sábado, 9 de junho de 2007

Godunov Christoff

No Diário de Notícias, a propósito desta louvável iniciativa – que não cesso de enaltecer! -, levanta-se a ponta do véu do número da semana que vem...

Curiosamente, enquanto lia as palavras do texto que anuncia Boris Godunov (versão revista e orquestrada por Rimsky-Korsakov), também a mim me ocorreu o paralelismo desta ópera com o Macbeth, ainda em cena no TNSC (que aqui comentei)!

Não será coisa original...

O Boris da semana que se segue é o único em que Christoff – o melhor Godunov de que há memória (nem Chaliapin, nem Ghiaurov – ambos divinos! – lhe chegavam aos calcanhares, no respeitante a este tremendo papel) interpreta, além do papel titular, Pimen e Varlaam!



Dir-me-ão que tal façanha reenvia à omnipotência... Inteiramente de acordo!

Sugiro, apenas, que se entreguem a este magistral artigo, onde – entre outras façanhas louváveis – Boris (o intérprete!), num exercício inusitado, dá corpo às citadas personagens, sem que as mesmas se toquem, sequer!

Magistral!

Nota: o incauto leitor tomará a interpretação de Cluytens (igualmente do selo EMI) pela de Dobrowen – a que aqui menciono. Não as confunda, para seu bem!


(as duas faces do mesmo artigo: à esquerda, a original, e à direita a pós-copyright-end, mais económica e acessível, da casa NAXOS)

Como aperitivo, sugiro a audição deste indispensável registo de Boris Christoff, integralmente consagrado à canção e ópera russa.

Aqui, poderá o leitor deleitar-se com as três personagens acima mencionadas. Quando chegar à faixa 5 (morte de Boris), aconselho a toma indiscriminada de CORDERON, caso contrário, movido pela emoção, o leitore arrisca um destino similar ao da personagem central da ópera!



Quem avisa...

7 comentários:

Hugo Santos disse...

Peço desculpa por voltar a 'invadir' o blogue desta maneira. Relativamente à versão dirigida por Cluytens (1962, EMI) é do melhor Christoff que ouvi. Existem ali páginas que são de arrepiar, tal Boris G. e Boris C. se tornam um só Ser. A versão de 1952 é outra pérola com uma direcção felicíssima de Dobrowen. Aliás, este maestro foi um dos grandes responsáveis por não deixar cair a ópera no esquecimento fora da Rússia.

Cumprimentos,

Hugo Santos

Anónimo disse...

João,
O Chaliapine "não chegar aos calcanhares" do Cristoff. Não acha um exagero? Pode acontecer que o João goste mais ou ache melhor, mas nada neste mundo pode ter uma diferença tal em relação ao Chaliapine. É claro que o tempo apaga muito da realidade, mas o Chaliapine foi juntamente com o Caruso e a Callas, um dos três supremos artistas do século XX. E o que tem de mais extraordinário é ter sido um baixo a partilhar este triunvirato, pois é muito mais natural quendo se trata de um tenor ou de um soprano. A glória de Chaliapine, que foi incomparável, está testemunhada pelas biografias e pelos testemunhos de muitos artistas. Como li algures, um recital de Chaliapine, cujo programa não era revelado, era um Acontecimento. Se o dinheiro mede o artista Chaliapine foi o artista de ópera mais bem pago do mundo, depois que se tornou famoso no início do século e tendo morrido em 1937, o seu "cachet" só foi ultrapassado pela Callas vinte anos depois. Estou a falar de somas absolutas e não a fazer equivalências ao custo de vida das respectivas épocas.
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

Hugo,

Apenas contesto o seu receio de invadir este blog! Estamos cá para discutir! Volte sempre.

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Falemos claro: apenas acho o Christoff insuperável no Boris Godunov! Não alargo as comparações a outras figuras! De acordo?!
O Boris de que aqui falei contem excertos do Chaliapine, no mesmo Boris, muitos pontos abaixo da leitura de Christoff!

Anónimo disse...

João,
Sem dúvida, o Boris do Cristoff é também na minha opinião insuperável, mas não sei se temos razão. Chaliapine era russo e Cristoff não era. Chaliapine, além de ser considerado por muitos especialistas o melhor baixo de todos os tempos era, e isso não podemos discutir, a essência da alma russa, coisa que em muitos aspectos nos escapará. Chaliapine era para a Rússia aquilo que a nossa Amália era para os portugueses.
Raul

Anónimo disse...

Estou, neste momento, a terminar a audição da versão de '52. Já possuia a versão de '62. Estou emocionado pela intensidade da primeira e a beleza da direcção. Excuso-me comentar a interpretação. Já tudo foi dito acerca da emotividade que Christoff consegue transmitir: a culpa, o medo, o arrpendimento...tudo espelhado na imenso oceano de cores que é a sua voz...

Um abraço amigo.

Filipe

bernardo baethgen disse...

christoff fez algo que realmente é difícil de ser superado. o maestro russo-norueguês issay dobrowen também merece elogios por ter realizado a primeira gravação de boris fora da russia. dramaticamente creio ser essa interpretação de boris insuperável.