Este interessante artigo do New York Times versa sobre uma questão central, no tocante à interpretação - particularmente no que se refere à lírica.
(Voigt vs Callas ou real vs ideal???)
A propósito da recente Tosca, interpretada por Deborah Voigt, no Met, o autor do artigo questiona a pertinência da persistente comparação entre passado e presente - leia-se, entre as encarnações da referida figura a cargo de Maria Callas e Renata Tebaldi e as interpretações contemporâneas da mesma personagem.
Em minha opinião, uma vez mais, creio tratar-se de uma típica confrontação entre o ideal e o real, questão tão premente na lógica depressiva, segundo a qual existem modelos ideais - forçosamente inalcançáveis, perfeitos e, invariavelmente, pretéritos -, que ofuscam em absoluto o presente, que é real e falível.
Note o leitor que o trabalho psicanalítico permite perceber que não há bela sem senão... O mesmo é dizer que o objecto idealizado esconde, sempre - sublinho esta invariância - um objecto persecutório! Pelo que, permito-me duvidar da aura intocável das leituras passadas, dado imaginar que ocultam uma dimensão persecutória, que evitamos aceitar!
Quando o deprimido consciencializa esta dimensão oculta, inicia-se a desidealização do objecto, tornando-se o sujeito mais sadio...
(Voigt vs Callas ou real vs ideal???)
A propósito da recente Tosca, interpretada por Deborah Voigt, no Met, o autor do artigo questiona a pertinência da persistente comparação entre passado e presente - leia-se, entre as encarnações da referida figura a cargo de Maria Callas e Renata Tebaldi e as interpretações contemporâneas da mesma personagem.
Em minha opinião, uma vez mais, creio tratar-se de uma típica confrontação entre o ideal e o real, questão tão premente na lógica depressiva, segundo a qual existem modelos ideais - forçosamente inalcançáveis, perfeitos e, invariavelmente, pretéritos -, que ofuscam em absoluto o presente, que é real e falível.
Note o leitor que o trabalho psicanalítico permite perceber que não há bela sem senão... O mesmo é dizer que o objecto idealizado esconde, sempre - sublinho esta invariância - um objecto persecutório! Pelo que, permito-me duvidar da aura intocável das leituras passadas, dado imaginar que ocultam uma dimensão persecutória, que evitamos aceitar!
Quando o deprimido consciencializa esta dimensão oculta, inicia-se a desidealização do objecto, tornando-se o sujeito mais sadio...
11 comentários:
A Tosca não é um papel tão difícil que faça das grandes interpretações do passado veículos de interpretações definitivas.
Raul
Caro Raúl.
No caso da Tosca acho que a palavra chave é realmente "interpretação". Um bom soprano lírico, um lírico-spinto ou soprano dramático podem todos cantar uma boa Tosca, resta saber se realmente nos vão "dizer" algo. E os últimos anos depois da Tebaldi, Callas, Price à excepção da muito especial Tosca da Freni, realmente não nos têm legado Toscas memoráveis e realmente não creio que a Voigth seja excepção... A Tosca pareçe-me um dos poucos casos em que a nostalgia das grandes interpretações do passado é mais desculpável e até prova de um salutar bom gosto.
J. Ildefonso.
Caros Raul e João,
Aceitem o desafio (evitando o preconceito!): experimentem a Tosca do Pappano, com a Gheorghiu... É óptima! Talvez o melhor papel que a senhora alguma vez cantou!
Caro João,
Eu tenho DVD. Suberbo, mas não gosto das partes da produção em que 0os cantores estão a "pensar", ou seja, ouve-se o a sua voz, mas eles estão de boca fechada. Ora, bolas, á Tosca é uma ópera !
Raul
Caro João e Raúl.
Infelizmente quanto à Tosca da Gheorghiu não concordo. Pareçe que após várias ocasiões em que cantou extractos ou o 2ºActo completo vai finalmente cantar o papel na integralidade no Convent Garden. Vamos então aguardar para ver o que aconteçe:-)))
J. Ildefonso.
João / J. Ildefonso,
Conhecem a Michele Crider ? Canta uma "vissi D´arte" no dvd da gala da "Berlin Opera Night" (Junho de 2002) que é fabulosa, repito, fabulosa; e, a propósito, a Grace Bumbry nessa mesma gala dá uma lição de canto aos 65 anos com o "Mon coeur s´ouvre à ta voix", em especial à Vaselina Kasarova, que é uma boa cantora, mas que canta a ária das cartas do Werther totalmente desconstruída.
Mas volto a perguntar: conhecem a Michele Crider ?
Raul
Sim. Lembro-me da Michelle Crider numa boa gravação de meados dos anos 90 do Baile de Máscaras com a Elena Zaremba e outros tantos todos bastante bons. Também sei que canta a Aida com sucesso e também sei que é demasiado gorda e insuficientemente individual para poder ter um lugar de destaque hoje em dia. Mas pelo que eu ouvi nessa gravação quem me dera a nós muitas cantoras assim, corpulentas ou não:-))))
J. Ildefonso.
Desconheço a Gala que refere, porque não aprecio o género de arias descontextualizadas, mas quanto á Kassarova concordo que por vezes é interessante mas que é muito irregular. Lembro-me dela em grande forma no S. Carlos... Bons tempos de temporada com Recitais de canto....
Quanto á Bumbry, confesso que conheço mal porque sempre gostei mais da Verret, mais ou menos contemporânea e que cultivava reportorio semelhante, Amneris, Carmen, etc.... e por quem eu tenho grande admiração.
J. Ildefonso.
Sim, eu também gosto muito Verret, mas também guardo um espaço para a Bumbry. Tem muita voz e um timbre quente.
Raul
Já ouvi falar na Crider, mas não se pode dizer que a conheça...
Raul e João,
A virtude / desgraça da Bumbry foi a sua indefinição: entre soprano dramático e mezzo, sempre balanceou... Em todo o caso, era extraordinária!
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