sábado, 11 de outubro de 2008

O casamento homossexual: e por que não?!



Com base num dos pressupostos essenciais da psicanálise – a existência de uma dimensão pré-consciente e consciente vs inconsciente (tributária de uma oposição entre manifesto, ossia aparente, vs latente, ossia profundo), procurarei reflectir sobre a controvérsia que envolve a possibilidade (ou eventualidade) do casamento homossexual.

É minha convicção existir uma estreita relação entre a homofobia e a fragilidade da orientação sexual do homofóbico; ou seja, maioritariamente, o receio e medo despertados pelo universo homo decorrem de uma orientação hetero insegura. Quanto mais insegura a dita orientação for, mais ortodoxa e radical será a expressão da intolerância e horror face ao sujeito que ama os que são iguais a si.

Prosaicamente, diria que, aquele que gosta, efectivamente, do diferente de si (hetero) não tem motivos para recear o indivíduo que aprecia o mesmo (homo).

Posto isto, creio que o ódio, intolerância e horror – expressões mais correntes, subsidiárias da homofobia - face aos homossexuais é animado e nutrido por um fantasma homossexual: reprimir os que gostam do mesmo permite-me manter à distancia o receio de também eu,
justamente, gostar do mesmo!

É como se tolerar e coexistir, tranquila e pacificamente, com o universo homo levantasse a possibilidade, ainda que remota, de o sujeito se diluir e – no limite - confundir com esse mesmo universo.



Evidentemente, este fantasma homossexual - que, como disse, sustenta a homofobia -, surge sob as mais diferentes expressões, ora mais, ora menos sofisticadas, como sejam, por exemplo, a identificação dos homo como alternativos, diferentes ou doentes, aberrantes e desviados.

Ora, quando a possibilidade de dois homossexuais contraírem matrimónio civil se vislumbra, uma vez mais, entra em jogo a dinâmica que acima explicitei: para lá do discurso legítimo, mas defensivo – de pendor sociológico, antropológico e jurídico –, que visa impedir a união de dois homossexuais pelo casamento, creio existir, mais uma vez, um fantasma homossexual. O casamento será, para muitos, a prova material de uma heterossexualidade inequívoca – e todos conhecemos a função social do casamento de fachada que, nomeadamente, oculta as orientações sexuais dúbias dos esposos!

Pois bem, a eventualidade de a instituição (!?) casamento civil se estender aos que abraçam a orientação homo, junto dos hetero de duvidosa segurança, desencadeia medo, receio e horror. Do meu ponto de vista, os sentimentos hostis que emergem serão a expressão de uma perda da prova derradeira da identidade heterossexual, a que se junta o medo da diluição: o casamento não mais distingue os straight!



Para que conste, sou casado há anos. Jamais senti que o espectro do casamento homossexual abalasse o meu casamento! E você?

Para terminar, lanço uma interrogação singela: e por que não hão-de os homossexuais ter o direito ao casamento? E por que não!?

24 comentários:

Paulo disse...

Podíamos colocar essa questão a alguns grupos parlamentares, se não soubéssemos de antemão que não valeria a pena ficarmos à espera da resposta.

Anónimo disse...

Caro João, tenho uma pergunta a fazer-lhe. Há um conhecido meu que é membro activo de um partido politico que até agora tem condenado publicamente o casamento homossexual. nao quero estar aqui a confiar em rumores e suposiçoes, mas partindo de que a fonte é realista, Diz-me esse meu conhecido que nas respectivas reunioes políticas do partido, a grande maioria das pessoas partilha do interesse por pessoas do mesmo sexo. ora, para alem do evidente receio que os outros descubram, o que pode levar uma grande quantidade de pessoas a condenarem algo que no fundo aprovariam?

Il Dissoluto Punito disse...

Caro Daniel,

Esse partido tem como líder um conhecido homossexual.
A razão da hipocrisia? Além do receio da segregação - que existe, sabêmo-lo -, decorre do que se designa por homossexualidade egodistónia - a que suscita conflito e gera sofrimento. No fundo, no fundo, são poucos os homossexuais que o são sem sofrimento! Basta ver os que se revelam como tal: uma imensa minoria.

Anónimo disse...

muito obrigado joão.

Anónimo disse...

A mim dá-me igual.
Não percebo porque é que os gays poderão querer copiar um modelo que é heterosexual em vez de criar algo diferente mais adaptado à sua realidade. O que é certo é que seria justo usufruirem das mesmas regalias legais, sociais e economicas dos casais heterosexuais. Mas se alguém se quiser casar com outro individuo do mesmo sexo acredito que o deverá poder fazer.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Casar-se, não; unir-se ou juntar-se, sim. Legalizar a sua situação, sim. Adoptar crianças, nunca em tempo algum.

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Curto e grosso... Sem papas na língua!
Não concordo com tudo, mas aprecio a frontalidade ;-)

Paulo disse...

Parece-me que o que está em causa não é copiar um modelo heterossexual, mas sim ter o direito a ter acesso a esse modelo, que é o existente, como todos os outros cidadãos desta república.
Se se assume na nossa Constituição que ninguém será discriminado por motivos religiosos, étnicos ou de orientação sexual, continuamos a verificar, na prática, que um casal homossexual não acede às mesmas regalias sociais que os casais heterossexuais, incluindo o direito à adopção. E todos sabemos que há crianças que vivem com casais homossexuais e são muito felizes (por exemplo depois da separação dos pais, sendo um dos progenitores homossexual), nada obrigando a que elas também venham a sê-lo. Este talvez seja o medo de muita gente, embora facilmente se possa provar que os homossexuais, na esmagadora maioria, são filhos de pais heterossexuais e foram educados por eles.
Por outro lado, quantas serão as crianças que sofrem nas mãos de pais bárbaros ou de famílias disfuncionais, embora straight, que as adoptaram?

Il Dissoluto Punito disse...

Paulo,

Como tu, alinho pela heterodoxia. E por que não?

Anónimo disse...

Paulo,
Nas minhas curtas palavras estou em muitos aspectos de acordo consigo. O desacordo é no usar a palavra casamento, o tal "modelo heterossexual" e a adopção de uma criança. O caso de um pai e de uma mãe que se separam para viver com alguém do mesmo sexo e levam o seu filho é completamente diferente. Estão no seu direito. Mas entregar deliberadamente a educação de uma criança a uma ligação que não é o modelo funcional e genético para se constituir uma família, é um acto de egoísmo e de irresponbilidade, na medida em que condiciona o comportamento normal da criança.

Anónimo disse...

Uma ex-colega de faculdade Psicologa Infantil investiga o campo e garante que as crianças criadas por casais homosexuais não apresentam mais patologia. Acredito nela porque estudámos juntos durante anos e é uma pessoa honesta, inteligente e absolutamente brilhante e além do mais desinteresada do ponto de vista pessoal relativamente ao tema pois é heterosexual, casada e mãe dum lindo menino.

J. Ildefonso

Anónimo disse...

Uma ex-colega de faculdade Psicologa Infantil investiga o campo e garante que as crianças criadas por casais homosexuais não apresentam mais patologia. Acredito nela porque estudámos juntos durante anos e é uma pessoa honesta, inteligente e absolutamente brilhante e além do mais desinteresada do ponto de vista pessoal relativamente ao tema pois é heterosexual, casada e mãe dum lindo menino.

J. Ildefonso

Anónimo disse...

João, por não publicou o meu comentário, se foi escrito anteriormente aos que publiquei no poster mais recente ?

Paulo disse...

Caro Raul, permita-me discordar mais uma vez. Não sei o que entende por comportamento normal de uma criança mas, para mim, o que pode constituir um grande obstáculo ao desenvolvimento e comportamento normal de uma criança é ela viver com uma família que se "desama".

J. Ildefonso, não entendi o detalhe da "patologia".

Anónimo disse...

Eu acredito na honestidade da amiga do João Ildefonso e vergo-me perante a Ciência, mas esse assunto terá de ser mais publicitado por outros para que se assuma como uma conclusão.
A propósito:
Há uns 15 anos estava eu onde me encontro agora, em Pequim, e veio cá um primo meu, que na altura era o presidente da Sociedade de Andrologia, fazer uma conferência sobre infertilidade masculina. Eu, como primo e "da terra" fui assistir à conferência. Como fiquei fazendo-lhe companhia acabei por assistir a duas conferências, uma delas muito curiosa. Um médico indonésio provava, ao que parece cientificamente, que se considerarmos um grau de prazer nas relações sexuais, os valores eram superiores numa relação homossexual do que numa heterossexual. Se o meu inglês não me traiu, pois ele tinha uma pronúncia arrevezada e o tema usava uma certa linguagem científica, foi isso que ouvi. Nisto como em tudo há que dar sempre a primazia à palavra da Ciência. Eu penso assim.

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Que comentário não publiquei???

Anónimo disse...

Publicou todos. Mas o segundo neste poster, foi produzido antes dos dois do poster mais recente. Como, quando abri o computador, estes dois últimos já estavam e o deste poster não, daí a minha pergunta. Só por isto.
Um grande abraço e desculpe.

Anónimo disse...

Sim, Paulo, nada pior que o uma criança não amada, e horror dos horrores , de uma criança mal tratada. Não há perdão. Certamente que é preferível entregar uma criança nestas condições a um casal homossexual que a ame, mas a perioridade deve ser dada a um casal heterossexual, onde a criança será criada por um homem e uma mulher, dois seres que se complementam, que produzem tipos de carinhos diferentes, que estão de acordo com o imaginário que a criança encontra no mundo fora de casa. O amor produzido por uma mãe, por exemplo, é insubstituível.

Anónimo disse...

prioridade e não perioridade

Anónimo disse...

Patologia no sentido de patologia psiquica.
Segundo a investigação em questão as crianças criadas por casais homosexuais não apresentam mais patologia do que as crianças criadas por casais heterosexuais. Isto numa valiação até aos 9 anos de idade.


J. Ildefonso.

Paulo disse...

Um agradecimento ao Raul e ao J. Ildefonso pelos esclarecimentos de ideias.

Obrigado a ti também, João, por teres proporcionado este fórum.

João Silveira disse...

Caro dissoluto,

no seu post diz "é minha convicção" e "creio". Esta teoria está comprovada, se sim, e já que não apresenta fontes, em que estudo se baseia? Se não, é uma teoria que está a desenvolver? Até agora parece-me uma crença, um wishful thinking, e portanto bem longe da realidade.

Já agora, considera que alguém que é contra o casamento homossexual é homofobico? E por consequência é inseguro, e tem medo de ser homossexual.

Por ex., eu sou contra o casamento entre irmãos (de sangue). E tal como eu, julgo que a grande maioria da população. Andarão todos com medo de estar apaixonados pelas respectivas irmãs? Espero que Freud explique.

Desde já obrigado, e um abraço

Il Dissoluto Punito disse...

Caro João,

Não se trata de crenças, antes de constatações clínicas, que qualquer psicanalista comprova no seu dia-a-dia profissional.

Literatura sobre o assunto, não falta! Mas, de momento, não me ocorre nenhuma referência...

Evidentemente, os que desaprovam o casamento homossexual não têm de ser homossexuais reprimidos!!! Trata-se de uma interpretação sua...

Quanto à analogia que estabelece com a ABERRAÇÃO das ligações incestuosas... nada se me oferece dizer, além do carácter aberrante - sublinho! - das mesmas.

Outro abraço para si, caro!
Volte sempre!

Santiago Chiva, Granada disse...

O casamento homossexual vai afetar a nossas famílias. Os fatos demonstram que tudo muda quando o casamento homossexual é legal. Se é legalizado, deve ser ensinado como normal, aceitável e moral, em cada escola pública.
Nas primeiras escolas públicas, inclusive em Infantil, devem ensinar a seus filhos a aceitar que o casamento homossexual é mais uma opção moral. E isto confunde as crianças. Isso já aconteceu em Massachusetts
O testimônio da família Parker comoveu a sociedade americana donde todos os referendos ratificam que o casamento é algo entre homem e mulher: “Solicitamos à escola que nos avisassem quando fossem tratar esses temas para termos a opção de que nosso filho não assistisse a este doutrinamento. Os professores, ao negar a opção de eximir ao nosso filho de assistir essas aulas estavam imiscuindo-se em nosso direito a formá-lo.”
Parker foi a juízo e perdeu. A sentença deu razão ao Estado. Ao ser legal o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, grupos gay poderiam impartir oficinas de sexualidade a crianças de 5 anos sem permissão dos pais.
Você pode ver neste vídeo: http://es.youtube.com/watch?v=CGPUeeAphEE

Recomendo também esta a outro vídeo que também legendados em português, que explica que uma criança também é uma dádiva: http://es.youtube.com/watch?v=pJtlrYmZe6Y

Santiago Chiva, Granada, Espanha