4:44 – Último Dia na Terra é um filme perturbador, cuja raiz
é a incontornável angústia de morte.
Nele, Ferrara narra o fim do mundo, que terá lugar a uma hora precisa.
A todo o instante, esta finitude anunciada é colocada em
paralelo com a finitude própria da natureza humana: todos sabemos o que nos
espera...
No discurso complexo, sofrido e transtornado, há um misto de
culpabilidade – a terra tem o seu fim marcado por força da inabilidade humana,
voraz e gananciosa, que a destruiu – e de inexorável – o fim-mortal é o termo,
estando anunciado.
Para além de uma mensagem apocalíptica, geradora de uma
angústia dificilmente suportável – e Dafoe exprime-a (encore une fois) com o
génio habitual -, esta obra materializa o luto da omnipotência.
Assistir a esta representação, aos 41 anos, reitera a ideia
de um horizonte, necessariamente delimitado e preciso, para o qual se caminha,
agora, com a consciência da finitude.
Ao mesmo tempo, o inexorável destino, ao longo do filme,
sofre transformações elaborativas, que abrem caminho a saídas mais airosas e
suportáveis desta condenação à mortalidade, a que todos fomos castigados, por
termos ousado a transgressão...
Várias – e vãs! – são as tentativas do protagonista para
contornar o insuportável: a mania, a mentira (a toxicodependência), etc...
Resta-lhe o amor da mulher amada, que o acompanha na
derradeira viagem. Juntos caminham para o destino comum a todos.
O filme é belo e Dafoe toca as raias do génio.
Viver não é sinonimo de eternidade – a saída omnipotente -,
tampouco é aguardar passivamente o termo – resposta depressiva. Ferrara et al (re)mostram-nos
que viver é amar e criar.
Pelo amor se concebe, nasce e vive. O resto é etéreo.