domingo, 6 de julho de 2008

Così Fan Tutte Aixois



Em Aix, Così Fan Tutte - ópera que marcou o início do festival, há 60 anos - continua a desagradar... a crítica, pelo menos.

Habituou-me a experiência clínica a interpretar "os constantes enaltecimentos das obras passadas, coexistindo com a depreciação das criações presentes"...

Pode ser que me engane e, de facto, a récita tenha sido fracota... Já a de há três anos fora alvo de uma interminável depreciação...

«(...) ces artistes (...), ils sont, on est désolé de le redire, en deçà de ce qu'on est en droit d'attendre du Festival d'Aix-en-Provence. Dans le cadre d'un travail d'élèves avancés, en tournée régionale hors saison, comme le fait le Festival de Glyndebourne avec sa compagnie itinérante, ils seraient à leur place.

Il faut cependant exclure de ce constat le ténor slovaque Pavol Breslik, appelé le matin même pour remplacer au pied levé Finnur Bjarnasson, malade. Ce jeune chanteur à la voix et au physique agréables était presque le plus vif, le plus présent et le plus touchant de la troupe.

UN CHEF PAS TROP À L'AISE

Il a été demandé au claveciniste et chef d'orchestre Christophe Rousset de diriger cette production. Si Rousset peut faire des prodiges dans Monteverdi, Lully et Rameau, il paraît moins à son aise dans le répertoire classique. Il fourmille d'idées "différentes" (le legs baroqueux l'y aide) et surligne les détails - qui font la différence seulement auprès des oreilles cultivées alors que les problèmes de mise en place et de tenue de tempo sont audibles de toutes. La Camerata Salzburg sonne maigre et sèche, les cordes sont parfois réduites à un fil, les vents pas toujours justes et exacts. Rousset privilégie des tempos très rapides dans lesquels ses chanteurs et musiciens ne semblent pas toujours à leur aise. Ce Mozart-ci est cultivé, mais ne respire pas naturellement.

Pourquoi avoir demandé à Abbas Kiarostami, novice absolu à l'opéra, cette mise en scène ? Bernard Foccroulle, le directeur du festival, l'a sûrement fait en hommage aux beaux films de l'Iranien. Espérait-il retrouver la poésie de son travail cinématographique ? Kiarostami a filmé la mer pendant des heures, dans les calanques de Cassis. Elle sert de toile de fond animée à un spectacle par ailleurs conventionnel et ne se raccorde jamais bien au reste du décor, étrangement lourd.

En contemplant, du fond de notre ennui, cette vraie-fausse mer pour fond d'écran d'ordinateur que ne survole pas la moindre mouette, on pensait à ces fausses bûches électriques dans le foyer d'une fausse cheminée. Est-ce cela l'artifice sublime du théâtre ? Les voiles d'Ezio Frigerio dans le Simon Boccanegra de Verdi monté par Giorgio Strehler disaient mieux, par leur simple figuration, l'appel du large, les horizons chimériques.»

Quanto ao labor de Kiarostami, numa palavra, sugiro O Sabor da Cereja, porventura um dos mais poéticos que vi!


(O Sabor da Cereja, de Abbas Kiarostami, 1997)

6 comentários:

Anónimo disse...

Não vi o "sabor da cereja". Vou procurá-lo.

Fica aqui, para a troca, em associação livre e a propósito de frutos,filmes, beleza e poesia, a referência a um filme muito, muito belo:
L'Odeur de la Papaye Verte de Mui Du Du Xanh, realizado por Tran Anh Hung. É uma produção França/Vietname de 1993.

Teresa

Il Dissoluto Punito disse...

Teresa,

Tens o dito filme em dvd?

Anónimo disse...

Helas, Não!

Quando o vi fiquei absolutamente encantada, de tal forma que nas semanas seguintes só procurei papaias verdes por todo o lado.

Tentei encontrá-lo nessa altura para voltar a "sentir" o clima, aquela calma, aquela sensualidade doce, mas não estava à venda.
E depois, olha, talvez tenha ficado tão bem guardado por dentro que até me esqueci de voltar à procura lá fora.
O teu texto lembrou-mo e voltarei à procura :)
O título em Português é " o cheiro da papaia verde".
Quem o encontrar primeiro, ganha!

Teresa (tea,thea)

Anónimo disse...

O Odor da Papaia Verde tenho eu em DVD e em Portugal e disponibizo ao João quando estiver aí. É uma obra-prima. Eu quando vi fiquei simplesmente hipnotizado. A personagem principal leve como uma pena tem duas interpretações notáveis, conforme as suas idades. A simplicidade dos sentimentos, base do humanismo mais profundo, é tão tocante que o filme serve como uma "lavagem". Um dos meus grandes filmes.
Outro grande filme vietnamita que recomendo vivamente é o "Three Seasons". Desconheço se alguma vês foi exibido em Portugal, daí que não me atrevo a chamá-lo de "Três Estações".
RAUL

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

I can hardly wait ;-)
Quando chega? (pf rsponda para o meu endereço, ok?)

Anónimo disse...

Só em Abril do ano que vem. Até lá, se o vir nos meus lugares especiais, tentarei adquirí-lo.
Um abraço e boas férias.
RAUL