quarta-feira, 3 de maio de 2006

Looking for a fire-eater?

Nabucco, de G. Verdi, salvo algumas passagens, é, em minha opinião, uma ópera musicalmente desinteressante, sobretudo. O Libreto é de má qualidade e a orquestração monótona e repetitiva.
À excepção do célebre Coro dos Peregrinos e da pirotécnica cabaletta de Abigaille, pouco mais há a destacar nesta peça lírica.

Bem sei, bem sei... Bruson, nos idos anos 1980, deu à personagem titular - Nabucco - uma espessura e densidade dramática mais do que interessante! Mas, ainda assim...

Quanto à pérfida Abigaille, apenas Dimitrova a afrontou, com a indispensável bravura, nas últimas décadas.

Vem esta referência a propósito do notabilíssimo trabalho de restauração e reabilitação da única gravação disponível de Nabucco, gravada em Nápoles, em 1949, com a Divina na pela da maligna heroína.

São muitas as editoras a explorarem esta gravação. O mor das vezes, não realizam trabalho algum, no sentido de contornarem a deficientíssima prise de son da dita gravação, que apresenta momentos que bordejam o inaudível!

Ora, a séria e louvável MEMBRAN apresenta, agora, uma aceitável gravação da mencionada ópera, depurada - tanto quanto possível... - das deficiências originais.

A meu ver, apesar das falhas técnicas - no que ao som concerne - e do paupérrimo trabalho de interpretação de Gino Bechi, na pele da personagem titular, este artigo merece ser adquirido, mais que não seja pela triunfal prestação da Callas, que confere à personagem a mais absoluta malignidade!
A voz - fresca, flexível, habilidosa, extensa, densa e robustíssima - materializa aquilo a que chamo soprano-fire-eater, que tecnicamente se designa dramatico-di-agilitá (ainda mais potente do que o lírico-spinto, na minha opinião!).

Destaque, ainda, para o notável Zaccaria de Luciano Neroni, pleno de pujança e autoridade!


(Nabucco - Gui; MEMBRAN 222387-311)

Caso o leitor pretenda outras gravações de La Divina - recentemente caídas em domínio público, para bem de todos nós! -, a preços bem mais módicos do que os praticados pela gulotona EMI, basta visitar esta página, pertença da já referenciada MEMBRAN.

Bravo MEMBRAN, bravo!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

João,
Eu no Nabucco também aprecio o concertante do segundo acto e o dueto Abigail-Nabucco. São bons momentos do primeiro período de Verdi.
Quanto às gravações, temos de recuar à primeira feita em estúdio (1951), italiana 100%, com uma grande cantora, Caterina Mancini, é um excelente barítono verdiano: Paolo Silveri. É uma gravação Cetra. E em 1965 temos o Nabucco da Decca com Tito Gobbi, que apesar do uso da voz é, a meu ver, o melhor Nabucco gravado, e esse meteoro que foi Elena Suliotis, que eu vi precisamente neste papel e que em palco foi para os meus 14 anos uma experiência única: campeã de natação, com físico a condizer, loira, belíssima, com voz a lembrar a Callas, vestida de guerreira... só visto.
Mas claro que Abigail como a Callas não há. E pensar que a Emi andou preocupada em gravar a sua Nedda de I Pagliacci, quando se esqueceu de gravar o Nabucco e o Macbeth nos anos cinquenta com o par Callas-Gobbi ! Se não fossem as gravações piratas... e ainda bem que restauraram este Nabucco, porque eu tenho as partes cantadas pela Callas sem esse restauro e o som é péssimo.
Raul

Anónimo disse...

Atenção à Membran. Ela tem gente ignorante entre os seus «managers», onde a comercialização se sobrepõe à justeza.
RaUL