Nos dias que correm, depreciar a obra de Verdi é do mais chic que imaginar se pode: "É demasiado romântico... Nem tem dissonâncias... Excessivamente melodioso... Muito popular... A arraia-miúda vibra com..."
A talho de foice, recordo que menosprezar a Callas, nos idos anos 1950, era prova de maturidade intelectual e musical. O Verdadeiro melómano - intelectual odiava a intérprete grega: "Nem sequer consegue ser fastidiosa... Grangeia aplausos calorosos... Falta-lhe um toque enfadonho..."
Na actualidade, aprecio com indesmentível malícia o desprezo de que a ópera verdiana é alvo.
Confesso, sem pudor algum, que Verdi é, acima de tudo, Otello e Falstaff!
Ainda assim, votar a trilogia verdiana ao abandono é, para mim, prova de soberba e de ignorância!
Na história da lírica, os grandes deixaram conjuntos que se perpetuam: Mozart e a sua trilogia - Daponte, Verdi e a sua trilogia do período intermédio - La Traviata, Il Trovatore e Rigoletto (as três unidas pela fusão do belcanto - técnico com o romantismo - dramático, coisa tremendamente difícil, diga-se!) - e Wagner, que obviamente tinha de ter uma tetralogia, por razões de natureza narcísica e megalómana!
Vem esta prosa a propósito desta critica de Rigoletto, que se encontra em cena no Met.
Rigoletto é uma ópera extraordinariamente difícil de encenar. O mor das vezes, opta-se por uma linha hiper-realista...
Há alguns anos, assisti em Paris a um Rigoletto - realista. A encenação era fastidiosa, pecando pelo tédio - realista.
Ainda assim, no elenco, figurava o grande Juan Pons, barítono verdiano por excelência, Swenson - que sempre peca pela ligeireza, soprano mais ligeiro do que spinto - e o (então) promissor Alvarez, Duque arrojado e galã.
(Juan Pons, na pele de Rigoletto)
Anos depois, no Met, tive ocasião de assistir a uma récita desta ópera verdiana, cuja encenação era... igualmente realista.
Um desinteresse teatral.
A critica a que faço referencia - 100% americana, depurada, portanto, de arrogância, sobranceria e altaneirismo -, aos olhos de um europeu, é um regalo: não há maledicência, nem desprezo, muito menos inveja!
Ainda assim, permito-me fazer um reparo, se me é permitido!
O papel de Gilda não é, nem por sombras, para um soprano ligeiro!
Roberta Peters, Sumi Jo e Ruth Ann Swenson, cujas técnicas são do melhor que há, ilustrando a categoria de soprano ligeiro (vulgo coloratura), são disso prova evidente: triunfam na ornamentação, espalhando-se na expressão do drama.
A Gilda da Callas - por ventura a mais heterodoxa, pela invulgar robustez cénica e psicológica - revolucionou as tradicionais abordagens do papel, encaminhando-o, doravante, para os complexos territórios do lírico-spinto: Scotto seguiu a proposta da grega, triunfando igualmente; Moffo, idem, idem.
A talho de foice, recordo que menosprezar a Callas, nos idos anos 1950, era prova de maturidade intelectual e musical. O Verdadeiro melómano - intelectual odiava a intérprete grega: "Nem sequer consegue ser fastidiosa... Grangeia aplausos calorosos... Falta-lhe um toque enfadonho..."
Na actualidade, aprecio com indesmentível malícia o desprezo de que a ópera verdiana é alvo.
Confesso, sem pudor algum, que Verdi é, acima de tudo, Otello e Falstaff!
Ainda assim, votar a trilogia verdiana ao abandono é, para mim, prova de soberba e de ignorância!
Na história da lírica, os grandes deixaram conjuntos que se perpetuam: Mozart e a sua trilogia - Daponte, Verdi e a sua trilogia do período intermédio - La Traviata, Il Trovatore e Rigoletto (as três unidas pela fusão do belcanto - técnico com o romantismo - dramático, coisa tremendamente difícil, diga-se!) - e Wagner, que obviamente tinha de ter uma tetralogia, por razões de natureza narcísica e megalómana!
Vem esta prosa a propósito desta critica de Rigoletto, que se encontra em cena no Met.
Rigoletto é uma ópera extraordinariamente difícil de encenar. O mor das vezes, opta-se por uma linha hiper-realista...
Há alguns anos, assisti em Paris a um Rigoletto - realista. A encenação era fastidiosa, pecando pelo tédio - realista.
Ainda assim, no elenco, figurava o grande Juan Pons, barítono verdiano por excelência, Swenson - que sempre peca pela ligeireza, soprano mais ligeiro do que spinto - e o (então) promissor Alvarez, Duque arrojado e galã.
(Juan Pons, na pele de Rigoletto)
Anos depois, no Met, tive ocasião de assistir a uma récita desta ópera verdiana, cuja encenação era... igualmente realista.
Um desinteresse teatral.
A critica a que faço referencia - 100% americana, depurada, portanto, de arrogância, sobranceria e altaneirismo -, aos olhos de um europeu, é um regalo: não há maledicência, nem desprezo, muito menos inveja!
Ainda assim, permito-me fazer um reparo, se me é permitido!
O papel de Gilda não é, nem por sombras, para um soprano ligeiro!
Roberta Peters, Sumi Jo e Ruth Ann Swenson, cujas técnicas são do melhor que há, ilustrando a categoria de soprano ligeiro (vulgo coloratura), são disso prova evidente: triunfam na ornamentação, espalhando-se na expressão do drama.
A Gilda da Callas - por ventura a mais heterodoxa, pela invulgar robustez cénica e psicológica - revolucionou as tradicionais abordagens do papel, encaminhando-o, doravante, para os complexos territórios do lírico-spinto: Scotto seguiu a proposta da grega, triunfando igualmente; Moffo, idem, idem.
Sem dúvida. As Gildas da Callas, Scotto e Moffo são as melhores (nesta ordem). Quero também acrescentar a Pagliughi e a Sutherland com o MacNeil no protagonista.
ResponderEliminarEu vi em palco a Sumi Jo. Cumpria.
Raul