Tenho a Favorita. Para mim tem um interesse muito especial, pois os três principais, que vão perfeitamente, eram visitas assíduas de Portugal nos anos sessenta e setenta e vi-os muitas vezes. Mas a revelação para mim é a interpretação do jovem Ruggero Raimondi: uma voz perfeita de baixo, linda e cheia de graves. Pergunto para onde é que ele atirou aquela voz ?
Também tenho o Trovador, que também nesse mesmo ano (1977) dois dos intérpretes, a Cossoto e o Cappucilli, vieram a Portugal, tendo-os visto da primeira fila da plateia do São Carlos. No CD há o Domingo que canta um Ah, ben mio sem rival em toda a discografia. Cappucilli e Cossoto esmagam. Portugal irá ter a Zampieri talvez na sua melhor interpretação em Portugal. Eu fui ver novamente a representação ao Coliseu e aí na ária D'amore sull'alle rose a cantora deixou o público em estado de choque.
Estou cheio de inveja, caro Raul. Essa récita do Coliseu é famosa pela interpretação da Zampieri da ária do quarto acto. No seu livro "Amar não Acaba", Frederico Lourenço faz uma belíssima descrição desse momento. Eu tenho o "D'amor sull'alli rosee" da Zampieri mas de uma das récitas do São Carlos. Quanto a algumas das aquisições do nosso Dissoluto:
LA FAVORITA: Todos em grande nível. No entanto, para uma Leonora vocalmente superlativa da Cossotto, ouça-se o registo também com Kraus e Bruscantini ao vivo no Colon de Buenos Aires em 1967.
IL TROVATORE: Numa ópera em que, na minha opinião, não existe uma versão definitiva quer áudio quer vídeo, este registo está, sem dúvida, no topo da lista. O "Ah si ben mio" do Domingo é uma pérola, a Kabaivanska, pese aquele vibrato eslavo tão característico, é sempre uma intérprete de eleição, sobretudo em termos dramáticos. Quanto à Cossotto e ao Cappuccilli, não há muito mais a dizer, já tudo foi dito. A Cossotto é a minha Azucena e Amneris.
IL TABARRO: um registo histórico com o Schicchi inultrapassável de Gobbi, numa gravação onde se respira teatro.
SALOME: não tenho este registo de 1990, mas possuo o de Covent Garden onde Malfitano, apesar das limitações vocais, compõe uma Salome assombrosa, ao nível da Studer na gravação com Sinopoli. Isto só para falar de interpretações mais recentes.
Também tenho a Salomé. Já não a revejo há muito tempo. Na dança dos sete véus a Malfitano faz um nú integral. Tirando esse aspecto o que torna esta representação uma curiosidade é a Herodias da Ryzanek.
Eu apenas tenho a Fille du Regiment e achei bastante engraçada esta produçao. Confesso que nunca tinha visto ou ouvido esta opera,salvo alguns excertos no youtube, pelo que nao posso fazer comparaçoes, embora ja me tenham dito algumas maravilhas da Sutherland neste papel. Achei a Dessay muito a vontade, dando uma energia muito propria à personagem. tambem apreciei muito o Florez, num papel com o qual se sente cada vez mais a vontade. Gostei bastante e recomendo vivamente.
Caro Hugo, Conhece a gravação da Cossoto em estúdio? Muito boa e muito bem acompanhada pelo Pavarotti, Becquier e Ghiaurov. O meu top no Trovador é a versão: Mheta:Domingo,Price,Milnes,Cossoto, Giaiotti. Considero esta gravação uma das melhores que se fizeram em todo o domínio da ópera italiana. Não tenho este Il Tabarro, mas não é difícil imaginar a genialidade do Gobbi. Eu tenho um dvd do Met que vale pela presença cénica da Teresa Stratas, para além do CD da Decca (Merril, Tebaldi, del Monaco). Mas a ópera, sem ser banal, podia ser melhor.
Caro Daniel, As versões da Sutherland (DVD e DC) são vocalmente insuperáveis. Na versão CD ao vivo, que eu tenho, a Regine Resnik na Marquesa é de uma grande comicidade, como é seu apanágio. O problema da Sutherland no dvd é que fisicamente não pode competir com a Dessay ou a Ciofi, embora não represente nada mal.
A versão de estúdio da Cossotto é, de facto, de grande nível. No entanto, ouça-se o tal registo do Colon de Buenos Aires. Vale imenso a pena. A versão de Mehta do Trovador é a mais referida e com razão. O drama é todo ele muito vivo, as vozes são de qualidade inquestionável e o maestro capta muito bem a essência da partitura de Verdi. Eu tenho uma gravação de um Trovador de 1971 no MET com Tucker, Arroyo, Verrett e Sereni, em que um dos destaques é inquestionavelmente a direcção do Zubin Mehta. No entanto, não posso deixar de acompanhar o João Indefonso no que à versão de Serafin diz respeito. Seguramente um dos melhores registos do Trovador em disco.
Conheço bem a versão em referência e acho-a excelente, porém, tem na competição pelo top, para mim, o seguinte: A direcção de orquestra é a mais rotineira das melhores; a Stella está muito aquém da Price ou da Callas; a Cossoto está ainda em processo de amadurecimento da sua inolvidável Azucena; o Bergonzi tem tudo, mas não tem a zona aguda do Corelli ou do Domingo, para mim o Manrico ideal.
14 comentários:
O caríssimo João trata-se muitíssimo bem!
Apesar de algumas preciosidades, muitas delas existem em Lisboa.
Mas, de qualquer modo, excelentes escolhas.
Tenho a Favorita. Para mim tem um interesse muito especial, pois os três principais, que vão perfeitamente, eram visitas assíduas de Portugal nos anos sessenta e setenta e vi-os muitas vezes. Mas a revelação para mim é a interpretação do jovem Ruggero Raimondi: uma voz perfeita de baixo, linda e cheia de graves. Pergunto para onde é que ele atirou aquela voz ?
Também tenho o Trovador, que também nesse mesmo ano (1977) dois dos intérpretes, a Cossoto e o Cappucilli, vieram a Portugal, tendo-os visto da primeira fila da plateia do São Carlos. No CD há o Domingo que canta um Ah, ben mio sem rival em toda a discografia. Cappucilli e Cossoto esmagam. Portugal irá ter a Zampieri talvez na sua melhor interpretação em Portugal. Eu fui ver novamente a representação ao Coliseu e aí na ária D'amore sull'alle rose a cantora deixou o público em estado de choque.
Estou cheio de inveja, caro Raul. Essa récita do Coliseu é famosa pela interpretação da Zampieri da ária do quarto acto. No seu livro "Amar não Acaba", Frederico Lourenço faz uma belíssima descrição desse momento. Eu tenho o "D'amor sull'alli rosee" da Zampieri mas de uma das récitas do São Carlos. Quanto a algumas das aquisições do nosso Dissoluto:
LA FAVORITA: Todos em grande nível. No entanto, para uma Leonora vocalmente superlativa da Cossotto, ouça-se o registo também com Kraus e Bruscantini ao vivo no Colon de Buenos Aires em 1967.
IL TROVATORE: Numa ópera em que, na minha opinião, não existe uma versão definitiva quer áudio quer vídeo, este registo está, sem dúvida, no topo da lista. O "Ah si ben mio" do Domingo é uma pérola, a Kabaivanska, pese aquele vibrato eslavo tão característico, é sempre uma intérprete de eleição, sobretudo em termos dramáticos. Quanto à Cossotto e ao Cappuccilli, não há muito mais a dizer, já tudo foi dito. A Cossotto é a minha Azucena e Amneris.
IL TABARRO: um registo histórico com o Schicchi inultrapassável de Gobbi, numa gravação onde se respira teatro.
SALOME: não tenho este registo de 1990, mas possuo o de Covent Garden onde Malfitano, apesar das limitações vocais, compõe uma Salome assombrosa, ao nível da Studer na gravação com Sinopoli. Isto só para falar de interpretações mais recentes.
Também tenho a Salomé. Já não a revejo há muito tempo. Na dança dos sete véus a Malfitano faz um nú integral. Tirando esse aspecto o que torna esta representação uma curiosidade é a Herodias da Ryzanek.
Eu apenas tenho a Fille du Regiment e achei bastante engraçada esta produçao. Confesso que nunca tinha visto ou ouvido esta opera,salvo alguns excertos no youtube, pelo que nao posso fazer comparaçoes, embora ja me tenham dito algumas maravilhas da Sutherland neste papel. Achei a Dessay muito a vontade, dando uma energia muito propria à personagem. tambem apreciei muito o Florez, num papel com o qual se sente cada vez mais a vontade. Gostei bastante e recomendo vivamente.
Caro Hugo
Concordo que não há um "Trovador" definitivo, mas...
Que tal Domingo, Cossotto, Kabaiwanska e Cappuccilli?
Corelli, Price, Bastianini e Simionato?
Bergonzi, Stella, Cossotto e Bastianini?
Um abraço.
Caro Hugo,
Conhece a gravação da Cossoto em estúdio? Muito boa e muito bem acompanhada pelo Pavarotti, Becquier e Ghiaurov. O meu top no Trovador é a versão: Mheta:Domingo,Price,Milnes,Cossoto, Giaiotti.
Considero esta gravação uma das melhores que se fizeram em todo o domínio da ópera italiana.
Não tenho este Il Tabarro, mas não é difícil imaginar a genialidade do Gobbi. Eu tenho um dvd do Met que vale pela presença cénica da Teresa Stratas, para além do CD da Decca (Merril, Tebaldi, del Monaco). Mas a ópera, sem ser banal, podia ser melhor.
Caro Daniel,
As versões da Sutherland (DVD e DC) são vocalmente insuperáveis. Na versão CD ao vivo, que eu tenho, a Regine Resnik na Marquesa é de uma grande comicidade, como é seu apanágio. O problema da Sutherland no dvd é que fisicamente não pode competir com a Dessay ou a Ciofi, embora não represente nada mal.
É pouco referido mas o Bergonzi/Stella/Cossoto/Bastianini aproxima-se bastante duma versão definitiva.
J. Ildefonso.
Pois é, caro José. A única forma é ir coleccionando esses elencos fantásticos. A versão do Serafin parece-me a mais bem dirigida delas todas.
A versão de estúdio da Cossotto é, de facto, de grande nível. No entanto, ouça-se o tal registo do Colon de Buenos Aires. Vale imenso a pena. A versão de Mehta do Trovador é a mais referida e com razão. O drama é todo ele muito vivo, as vozes são de qualidade inquestionável e o maestro capta muito bem a essência da partitura de Verdi. Eu tenho uma gravação de um Trovador de 1971 no MET com Tucker, Arroyo, Verrett e Sereni, em que um dos destaques é inquestionavelmente a direcção do Zubin Mehta. No entanto, não posso deixar de acompanhar o João Indefonso no que à versão de Serafin diz respeito. Seguramente um dos melhores registos do Trovador em disco.
Conheço bem a versão em referência e acho-a excelente, porém, tem na competição pelo top, para mim, o seguinte:
A direcção de orquestra é a mais rotineira das melhores; a Stella está muito aquém da Price ou da Callas; a Cossoto está ainda em processo de amadurecimento da sua inolvidável Azucena; o Bergonzi tem tudo, mas não tem a zona aguda do Corelli ou do Domingo, para mim o Manrico ideal.
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