terça-feira, 2 de outubro de 2007

Do profissionalismo

Vá lá saber-se por que razões, Angela Gheorghiu decidiu não comparecer à maioria dos ensaios de La Bohème, onde iria interpretar Mimi, na ópera de Chicago.

«“It is with tremendous regret and sadness that we are compelled to take this action, but Miss Gheorghiu’s actions have shown total disregard for Lyric Opera’s dedicated personnel and for her fellow artists,” William Mason, the opera’s general director, said in a statement yesterday.»

Sem meias palavras, a direcção da ópera despediu-a.

Definitivamente, em Chicago, não há lugar para liberdades de estrela.

Agora, pergunto eu: fará a decisão jurisprudência?

19 comentários:

Anónimo disse...

A Sra. Gheorghiu um dos maiores "blufs" comerciais das últimas décadas teima em não desapareçer. Aparentemente só nos E.U.A. e Londres continuam a ter paciência e interesse pelas suas apresentações.

J. Ildefonso.

P.S.- Alguém foi ver a Kassarova?

Anónimo disse...

Caro Dissoluto:

Não sei se compreendi totalmente o sentido que procurou imprimir à sua escrita, por isso cingir-me-ei ao seu sentido literal.

Na minha opinião, a direcção de Chicago agiu de uma forma justa. A Senhora Gheorghiu é um ser humano como todos os outros, que falha, se engana e necessita de se preparar para assumir as personagens que se comprometeu interpretar. Também sabemos que a arte e, neste caso, a Música, só faz sentido quando, em cada reprodução, se cria algo de novo. Não obstante, a qualidade requer preparação e, nunca, uma cópia constante daquilo que já foi feito antes. Como em todas as profissões, a chamada "reciclagem" e actualização são muito importantes para conter vícios e maneirismos que em nada abonam a favor de uma criação legítima e verdadeiramente criativa. Gostaria de acrescentar que uma apresentação de um espectáculo de ópera resulta de um trabalho em equipa e, por isso, também não me faz sentido que a Che gelida manina seja cantada "para o ar" (passo a expressão). Neste sentido, a Srª Gheorghiu tinha a obrigação e responsabilidade de se apresentar nos ensaio como qualquer funcionário de uma qualquer actividade, porque o seu trabalho não consiste, apenas, em apresentar-se na noite de estreia.
No meu ponto de vista, esta problemática resolver-se-ia com bom senso e planeamento. A Lyric Opera não se pode dar ao luxo de lidar com comportamentos arbitrários e todos sabemos que nas artes teatrais e na música, a arbitrariedade pode, por vezes, ser desastrosa.
Trata-se de um problema de responsabilidade e esta senhora já deu mostras de não ter, ainda, compreendido que as suas responsabilidades cresce na mesma razão da sua ascensão artístico-mediática.

Filipe

Anónimo disse...

Concordo plenamente com os comentários do Filipe. Aliás a razão pela qual não gosto da Sra. Gheorghiu tem precisamente a ver com o seu carácter egocêntrico e antipático que "passa" com bastante precissão nas suas interpretações.
Um egocentrismo que a faz contruir uma carreira à base de gravações, de papeis que nunca cantou ou poderá cantar em palco, enquanto continua a apresentar a mesma Mimi, a mesma Amélia Grimaldi e a mesma Adina! Não há paciência para a sua ambição desmedida e aliás vocalmente já não justifica o destaque que lhe é dado e pareçe-me a mim que nunca o justificou de forma total e completa.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Caro Ildefonso:

Já reparou que a Sr.ª Gheorghiu é muito bonita?

Para bom entendedor meia palavra basta.


Um abraço.

Filipe

Anónimo disse...

Sim realmente é muito bonita mas mesmo na sua beleza não tem nada de cativante... é um pouco como a rainha má da Branca-de-Neve:-)))

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

O Filipe viu a Kassarova no S. Carlos na passada Sexta-feira?

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Caro Ildefonso:

Infelizmente não. Estou de relações suspensas com S. Carlos. Agora sou mais amigo do Sr. Gulbenkian que, embora não fosse santo, sempre me tratou com muito respeito.

Filipe

Anónimo disse...

Talvez não se gosta da Gheorghiu, e com razão, mas a voz desta cantora é muito boa, sendo por vezes o único elemento bom do elenco, como, por exemplo no Trovador com ele, o Alagna, a Diakova e o Hampson.
Raul

Anónimo disse...

Mas será que ela se atreveria a cantar o Trovador em palco?
Ou será como a Carmen, a Tosca, o Trovador e a seguir virá a Turandot?

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Qualquer dia até a Lucia, a Lakme, a Rainha da Noite, a Isolda, a Brunilda, a Kundry...


Filipe

Anónimo disse...

Sem falar na Aida, Salome, Elektra, quiçá a Marechala.


Filipe

Anónimo disse...

Que exagero!!! Que falta de serenidade !!!
E por que não haveria de cantar a Leonora? Tem de ter a voz da Callas ou da Price, se não tiver exactamente, não presta. Valha-nos Deus.
Isto das expulsões tem às vezes os seus custos.
Por que é que temos dois Bailes de Máscaras com o Bergonzi? Porque o Solti resolveu correr com o Bjorling porque este disse que conhecia muito bem o papel para fazer tantos ensaios. Assim perdemos a gravação em estúdio do Bjorling, para a revista Critic a melhor voz do século XX.
Por que é que o Iago do Otelo do Karajan é uma segunda prestação do Aldo Protti? Porque o maestro resolveu expulsar o Bastianini por este não conhecer, em termos culturais, o episódio do lenço.
Por que é que na versão ao vivo do Otelo nas recém editadas versões do Covent Garden , o Iago é o Otokar Kraus, e muito bem, e não o inicialmente previsto Tito Gobbi? Porque o Kubelik correu com ele por chegar atrasado aos ensaios. E por isso ficámos sem os duetos Vinay-Gobbi. Talvez exista noutra representação.
Finalmente gostaria de terminar dizendo que gosto bastante da voz de Angela Gheoghiu, uma das melhores da actualidade. Quanto à personalidade da senhora, embora não me seja nada simpática, é para mim uma questão secundária, não me afectando o meu juízo sobre a cantora.
Raul

Anónimo disse...

Caro Raul:

Tem toda a razão quanto à falta de serenidade e exagero: mea culpa. Quando o referi fi-lo em tom de provocação e brincadeira porque, de facto, a Sr.ª Gheorghiu presta-se à caricatura (acredito que compreenderá e não levará a mal as minhas intervenções anteriores). Contudo, permita-me discordar de si quanto à distinção que faz entre a personalidade deste soprano e a sua prestação artística. Sem dúvida que nada temos a ver com a sua vida privada e com a sua dita antipatia, contudo, o problema original reside no facto da sua irresponsabilidade e falta de respeito poder colocar em causa, não só a sua própria prestação como, também, a da restante equipa com quem contracena. Por último, gostaria de dar mais um exemplo, nomeadamente o episódio em Lisboa, quando a Sr.ª Gheorghiu tinha, segundo o TNSC, tudo resolvido para cá vir cantar a Traviata e cancelou as récitas sem dar quaisquer justificações. Esta lamentável falta de respeito para com os seus colegas, a administração do TNSC e, sobretudo, perante o público seu utente, demonstra bem as razões deste tipo de tomadas de decisão por parte das direcções dos teatros. Nesta linha de raciocínio, compreendo e concordo com as "dispensas" e "despedimentos" que nos recordou e que nos privaram, sem dúvida, de grandes momentos de canto. Não obstante, reafirmo que a culpa não foi de quem efectivou essas medidas, mas sim, de quem as provocou, isto é, os cantores que faltaram com as suas responsabilidades.
Mais uma vez, peço desculpa pelas minhas provocações.

Um abraço.

Filipe

Anónimo disse...

Filipe,
Você tem toda a razão em relação a estes comportamentos: são inadmissíveis. Com tal cadastro, eu, se fosse director de algum teatro só a contrataria em condições do tipo "se não cantares, pagas-me uma indemnização". Não deixo, no entanto, que este juízo de valor afecte o meu gosto pela voz da senhora. A Callas, por exemplo, é ouvir algumas entrevistas no Youtube. Que mazinha!!!
Raul

Anónimo disse...

Pois é verdade que a passada administração do Sr. Pinamontti não fazia contratos! Havia únicamente acordos verbais que depois eram legalizados por escrito.... esta é uma das razões de tantos cancelamentos por explicar. Se entretanto surgia uma outra proposta mais lucrativa o cantor optava por ela e o Teatro procura quem estivesse disponivel sem nenhum tipo de premeditação. No caso da Traviata sinceramente acho que ficámos a ganhar! A rezão da recusa da Gheorghiu, se alguma vez chegou a ser contactada!, não foi explicada mas talvez tenha tido a ver com razões vocais porque aproxidamente na mesma data cancelou uma Traviata em Espanha com o alibi da produção ser ofensiva e de mau gosto, o que não é verdade e pode ser julgado por quem compre o d.v.d., e o papel de Violeta só o voltou a cantar no Met durante parte das récitas programadas e com pouco sucesso a acreditar nas críticas.

J. Ildefonso.

Il Dissoluto Punito disse...

Filipe, João e Raul,

Polémicas destas, neste espaço, é o que se quer ;-)))
Já estava com saudades destes comentários !

Anónimo disse...

Caro Dissoluto:

E muito agradeço aos meus co-comentadores, bem como a si pelo post provocador com que nos brindou.

Um abraço

Filipe

Anónimo disse...

JOHN and JOHN and Horses's FRIEND
Não fujo à polémica, mas a partir de amanhã só em Janeiro, porque vou para terra onde o governo controla os blogues.
Abraços flagstidianos, que s~so grandes como a voz dela
Raul

Anónimo disse...

Será que a partir de agora há uma maior "abertura" local e me deixam visitar este blogue e poder entrar em polémicas. Vamos ver. Ver para crer.
Raul