(Hunger - ossia Fome -, de Steve McQueen)
Um retrato brutal, cru e desapaixonado, tendencialmente neutro, do conflito Ira vs British, tendo como protagonista Bobby Sands, a mais mediática figura a assumir uma greve de fome que, soi disant, visava a obtenção do estatuto de prisioneiros políticos para os membros do Ira encarcerados.
A interpretação assombrosa de Fassbender (Bobby Sands) constitui o mais sólido argumento deste filme.
Sands, no magistral diálogo com o padre, seu conhecido de há muito, a quem anuncia a iminência do protesto, revela as suas motivações mais profundas. Ou melhor: o padre – qual psi – confronta-o com o peso de um discurso latente, que o protagonista teima em ocultar.
É bem verdade que o móbil manifesto da radical reivindicação protagonizada por Sands se alicerça na obtenção de um estatuto de preso politico. Contudo, de antemão, Bobby sabia que a sua exigência jamais seria satisfeita pelo governo liderado pela Dama de Ferro. A luta do irlandês redundaria assim, inevitavelmente, na própria morte.
O gesto de Bobby Sands, muito além da prosaica leitura politica que se conhece, é a expressão de uma aspiração narcísica imensa: um magnânimo desejo de reconhecimento absoluto, respeito incondicional e veneração suprema, além da paradoxal aspiração imortal.
(mural de homenagem a Bobby Sands)
O padre sabe-o, tão bem quanto o activista. Perto do termo do derradeiro diálogo que mantêm, num gesto de sagacidade, o mesmo padre lança a pedra no charco: “O que queres, verdadeiramente, é ficar na história, como herói e mártir”.
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