15%!
Olá!
Percebo perfeitamente todas as reservas em relação à programação do Teatro. Mas eu só consigo pensar que ainda bem que há temporada... conheço pessoas que trabalham na Companhia, e é uma dor de alma ouvir a tristeza deles e o relato do mau que é o momento que estamos a atravessar em relação ao financiamento da cultura
... creio que para os artistas deve ser mesmo desesperante. Por isso, não consigo ser assim tão crítica, e espero sinceramente vir a gostar das produções do próximo ano. O que não quero pensar é que na ideia de ficarmos sem um teatro de Ópera...
Saudações e boa música!!!
My thoughts, Elsa.
Caro João,
Eu também acho que é bem melhor ter esta temporada do que não ter nada, ou ter aquilo com que fomos presenteados na época Dammann. Lisboa não é, de facto, NY e nem todos podem ir lá ou a outros locais disfrutar de alguns espectáculos.
A questão colocada pela Elsa, referente aos artistas nacionais, é também muito importante.
Vejamos o que nos vai ser oferecido. Se a qualidade for idêntica às das últimas duas óperas que vi no São Carlos, não nos podemos queixar, tendo em conta os condicionalismos actuais.
Cumprimentos.
A mim o que me desilude no TNSC é não apostar muito nos talentos portugueses e quando aposta, são sempre os mesmos e fazem 1 ou 2 récitas... Aposto que ficaria mais barato montar uma equipa de figurinos, encenação e interpretação portuguesa, em vez de contratar uma equipa estrangeira... é verdade que demoraria mais tempo a montar o espectáculo, mas começando a criar no ano anterior ao que é suposto apresentar, era uma coisa executável.
há vinte anos a minha professora fazia bastantes óperas tanto no São Carlos como no Coliseu do Porto, cá pela mão do Círculo Portuense de Ópera, que cada ano que passa está mais pobre e a pouca ajuda que tem é dos sócios e dos amigos do CPO... é certo que a parcela da cultura é ridiculamente pequena, mas acho que, com cabeça, dava para fazer coisas interessantes com artistas e criadores portugueses :)
Já chega de pedantismo não, senhor Dissoluto?
Haja vergonha e sentido de realidade!
Anónimo, quando colocar o seu nome por baixo, com propriedade, mandá-lo-ei à merda. Por ora, limito-me a mandá-lo bardamerda, com o devido respeito, claro :-)
(comentarios acima)
anónimo, depois dessa o melhor é mesmo enterrares-te num buraco .
bem fundo.
outro anónimo
Não concordo com algumas coisas que se disseram aqui, mas hoje tive uma experiência horrível com o TNSC que não posso deixar de partilhar. Recentemente (a semana passada) o TNSC realizou audições para reforços do seu coro. Sem nomear nomes nem responsabilidades, devo dizer que a uma pessoa conhecida minha foi-lhe comunicado na passada sexta-feira, por escrito, que tinha passado a referida audição. Hoje, passada uma semana inteira, essa pessoa recebe uma chamada onde um "responsável" do TNSC lhe comunica que houve "um lapso" e que o nome não era suposto estar na lista. Para quem está no campo das artes em Portugal, é fácil de perceber o quão devastadora uma notícia destas pode ser.
Pergunto: como é possível tamanha falta de profissionalismo? como é possível cometerem-se "lapsos" destes?
Acho isto uma falta de respeito inclassificável por parte do TNSC.
Anónimo,
Coisas próprias de um teatro periférico. Palavras para quê?!
Não aprecio aquela tendência própria do passar dos anos que nos faz olhar para o passado e dizer «no meu tempo…», como se tudo antes fossem rosas e agora só encontremos espinhos.
Porém, não posso deixar de lamentar o estado a que chegou o nosso único Teatro de Ópera, se bem que tenhamos de reconhecer que a actual direcção, nas presentes circunstâncias, faz o que pode com o pouco que tem.
Comecei a frequentar o TNSC há cerca de 33 anos (tenho 50).
Como exemplo, entre Abril de 1979 (chamada «Época da Primavera») e Junho de 1980, o TNSC apresentou:
Werther (Alfredo Kraus e Viorica Cortez);
Rigoletto (Renato Bruson, Alfredo Kraus e a nossa Bayan);
Trilogia das Barcas, do maestro Joly Braga Santos;
Lohengrin (William Johns, Jeannine Altemeyer e Leif Roar);
As bodas de Fígaro (Enrico Fissore, Teresa Zylis-Gara, Elsa Saque);
A Serrana;
Salomé (Rose Wagemann, Hermann Becht, Regine Resnik);
La Bohème (Franco Bonisolli, Elsa Saque);
Così fan tutte (Elena Mauti-Nunziata, Luigi Alva, Sesto Bruscantini);
Don Giovanni;
O cavaleiro da rosa (Teresa Zylis-Gara, Hans Sotin);
Aida (Mara Zampieri, Nicola Martinucci, Fiorenza Cossotto, Antonio Salvadori, Ivo Vinco);
A força do destino (Mara Zampieri, Nunzio Todisco, Giorgio Zancanaro, Nicola Ghiuselev);
Os pescadores de pérolas (Alfredo Kraus, Elsa Saque, Vicente Sardinero);
Wozzeck;
Acis e Galatea;
Parsifal (Peter Hofmann, Dunja Vejzovic, Leif Roar);
Os puritanos (com a nossos Bayan a Carlos Jorge);
O amor industrioso de João Sousa Carvalho.
Logo na temporada seguinte, foi a vez da reposição de O amor industrioso, seguindo-se:
Ariana en Naxos;
Lulu;
Macbeth (com o Renato Bruson);
O Morcego (com o Eberhard Waechter);
O Ouro de Reno (na produção de Wolf-Siegfried Wagner);
A Valquíria;
Aida (reposição, substituindo-se Fiorenza Cossotto por Stefania Tosziska que desempenhou, no mesmo ano, Amnéris numa produção da Ópera de São Francisco de que existe DVD no mercado);
Moisés;
Werther (de novo com Alfredo Kraus e agora com Liliane Bizineche);
Tosca (Rita Orlandi-Malaspina e Veriano Luchetti);
O Trovador (com a cigana paradigmática – Fiorenza Cossotto).
Houve de tudo: espectáculos excepcionais e outros nem tanto…
Mas será que o presente resiste à comparação?
Podemos comparar o tempo actual com o tempo em que, na chamada Temporada da Primavera, com apenas dois meses de duração, se apresentavam no TNSC: Simão Bocanegra (com Piero Cappuccilli e Mara Zampieri); a então muito recente CNB; Otelo (com Richard Cassily, Maria Oran, Thomas Stewart - por sinal, um excelente barítono wagneriano); A vingança da Cigana (de Leal Moreira) e a Voz Humana (de Francis Poulenc); os meninos cantores de Viena; Tosca
(em que estava prevista a vinda de Raina Kabaivanska que teve de ser substituída por uma cantora chamada Arlene Saunders); A camerata Académica de Salzburgo; Spinalba; D. Giovanni. Uma mini-temporada de dois meses que vale por uma temporada inteira actual (a descrita reporta-se a 1978).
Acham que a Matos pode fazer uma boa Elisabete?
Pelos videos disponiveis na net tenho algumas reservas. Falta-lhe doçura. Imagino-a a fazer uma boa Eboli, tal como a Violeta Urmana, mas nao creio que a Elisabete seja dos papeis que mais lhe convem.
Anónimo: De facto, impressionante essa temporada. Vejzovic e Hofmann no Fal Parsi, Sotin e Zylis-Gara no Cavaleiro da Rosa.
Estamos mesmo a anos-luz desses tempos.
Vítor,
Porque este povo não valoriza a cultura, a educação e a formação. Este povo AINDA não é totalmente CIVILIZADO.
Curto e grosso.
Ponto final.
all the Best.
LG
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