sábado, 27 de junho de 2009

Vinho do Porto, ossia NUCCI!!!


Nucci lleva 42 años representando Rigoletto y en 433 ocasiones ha asumido ese papel. Demasiadas noches sobre su espalda para aceptar imposiciones de la directora de escena. Ésta le pidió que se quitase la joroba y no arrastrase la pierna para la representación. No se plegó a las exigencias, y triunfó. Ayer, la adrenalina seguía en su cuerpo. Nucci no pudo dormir. En su mente se agolpaban los rostros que han conformado el paisaje de sus 67 años de vida. Sus orígenes, hijo de minero muerto de silicosis; su trabajo de adolescente en la herrería familiar; sus estudios de canto pagados con esfuerzo y sacrificio, y los años viajando de teatro en teatro. Mientras hablaba, sus ojos grises humedecidos revelaban que la emoción seguía a flor de piel. "Esta profesión tiene muchas cosas maravillosas, entre otras que cada noche es diferente. Te ofrece la oportunidad de conocer a compañeros estupendos y enfrentarte a un público que es capaz de transmitir algo especial". El lunes sintió que en el ambiente del Real había una atmósfera distinta. "Nunca me suele ocurrir, pero justo antes de salir al escenario pedí las partituras. Había algo que me provocaba cierta zozobra y no sabía qué era. Salí a escena y me sentí reconfortado. Canté con una tranquilidad absoluta. Fue apoteósico". ¿Qué pensó? "Todavía ahora me cuesta digerirlo. No soy un divo, nunca lo he sido. Por eso ese tipo de cosas me siguen emocionando. Pensé en mi vida".

Defensor a ultranza de los compositores frente a los directores de escena, con los que ha mantenido más de una confrontación por su desconocimiento de la obra, Nucci sostiene que en la ópera "la dramaturgia está en la partitura, y cuando uno canta lo que debe hacer es leer lo que escribió el autor". No contento con explicar lo que quiere decir, realiza en prosa diferentes entonaciones para una misma frase. Ante la sorpresa de quien le escucha comienza a cantar un fragmento del dúo Sí, vendetta, tremenda vendetta. "Esto lo puedo hacer porque Verdi lo escribió. La ópera es un espectáculo loco, loco pero maravilloso. El más completo, pero el más loco. Si no está bien hecho y no se respeta la intención de su autor al final se crea otra cosa que también es espectáculo, aunque no ópera". Le ha gustado la puesta en escena de Michael Levine. "Es elegante y no me ha molestado para desempeñar mi trabajo". Leo Nucci, que hasta el lunes no había pisado la plataforma hidráulica por la que caminan los intérpretes de Rigoletto, se movió por el escenario sin problemas y con un dominio de la escena aplastante. "A lo largo de mi carrera me he encontrado con demasiados directores de escena que eran unos ignorantes de la obra que tenían intención de dirigir, y eso me parece insoportable". Confiesa que es meticuloso en su vida diaria, que tiene archivados documentos sobre las óperas que ha interpretado, programas de mano, notas de admiradores. Leo Nucci volverá a la arena de Verona este verano y después descansará. "En mi primer Rigoletto mi esposa estaba embarazada. En mi último soy abuelo de dos nietas. Ésa es la fuerza de mi personaje, la experiencia".Ha representado durante 42 años en 433 ocasiones el papel de Rigoletto»


(Nucci e Ciofi como Rigoletto e Gilda, respectivamente, Teatro Real - Madrid, Junho de 2009)

A questão do bis, em ópera, é da ordem do inusitado. Nunca presenciei nenhum.

Os derradeiros mais famosos e eloquentes foram protagonizados por Florez: primeiro no alla Scala e depois no Met, como Tonio (La Fille du Régiment), em ambos os casos.

Desta feita, Leo Nucci, famoso e ultra-sénior (com 67 anos) barítono italiano, bisa (juntamente com a magnífica Ciofi, sua conterrânea) o dueto Si vendetta, tremenda vendetta, de Rigoletto (Verdi), no Real, em Madrid.

O vídeo comprova o magnetismo e brilho de um momento histórico, singularíssimo. Levou-me às lágrimas.


Cada vez mais me convenço do seguinte: sempre que um artista lírico ultrapassa com pujança a barreira das cinquenta e cinco primaveras – mantendo-se em forma, com as devidas reservas -, é certo que triunfará até que a morte o leve – vide Rysanek, Kraus, Domingo, Gruberová e (agora) Nucci.

É que a vida lírica pode muito bem recomeçar aos 60 anos, caro leitor.


(Leo Nucci)

Já agora, fique o leitor a saber que Leo Nucci interpretará Rigoletto, na próxima temporada, no alla Scala. Por ora, Verona será o seu próximo porto de abrigo. E mais não digo, pois os bilhetes escasseiam!

18 comentários:

Vítor disse...

Vou comentar, sobretudo, para evitar que o seu corpo venha a ser encontrado junto à costa, ossia, afogado.
A interpretação é, de facto, fascinante e o abraço final entre as personagens é muito comovente. Mas, ai de mim!, as palmas no meio de uma ópera são sempre um turn off terrível. E um bis então...
Suzanne Langer escreveu sobre o trauma que sofreu em criança, quando, numa interpretação de Peter Pan, o público era convidado a bater palmas para ressuscitar a Fada Sininho. Para ela, a magia acabava ali. Deve ser uma questão de manter a "distância psíquica"...

Hugo Santos disse...

Caro Dissoluto,

o que lhe poderei dizer de Nucci? É o último da tradição baritonal italiana que conhecemos tal como corporizada por Gino Bechi, Tito Gobbi, Giuseppe Taddei, Paolo Silveri, Enzo Mascherini, Ugo Savarese, Mario Sereni, Piero Cappuccilli, Mario Zanasi, Licinio Montefusco, Dino Dondi, Giorgio Zancanaro, entre outros. Por esse facto, o seu estado vocal aos 67 anos é tanto mais de saudar.

Hugo Santos disse...

Acrescento ainda, por lapso, Sesto Bruscantini, Lorenzo Saccomani e Franco Bordoni.

blogger disse...

pronto, cá vai a minha mais humilde opinião, depois de visualizar este video umas quantas vezes.
sente-se a revolta e a raiva de Rigoletto, sente-se o poder arrebatador da interpretação, mas, perdoem-me, as palavras encavalitam-se. Não sei se me faço entender, mas é como se as palavras e o canto algumas vezes saisse algo repentino, pouco oleado. enfim, quanto à Gilda está muito bem mas quem me tira o agudo da soprano do final,por mais afinado que esteja, tira-me muita coisa. Desculpe João por não totalmente ao seu encontro :P

Anónimo disse...

Tenho estado quase impedido pela censura aos blogues de ter acesso a este. Mudei de site ( http://www.vtunnel.com )e pelo menos agora visualizo. Se posso enviar o meu comentário já veremos.
Tudo isto também para dizer que não consigo chegar ao video do Si, vendetta. Logicamente não posso nada dizer deste final que tanto o João elogia.
Sobre a voz do Nucci em geral, penso que nunca desaponta, mas nunca entusiasma muito. Penso também que por questões tímbricas há um pouco de monotonia na sua voz não se lhe diferenciando muito as personagens. A voz usa muito emissão um pouco anasalada o que nem sempre me satisfaz em pleno. É para mim um bom Rigoletto, mas não tem nada de genial, no entanto gosto de o ouvir na representação da Arena de Verona com a Inva Mula e o Aquiles Machado.
O melhor Si, Vendetta que conheço é o portagonizado pelo par Diskau-Scotto, magistralmente dirigidos pelo Kubelik.
Hugo Santos, e o Bastianini !!!
Raul

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

imperdoável este meu "senior moment". Como olvidar Bastianini!

Em relação ao Nucci, partilho da sua opinião. O anasalamento da voz, segundo me parece, tem origem na abordagem dos grandes papeis verdianos para barítono. Julgo tratar-se de uma tentativa de escurecer o timbre. No início da carreira, à parte um ou outro papel secundário para o seu tipo vocal (Schaunard na Bohème que, curiosamente, cantou em São Carlos em 1974), Nucci evidenciou-se, sobretudo, em Donizetti e no Figaro de Rossini.

blogger disse...

Raul:
"Sobre a voz do Nucci em geral, penso que nunca desaponta, mas nunca entusiasma muito. Penso também que por questões tímbricas há um pouco de monotonia na sua voz não se lhe diferenciando muito as personagens" - era exactamente isto que eu gostaria de ter dito! concordo consigo.
Quanto a Rigolettos eu gosto bastante dessa gravação com o dieskau-scotto dirigido pelo Kubelik, mas tambem gosto bastante da gravação milnes-sutherland.

Il Dissoluto Punito disse...

Meus caros,

Em ópera, a voz não é tudo! À parte as reservas quanto ao timbre de Nucci, convenhamos que o seu desempenho, como Rigolett, é extraordinário!

Quanto a outros históricos, acima de Dieskau / Scotto / Kubelik, coloco Gobbi / Callas. Ao lado da dita interpretação de Kubelik, coloco a de Giulini, com Cappuccili, Cotrubas e Domingo e a de Solti, com Moffo e Kraus.

Anónimo disse...

João,
Certo, o par Gobbi-Callas é inquestionável, mas o Kubelik faz o que o Serafim não consegue: fazer com que este dueto, de que eu gosto muito, não seja, como dizia o outro, uma peça de banda de coreto.
Para mim a voz da Gilda tem de possuir aquele "frisson" que a voz de um grande soprano ligeiro oferece, daí que nunca aprecie a interpretação da Cotrubas. Ouvir o Caro Nome cantado por uma Mimi ideal, eu não aprecio.
Sem querer parecer um teimosão Callas-Gobbi são ideais, mas Scotto-Diskau também o são. Além destes dois grandes Rigoletos, há um outro: Giuseppe Taddei. É claro que o Merril, o Milnes, o Bastianini, o MacNeil, ... são também grandes intérpretes.
Raul

Anónimo disse...

Acrescentando:
João,
Por isso mesmo, conforme diz: "em ópera a voz não é tudo" e a direcção do Kubelik, um dos maiores maestros do século XX, supera a do Serafim, esse mago da ópera. Nesse aspecto não posso esquecer que na versão Milnes/Cotrubas à frente da orquestra está um génio: Carlos Kleiber.
Raul

Hugo Santos disse...

Caro João,

referiu gravações a todos os títulos notáveis e que, talvez, definam o "corpus" discográfico do Rigoletto em CD.

Não gostaria de deixar passar em branco a referência a Giuseppe Taddei e ao seu célebre Rigoletto com o Ferruccio Tagliavini e a Lina Pagliughi. Além desta, tenho um outro Rigoletto seu gravado ao vivo em Marselha no ano de 1972 e em que a mestria continua lá toda.

Anónimo disse...

Errata:
Onde disse Milnes/Cotrubas queria dizer Cappuccilli/Cotrubas.
Raul

J. Ildefonso. disse...

Não tenho muito a acrescentar ao que já foi dito. Concordo com as referidas limitações vocais do Nucci mas acho que regra geral não desmerecem duma interpretação interessante e uma boa presstação cénica. Quem me dera a nós ter muitos assim! Acho que devemos ter também uma palavra de apreço pela Cioffi que no fundo é um caso semelhante ao do Nucci, uma voz limitadas mas que sabiamente governada pelo propietário atinge uma qualidade artistica muito elevado.

Anónimo disse...

Eu sou um grande apreciador da Ciofi, principalmente porque tem um timbre bonito e canta sem falha. Em palco é muito feminina e boa actriz. Em cd tenho-a numa ópera pouco representada, mas com a assinatura genial de Berlioz: Benvenutto Cellini. Também a tenho em dvd na Traviata e na Filha do Regimento, cantando muito bem, sem ser ofuscada pelos parceiros, que são do melhor.
Raul

J. Ildefonso. disse...

É a filha do Regimento com o Florez Raul?
Na Opera vem uma entrevista muito interessante com o Florez onde ele explica que está a voltar atrás em algumas decisões que tomou e que não cantará mais o Rigoletto, Gianni Schichi e que que abandonou o projecto de cantar o Guilherme Tell concentrando-se antes no reportório francês. Em breve cantará os Pescadores de Perolas e vai voltar a cantar o Orfeu e Euridice. Fala também do Kraus, Pavarotti e Domingo. Na entrevista emerge uma personalidade muito simpatica, lúcida e cheia de bom senso.

Anónimo disse...

Sim, é essa Filha de Regimento. Eu visionei as entrevistas, mas já não me lembro do que dizem nelas.
Dizer que já não volta a cantar a Gianni Schichi é óbvio, pois o papel não é para uma estrela, é um papel insignificante. É pena que tenha abandonado o projecto de cantar o Guilherme Tell. Eu tenho a versão Pavarotti/Milnes/Freni, que é um assombro.
Raul

J. Ildefonso. disse...

Eu também tenho a versão que o Raúl referiu. Tenho pena que a versão em francês com o Gedda seja com a Caballé que canta muito bem mas está muito mal preparada com um francês muito pessoal e dicção nebulosa. Pudera nesse ano gravou Turandot, Norma, Guilherme Tell tudo de seguida. O Guilherme Tell saiu prejudicado pela sua interpretação...

Raul disse...

REPETINDO O QUE ESCREVI NOUTRO COMENTÁRIO:
Finalmente ouvi!
Sinceramente, de histórico só o bis, porque o momento é normalíssimo. Intensidade dramática ? Boa, sem dúvida. Mas é o mínimo que se pode exigir nesta parte. Leo Nucci é com certeza um bom barítono e eu gostei deste Si, vendetta, mas peca das características que já referi: monotonia, nasalamento. Aqui é particularmente notável a monocordia do canto, sem a mínima subtileza. Repare-se na passagem para o Si, Vendetta, onde a voz já "não dá". Depois de ouvir há que voltar ao Gobbi, Taddei, Diskau ou Bastianini.
Parabéns à Ciofi. Muito bem, mesmo muito bem, embora sem a nota aguda final. Enfim, o público do Teatro Real entusiasma-se e contagia-se salutarmente. Claro que este bis é tipo La Donna Mobile.