domingo, 31 de dezembro de 2006

2006 em Revista

Em tempo de balanços musicais, eis o MEU Best Of 2006:

- registo sinfónico - Beethoven, 7ª Sinfonia; direcção de Carlos KLEIBER;



- registo operático (integral) - Wagner, Parsifal; direcção de Christian Thielemann;



- registo operático (excertos) - Wagner, Excerpts from "The Ring of the Nibelung"; direcção de Peter Schneider
ex equo com Mozart, Tutto Mozart!; direcção Charles Mackerras;



- registo operático (dvd) - Wagner, Tristan und Isolde; direcção Armin Jordan;



- registo operático (dvd - reedição) - Wagner, Der Fliegende Holländer; direcção Woldemar Nelsson.



Moral da escolha: em ano mozartiano, Wagner levou a melhor!


Quanto a espectáculos musicais, para o ano que ora finda, eis o MEU Best Of:

- concerto do ano - Cecilia Bartoli e Freiburger Barockorcheste, Fundação Calouste Gulbenkian, 11 de Fevereiro de 2006;

- recital do ano - Matthias Goërne , Fundação Calouste Gulbenkian, 31 de Outubro de 2006;

- récita lírica do ano - O Ouro do Reno, encenado por Graham Vick, Teatro Nacional de São Carlos, 28 de Maio de 2006.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

I Puritani, Met

Ao que parece, além da prestação de La Netrebko - que esta notícia resumo do seguinte modo: "(...) Ms. Netrebko was an unusually vulnerable Elvira. Bel Canto purists may find fault with her sometimes imprecise execution of coloratura runs and roulades. But I admired her way of treating florid passagework as organic extensions of an arching vocal line, not as a series of fast notes to be nailed with cool accuracy." -, nesta récita de I Puritani (Bellini), nada mais merece referência...


(Anna Netrebko, na pele de Elvira)

Cara e bela, em Fevereiro, depois de te ver ao vivo, falaremos ;-)

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Netrebko, Diva? NIET!!!

A desmesuradamente fogosa Anna Netrebko - a cuja récita de I Puritani assistirei, dentro de mês e meio, no Met - revela a sua simplicidade genuína, neste artigo do The New York Times.



Lado a lado com Ben Heppner, Netrebko demonstra que o conceito de Diva(o?) só ganha com as recentes metamorfoses.

Entrementes, eis alguns dos seus futuros projectos: «Talking about roles she was considering for the future, Ms. Netrebko mentioned the so-called three queens of Donizetti: the soprano leads in the operas “Anna Bolena,” “Maria Stuarda” and “Roberto Devereux.”».

Quanto a uma hipotética Norma, reitero o NÃO da bela Anna...

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Presentes de Natal... Um Anel muito especial!!!

Comecei pelo de Solti; rapidamente passei pelo de Böhm.
Seguiu-se o de
Boulez; Furtwängler fora o derradeiro.

Enquanto aguardo pela edição completa do de Keilberth (Testament), eis que a minha mulher me presenteia com o de Von Karajan!!!


(DG 457 780-2 GOR 14 )

domingo, 24 de dezembro de 2006

007 e o (des)amor objectal: um ensaio psicanalítico



Assisti ontem com indisfarçável gozo a Casino Royal, que conta com Daniel Craig como protagonista. Sou um devoto da séria 007, desde tenra idade!
Não perco um! Conservo-os quase todos em dvd.

Apreciei muitíssimo o filme, que saudavelmente (em aparência...) escapa à habitual rigidez da série.

Pela primeira vez, este 007 não termina com a destruição absoluta do território do inimigo, facto a sublinhar! Acresce a isto o envolvimento amoroso - sublinho, amoroso - de James Bond com uma (invariavelmente) bela Bond Girl.

A primeira vez que tal ocorrera fora por ocasião da estreia de George Lazenby na pele do agente secreto britânico.
Vá-se lá saber por que razão, esse 007 enviúva, escassos minutos após o casamento... Vá-se lá saber por quê, o mesmo 007 perece, cedendo lugar a outro actor...
Não resistiu, nem ao amor, nem à perda do mesmo, arrisco considerar! Voilà!!!

Há razões que só a psicanálise esclarece!

Craig é um notável agente: segue a linha caracterial de Sean Connery, adornando a sua personagem com frieza, calculismo, (quase) absoluto controlo emocional e, last but not least, culpabilidade zero.

À semelhança dos outros actores, sob um fundo de omnipotência narcísica (magistralmente ilustrada pelo título You Only Live Twice, por exemplo), Bond não prescinde dos seus prolongamentos falo-narcísicos: um carro potente, uma arma grande, poderosa e de indiscutível eficácia, um caparro impressionante e a eterna companhia da solidão!



Como sempre, James Bond basta-se a si próprio, apenas recorrendo a pontuais envolvimentos sexuais, obrigatoriamente descartáveis - que nada têm de objectais, muito menos genitais, tal como Freud os concebeu (isto é, correspondendo a uma relação heterossexual, madura, estável e com afecto, sobretudo).

A problemática de 007 é de teor narcísico, polvilhada por traços caracteriais (afins com a psicopatia).

Homem mal amado, cedo se refugiou num amor especular, por super-compensação. Ama-se e investe-se num movimento obsessivamente narcísico: cultiva uma couraça quase inviolável, representada por um corpo atlético e por uma mente fria, avessa à emoção, escrava do controlo.

Pergunto-me que tempo lhe restará para se dedicar aos demais?!
Um caparro daquele calibre não se constrói num ápice, exigindo longas horas diárias de dedicação.

Contrariamente ao que o leitor possa pensar, James Bond não ama por feitio, mas antes por defeito: odeia a mulher, permanente representante da mãe abandónica, que feriu de modo indelével o seu mais tenro narcisismo; assim, gere o seu sadismo, num movimento perpétuo e repetitivo, escravo da vingança.
Fornica com partes de mulher, sendo incapaz de as amar. Sabe lá ele o que isso é!

Qual Don Giovanni, compulsivamente, anseia por engrandecer o seu catálogo de conquistas.

Mas não é tudo!

Noutro quadrante, Bond conta com a submissão à mãe idealizada, intocável, assexuada e limpa: a Rainha.

Deste modo, deparamos com um modelo de mulher clivada - repartindo-se entre a odiosa-abandónica e a idealizada-intocável -, claramente decorrente de uma mãe / mulher primitiva, ausente, profundamente desamante e, por essa via, maltratante.

Virar-se para si foi a solução encontrada: "Já que não fui amado, amar-me-ei, mais do que qualquer outra coisa! Cultivarei um amor inigualável pelo meu reflexo, uma imagem perfeita! Contarei, apenas e só, comigo! Bastar-me-ei, prescindindo dos demais!".

O que é notável no 007 de Daniel Craig é a tentativa da mudança, no encalço da saúde!

Pela segunda vez, na sua longa existência, Bond apaixona-se, ousando entregar-se ao amor de uma mulher! Coisa rara e notável! Cede ao apelo do amor objectal, pelo outro.

Mas... a coisa não vinga (e ainda há quem questione a validade da formulação freudiana de compulsão à repetição!!!).

O problema é que James não pode amar, não sabe amar, porque nunca foi amado por ninguém.

A primeira vez que ousou experimentar o amor por Theresa (vide On Your Majesty Secret Service, 1969), mataram-na! O deslocamento da sua própria agressividade / ódio para o inimigo assassino é por demais evidente...

Desta feita, a mulher a quem James se entrega amorosamente é uma traidora, representante da mãe arcaica, persecutória e destrutiva.

Eis, pois, o velho 007 em acção: por regressão, vítima da repetição, reassume a sua autarcia e omnipotência, sob a eterna capa da frieza implacável.

O que é impressionante é o crescente poder do feminino - materno, na mente do agente secreto!

Como se não bastasse a carga fantasmática que envolve a sua relação com um feminino destrutivo, primitivo, eis que M vira mulher e Monneypenny homem: um desdobramento do par sádico / masoquista - submisso, que persegue James.

Lamentavelmente, Bond continua a sofrer de desamor; eternamente (até ver...).

sábado, 23 de dezembro de 2006

domingo, 17 de dezembro de 2006

Führer Kleiber e a 7ª Maravilha do Mundo

Não sendo eu, nem conhecedor, nem grande apreciador de música sinfónica, pergunto-me se alguma vez a 7ª de Beethoven foi interpretada com tamanha comoção, devoção, entrega e mestria?!

Kleiber - o meu mestre na música sinfónica (todos os meus mestres se chamam Carlos!) -, nesta leitura, dilacera-me a alma, revolve-me as entranhas!

Imperial, grandioso, magnânimo, Carlos Kleiber arrebata e seduz o mais empedernido e resistente coração, propondo-nos a conquista do universo. Da absoluta exaltação, transitamos para o mais impressionante lirismo, poético, imenso, imenso...


(ORFEO C 700 051 B)

IMPRESCINDÍVEL!!!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

A Flauta de Branagh

Esta notícia dá conta do primeiro projecto lírico de K. Branagh.
Há uns tempos, já se havia mencionado este trabalho, neste mesmo espaço.

Ver-se-á...

L´AFFAIRE ALAGNA

O caso Alagna não é tão original quanto se pensa!
Em 1958, a meio de uma récita de Norma, a Callas decidiu abandonar o palco, alegando uma indisposição. Fez escândalo e seguiu-se o declínio.



Desta feita, o frágil narcisismo de Alagna - que não tolerou uma crítica - cedeu à birra: depois de apupado, após Celeste Aïda - ária que marca a sua entrada em cena -, abandona a récita. Inqualificável.

O mais interessante é a evolução psicológica do episódio: a paranóia instala-se, justificando Alagna o seu gesto com base na teoria da conspiração: "Le chanteur nous disait hier «comprendre la décision de Lissner», mais se demande s'il n'est pas la victime collatérale d'une machination contre le superintendant. Il explique : «Dès mon arrivée au théâtre dimanche, deux hommes m'ont menacé à l'entrée des artistes. Dans ma loge, j'ai entendu ma doublure qui échauffait sa voix, et j'ai appris qu'une deuxième était en route pour la Scala. Dans les coulisses, j'ai eu le sentiment que tout le monde m'évitait.»"

O resto da notícia apenas ilustra um episódio absolutamente lamentável.

Mas, caro e fiel leitor, recordo que uma andorinha não faz a primavera: Alagna é uma grande, grande intérprete!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

sábado, 9 de dezembro de 2006

Aida abre a temporada em Milão

A Era Lissner no alla Scala segue triunfal!

A temporada milanesa abriu a 7 de Dezembro, como é tradição, com uma nova produção de Aïda, a cargo de Zeffirelli.

Embora Aïda esteja longe de constituir uma página incontornável da lírica - verdiana ou outra, note-se! -, tem uma carga simbólica tremenda em Itália. Recentemente, uma amiga romana confessou-me conhecer melhor a Marcha Triunfal do que o hino italiano...
E está tudo dito! Dito isto, não admira a escolha desta ópera para iniciar a saison.

Já no que toca ao encenador, a coisa pia mais fininho! Considero o trabalho de Franco Zeffirelli tão hiper - realista quanto piroso, tão grandioso quanto megalómano! Que o Met não passe sem ele, não admira... O mesmo não se poderá dizer dos italianos, cujo sentido estético é bem mais elevado.

Quanto ao elenco, adivinha-se um notável Radamés, a cargo de Alagna, que parece transitar para o registo spinto, depois de uma extraordinária carreira de tenor lírico - Werther, Rodolfo, Fausto, Mario Cavaradossi, etc.
Escrevam o que vos digo: aos 50 anos ainda vai dar cartas como Otello! É esperar para ver.

Já a Aïda de Urmana me faz hesitar... A intérprete lituana - cujas Kundry (Met 1999) e Judith (Châtelet 1999) me inebriaram - ainda não se definiu, quanto ao registo dominante da sua voz, saltitando entre mezzo e soprano.


(cena de Aïda, Teatro alla Scala - 7 de Dezembro de 2006 -, com Roberto Alagna e Violeta Urmana)

Enfim, divagações de quem não pode estar presente. A verdade é bem esta...

(Ainda) o Idomeneu de Berlin...

Do ponto de vista simbólico / metafórico, o intuito de suprimir a já famosa encenação de Idomeneu, de Mozart, que a Deutsche Oper de Berlin montara - onde figura, entre outros, Maomé decapitado - constitui um eloquente exemplo do poder da ansiedade de castração, tal como Freud a descreveu!
Prosaicamente será auto-censura, psicanaliticamente, será angústia de castração.

Pois pasme-se! A história não terminou aqui...
Esta notícia do EL Pais dá conta do desaparecimento das cabeças, que constituíam um dos pilares da encenação!!!

"Desaparecieron del almacén de la Deutsche Oper de Berlín, que repondrá la obra el 18 y 29 de diciembre, los cuatro polémicos objetos de atrezo que se usan en el montaje: las cabezas cortadas de Mahoma, Buda, Jesucristo y Poseidón."

A ansiedade de castração é incontornável!

ps caso o leitor pretenda, aqui dissertei sobre outra implicação deste episódio berlinense

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Così, così...

Così Fan Tutte - Teatro Nacional de São Carlos, 5 de Dezembro de 2006

Mais para o menos do que para o mais, o Così de Mozart abre a temporada do Teatro Nacional de São Carlos sob o signo da mediocridade.

Tardias vão as comemorações dos 250 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart. A impressão que fica é que o imenso espólio mozartiano, ao longo deste famigerado ano de comemorações - em que foi sujeito a infindáveis explorações -, já pouco tem para oferecer, em matéria de produções líricas.

É bem verdade que a lírica mozartiana - ou a produção mozartiana, em geral -, pela genialidade que encerra, presta-se a intermináveis leituras. O problema reside, justamente, nas leituras e propostas...

A récita de Cosi Fan Tutte a que assisti, a 5 do corrente mês, traduziu, pois, com propriedade a decadência das citadas comemorações: ficámos com o refugo.

Da produção, destacaria os figurinos (Vera Marzot), pela melhor das razões - trajos à l´époque, requintados, concebidos com aprumo, bem ao jeito mozartiano: com o mesmo recorte, sublinhando o luxo e o recato, a contenção e a graça, o humor e a ternura.

A encenação de Mário Martone, do meu ponto de vista, não vinga. Centrar a lógica representativa na cama, além de demasiado óbvio e vulgar, é absolutamente antagónico ao espírito mozartiano! Mozart não rima com "pornografia" (sublinho as aspas!!!), caro senhor! Mozart é erótico, eloquente, apreciador da evocação, da secundarização! Não há nada de primária - a ler como antagónico à mais refinada simbolização - na trilogia Mozart / Da Ponte!!!

Se a este entendimento cénico se acrescentar uma cenografia rasca e feia, tosca e de mau gosto, temos tudo para que a coisa comece trôpega! Nem as luzes de Pasquale Mari - particularmente felizes no sublinhar do recato e do intimismo - salvam a coisa!

No capítulo da execução, a coisa não foi muito diferente...

Donato Renzetti dirigiu uma orquestra com óbvios laivos de amadorismo, onde as fífias nos brindaram com uma cadência lamentável - os sopros, sobretudo! Quanto à falta de sincronia entre intérpretes e orquestra, o melhor é nem falar: cada um por si, parecia o lema da coisa.

Vamos a intérpretes solistas: dois contra um, a favor dos homens.

Desde início, optei pelo primeiro elenco, nomeadamente pela presença de Laura Polverelli (Dorabella), cuja carreira internacional é digna de menção. Lixei-me, penso eu...

Infelizmente, no que à prestação vocal concerne, as três solistas femininas fizeram jus ao título da ópera: todas (quase) iguais, pela mediania.

O mor das vezes, a Prima Donna de Così Fan Tutte é Fiordiligi, a (mais) séria e recatada. Pois bem... Irina Lungu foi fantasmagórica na interpretação - ausente, quase diáfana... -, apesar de digna no canto, sem mais. A voz é adequada - solidamente lírica, evidentemente não muito grande (como se quer, aliás!) -, já a técnica, assim-assim - vocalizações inseguras, agudos gritados, sem grande segurança, legatto precário...

Polverelli (Dorabella) mais parecia um mezzo-verdiano do que uma intérprete mozartiana! De voz ampla e consideravelmente grande, revelou-se ineficaz na delicadeza e harmonia. Salvou-se pelo piquante da representação - adequado e convincente -, aqui e ali graciosa.

A Despina de Silvia Colombini teria sido fantástica, não fora a circunstância de se tratar de um papel lírico... De voz feia e técnica fraca, a intérprete - evidentemente inteligente e boa actriz - salvou-se pela graça: sabe o que é uma interpretação buffa (apesar de alguns exageros histriónicos - sobretudo na voz, que apenas serviram para disfarçar a sua fragilidade vocal, creio eu).

Quanto aos homens, à excepção de Bruno Pratico (Don Alfonso), outro galo cantou (e muito bem!!!).

Em minha opinião, a coroa de glória desta récita foi o admirável e elegante Ferrando, interpretado pelo tenor Salmir Pirgu. Um verdadeiro tenor mozartiano: disciplinadíssimo (as vocalizações foram de um rigor à la Kraus, à la Simoneau!), de agudos luminosos, voz bem aberta e clara, dicção graciosa, legatto admirável... Um verdadeiro regalo! Quando a estas qualidades vocais se junta um notável talento cénico - apaixonado, arrebatado e colérico qb - , temos homem!

Apesar das admiráveis qualidades vocais de Simone Alberghini - timbre viril, técnica sólida - creio que compôs um Guglielmo algo circense...

O pior para o fim... Bruno Praticò, entre outras lamentáveis façanhas, conseguiu conspurcar um dos mais belos tercetos líricos que conheço - Soave sia il vento - tais não eram as fífias e entradas fora de tempo. De voz cansada e insegura, sem folgo, refugiou-se atrás de um recitativo admirável e gracioso (há que reconhecê-lo). Faltou-lhe a ironia... A figura, essa não ajudava em nada: apesar dos modos, o estilo era mais de taberneiro do que de aristocrata perverso.

Triste e desiludido, regressei ao meu canto, acompanhado dos Così de Karajan, de Solti (o último!!), de Busch (1936), de Gardiner...

Ben Heppner em entrevista

Nesta entrevista concedida ao Le Fígaro, a propósito da sua segunda apresentação na capital francesa, Ben Heppner abre a sua alma!

Admirável, pela humanidade, singeleza e humildade, nos antípodas da estrela - lírica, Heppner - que é o maior tenor wagneriano desde Vickers (seu conterrâneo e... mestre?) - revela detalhes da sua carreira,

Até aqui, nada de novo! O que é notável é a plena assunção da sua fragilidade humana, das suas limitações, dos contratempos...

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Don Carlo no Met

Sem surpresa, o Rei Pape triunfou, abafando um infante Botha fracote!
Aqui há uns anos, em Paris, assisti a uma Norma - com Anderson no papel titular - onde Botha interpretava Pollione. . . Que desadequação!

Philippe Jordan, Armin Jordan e O Cavaleiro da Rosa

A propósito de uma reprise da mais célebre encenação de O Cavaleiro da Rosa a que Paris assistiu (importada de Salzburgo) - cuja première parisiense contou com Fleming, Graham, Bonney e Eschenbach (que sonho!!!) -, Philippe Jordan, filho do recentemente desaparecido Armin Jordan, nesta entrevista, fala do pai e da sua própria carreira de maestro, que começa a destacar-se.

Nicolas Joel à la tête de l'Opéra de Paris

Nesta notícia do Le Figaro há mais detalhes sobre a nova direcção da Opéra National de Paris.

sábado, 2 de dezembro de 2006

Disse-me um passarinho... Don Carlo, de Verdi

Há bem pouco tempo, neste blog, falou-se deste superlativo Don Carlo, gravado em 1954.

A louvável NAXOS reedita-o agora, a preços bem módicos, como é de seu timbre.

É esperar, paciente leitor! É esperar e roer as unhas até não poder mais!!!

Para abrir o apetite, eis o elenco desta pérola:


Filippo II (Philip), King of Spain - Boris Christoff (bass)
Don Carlo, Infante of Spain - Mario Filippeschi (tenor)
Rodrigo, Marquis of Posa - Tito Gobbi (baritone)
The Grand Inquisitor - Giulio Neri (bass)
A Monk - Plinio Clabassi (bass)
Elisabetta di Valois (Elizabeth) - Antonietta Stella (soprano)
Princess Eboli - Elena Nicolai (mezzo-soprano)
Tebaldo, page to Elisabetta - Loretta di Lelio (soprano)
Count of Lerma - Paolo Caroli (tenor)
A Royal Herald - Paolo Caroli (tenor)
A Voice from Heaven - Orietta Moscucci (soprano)

Orchestra and Chorus of the Opera House, Rome
(Giuseppe Conca, chorus master)
Gabriele Santini, conductor


(NAXOS HISTORICAL 8.111132-34)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Festival de Salzburgo´07

O Festival de Salzburgo, que conta com um novo director - Jurgen Flimm -, centra a sua próxima edição em torno de uma certa Razão:

"(...) Mr. Flimm has selected a roster of operas that question reason, the very pillar of the Enlightenment that Mozart is thought to exemplify."


Dei uma longa vista de olhos pelo côté lírico do festival e... decepção é a palavra de ordem! Decepção pelo reportório, pelos elencos, pelas produções...

Boris Christoff

Eis a minha recentíssima aquisição: Christoff no seu repertório de eleição - Verdi, Boito, Borodin e Mussorgski (claro está!) além de Wagner e Rossini - no auge da sua pujança vocal - o registo contem extractos da década de 1950.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Mozart / 22

O ambicioso projecto - de que aqui falei - já se encontra comercializado.
Os interessados encontrarão informações detalhadas neste endereço.

L'hommage des personnalités et des Parisiens à Philippe Noiret

Mon cher Philippe (Noiret),

Je viens d´apprendre la mauvaise nouvelle : tu viens de déceder.
Que je suis triste. . .

Ta carrière d´acteur m´était un peu étrange. Pourtant, dans mon coeur, je garderais un souvenir inoubliable de l´un de tes rôles - fétiche, Alfredo, co - protagoniste du Cinema Paradiso. . .

Ciao Alfredo. . .



domingo, 26 de novembro de 2006

2 Anos, Ritinha!!!

Muitos, muitos parabéns, querida sobrinha, pelo teu segundo ano de vida!
(o que tu cresceste desde há um ano...)



Que contes muitos e muitos :-)))
Beijinhos do primo e tios,

Tiago, Margarida & João

sábado, 25 de novembro de 2006

Confidências...

,

Boris Christoff - o maior baixo de que há memória - e o meu analista/mestre são iguais!!!

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Disse-me um passarinho: Anna & Rolando

Nos anos 1950, o casal lírico era sinónimo de Callas & Di Stefano; nos anos 1960, Tebaldi & Del Mónaco, a par de Nilsson & Corelli. . .

Na última década do século passado, Gheorghiou & Alagna formavam o casal do momento - no palco e na intimidade.



Nos nossos dias, Netrebko (liiiiiiiinda) & Villazon (feeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeio) tornaram-se no lyrical couple.

Em Março de 2007 é editado o primeiro registo de ambos, que soa a kitsch...

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

As good as corn ;-)

Netrebko triunfa, em Viena, num papel belcantista.

Pela parte que me toca, mantenho as minhas reservas: a primeira incursão de Anna Netrebko no domínio da lírica belcantista - La Traviata -, tecnicamente, revelou demasiadas fragilidades...

Em Fevereiro, vê-la-ei, na pele de Elvira (I Puritani), outro papel paradigmático da tremendamente difícil tradição belcantista.

Depois vos direi!


(Netrebko, na pela de Amina - La Sonnambula, de Bellini -, em Viena)

O Rei de Espadas, em Covent Garden

O imenso talento do tenor russo Galouzine obriga a uma resignificação de A Dama de Espadas, de Tchaikovsky.

ps há alguns anos, a Lisa, interpretada pela genial Mattila na Bastilha, fez-me pensar na A Rainha de Espadas!!!

A lírica de George Benjamin

Em Paris, na Bastilha, G. Benjamin estreia a sua primeira ópera, «Into the Little Hill».

Christian Thielemann em Paris

Christian Thielemann é sempre genial - particularmente em Wagner -, nem que seja a dirigir Bruckner!

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Disse-me um passarinho... Windgassen & Christoff

Rendo-me!

A DG (re)abre o seu imenso baú...

O que de lá sai, desta feita?

Dois monstros da lírica - Windgassen e Christoff - em territórios onde jamais tiveram concorrentes, respectivamente Wagner e Melodia Russa!

Note o leitor que bem medi as minhas elogiosas palavras: NUNCA Wolfgang WINDGASSEN e / ou Boris CHRISTOFF, nos mencionados repertórios, tiveram rivais; sublinho e resublinho.




segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Disse-me um passarinho...

Para breve, L´Americana in Algeri... obviamente, com La Horne!!!

domingo, 19 de novembro de 2006

Ben Heppner em Paris

Depois de ler estas elogiosas palavras, o leitor compreenderá facilmente a razão do fascínio que nutro pelo maior tenor wagneriano do momento!


(Ben Heppner)

No Le Figaro de hoje, diz-se, entre outras coisas, "S'il maintient tout au long d'une représentation la qualité dont il a fait preuve mardi soir, on tient quelque chose d'exceptionnel. La recette paraît simple : pour lui, Wagner se chante et ne se hurle pas ! Comme un lied.".

ps se procura uma amostra desta genialidade, remeto-o para este indispensável artigo wagneriano.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Do maneirismo...

Numa época tão prolixa em maneirismo vocais e / ou dramáticos, eis um dos mais caricaturais exemplos:

(DECCA 467 049-2 )


Na lírica, o maneirismo nada mais é do que um plus, absolutamente gratuito, que o intérprete decide acrescentar - seja no tocante à decoração melódica (a não confundir com ornamentação ou coloratura), seja no que se refere à postura cénica. Trata-se, assim, de personalizar o que se interpreta, desvirtuando o texto e / a melodia, com o propósito puro e simples de brilhar.

A meu ver, trata-se de um exercício narcísico, inscrito num jogo de afirmação-de-si. Se quisermos, o maneirismo é um jogo de poder entre o intérprete e a obra, jogo esse em que o primeiro procura ofuscar e subvalorizar a dita obra, desvirtuando-a.

Ora, neste registo, Fleming surpreende, pela pior das razões.

Sucintamente, Renée Fleming mantém a sanidade vocal.
A voz - de uma beleza etérea -, cintila: o vibrato revela um controlo estupendo, de onde resulta uma pureza cristalina na emissão.

A leitura dramática, invariavelmente, é pobre, tanto mais que a grande maioria das árias aqui presentes provém de papéis que a artista nunca interpretou cenicamente. Para quem, já de si, revela dificuldade em enriquecer dramaticamente as personagens interpretadas. . .

A excepção a esta fragilidade é a Manon, que Fleming interpretou sobejamente em diferentes cenas líricas mundiais - Met e Bastille, além de outras. No caso desta personagem, Fleming é exímia, construíndo uma Manon arrebatada, frágil e dorida, com uma apreciável espessura dramática.

Bom, até aqui, nada de novo.

O pior deste registo reside, justamente, nos intermináveis maneirismos da artista, que a seu bel- prazer prolonga notas (altera outras!!!), acrescenta cadenzas, floreia e ornamente, sem revelar respeito algum pelas partituras - já para não mencionar os textos.

domingo, 12 de novembro de 2006

Anechka...

Qual obsessivo, ruminei em torno da aquisição deste registo.


(DG 00289 477 6384)

De um lado, movido por uma assumida snobeira, acho que um cd clássico que figura entre os top 10 - da Alemanha, no caso - deve ter feito inúmeras concessões!

Recordo que, à excepção dos registos de La Bartoli - cujo elevado valor artístico ninguém ousa discutir -, os demais cd´s constantes das listas de top 10 - Os Três Tenores, inclusive - são imposições do marketing, cedendo obviamente ao gosto fácil e duvidoso.
Quanto à qualidade artística, o melhor é não falarmos...

Pois bem, sem surpresas, Netrebko é um produto do marketing, mau grado as suas inquestionáveis qualidades - sendo que a beleza é uma delas...

A gananciosa DG encontrou na fogosa e bela jovem russa um filão. A rapariga, deslumbrada, vai a todas. Está-se mesmo a ver que, dentro de cinco anos - mais coisa, menos coisa -, vai perder o piu, qual Gheorghiu, qual Theodossiou.

Bom, nas minhas hesitações em torno do presente registo de Anna Netrebko deparei ainda com a altaneira DIAPASON - que a menospreza, claro está -, e com a GRAMMOPHONE - que a enaltece, sem surpresa.

Fui-me a ele - o mesmo é dizer, comprei a álbum Russian Arias -, pois que a critica me esclarecera, como é bom de ver!

A minha apreciação é curta.

Tecnicamente, creio que Netrebko está mais disciplinada. A voz é inquestionavelmente bela, o timbre é quente e cativante.

Trata-se de um belo exemplo de soprano lírico: voz elegante e graciosa, assaz límpida - mas não em demasia (Schwarzkopf, Fleming, Te Kenawa, por exemplo) -, com cor, emoção e - acima de tudo - libido. Acresce a tudo isto uma evidente tendência coloratura...

Já no domínio artístico, a coisa não brilha tanto.

Negar que Anna Netrebko tem talento dramático é do domínio da pura negação - vide La Traviata, onde a intérprete si impõe pela interpretação, em detrimento de uma vocalização insegura e mal apoiada.

Ainda assim, no que a este artigo concerne, com pesar, deparamos com uma neutralidade emocional a dramática desconcertantes: a melancolia, a tristeza e a perda soam ao mesmo, sem modulações de espécie alguma!
Sublinho não se tratar de falta de talento artístico, mas sim de neutralidade absoluta, que roça o autismo puro!

Diria, em síntese, que a bela Netrebko nos brinda, neste cd, com uma belíssima voz - segura e firme -, enquanto nos desilude despudoradamente com uma (des)encarnação dramática flagrante.

Para quem há muito ansiava por consagrar um registo integralmente à ópera russa...

sábado, 11 de novembro de 2006

Hipomania!!!

Em plena fase de hipomania, Dissoluto Punito divulga aos fieis e pacientes leitores a cópia da sua última aquisição: bilhetes para três récitas... no MET... em Fevereiro de 2007!!!

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Mr. Galamba de Almeida
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Performance Ticket Jenufa Tuesday, February 6, 20078:00 PM
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sexta-feira, 10 de novembro de 2006

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Tristan und Isolde - as razões da poesia

Eis a razão de ser deste post:
Em matéria de ópera wagneriana, raras são as produções disponíveis em vídeo de Tristan und Isolde.

Recordo a incontornável récita de Orange, dirigida por Bohm, em 1973, com Nilsson e Vickers nos papeis titulares. Com tudo o que comporta de grandioso - a dramatização dos intérpretes, a direcção metafísica de Bohm - este registo padece de uma vergonhosa realização, capaz de enjoar o pobre espectador.

Recentemente, o Met divulgou um Tristan alternativo, ousado na estética - apesar de insonso -, embora medíocre nas interpretações, apesar de Heppner, apesar de Pape, apesar de Levine...

O Tristan und Isolde que aqui me traz merece uma imensa referência, sobretudo pela surpresa e perplexidade que em mim desencadeou.



Trata-se de um registo proveniente de um teatro respeitável - Grand Théâtre de Genève -, ainda que muito distante das habituais grandes cenas lírica mundiais. Acresce a isto a juventude do encenador - Olivier Py -, que não creio possuir um curriculum particularmente extenso, bem como a qualidade do elenco, que apenas conta com uma habituée dos grandes palcos - Fujimura -, por sinal assaz pouco interessante...

Começaria por destacar o labor de Olivier PY, porventura a maior glória deste artigo!

A encenação de PY investe na exploração dos antagonismos wagnerianos, que nesta ópera mais não são do que desdobramentos da ansiedade depressiva - como já aqui tive ocasião de explicitar.

Refiro-me às habituais incompatibilidades da wagneriana: amor e vida, felicidade e existência.

De facto, em Wagner impera a clivagem, não havendo espaço para a matização. É como se o universo fosse bicolor, a preto e branco. Na wagneriana, o compromisso não existe.

Isolda, vítima de um luto sem elaboração possível, no acto I, num ápice, torna-se escrava absoluta do volúpia, do amor carnal, desejando Tristão com um ardor animalesco. Prosaicamente, diria que se passa de 8 a 80!

Pois bem, a genial encenação de PY, do meu ponto de vista, assenta na expressão desta realidade clivada, envolta em antagonismos e incompatibilidades, onde o espaço para o esbatimento, a estompagem ou a matização é, em rigor, nulo.

Assim, Olivier PY constrói uma lógica cénica decalcada da wagneriana: os décors, as estruturas, os cenários, o guarda-roupa são, ou a negro, ou a branco, sem concessão de espécie alguma, o mesmo é dizer sem cinza!

É impressionante a abrupta mudança de cores! Por vezes, atinge-se a ruptura: sem transições, sem cambiantes - Isolda-em-luto-negro vs Isolda-amante-branca.

O ovo-de-colombo da encenação: simbólica rica, prolixa, eficácia teatral inquestionável, envolvendo recursos simples. Extraordinário!

Mas, caro leitor, este registo oferece outras surpresas!

Para além da genial encenação, deparamos com uma orquestra absolutamente surpreendente, dirigida por uma batuta tão discreta como soberana.

Armin Jordan, a meses de entregar a alma ao criador, propõe uma leitura maravilhosa da partitura. A orquestra, certeira, sólida e rigorosíssima, balanceia entre o lirismo mais profundo e a poesia absoluta. Pura e efervescente recriação, em permanência...

No capítulo do elenco, a surpresa manteve-se inabalável.

Comecemos por Isolda, ladys first.

Na história da lírica wagneriana do pós-guerra, creio que se impuseram dois paradigmas na interpretação desta ultra-complexa personagem: Flagstad representa a aristocracia vocal, predominantemente lírica, enquanto Nilsson materializa a pathos; a primeira cantava com a razão e pregaminhos, ao passo que a segunda interpretava com as vísceras.

Ambas fizeram escola: Flagstad perpetuou-se em M. Price, por exemplo. Já Nilsson eternizou-se em Ligendza e Meier.

Na actualidade, duas intérpretes soberanas impõe-se no contexto destas escolas: Stemme, cerebral e nobre, segue o trilho de Kirsten Flagstad e Jeanne-Michèle Charbonnet - a Isolda do presente registo - representa a interpretação visceral e ultra-dramática de La Nilsson.

Pois bem, Charbonnet - intérprete americana que eu desconhecia em absoluto, confesso! - propõe-nos uma magistral Isolda, que brilha pela espessura dramática.

Soprano dramático de meios imponentes - apesar do timbre comum... -, Jeanne-Michèlle delineia uma protagonista tremendamente convicta e multifacetada. Maugrado a fragilidade dos agudos - que se vão tornando progressivamente mais comprometidos e feios à medida que a récita cresce... -, a sua convicção teatral e interpretativa arrebata!

Desde a Narrativa de Isolda - início do acto I - Charbonnet revela-se: altaneira e arrogante no porte, corroída pela dor do luto, exibe a sua ferocidade. Com a progressão da trama, a fêmea revela-se e a insanidade triunfa! Dilacerante, pela complexidade.

Clifton Forbis - tenor ou barítono, afinal??? - propõe-nos um estupendo Tristão.
Baritonal à la Vinay e Domingo, opta pela poesia, em detrimento do drama: o timbre é belo e nobre, apesar da falta de coloração teatral.

Falta-lhe a animalidade... parece-me demasiado contido, no acto III, onde é suposto dilacerar-se...

A Brangane de Fujimura - alguém me explica a razão do seu grande sucesso?! -, correcta na voz, revela-se demasiado servil; criada em excesso, diria eu!

Ludwig - nos idos anos 1960 e 1970 -, A Brangane absoluta, mostrou-nos que a sua personagem pode ser grandiosa e respeitável, pese embora a sua condição servil. Fassbaender, ao seu jeito, sublinhou a nobreza da serva de Isolda.

Do elenco, destacaria ainda o convincente Alfred Reiter - Rei Marke -, algo convencional na melancolia, ainda assim. Sugeria um retoque na sua imagem, um pouco caricatural, mais porteiro de discoteca gay do que soberano...

Uma palavra final para a surpreendente realização de Andy Sommer, que rompe com o ortodoxo e convencional estilo Brian Large (que parece ter um monopólio no sector da ópera filmada!).

No caso deste registo, a câmara palpita, num movimento solto e intencionalmente descontrolado, quase anárquico, avesso a regras. Selvática, a câmara segue a libido...

Posto isto, paciente leitor, a meu ver, se pretende um Tristan und Isolda em dvd, coerente, inteligente e - acima de tudo - surpreendente, ei-lo!
A prova da infinitude da wagneriana - e são tantos e tontos os que vaticinam o seu fim...


ps adquiri este registo em Paris, em final de Setembro, por 30 euros. Para minha grande surpresa, encontrei-o à venda, ontem, no El Corte Ingles, a 50 euros!!! Nem mais, nem menos! Quem é que se anda a encher no meio disto???

Toujours la Dessay

Nesta entrevista, Natalie Dessay, uma vez mais, disserta sobre a seu abandono do repertório ligeiro, em favor do lírico.

A seguir..

domingo, 5 de novembro de 2006

Poesia wagneriana interminável



Depois deste monumental Tristan und Isolde, pergunto-me se haverá mais algo a dizer a respeito de uma das mais impressionantes criações do ocidente.

Visceral e infinitamente poética, Olivier PY e Armin JORDAN fazem desta ópera um colosso!


ps os detalhes virão depois

sábado, 4 de novembro de 2006

Vinhetas clínicas - a patologia Narcísica

Angela Gheorghiu, nesta entevista ao Le Monde, revela a sua estrondosa falha narcísica.

Entre uma desmesurada arrogância, um caricatural desprezo e uma patética hipertrofia do eu - "Eu.. Eu acho que.. Eu penso que..(é ver o número de Je´s!)" -, envoltos num discurso de tom altaneiro, sobranceiro e quase delirante, vai-nos brindando com alguns mimos!

Para mim, o que se segue é o mais majestoso:

"A propos de Tosca, que vous avez notamment incarnée dans le film de Benoît Jacquot, en 2001, vous auriez dit que la Callas n'a rien compris au rôle ?
Non, j'ai simplement dit qu'elle avait mal interprété certaines choses
"


Notável ! Bem vistas as coisas, a senhora prepara-se para ensinar à Senhora Grega a essência dramática de Tosca!

No final, ao jeito da ópera romântica, Gheorghiu finaliza, com eloquência:

"Je n'ai ni coach ni professeur de chant. La technique vocale était un problème réglé pour moi à 18 ans. A cette époque, je n'avais pas les moyens d'écouter des disques, mais aujourd'hui j'ai tout entendu, tout écouté, et je sais exactement où je suis. C'est la moindre des choses quand on a déjà des contrats jusqu'en 2012."

Aqui, a cantora passa da clínica - manifestação, sintoma - à dinâmica: revela a sua omnipotência, tudo dizendo saber, tudo demonstrando dominar, sempre numa linha de autarcia, de quem se basta.

Gheorghiu é, acima de tudo, uma cantora mediana, com meios vocais frágeis e limitados - timbre vulgar, falta de extensão, entre os mais evidentes -, que compensa com uma inquestionável habilidade cénica - vide Tosca e La Traviata.

Dadas estas características, ficar-se por Puccini teria sido sinal de suprema inteligência e mestria!

O problema de Angela é, justamente, a megalomania narcísica, que a leva a uma louca perda de limites: acha-se capaz de tudo interpretar, ignorando as suas evidentes limitações.

Infelizmente, não querendo, passa por revelar uma natureza parola, pacóvia e deveras provinciana



O meu divã está disponível, cara senhora!!!

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Don Giovanni (de Salzburgo´06) ou disse-me um passarinho...

Harnoncourt venera Hampson e Dissoluto Punito adora Hampson.
Sem Harnoncourt, Dissoluto Punito já viu Hampson, na pele de Don Giovanni, aqui. Um regalo!



Agora, no âmbito do famoso e ousado Mozart 22, eis que surge Don Giovanni, o mais aguardado por DP!

Senesino, il castrato



Hoje à tarde, Scholl, em Madrid, uma vez mais é Senesino!

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Natalie Dessay X

Eis mais uma entrevista de Natalie Dessay, presença regular neste blog.

Nela, a grande intérprete revela alguns segredos verdianos e donizettianos...

"Par contre j'enregistre en studio avec Evelino Pidò et le Concerto Köln un disque couplant des airs de Donizetti, versant comique et tragique, et du jeune Verdi, dont le premier air de la Traviata. "


terça-feira, 31 de outubro de 2006

Träume...

Diz, que maravilhosos sonhos
Te exaltam o espírito,
Sem se desfazerem como espuma vazia
No desolado nada
...



Träume, träume, träume, träume...

Por redundante que seja, a mítica leitura de Träume, d´après Goerne, foi onírica...

ps por enquanto, nada mais há a acrescentar... Träume...

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Matthias Goerne

Actua amanhã, no grande auditório da F. C. Gulbenkian, pelas 19.00 horas, Matthias Goerne, o mais destacado barítono-liedersinger da actualidade.



Como cereja encimando o bolo, Goerne interpretará o célebre ciclo wagneriano, habitualmente entregue à voz de soprano, Wesendonck-Lieder, que terá servido de propedêutica à criação de Tristan und Isolde.

Acabei agora mesmo de adquirir 2 bilhetes para este imperdível concerto,
via net!

Assim começa, para Dissoluto Punito & respectiva Prima Donna, a temporada lírica 2006/07!

Fidelio, em Valença

Para quem vaticinava a morte vocal da grande Waltraud Meier (entre os quais, assumidamente, me encontrei, em tempos), eis a prova do contrário: o trio Meier, Seiffert & Salminen - três veteranos da lírica - triunfa, em Valênça, numa obra cujo simbolismo radica na exaltação da liberdade!



By the way, pergunto-me: qual o lugar do recentemente inaugurado Palau de les Arts Reina Sofia no panorama lirico mundial?

E pensar que há quem considere a lírica de Beethoven menor...

domingo, 29 de outubro de 2006

Rigoletto, no Met

Nos dias que correm, depreciar a obra de Verdi é do mais chic que imaginar se pode: "É demasiado romântico... Nem tem dissonâncias... Excessivamente melodioso... Muito popular... A arraia-miúda vibra com..."

A talho de foice, recordo que menosprezar a Callas, nos idos anos 1950, era prova de maturidade intelectual e musical. O Verdadeiro melómano - intelectual odiava a intérprete grega: "Nem sequer consegue ser fastidiosa... Grangeia aplausos calorosos... Falta-lhe um toque enfadonho..."

Na actualidade, aprecio com indesmentível malícia o desprezo de que a ópera verdiana é alvo.

Confesso, sem pudor algum, que Verdi é, acima de tudo, Otello e Falstaff!
Ainda assim, votar a trilogia verdiana ao abandono é, para mim, prova de soberba e de ignorância!

Na história da lírica, os grandes deixaram conjuntos que se perpetuam: Mozart e a sua trilogia - Daponte, Verdi e a sua trilogia do período intermédio - La Traviata, Il Trovatore e Rigoletto (as três unidas pela fusão do belcanto - técnico com o romantismo - dramático, coisa tremendamente difícil, diga-se!) - e Wagner, que obviamente tinha de ter uma tetralogia, por razões de natureza narcísica e megalómana!

Vem esta prosa a propósito desta critica de Rigoletto, que se encontra em cena no Met.

Rigoletto é uma ópera extraordinariamente difícil de encenar. O mor das vezes, opta-se por uma linha hiper-realista...

Há alguns anos, assisti em Paris a um Rigoletto - realista. A encenação era fastidiosa, pecando pelo tédio - realista.

Ainda assim, no elenco, figurava o grande Juan Pons, barítono verdiano por excelência, Swenson - que sempre peca pela ligeireza, soprano mais ligeiro do que spinto - e o (então) promissor Alvarez, Duque arrojado e galã.


(Juan Pons, na pele de Rigoletto)

Anos depois, no Met, tive ocasião de assistir a uma récita desta ópera verdiana, cuja encenação era... igualmente realista.
Um desinteresse teatral.

A critica a que faço referencia - 100% americana, depurada, portanto, de arrogância, sobranceria e altaneirismo -, aos olhos de um europeu, é um regalo: não há maledicência, nem desprezo, muito menos inveja!

Ainda assim, permito-me fazer um reparo, se me é permitido!

O papel de Gilda não é, nem por sombras, para um soprano ligeiro!
Roberta Peters, Sumi Jo e Ruth Ann Swenson, cujas técnicas são do melhor que há, ilustrando a categoria de soprano ligeiro (vulgo coloratura), são disso prova evidente: triunfam na ornamentação, espalhando-se na expressão do drama.

A Gilda da Callas - por ventura a mais heterodoxa, pela invulgar robustez cénica e psicológica - revolucionou as tradicionais abordagens do papel, encaminhando-o, doravante, para os complexos territórios do lírico-spinto: Scotto seguiu a proposta da grega, triunfando igualmente; Moffo, idem, idem.

sábado, 28 de outubro de 2006

Don Giovanni & Jacobs: Praga, Viena e (enfim!) Paris

Em Paris, Jacobs dirige a versão de Praga e a de Viena, em dias alternados.

Para o ano, teremos acesso à interpretação discográfica desta ópera, pela batuta do respeitável maestro, chez HARMONIA MUNDI (depois de um magnífico Così Fan Tutte e de um incontornável Le Nozze di Figaro).

Com água na boca, Dissoluto aguarda...

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Deborah Voigt: bist du Salome???



Com reservas, divulgo o entusiasmo desta notícia, onde se dá conta da última encarnação - triunfal - de Deborah Voigt, como Salome, de R. Strauss, em Chicago.

(Aqui para nós, caro leitor, desde que vi a colossal-vulcânica Mattila, no mesmo papel, nuinha em pelo, depois da Dança dos Sete Véus, acho que tudo foi visto, em matéria de Strauss...)

Nova Iorque (re)Castrada!!! Cai a terceira Torre...

Depois da queda dos símbolos absolutos do poderio financeiro, é agora a vez de Nova Iorque ver desaparecer, diante de milhares de melómanos atónitos, uma das mais veneradas lojas de música clássica: a Tower Records não resiste às investidas inclementes da crise.

A Tower Records era A MINHA LOJA de referência em Nova Iorque... Foi lá que encontrei parte da minha colecção de raridades... Foram bastantes as longas secas que lá dei à minha mulher, perdido no meio daquela indescritível oferta de música lírica...

É, pois, com enorme pesar que se divulga esta má nova.

Como diz o jornalista, comprar música na Virgin Megastore de Time Squares é impensável! Temos a ideia de estar à procura de Don Giovanni no meio do Feira Nova ou de A Palavra (de Dryer) em pleno Carrefour...

"Where will classical music lovers in New York shop now? The Virgin Megastore in Times Square? From what I can tell, its classical stock is weirdly spotty, though maybe I?m wrong, since that gargantuan, noisy place, with pop music blasting from overhead speakers, intimidates me."

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Plácido Domingo dixit

"Divo es aquel cuyo nombre agota localidades, que es responsable, crea buen ambiente en la compañía y atiende a los medios; ese divo es importante". Ahora bien, "el divo antipático, que protesta de todo, gracias a Dios, ese divo tiende a desaparecer"

Para aceder à totalidade da entrevista, clicar aqui.

Volver a Volver

Neuroticamente - ou não, espero! -, regresso a Volver, via este comentário do meu amigo DL, que propositadamente li depois de assistir ao filme.

É interessante como partilhamos alguns pontos de vista!

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Volver - Repetir, Perpetuar ou a Patologia da Trangeracionalidade: um olhar psicanalítico



Assisti ontem a Volver, de Pedro Almodovar, obra recentemente estreada entre nós.

Há muito anos que sigo a produção deste singular cineasta espanhol, quiçá o mais histriónico e divertido do momento.

Em Almodovar, antes de mais, fascina-me o humor e a graça desconcertantes.

Não querendo alongar-me em demasia, considero que este filme do cineasta merece uma reflexão psicanalítica, dado conter aspectos de inquestionável valor psicopatológico, a saber: REPETIÇÃO / TRANGERACIONALIDADE, a par de uma característico enfoque sobre o MASCULINO.

Começo por remeter o leitor para a sinopse de Volver, assinada pelo próprio Pedro Almodovar.

Na minha prosaica leitura, esta obra versa sobre três gerações de mulheres que perpetuam uma mesma problemática...

Almodovar conta-nos uma história dominada pelo feminino - materno, história essa que ilustra a patologia da repetição: Raimunda, ainda adolescente, fora violada pelo próprio pai, nascendo da relação incestuosa uma filha. Esta é perfilhada pelo homem com quem Raimunda se casa. Entretanto, a verdadeira filiação da jovem menina é mantida em segredo pelo casal.

A jovem rapariga, agora adolescente, faz brotar no padrasto um crescente desejo libidinoso, com contornos obviamente incestuosos.

A história repete-se, sendo que o final da mesma conta com uma variação: a jovem adolescente assassina o padrasto, pondo assim termo às suas investidas sexuais.
Prontamente, num gesto de duvidoso altruísmo, Raimunda assume a autoria do crime.

Obviamente, o gesto de Raimunda - aparentemente protector, dado que pretende retirar a mácula da filha - deve ser visto a um nível mais ousado!

Ao assumir a autoria do crime, Raimunda vinga a honra manchada: triunfa fantasmaticamente sobre o pai - pedrasta.
A filha - símbolo sumo do ódio pelo pai - constitui, agora, a derradeira e mais eficaz arma de Raimunda, cumprindo um destino inexorável: mata, de facto, o padrasto, assassinando por via fantasmática o próprio pai, que por artes perversas era, simultaneamente, o pai da própria mãe...

Tempos volvidos, após o regresso da mãe de Raimunda, vem a saber-se que, afinal, o pai desta fora assassinado, de facto, pela mulher, ultrajada por sucessivas infidelidades com as conterrâneas.

A meu ver, o próprio regresso da matriarca da família merece uma reflexão, pois que se encontra envolto num clima de omnipotência...

A matriarca regressa, depois de "morta", como que por obra da ressurreição!
Todos a consideravam morta. Todos! Pois bem... Eis que a dominadora figura - a grande Carmen Maura -, em toda a sua omnipotência, não só triunfa sobre a morte, como sobre o marido: este perece, assassinado pela mulher que, uma vez mais, o descobrira nos braços de outra.

Dito isto, o que resta do MASCULINO, pobre sombra diante de tamanho universo?

Curiosamente - ou talvez não, arrisco eu... -, Almodovar esboça um universo masculino / paterno paradoxal, ainda que periférico, para não dizer (muito) secundário.

De facto, invariavelmente, neste filme, o masculino aparece identificado ao hediondo - pederasta - incestuoso, ao abandonico (vide Sole - irmã de Raimunda -, personificação do masoquismo depressivo, largada pelo marido), mas sempre num clima dominado pela castração: os homens que não violam, partem e desistem, movidos pelo infortúnio da desventura - o dono do restaurante, por exemplo -, perdem o emprego, fraquejam diante do álcool...

Lamentavelmente, não há espaço para uma representação psíquica do masculino pleno, nesta criação de Pedro Almodovar, pois aquele encontra-se submerso num ambiente dominado pelo feminismo, na sua expressão mais perturbada, que se firma, afirma, triunfa e brilha por via da dissolução do paterno, do masculino, do homem, enfim.

Volver - o título do filme -, no meu entender, mais não é do que uma revisitação!
Volver condensa, de forma simultaneamente eloquente e literária, mas igualmente prosaica, a patologia da repetição.

Volver - voltar, regressar - rima com (eterno) retorno, com repetição de uma mesma história, de um mesmo destino. Como tive ocasião de explicitar, se quisermos, rima com trangeracionalidade: o trauma repete-se, em várias gerações, perpetuando-se o ciclo do vício...