Dmitri Hvorostovsky sempre me escapou...
A primeira vez que o vi / ouvi - leia-se, via dvd... - foi na histórica aparição que fez em Cardiff, corria o ano de 1989. Sem grande surpresa, ganhou o (agora famoso) Singer of the World, na categoria de Ópera.
A concorrência era verdadeiramente assombrosa ! Recordo que, na categoria de lied, o galardão foi arrebatado pelo colossal Terfel.
Devo confessar a minha absoluta parcialidade, quando de Terfel se trata... A versatilidade do Galês é prodigiosa ! Canta Mozart em Viena, encanta o Met com Strauss (Jochanaan, da Salomé) e Wagner (Wolfram, do Tannhäuser), deslumbra Londres com Verdi (Falstaff, sobretudo !) e Gounod (Mefistófoles, do Fausto), etc...
Dele tenciono falar, mais em detalhe, numa outra ocasião pois, como poucos, na actualidade, merece um exclusivo !!!
Confesso que a vitória do siberiano, na altura, me irritou... O estilo-vedeta contrastava com a humildade de Terfel. A arrogância exibida, o ar triunfal... Antevia-se (mais) um duplo de Narciso...
Em minha opinião, algumas personalidades narcísicas - em doses homeopáticas, advirto - têm o condão de nos fascinar pelos seus feitos ousados, pelas suas qualidades exacerbadas, pelas suas inigualáveis proezas...
A audácia com que se desenham, o (aparente) fascínio que por si nutrem, muitas vezes, têm (alguma) razão de ser ! Quem ousa discutir o talento de Callas, vítima ímpar da ferida narcísica ? Alguem duvida da mestria de Christoff ? Et pourtant, quão mal-amados se sentiam...
Hvorostovsky, grosso modo, enquadra-se nesta categoria de personalidades. A vaidade que nutre pela sua figura é quase caricatural !
Invariavelmente, os seus discos exibem variantes de Adónis ! Pelo que consta, até há relativamente pouco tempo, consagrava parte substancial do seu tempo... não na preparação dos papeis que interpreta, mas no ginásio ! Voz sã em corpo atlético ? Uma peculiar interpretação da máxima grega, diríamos !
A verdade é que o barítono siberiano é senhor de uma bela figura.
Quando imagino figuras como Onégin, Rodrigo (do Don Carlos) e o Conde de Luna - personagens do repertório de Hvorostovsky -, vislumbro criaturas atléticas, viris e esbeltas !
Nos últimos anos, pelo que se nos é dado ver, Dmitri tem descurado a forma física... Os quarenta começam a sentir-se na pele... Espantosamente, este desinvestimento na figura tem coincidido com um aprofundamento artístico, particularmente observável no domínio dramático. As encarnações de Hvorostovsky são, agora, mais densas e profundas ! Longe vão os tempos em que tudo interpretava com um ar altaneiro. Está mais maduro, sensível... O talento brota naturalmente, sem limites !
Na presente temporada, no Met, compôs um Giorgio Germont notável ! A maturidade vocal e dramática que o papel exige não levantaram qualquer obstáculo ao cantor. O seu Germont, em todos os sentido, gozou de uma infinita plenitude... Convincente, comovedor, triunfou !
As encarnações mozartianas de há bem poucas temporadas começam a rarear. Algumas delas - diga-se em abono da verdade - desencadearam pateadas monumentais, como a do Don Giovanni, em Salzburgo, aquando da aria do champagne, em 2000, se a memória não me falha.
Hvorostovky é, hoje, um barítono lírico, concentrando as suas interpretações mais assinaláveis em torno de dois compositores: Verdi e Tchaikovsky. Parece ter regressado às origens, pois foram estes, justamente, os dois compositores que abordou no citado concurso de Cardiff ! Abandonou a versatilidade, em favor de um repertório mais criterioso, mais conforme às suas possibilidades.
A razão de ser deste post tem uma explicação bem prosaica: adquiri um cd de Hvorostovsky, integralmente dedicado a Verdi - DELOS DE 3292.
Quando ouvi a primeira aria, o milagre sucedeu ! O terror do Credo (do Otello), a dor do Cortigiani (do Rigoletto), a elegância do Il balen del suo sorriso (do Il Trovatore), a par de outras interpretações, são uma lição de interpretação verdiana !
Não creio que, no presente, haja barítono habilitado a disputar a Hvorostovsky o território verdiano. Como Gobbi, Sereni, Milnes, seguramente, vai fazer escola !
Há muitos anos que não escutava Verdi, nesta categoria vocal, com tamanha mestria !
A primeira vez que o vi / ouvi - leia-se, via dvd... - foi na histórica aparição que fez em Cardiff, corria o ano de 1989. Sem grande surpresa, ganhou o (agora famoso) Singer of the World, na categoria de Ópera.
A concorrência era verdadeiramente assombrosa ! Recordo que, na categoria de lied, o galardão foi arrebatado pelo colossal Terfel.
Devo confessar a minha absoluta parcialidade, quando de Terfel se trata... A versatilidade do Galês é prodigiosa ! Canta Mozart em Viena, encanta o Met com Strauss (Jochanaan, da Salomé) e Wagner (Wolfram, do Tannhäuser), deslumbra Londres com Verdi (Falstaff, sobretudo !) e Gounod (Mefistófoles, do Fausto), etc...
Dele tenciono falar, mais em detalhe, numa outra ocasião pois, como poucos, na actualidade, merece um exclusivo !!!
Confesso que a vitória do siberiano, na altura, me irritou... O estilo-vedeta contrastava com a humildade de Terfel. A arrogância exibida, o ar triunfal... Antevia-se (mais) um duplo de Narciso...
Em minha opinião, algumas personalidades narcísicas - em doses homeopáticas, advirto - têm o condão de nos fascinar pelos seus feitos ousados, pelas suas qualidades exacerbadas, pelas suas inigualáveis proezas...
A audácia com que se desenham, o (aparente) fascínio que por si nutrem, muitas vezes, têm (alguma) razão de ser ! Quem ousa discutir o talento de Callas, vítima ímpar da ferida narcísica ? Alguem duvida da mestria de Christoff ? Et pourtant, quão mal-amados se sentiam...
Hvorostovsky, grosso modo, enquadra-se nesta categoria de personalidades. A vaidade que nutre pela sua figura é quase caricatural !
Invariavelmente, os seus discos exibem variantes de Adónis ! Pelo que consta, até há relativamente pouco tempo, consagrava parte substancial do seu tempo... não na preparação dos papeis que interpreta, mas no ginásio ! Voz sã em corpo atlético ? Uma peculiar interpretação da máxima grega, diríamos !
A verdade é que o barítono siberiano é senhor de uma bela figura.
Quando imagino figuras como Onégin, Rodrigo (do Don Carlos) e o Conde de Luna - personagens do repertório de Hvorostovsky -, vislumbro criaturas atléticas, viris e esbeltas !
Nos últimos anos, pelo que se nos é dado ver, Dmitri tem descurado a forma física... Os quarenta começam a sentir-se na pele... Espantosamente, este desinvestimento na figura tem coincidido com um aprofundamento artístico, particularmente observável no domínio dramático. As encarnações de Hvorostovsky são, agora, mais densas e profundas ! Longe vão os tempos em que tudo interpretava com um ar altaneiro. Está mais maduro, sensível... O talento brota naturalmente, sem limites !
Na presente temporada, no Met, compôs um Giorgio Germont notável ! A maturidade vocal e dramática que o papel exige não levantaram qualquer obstáculo ao cantor. O seu Germont, em todos os sentido, gozou de uma infinita plenitude... Convincente, comovedor, triunfou !
As encarnações mozartianas de há bem poucas temporadas começam a rarear. Algumas delas - diga-se em abono da verdade - desencadearam pateadas monumentais, como a do Don Giovanni, em Salzburgo, aquando da aria do champagne, em 2000, se a memória não me falha.
Hvorostovky é, hoje, um barítono lírico, concentrando as suas interpretações mais assinaláveis em torno de dois compositores: Verdi e Tchaikovsky. Parece ter regressado às origens, pois foram estes, justamente, os dois compositores que abordou no citado concurso de Cardiff ! Abandonou a versatilidade, em favor de um repertório mais criterioso, mais conforme às suas possibilidades.
A razão de ser deste post tem uma explicação bem prosaica: adquiri um cd de Hvorostovsky, integralmente dedicado a Verdi - DELOS DE 3292.
Quando ouvi a primeira aria, o milagre sucedeu ! O terror do Credo (do Otello), a dor do Cortigiani (do Rigoletto), a elegância do Il balen del suo sorriso (do Il Trovatore), a par de outras interpretações, são uma lição de interpretação verdiana !
Não creio que, no presente, haja barítono habilitado a disputar a Hvorostovsky o território verdiano. Como Gobbi, Sereni, Milnes, seguramente, vai fazer escola !
Há muitos anos que não escutava Verdi, nesta categoria vocal, com tamanha mestria !
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