sábado, 31 de janeiro de 2009

(as minhas) Norma(s)

A propósito do ciclo Heroínas Trágicas da Antiguidade proposto pela Gulbenkian (tendo incluído Elektra e Medée), que amanhã apresenta em versão de concerto Norma (Bellini), eis a minha revisão das interpretações de referência desta mesma ópera:


(Callas - Serafin, 1954; Sutherland - Bonynge, 1965; Callas - Votto, 1955)


(Callas - Serafin, 1955; Callas - Gui, 1952; Callas - Serafin, 1961)


(Caballé - Patané, 1971)



Sem margem para dúvidas, Callas é a mais dramática, Sutherland a mais ágil e Caballé a mais lírica.

Em todo o caso, Norma e Callas fundem-se, em pleno.

Corelli, Vickers e Del Mónaco serão os Pollione de referência: o primeiro lírico – heróico, o segundo brutal – dramático e o terceiro másculo.

Quanto às grandes Adalgisa, entre Stignani e Simionato, a primeira sobressai. No que se refere às não italianas, a disputa centra-se em torno de Horne e da inusitada (neste papel) Ludwig.

E agora, pergunta-me o leitor: qual delas levaria para uma ilha deserta?

De caras, a de Callas – Serafin (7 de Dezembro de 1955), captada ao vivo no Scala.
A grega, numa das mais fabulosas récitas com que nos presenteou, compõe a Norma modelar: visceral, corroída, sofrida, humilhada... tudo isto servido por uma voz ampla, imensa, de uma potência arrepiante. Ladeiam-na dois outros colossos, Simionato (Adalgisa) e Del Mónaco (Pollione). Votto incendeia a orquestra.

O final do acto I – um dos mais belos trios que a lírica conhece – é, a todos os títulos, antológico.

L'air du temps - II

Claro está, dito isto, resta-me sublinhar que este blog já não é o que era.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

L'air du temps

A psicanálise e o cinema, pouco a pouco, têm vindo a ganhar espaço neste blog...

Despudor...

É adquirir o 41º Don Giovanni...


(Telarc 80726 - Direcção Sir Charles Mackerras)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Lucia di Netrebko (!?) - II

Um leitor amável disponibilizou dois excertos da Lucia do Met - com Netrebko & Villázon -, récita de 26 de Janeiro, que aqui reproduzo:

http://www.youtube.com/watch?v=cZJUz0FbpnE


http://www.youtube.com/watch?v=9MoAMJGZBuU

Em boa verdade, não parece haver razão para grande excitação. Ainda assim, no balanço, Anna Netrebko leva a melhor, claramente. Villázon, annoncé souffrant, espalha-se bem ao comprido...

Sempre o achei um tonto, apesar da beleza do timbre.

Festival d'Aix-en-Provence'09



Queiramos ou não, o Festival d'Aix é, no essencial, uma manifestação lírica.
Por isso, chamo a atenção do leitor para o programa do dito Festival - edição 2009 -, já disponível on-line.

Como glória suma, saliento O Crepúsculo dos Deuses, com Ben Heppner (glorioso!) e Katarina Dalayman, dirigidos por Rattle.

Infelizmente, Aix não é para quem quer, mas para quem pode.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Lucia di Netrebko (!?)


(Anna Netrebko e Rolando Villazón em Lucia di Lammermoor, de Donizetti)

Por fim, a dupla lírica do momento - Villazón & Netrebko (ele um pouco apatetado, comme d'habitude, domage...) debuta no Met em Lucia di Lammermoor, numa produção que, há um bom par de anos, inundou de glória Natalie Dessay:

«(...)

The impressive qualities of her singing were amply on display as the fragile Lucia, who has fallen in love with the enemy of her clannish family in Scotland, Edgardo, but is forced to marry a wealthy nobleman to rescue the family from financial ruin. Ms. Netrebko remains a glamorous and charismatic singer with an opulent and poignantly lovely voice.

During her first scene, in the haunting aria “Regnava nel silenzio,” she shaped the arching phrases with rich sound and lyrical suppleness. She has always valued expressive nuances and impetuosity over rhythmic precision and flawless execution. Vocal connoisseurs who believe that Ms. Netrebko has no business singing daunting coloratura roles like Lucia could point to rough patches and indistinct passagework in her performance to validate their opinion.

Yet during the first part of the mad scene, after Lucia stabs her husband to death on their wedding night, Ms. Netrebko was spellbinding. In the hushed pianissimo passage when the delusional young woman believes she and her beloved Edgardo are at last united, she created vocal magic, imbuing lines with spectral colorings that matched the eerie sounds of the glass harmonica, played by Cecilia Brauer. Her earthy, subdued expressivity had me thinking of Callas.

Finally, though, I wanted a little more accuracy in her work. And Ms. Netrebko’s attempt to dispatch the two traditionally interpolated high E flats during the mad scene proved a bad idea. Nothing in Donizetti’s score mandates those top notes.

Before the final act Peter Gelb, the Met’s general manager, announced from the stage that Mr. Villazón had been singing despite being ill and would finish the performance, but he requested the audience’s indulgence. Several cracked top notes during Mr. Villazón’s performance did seem evidence of indisposition.

At one point he turned an aborted high note into a dramatic coup. It came during the wedding scene, when Edgardo denounces Lucia for her faithlessness in an unaccompanied phrase. Mr. Villazón, a compelling actor, broke off the note he was struggling with, looked at Ms. Netrebko menacingly in silence, cleared his throat, then sang it again, this time with vehemence.

In late 2007 and early 2008, after a spate of vocal troubles, Mr. Villazón canceled months of performances, including Met appearances with Ms. Netrebko in “Roméo et Juliette,” to tend to his vocal and general health. This was his first Met appearance since, and his many fans can only hope that illness was the problem here, not the return of technical troubles. Still, much of his singing was impassioned and affecting, filled with dramatic flair and elegant phrasing.

(...)»

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Medea ou Medée, em aperitivo

Medea, na versão italiana, ou Medée, na francesa.

Medeia para todos os gostos, sempre fiel a Cherubini.

Como aperitivo à Medée a que assistirei na Gulbenkian, eis três indispensáveis interpretações, de duas das mais extraordinárias artistas que revitalizaram a horrenda, terrífica e complexa criatura: Callas e Rysanek.


(Medea, de Cherubini, por Callas e Bernstein - EMI -, por Callas e Serafin - EMI - e por Rysanek e Stein - RCA)

Para que conste, a belíssima G.Jones também deixou a sua marca singular na interpretação de Medeia. Mas, dado que não conheço a sua leitura do papel, não me pronuncio.

Já nos nossos dias, Theodossiou – cuja interpretação da mesma figura abrilhantou uma recente temporada do São Carlos (a.d. ossia antes da derrocada) -, juntamente com a deslumbrante Antonacci, parecem partilhar as mais electrizantes incarnações da figura grega.

Veremos como se porta Iano Tamar, quinta-feira próxima...


Como curiosidade, eis algumas imagens da Callas como Medeia (inclusive na polémica interpretação cinematográfica de Pasolini - cartaz publicitário)




O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON – um (curtíssimo) olhar psicanalítico

O meu olhar psicanalítico não deixou escapar um detalhe, manifestamente lógico, mas apenas explicável, em pleno, por uma leitura mais latente, à la Freud.

O protagonista havia sido rejeitado e abandonado pelo pai, que o colocara junto da entrada de uma casa de idosos. É possível que o progenitor desconhecesse tratar-se de um lar. Sem dúvida. Mas, não embarquemos tão rápido na coincidência!

O pai odiava o filho, recém-nascido, que responsabilizava – não conscientemente, claro – pela morte da sua amada esposa. À repulsa original pela criança acrescia a infeliz circunstância de a mesma apresentar uma fisionomia precocemente envelhecida, fruto de uma raríssima anomalia.

Dito isto, a colocação da criança junto de uma casa de repouso suscita interrogações...

É certo que, ao depositar a criança aos cuidados de outrem, o progenitor deu conta da capacidade de secundarizar e diferir o ódio primário – o desejo de morte – dirigido à criança.

Mas, se não embarcarmos na tese da coincidência, questionamo-nos sobre um desejo de morte francamente mais difuso: entregar um ente a uma casa de repouso é – convenhamos – preparar um caminho irreversível. Tratando-se de uma criança de fisionomia envelhecida...



Em todo o caso, o ponto mais relevante, psicanaliticamente falando, prende-se com a repetição do abandono, provável matriz da neurose do filho Button.

Benjamin Button, precocemente abandonado pelo pai, em circunstância terríveis, quando se vê na pele de pai, lui-même, repete a história do paterno ausente. Uma vez mais, o argumento manifesto – a idade / maturidade em retrocesso – impedi-lo-iam de assumir em pleno o lugar de pai, mas sabemos quão falível esta explicação é!

Verdadeiramente – ossia no plano latente – Button filho, por via da sua retirada de cena – que culminou no abandono da filha -, deu expressão à compulsão à repetição: a história do pai perpetua-se trangeracionalmente.

Se quisermos – no limite – o gesto do filho dá conta da identificação com o agressor. Melhor dito, o filho Button, vítima que fora, num primeiro momento, da agressão perpetrada pelo pai, torna-se agora – no momento em que abandona a sua própria filha – num agressor. Ao repetir o gesto, o filho abandona o estatuto de agredido, assumindo o de agressor activo, como o próprio pai Button.

nota: roubei esta imagem ao Lauro António! Foi por uma boa causa...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Les deux enfants du Régiment



La Fille du Régiment, de Donizetti, constitui uma das maiores pérolas do belcanto italiano. Tecnicamente, a partitura é assassina: agilidade a rodos, lirismo qb e espírito buffo.

Ousar os papeis titulares da ópera – Marie e Tonio – é como executar acrobacias circenses, sem rede alguma. Não é para bons intérpretes, mas sim para criaturas perfeitas (pelo menos, no que se refere à técnica).

Nos últimos anos, os protagonista da ópera viram-se ressuscitados pela francesa Natalie Dessay e pelo peruano Juan Diego Flórez. Todavia, entre o declínio da dupla Sutherland – Pavarotti e a emergência de Dessay – Flórez, houve um longo hiato.

É certo que June Anderson e Alfredo Kraus foram nutrindo esta peça lírica de Donizetti, mas sem o brilho da australiana e do italiano!

Vem este post a propósito da feliz reedição, em mid-price, pela DECCA, da melhor La Fille du Régiment que se conhece. Se é verdade que, em dvd, há concorrência bem feroz - vide aqui e aqui -, no domínio do cd, este magnífico registo não tem rival algum!

É aguardar, impacientemente, e comprar, de olhos fechados!
Pela parte que me toca, posto que ainda tenho a versão full-price, só me resta recostar-me e deliciar-me com a fabulosa dupla!


Ah mes amis quel jour de fête...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Compromissos com o Leitor:

Não abandonar a graciosa síntese Leite Vigor – achocolatado Cadbury (solúvel).
(Lá porque a Kellogs criou flocos de milho cobertos de chocolate em pó...)

Não corrigir os filhos, sempre que estes, dirigindo-se aos adultos seus pais, os tratem por tu.
(Na pastelaria Cristal, que frequento há anos, aos fins-de-semana, há circo garantido: «Maria do Carmo: a menina já não come mais croquete, tá a ouvir a mãe?», «Oh B’nardo, voci ‘tá farto de quemer tôstas, pêre aí!», «Fesisco, não se diz: “Queres, mãe?”! O menino deve dizer “A mãe quer?”»)

Não passar fins-de-semana no Banzão.

Fugir da Praia das Maças como quem foge da cruz.

Não ir a eventos - de carácter social ou misericordioso - servidos pelo senhor Campos Henriques.

Não ir aos Outlet da Big Apple.

Não ler em demasia as crónicas de João P. Coutinho.
(Nomeadamente a deste fim-de-semana, sobre Cristiano Ronaldo, que enferma de uma inveja abominável)

Não idolatrar o chato do Bénard da Costa, tido como o último salvador do cinema de autor e independente, cujas escolhas decorrem de um subjectivismo despótico e tirano.

Não ir p’á nêve.
(jamais!!!)

Não baptizar – a ler como traumatizar – os meus demais vindouros filhos com graças do seguinte calibre: Maria do Carmo, Lourenço, Caetena (muuuuito mau! Uiiiiiiiiii), Bernardo, Francisco, Maria do Mar, Leonor, Diniz Maria, etc.

sábado, 24 de janeiro de 2009

A Picareta da Critica

Da crítica de Jorge Calado à (magnífica) Elektra, (in Expresso, 24/01/2009), apreciei e retive duas passagens.
Advirto que, à parte as pretensões aristocráticas do mencionado senhor - meras expressões de uma snobeira torpe -, habitualmente leio as suas críticas, que respeito e admiro.

A primeira, fruto da snobeira narcísica do dito senhor - que teima em menosprezar o público (invariavelmente “estúpido e inculto”) -, reza assim: “É um luxo ter um tenor como Johan Botha no AEgisth. Foi pena o público não ter percebido que ele era, de longe, o melhor e mais bem equipado cantor em cena.

O público, senhor Calado, essa vil categoria de ignorantes em que as iminências pardas criticas, verdadeiras luminárias da razão, não se revêem, não é estúpido nem ignorante!

Botha é um bom cantor de nível internacional, que já tive ocasião de ver em cena, hélas, em duas interpretações pouco acima do sofrível – Pollione (Norma) e Otello, da ópera homónima de Verdi. Rezam as crónicas que, por exemplo, como Walter (Os Mestres Cantores) e Florestan (Fidelio), o nivel da mediocridade não foi ultrapassado pelo tenor... A figura – que em ópera conta muito – atraiçoa o senhor, incessantemente, o que não ajuda, é certo...

Certamente que as críticas às descritas interpretações – realizadas por plebeus incultos e deslumbrados – enfermam de consistência e substrato erudito.

Prosaicamente, acho que Botha teve, na Elektra que aqui me trouxe, uma prestação de bom nível, embora muito longe do brilho de Polaski, Plowright e Foster. Mas, afinal de contas, quem sou eu?!

Quanto à segunda tirada magi
stral da crítica de Calado, aqui vai: “O que impediu uma grande noite de ópera foi a direcção quadrada, arrastada e pouco transparente (embora o final fosse bem conseguido).”

Se me permite, Calado-Mor, tiradas deste calibre, a menos que provenham de uma criatura terrena e sem cultura musical (como eu), carecem de fundamentação, sob pena de se tornarem estéreis ilustrações de uma critica, não redonda, mas obtusa!

Já agora, de críticos de pacotilha - Pedro Boléo - e gralhas brasonadas - Jorge Calado - está a imprensa lusa cheia...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tiradas Snob

Regozijo-me com a ausência de Michael Fassbender (Hunger) da lista de nomeados para o Oscar - Melhor Actor Principal.


(M. Fassbender em Hunger, de Steve McQueen)

Certos desempenhos são demasiado grandes para eventos feéricos, for sure, mas demasiadamente irrelevantes.

Desengane-se o leitor que me imagina fiel ao espírito de certa cinematografia europeia pretensamente aristô. Nem por sombras!

Ainda assim, tenho por certo e seguro que o Sands de Fassbender é um colosso, que a história se encarregará de enaltecer.

No essencial, creio que Michael Fassbender percebeu a motivação inconsciente de Bobby Sands.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Caimão


(Cartaz publicitário de O Caimão, de Nanni Moretti)

Depois de O Quarto do Filho, O Caimão é, para este escriba, a obra maior de Nanni Moretti. Nele, o próprio Moretti, num furtivo quarto de hora, compõe um Berlusconi esplendoroso: patético, vil e de um populismo que roça o reles. À côté, a personagem que o actor / realizador compõe fascina-me pela elevação e grandiosidade demagógicas. Isso mesmo.

Conhece o avisado leitor, no cinema, maior expoente do que o presente em matéria de demagogia pura e dura? Eu não!

Notável.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"il n'y a pas que l'aigu dans la vie"

Nat Dessay dixit, a propósito da sua mais recente incarnação lírica, Mélisande (Pélleas et Mélisande - Debussy), cuja prise de rôle teve lugar em Viena, a 13 de Janeiro último.



«Elle ose aujourd'hui sur scène, à Vienne, la Mélisande du Pelléas et Mélisande, de Debussy, un rôle écrit dans le bas médium d'une voix quelle ne possédera jamais et qu'elle conquiert par la force du rêve et du style.

(...)

Certes, affirme-t-elle, "n'importe quelle voix peut aborder Mélisande : c'est un rôle qui ne relève pas vraiment du chant et Mary Garden, sa créatrice, en 1902, avait une voix plutôt légère". Il n'empêche : pour la première fois, la Dessay ne "fait" pas sa voix avant d'entrer sur scène, pour préserver ses graves.

Ce n'est pas pour rien qu'elle a choisi l'écrin du Theater an der Wien "où l'on peut entendre jusqu'à la moindre couleur du moindre murmure". Pas pour rien qu'elle a préféré à d'autres la direction de Bertrand de Billy, chef français dont la carrière à l'étranger devrait donner à réfléchir à nos institutions lyriques.

(...)

Un Laurent Pelly qui a pallié l'absence de comédie (genre dans lequel il excelle) en tirant Pelléas vers les abîmes de La Chute de la maison Usher, cet opéra d'après le conte d'Edgar Allan Poe, que Debussy n'achèvera jamais et qui le hantera toute sa vie. Une belle idée qui, malheureusement, s'enlise quelque peu dans les décors de mangrove de Chantal Thomas - version morbide d'une "île de la tentation" symboliste, grands fûts lisses (troncs d'arbres et piliers), carcasse de navire échoué, rochers stylisés et autres rideaux de lianes, comme rejetés par la mer.

"INCARNER UNE FRAGILITÉ"

La Mélisande de Natalie Dessay, quant à elle, rappelle la silhouette dessinée par Rochegrosse pour la partition d'orchestre originale gravée chez Eugène Fromont au cours de l'été 1903. Grande robe bleu clair qu'elle fait tourner en derviche, longue chevelure blonde nouée, elle est bien cet oiseau qui n'est pas d'ici, que Laurent Pelly met judicieusement en lévitation dans les arbres. "L'essentiel est d'incarner une fragilité et un mystère, explique-t-elle, femme-enfant venue de nulle part, en pleurs dans la forêt, que le chasseur Golaud a ramenée au château du vieil Arkel après l'avoir épousée." "C'est un personnage dont on ne sait rien si ce n'est qu'elle a été violentée et traumatisée, ajoute-t-elle. Elle choisit de tomber amoureuse de celui qu'il ne faut pas aimer, Pelléas, mais qui parle toujours de s'en aller." Cet amour pris au piège de la destinée, Pelly l'a voulu léger et presque sans passion, si ce n'est au soir des adieux (Stéphane Degout y est débordant de sex-appeal vocal). Il a par contre porté la jalousie de Golaud à la limite de l'insoutenable : passant à la question l'enfant Yniold brandi en vigie au milieu d'une tempête, tentant d'arracher, debout sur le lit de mort de Mélisande, une vérité qu'il ne veut pas croire. Golaud, que Laurent Naouri incarne de manière exemplaire.

"Je regretterai toujours de ne pas pouvoir faire Tosca, Salomé et même la Tatiana d'Eugène Onéguine", disait encore Natalie Dessay à la veille de la première, le 13 janvier. Qu'elle se rassure, sa Mélisande les révoque toutes.»



Para os interessados, ainda haverá récitas a 20, 22 e 25 de Janeiro, às 19 horas (mais informações aqui).

domingo, 18 de janeiro de 2009

Fome (também) de Glória e Protagonismo


(Hunger - ossia Fome -, de Steve McQueen)

Um retrato brutal, cru e desapaixonado, tendencialmente neutro, do conflito Ira vs British, tendo como protagonista Bobby Sands, a mais mediática figura a assumir uma greve de fome que, soi disant, visava a obtenção do estatuto de prisioneiros políticos para os membros do Ira encarcerados.


A interpretação assombrosa de Fassbender (Bobby Sands) constitui o mais sólido argumento deste filme.

Sands, no magistral diálogo com o padre, seu conhecido de há muito, a quem anuncia a iminência do protesto, revela as suas motivações mais profundas. Ou melhor: o padre – qual psi – confronta-o com o peso de um discurso latente, que o protagonista teima em ocultar.

É bem verdade que o móbil manifesto da radical reivindicação protagonizada por Sands se alicerça na obtenção de um estatuto de preso politico. Contudo, de antemão, Bobby sabia que a sua exigência jamais seria satisfeita pelo governo liderado pela Dama de Ferro. A luta do irlandês redundaria assim, inevitavelmente, na própria morte.

O gesto de Bobby Sands, muito além da prosaica leitura politica que se conhece, é a expressão de uma aspiração narcísica imensa: um magnânimo desejo de reconhecimento absoluto, respeito incondicional e veneração suprema, além da paradoxal aspiração imortal.


(mural de homenagem a Bobby Sands)

O padre sabe-o, tão bem quanto o activista. Perto do termo do derradeiro diálogo que mantêm, num gesto de sagacidade, o mesmo padre lança a pedra no charco: “O que queres, verdadeiramente, é ficar na história, como herói e mártir”.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Elektra (ainda...)

Augusto M. Seabra, no site da Fundação Calouste Gulbenkian, faz uma revisão das suas Elektra (R. Strauss) disponíveis no mercado, tanto em cd, como em dvd.

Eis a minha lista de Elektra indispensáveis, por ordem de aquisição (sem outro critério):


Link
(DG - Sinopoli, DECCA - Solti, EMI - Sawallisch)


(DG - Böhm, Arthaus dvd - Abbado, GALA / KOCH - Kraus)


(DG dvd - Böhm, DG dvd - Levine, TELDEC - Barenboim)


Caso o leitor pretenda uma amostra mais restrita – para uma ilha deserta ou similar -, recomendo Sinopoli (pela clareza da leitura), Solti (pela densidade orquestral e pela protagonista do século, Nilsson) e Böhm (dvd, por tudo, tudo, tudo: protagonistas, orquestra, direcção e encenação). A talho de foice, diga-se que as interpretações de Sawallisch e Abbado (dvd) dispõem da Crisótemis absoluta, Cheryl Studer.

Resumindo e baralhando, Böhm eternizou Elektra (num mix áudio - vídeo, como aqui tive ocasião de referir):


(DG 073 4095)

A escolha não é assim tão difícil, caro leitor! Faça como eu: coleccione-as todas ;-)

Disse-me um passarinho...

...que, em tempo de crise, investe-se na recuperação dos fundos de catálogo.

A Orfeo recupera um Der Rosenkavalier, dirigido por C. Kleiber, em 1973.




A NAXOS, como vem sendo hábito, publica em formato mid-price os tesouros de estúdio (EMI) da Callas: La Sonnambula, La Bohème e Turandot.

Se os dois últimos artigos constituem curiosidades, num panorama saturado de outras interpretações incontornáveis, Callista que se preze não os dispensa!
Já o primeiro artigo... É ABSOLUTAMENTE INDISPENSÁVEL!



É aproveitar, Senhoras e Senhores!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Elektra, Fundação Calouste Gulbenkian


(Polaski, Plowright e Foster)

Deborah Polaski, Rosalind Plowright & Lawrence Foster, luxuosamente, revisitaram Elektra (Richard Strauss).
Imperdível.


Abriu com chave de ouro o ciclo das Heroínas da Antiguidade.
Ao que tudo indica, a partir dos 60, a vida ganha novo folgo...

A apreciação crítica deste ciclo virá mais tarde, em jeito de balanço.

nota: espantosamente, ainda há (muitos) bilhetes disponíveis para a récita de 19 de Janeiro.

4 Anos!!!

Embora com um dia de atraso, é tempo de comemorar a efeméride:
operaedemaisinteresses conta com 4 anos de vida!!!



Simpaticamente, a Teresa já aludira ao acontecimento.
Em boa verdade, indirectamente, também a Teresa Contemporá/ânea esteve na génese deste blog.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Cometa Mortier

Bruxelas - Salzburgo - Paris - Nova Iorque - Madrid...

Definitivamente, Mortier assentará arraiais em Madrid, no Teatro Real, já a partir de 2010. Invejo Espanha, por esta e outras ousadias...
Nós, por cá, vamos ficando com a escória da gestão lírica.

Bom, adiante!
Em final de mandato, eis o balanço de G. Mortier, relativamente à Opéra National de Paris, que dirigiu durante cinco anos.



(Gérard Mortier)

Da entrevista, apreciei duas passagens, que reproduzo:

«Vous avez eu des mots très durs contre le public qui ne goûtait pas vos mises en scène.

Je me suis emporté parce que c'est à Paris et nulle par ailleurs que j'ai entendu crier dans la salle : "Mortier au bûcher !" Je ne déteste pas la polémique, mais c'est assez difficile à supporter... On sait que les Français sont moins intéressés par la musique que par la littérature ou les arts plastiques. Mais leur gros défaut est d'avoir un avis sur tout, même sur ce qu'ils ne connaissent pas. Ce que j'appelle le côté Madame Verdurin du public parisien... J'ai reçu des lettres qui insultaient le travail pour Tristan de Bill Viola, l'un des plus grands artistes d'aujourd'hui. Cet opéra n'a pas toujours le public qu'il mérite...

(...)

On m'a alors proposé le Staatsoper de Berlin. Mais, avec le chef d'orchestre Daniel Barenboïm, bien que nous nous appréciions, nous aurions été deux tigres sur la même montagne. Enfin, Madrid, avec qui je discute depuis longtemps, m'a appelé. Les Espagnols voulaient aussi Stéphane Lissner [patron de la Scala de Milan]. Mais je crois que Lissner est le futur directeur naturel de l'Opéra de Paris en 2013.»

Frontal e sem rodeios!

Goste-se, ou não, da obra de Mortier, há que reconhecer a sua veia ousada, radical e vanguardista. Não será para todos os gostos, é certo...

Pessoalmente, gosto do espírito de ruptura de Mortier: um insubmisso.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Marijana Mijanovic & Ano Lírico

O incontornável contralto do momento, Marijana Mijanovic, marca a abertura do ano lírico de Dissoluto Punito & Família, Domingo, na Gulbenkian.

Seguem-se as três récitas (em versão de concerto) de Elektra, Médée e Norma, na mesma fundação.


(Marijana Mijanovic, contralto
)

Esta temporada, optámos por boicotar em massa o São Carlos. Gostamos de leite VIGOR, achocolatado CADBURY, iogurtes marca branca do PINGO DOCE, leite condensado, doce de abóbora, sushi (franchisado ou não, ainda que o do ASSUKA seja do melhorio!), entrecôte - da Brasserie, preferencialmente bien saignat -, croissants & meias - de - leite da Cristal (à Lapa). Em contrapartida, abominamos comida requentada, enlatados e quejandos!


Não conhece o leitor a mencionada senhora? Não, não e não?! Nos primórdios deste blog, falámos na dita!
Comece por esta Rodelinda, passeie-se por este Bajazet e - acima de tudo - maravilhe-se com este esplendoroso Giulio Cesare!

Vemo-nos Domingo próximo, pelas 19.00 horas?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

38






















Desta feita, a efeméride será manuscrita ;-)