segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aida, ossia a Imperatriz

Há anos que procuro a Aïda da minha vida.

É certo que, no tocante a intérpretes da mesma ópera, encontro-me sobejamente satisfeito: L. Price e Caballé são a protagonista, Vickers, Bergonzi e Domingo incarnam o Radamés ideal e Cossoto (seguida, com assinalável distância, de Gorr e Simionato) materializa a Amnéris absoluta.

Continua a faltar-me a leitura definitiva, que alie vozes e interpretações de sonho a uma orquestra e coro divinamente dirigidos. É que a perfeição – caro e fiel leitor -, em ópera (de estúdio) pode muito bem existir (vide Don Giovanni, Tristan, Tosca, Parsifal e Le Nozze di Fígaro, apenas para citar as mais visíveis)!


A presente interpretação roça a perfeição, maioritariamente graças a Von Karajan & Filarmónica de Viena.

O maestro austríaco e a divina filarmónica desenham a melhor Aïda orquestral que alguma vez conheci: majestosa, dramática, de uma grandiosidade heróica, alternando com notável plasticidade os momentos de lirismo recatado – as árias da protagonista, nomeadamente, o dueto do último acto – com as cenas grandiosas – a marcha triunfal, por exemplo. A todo o instante, sente-se o controlo inabalável de Von Karajan, que dirige com mão de ferro, envolta em veludo.
Definitivamente, em matéria de direcção orquestral, a democracia é sinónimo de blasfémia!

Em relação aos solistas, Simionato é a que mais se evidencia, compondo uma Amnéris impressionante. Corroída pelo ciúme, move-se entre a sede de vingança e o desespero derradeiro, apoiando-se numa voz imponente. Bergonzi – que é um dos melhores Radamés de sempre – peca pela melancolia, que o invade, e Tebaldi, apesar da excelsa qualidade do spinto, banha a sua composição num oceano angelical, parco em libido. Aïda é uma fêmea, e quanto a isso não pode haver hesitações!


Bordejando a perfeição – por Von Karajan, acima de todos -, esta é uma das mais grandiosas Aïda.


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(4.5/5)

12 comentários:

J. Ildefonso. disse...

Poderá o abbado ao "vivo" com o Domingo, Arroyo, Cappuccilli, Cossoto, Ghiaurov e Roni ser a versão que procuras?

Raul disse...

Para ter a interpretação ideal é preciso que a gravação tenha a intérprete ideal: Leontyne Price. Aquando da sua estreia no Scala, a crítica milanesa disse que se Verdi fosse vivo, teria encontrado a sua Aida ideal. Como a direcção de orquestra, Solti, e o restantes intérpretes são muito bons, esta versão da Decca pode ser a ideal.
Além da interpretação que serve o conteúdo a este poster, a versão Emi com a Caballé e o seu famoso pianissimo no fim do Patria mia e acompanhada pelos ideais Domingo, Cossoto e Capucili é obrigatório conhecer.
Para quem quiser conhecer a Amneris perfeita tem de ouvir Ebe Stignani nas duas versões existentes no mercado. Ebe Stignani, Fiorenza Cossoto, que talves a iguale e como ela representa o supremo mezzo verdiano, e depois a Simionato correspondem a três gerações das melhores princesas do Egipto.

Hugo Santos disse...

É como diz, caro Raul. A Aida ideal acaba por emanar de uma amálgama de diferentes versões.

Raul disse...

Confirmando o que o caro Hugo diz, quem conhece a discografia da ópera, sabe que o dueto Aida-Amonasro não tem rival na versão Callas-Gobbi, embora esta não seja no seu conjunto a versão ideal. Por causa desta interpretação do dueto entre estes dois geniais cantores eu comprei o cd dos excertos.

Vítor disse...

A Aïda ideal, como qualquer interpretação "ideal", a existir, só a ouviríamos uma vez. É como a lendária primeira trip de heroína, que em vão se tenta repetir sem nunca conseguir chegar lá (e muitos morrem a tentá-lo).
Gostava muito de poder repetir a "interpretação ideal" da 8ª Sinfonia de Bruckner, por Giulini e a OFV, que ouvi certo dia e que nunca mais senti da mesma maneira.
Por falar em ideais: a mais teenager das nossas Salomés morreu ontem em Tóquio.

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Pois eu tenho a Aida intergral, com cALLAS, Gobbi e não a dispenso ;-)

Il Dissoluto Punito disse...

Vitor,

Who's she?

Vítor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vítor disse...

João:

Hildegard Behrens. Na gravação com Karajan, quando Narraboth acede a tirar o prsioneiro da cisterna, o "Ah" de Behrens é de uma menina a quem deixaram sair à noite pela primeira vez. A notícia diz que tinha 72 anos mas é mentira...

Hugo Santos disse...

É curioso o Raul mencionar a importância que confere ao dueto Aida-Amonasro, uma vez que o mesmo sucede comigo. Uma das minhas versões favoritas é a gravação com Callas e Taddei ao vivo, no México, em 1952. Não conheço ninguém que cante a linha "Mia figlia ti chiami!" como Giuseppe Taddei.

Raul disse...

Hugo, os quatro versos a seguir à maldição são interpretados de uma maneira genial por Maria Caniglia, que tem no todo uma interpretação por vezes muito censurada pela acidez da voz, mas eu, no entanto, gosto muito. É uma voz "muito ópera". Não sei se me entende ?

Moura Aveirense disse...

Comentário "off-topic": já viste o "trailer" do CD da Cecilia Bartoli que vai sair no Outono? ;) Podes vê-lo aqui !

Continuação de boas férias,

Moura Aveirense