(Joyce Didonato, mezzo-soprano)
O meu primeiro rendez-vous com Joyce Didonato deu-se em Paris, na Bastilha, em Julho de 2002. O pretexto foi um O Barbeiro de Sevilha medíocre, com uma Rosina pouco acima da mediania.
Erradamente – reconheço agora -, adivinhei-lhe uma carreira anónima.
Anos e anos volvidos sobre o dito encontro, Didonato regressa ao meu palco privado, a propósito de um registo handeliano superlativo.
Neste trabalho, Joyce Didonato revela uma técnica hercúlea, ousada e atrevida na coloratura, com uma respiração e folgo perfeitos: a agilidade atinge a insolência absoluta nas áreas de bravura (Serse, Teseo – Ira, sdegni, e furore… - Semele e Imeneo, por exemplo).
À técnica associa-se uma versatilidade teatral espantosa, particularmente feliz nas passagens recatadas e melancólicas, impregnadas de um lirismo pueril, quase etéreo – Ariodante desprendido e abandonado, Dejanira (Hercules) sofrida e sonhadora.
Intérprete de primeira água, a mezzo americana brilha pela disciplina, pelo travestismo arrojado e lirismo cristalino.
No meio de virtudes mil, apenas a falta de ousadia na escolha do repertório – árias repisadas e repisadas, por contraltos, contra-tenores e mezzos - macula o presente trabalho.
(Virgin Classics 50999 519038 2 4)
Indispensável!
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(5/5)
6 comentários:
Esta é o meu "mezzo" número um da actualidade. Não irei comprar o cd porque não me sinto muito atraído pelo conteúdo.
Raul,
Pois não sabe o que perde!
Eu tenho o c.d. de duetos de handel com a Cioffi e aconselho vivamente.
J. Ildefonso.
Na minha infância melómena, havia só lugar para Beethoven e a ópera italiana. Mozart veio mais tarde e Wagner entrou violentamente, passava eu pouco dos vinte anos e com ele veio logo Strauss. Surpreendentemente Malher entrou através de de uma cassete, que continha apenas o sublime Adagio da nona e que levei para Moçambique quando fiz lá a tropa em 74-75. Bach veio depois. Haendel cedo entrou, mas a sua ópera
começou a enfastiar-me um pouco. Tirando as árias tipo Ombra mai fu tudo me pareceu muito igual. Gosto mais das fúrias do Ah, Perfido de Beethoven ou do Ah, lo prevedi de Mozart e também das da Norma, Medea (de Meyr ou Cherubini) ou da Elettra do Idomeneu. Já fui ao Youtube ver o video da gravação, onde pude admirar a personalidade da Di Donato, mas mesmo assim e com todos os seus inteligentes argumentos não fiquei convencido.
Gosto mais do Haendel calmo do que Haendel furioso.
Mais ainda, João:
Não acho nada indicado levar uma pessoa furiosa para passar férias connosco!!! Coitado do Tiaguinho.
Veja lá no que se mete.
Raul,
Ah, ah!
O Tiago só gosta de ópera buffa - O Barbeiro, As Bodas -, eventualmente o Don Giovanni e A Flauta.
Não vai muito à bola com Fúrias ;-)
Um abraço
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