Três são as grandes virtudes desta L’Italiana in Argeli: Berganza, Corena e Alva.
Esta ópera de Rossini – eminentemente buffa – poderá ter duas leituras possíveis, a meu ver: de um lado, proclama o domínio da sagacidade e astúcia sobre a força bruta da opressão. A outro nível, as feministas poderão ver, na figura de Isabella, uma precursora dos movimentos de emancipação feminina (seja lá isso o que for!). Em paralelo, outras leituras histórico-políticas poderão ser feitas, desta mesma peça lírica, nomeadamente as subsidiárias do oitocentista europecentrismo magnânimo.
Seja qual for o prisma adoptado, unanimemente – creio – L’Italiana in Argeli é uma magnífica ópera buffa rossiniana, com todos os ingredientes característicos: humor a rodos, ritmo frenético e árias de grande agilidade, ajustadas à bravura própria dos (excepcionais) intérpretes belcantistas.
Berganza foi, porventura, uma das maiores rossinianas – e mozartianas – das décadas de 1960 e 1970. Depois, foi o que se sabe: mandou o primeiro marido às ortigas, arranjou outro e o fogo libidinoso tomou conta dela: incarnou a Carmen com tal brilho, encanto e graça que conquistou Edimburgo, na mítica protagonista da mesma ópera que estreou na capital escocesa!
Nunca mais a Carmen foi o que era…
Nesta magistral L’Italiana, Berganza é uma Isabella de sonho: de voz ágil e ousada, afirma-se teatralmente pela astúcia e malícia, que caminham de mãos dadas com uma graciosidade, sedução e engenho absolutamente inusitados! Protagonista dos pés à cabeça, Isabella leva a sua avante, triunfando sobre Mustafá, que ridiculariza magistralmente
Ladeia-a o superlativo Corena – um Leporello de antologia (nomeadamente em Furtwängler – DG -, em formato dvd), não é de mais sublinhar. Bruto, atontalhado e fanfarrão, Corena inunda o seu personagem de humor e pragmatismo. Um verdadeiro regalo.
Por fim, Alva – o mais brilhante tenor ligeiro da época – confere a Lindoro um lirismo particular. Lindoro é uma figura um tanto periférica à trama que, como se sabe, gira em torno de Isabella e Mustafá. Passiva, a criatura encontra-se à mercê da estratega italiana, cuja astúcia o liberta… Resta-lhe afirmar-se pela voz! E Alva fá-lo como nenhum outro concorrente – o pobre Lopardo, com Abbado, faz o que pode, mas falta-lhe o cristalino do peruano…
Por fim, uma palavra de gratidão à batuta de Varviso, feérica e animada, como se quer!
Um magnífico anti-depressivo!
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(5/5)
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