sábado, 19 de julho de 2008

Erwin Schrott


(DECCA 478 0473 4)

Muitas serão as virtudes de Erwin Schrott, (relativamente) jovem baixo-barítono uruguaio, que viu a luz, pela primeira vez, algures no ano de 1972 – um ano após o nascimento deste vosso escriba.

Há um par de anos, em Florença, vi-o numa dispensável récita de I Lombardi, com Theodossiou e Ramon Vargas nos papeis titulares. Schrott, à época, deu que falar, pela envergadura da sua interpretação. Em récita de cegos...

A voz é robusta e expressiva, o físico cuidado. Nos tempos que correm, também os homens se querem belos e bem tratados. Schrott sabe-o bem: interpretar o protagonista de Don Giovanni não é para qualquer um!

Desde os anos 1950 que os intérpretes respeitam tal exigência. Com algumas excepções, todos os grandes Don’s do pós-guerra tinham boa figura. Neste capítulo, G. London e R. Raiomondi são a indesmentível excepção! Siepi, Ghiaurov, Wächter, Allen, Hampson, Keenlyside, e o próprio Terfel, quando quer, brilhavam, para além dos dotes líricos, teatrais e expressivos.

Pois bem, no que me diz respeito, invejo o barítono uruguaio, acima de tudo, por ter sido o eleito do coração de Netrebko, cuja beleza apenas é ofuscada pelo talento – cénico, não discográfico, sublinho!

A sua união a Anna Netrebko será um fait divers. Pessoalmente, intuo uma bela ligação, extensível às artes performativas.

Vem esta prosa a respeito do primeiro registo a solo de Erwin Schrott, que estará à venda brevemente. Os mais ansiosos poderão adquiri-lo on-line, por exemplo via iTunes.

Entretanto, poderão ser escutados excertos (promissores...) do registo, na página pessoal do intérprete.


(Schrott na pele de Don Giovanni, da ópera homónima)

11 comentários:

Anónimo disse...

Mio Caro Dissoluto,
Mas os I Lombardi não têm papel pricipal para barítono! Que eu saiba é um soprano, um baixo e dois tenores. A versão francesa (Gerusalleme?)tem lá se não me engano um chefe cruzado barítono, mas não canta muito e quando canta é mais em conjunto.
Será que eu estou a fazer uma grande confusão ?
Raul

Anónimo disse...

Eu outra vez:
Fui ouvir a voz do galã e ele é um baixo e não um barítono,o que faz todo o sentido numa récita de I Lombardi. Sendo assim, para além do Don Giovanni pode cantar com a mulher a Sonâmbula, Os Puritanos e o Elixir.
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Pois, o homem é um baixo-barítono! Estamos de acordo ;-)

Hugo Santos disse...

O papel de Pagano em I Lombardi tanto pode ser cantado por um baixo como por um barítono, embora funcione melhor com um intérprete com uma voz mais grave. Ruggero Raimondi, Nicolai Ghiuselev, Samuel Ramey, Paul Plisha, no primeiro caso, e Silvano Carroli, no segundo, são alguns exemplos. Em Jerusalem, volta-se a verificar a mesma situação. O equivalente a Pagano, Roger, pode ser cantado por qualquer uma das duas vozes. Exemplos: Giangiacomo Guelfi, Siegmund Nimsgern, Ruggero Raimondi, Roberto Scandiuzzi. O papel de secundário de barítono de a que o caríssimo Raul se refere é o do Conde de Toulouse, chefe dos cruzados, e pai da protagonista, Hélène.

José Quintela Soares disse...

Exactamente, Hugo.

Anónimo disse...

Caríssimo Hugo,
Por barítono não sei, embora o Silvano Carroli (eu tenho o dvd do Carreras-Dimitrova) o seja. A voz sobe à tessitura do barítono, mas como é tão escura, e para mim um pouco feiosa, lá "disfarça"o baixo. Na versão dvd de Jerusalem o Pagano, Carlo Colombara, (eu tenho o dvd) a voz é mais de um baixo-barítono e é excelente. O meu cd dos Lombardos é com o Ruggero Raimondi e é também excelente. Na era do LP possuí uma gravação da Cetra, que foi é a mais antiga da ópera. O baixo era o Mario Petri, que gravou muito para esta editora.
Nos finais dos anos oitenta, se não me engano, os Lombardos foram cantados em Lisboa com o Bergonzi.
RAUL

Hugo Santos disse...

Em primeiro lugar, cumprimentos ao amicíssimo José Quintela Soares.

Ao caríssimo Raul,
tirou-me as palavras da boca em relação ao Silvano Carroli nesses Lombardos do Scala. Dir-se-ia um "mind reader"? De facto, o São Carlos produziu I Lombardi em 1987 com o Carlo Bergonzi, a Silvia Mosca e o Michele Pertusi, este último no papel de Pagano. O próprio Mario Petri, a que se referiu, acabou a carreira como barítono. Tenho-o em I Masnadieri (RAI, 1971) no papel de Francesco, mas o resultado é algo estranho.

Anónimo disse...

Caríssimo Hugo,
Eu tenho um Live da Arena de Verona (1991), promovido pela Carreras em apoio aos doentes de leucemia, onde o Carroli canta o Credo do Otelo com os mesmos defeitos que lhe reconhecemos.
Eu infelizmente não pude ver o Bergonzi em 87, pois tinha saído de Portugal no ano anterior. Na Gala em honra do Levine ele canta magistralmente já bem perto dos 70 o terceto que antecede a morte de Oronte, a parte mais célebre da ópera, na companhia da June Anderson e outro de que não me lembro.
Mario Petri gravou para a Cetra o Don Giovanni, mas também o Guilherme Tell, o Simao Bocanegra. Destes tenho a certeza, mas gravou mais. Era um excelente cantor, como muitos italianos no pós-guerra.
RAUL

Anónimo disse...

Ainda outra coisa:
Não sabia que havia esse I Masnadieri. Eu tenho o da Philips com o Cappucilli / Caballe. Eu gosto muita da ópera e penso que está injustamente negligenciada
Mais outra coisa: Cantar em 1971 não é demasiaso tarde para a voz do Mario Petri ?
RAUL

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

no terceto de I Lombardi cantado na Gala Levine de 1996 o baixo é o Ferruccio Furlanetto. I Masnadieri é das minhas ópera favoritas do "primo Verdi". Além da gravação de que lhe falei e a da Philips, tenho ainda Renato Cioni/Luisa Maragliano/Licinio Montefusco/Carlo Cava/Riccardo Muti/Florença 1969, Gianni Raimondi/Ilva Ligabue/Renato Bruson/Boris Christoff/Gianandrea Gavazzeni/Roma 1972 e William Lewis/Giuliana Trombin/Matteo Manuguerra/Paul Plishka/Eva Queler/Carnegie Hall 1975. Como vê, sou grande apreciador. Em relação ao Mario Petri, ele nasceu em Roma em 1922 e, pelo final dos anos 60, começou a cantar papeis de barítono. Existe uma gravação do Don Carlo, feita no La Fenice em 1969, em que ele interpreta o Rodrigo. Se estiver interessado, eu envio-lhe um "snippet" desses I Masnadieri com o Mario Petri. Assim, poderá julgar por si mesmo.

Anónimo disse...

Caro Hugo,
As minhas palavras resumem-se a admiração pelo coleccionador e a simpatia pelos gostos que compartilhamos. Neste Primo Verdi onde o Macbeth é já uma obra-prima, I Masnadieri juntamente com o Stifelio são as minhas preferidas.
Julguei que o Mario Petri fosse mais velho, pois nascendo em 1922 quer dizer que fez gravações perto dos 30 anos.
Esse elenco de Roma de 1972 com cantores que eu vi ao vivo deve ser uma jóia.
Certamente que gostaria de ouvir o Mario Petri e desde já agradeço a sua disponibilidade.
RAUL