sábado, 31 de janeiro de 2009

(as minhas) Norma(s)

A propósito do ciclo Heroínas Trágicas da Antiguidade proposto pela Gulbenkian (tendo incluído Elektra e Medée), que amanhã apresenta em versão de concerto Norma (Bellini), eis a minha revisão das interpretações de referência desta mesma ópera:


(Callas - Serafin, 1954; Sutherland - Bonynge, 1965; Callas - Votto, 1955)


(Callas - Serafin, 1955; Callas - Gui, 1952; Callas - Serafin, 1961)


(Caballé - Patané, 1971)



Sem margem para dúvidas, Callas é a mais dramática, Sutherland a mais ágil e Caballé a mais lírica.

Em todo o caso, Norma e Callas fundem-se, em pleno.

Corelli, Vickers e Del Mónaco serão os Pollione de referência: o primeiro lírico – heróico, o segundo brutal – dramático e o terceiro másculo.

Quanto às grandes Adalgisa, entre Stignani e Simionato, a primeira sobressai. No que se refere às não italianas, a disputa centra-se em torno de Horne e da inusitada (neste papel) Ludwig.

E agora, pergunta-me o leitor: qual delas levaria para uma ilha deserta?

De caras, a de Callas – Serafin (7 de Dezembro de 1955), captada ao vivo no Scala.
A grega, numa das mais fabulosas récitas com que nos presenteou, compõe a Norma modelar: visceral, corroída, sofrida, humilhada... tudo isto servido por uma voz ampla, imensa, de uma potência arrepiante. Ladeiam-na dois outros colossos, Simionato (Adalgisa) e Del Mónaco (Pollione). Votto incendeia a orquestra.

O final do acto I – um dos mais belos trios que a lírica conhece – é, a todos os títulos, antológico.

21 comentários:

  1. Dissoluto, não é Serafin quem dirige a miraculosa Récita Norma 7 de Dez.55, mas sim Antonino Votto… ai que o menino anda distraído e não aprende as lições!! :-D :-D
    Nos idos de 90 tive esta mesma Norma na mão (Edição ARKADIA GOLD)… e deixei-a escapar… ( não a comprei). Nunca mais a vi, nem noutras edições de outras etiquetas. Se hoje a conseguisse apanhar… :-# … não me escapava!!!
    Mas o som… Deus meu… :-( ...
    as remasterizações destas gravações piratas e radiofónicas dos anos 50 revelam-se muito medíocres, ainda hoje (EMI, Best Sound Engineers? Where are you?)
    O mesmo se passa coma versão Gui que tive há dias na mão, e só não a comprei exactamente por causa do som… apesar de ser etiqueta oficial EMI…
    Alguém deste Blog me pode opinar sobre o som Norma Gui Covent Garden52 e… como encontrar a Norma55 Alla Scala Votto, Del Monaco, Simionato…?? :-)

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  2. MR LG,

    Foi um lapso meu ;-( q já corrigi! Sei bem ser Votto! Aliás, sob a capa do cd, como se vê, coloquei o nome de Voto ;-)))
    A Norma de Gui nada tem de indispensável, nem mesmo a Callas se encontra no seu melhor !
    Quanto às demais, gravo-lhas, se quiser.

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  3. Não posso concordar. Não posso, pronto.
    Vou ver esta Norma que já sei ser uma nódoa daqui a umas horas.

    A Norma suprema, para mim, é Dame Joan Sutherland (a Caballé era boa, mas uma estaca em palco).

    Callas cantava uma oitava abaixo. Admito que vê-la em palco fosse electrizante... sou demasiado nova.

    A parceria Sutherland-Horne não tem igual.

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  4. Uma outra Norma da Callas que recomendo é a captada em Trieste em 1953 com Corelli, Nicolai e Christoff. Seria um interessante termo de comparação com a versão de Covent Garden (1952). No entanto, julgo que a Norma a levar para uma ilha deserta seria a do Scala 1955.

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  5. Caro Dissoluto,
    Muito obrigado pela sua amabilidade e disponibilidade. Na realidade queria ouvir na íntegra a NORMA55- tenho só desta Récita um disco vinil muito antigo: década de 80 (AH, SAUDADES!... :`-( )e foi a minha introdução (inesquecível!!) à NORMA de Vincenzo Bellini… e logo com quem e com que momento de sublimidade musical!
    A NORMA52Covent Garden tenho muita curiosidade em ouvi-la. Callas no seu apogeu vocal! Acho que evolui da Callas desesperada dos Anos 60 para a Callas vaillante e sanamente vocal dos inícios de 50.
    Mas… o som das captações piratas e radiofónicas dos anos pretéritos… Ah, o som… (Piangi… Piangi, ahi misera…)
    Eu preferia dar-lhe o meu e-mail. Pode ser?
    Thank you, thank You… ;-)
    P.S1 – Hugo Santos: também tenho uma curiosidade de morrer pela Norma53 Trieste. Corelli, Christoff, Nicolai… My God! Que sede de fogo no Palco!
    PS.2 – Teresa e Raul. Atenção a respostas minhas (infelizmente atrasadas… :-( ) em anterires Posts/Debates de ideias lançados pelo nosso caro Dissoluto.

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  6. A Callas para cantar "Norma" uma oitava abaixo só se fosse um "basso profondo"!

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  7. LG,

    Pode enviar o e-mail (só eu o lerei ;-) )

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  8. Bingo! Dissoluto.
    Caro Hugo Santos, há extractos no You Tube da NORMA Trieste53:

    http://www.youtube.com/watch?v=1FpVGA0VlQM

    E... Callas earliest video

    http://www.youtube.com/watch?v=5GG8jBROH1c&feature=related

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  9. Se alguém se identificou 100% com um papel em ópera foi a Callas com a Norma e falar de outra cantora superior à Callas ou mesmo igual neste papel, para mim, resulta de duas coisas: não conhecer a personagem em termos melodramáticos ou não perceber a revolução «Callas». Quanto às interpretações da cantora, tenho essas quatro referidas pelo João, todas geniais, e concordo que a versão do Scala ao vivo seja vocalmente a ideal, mas não era essa que eu levaria para a ilha deserta. A que eu levaria seria a última em estúdio com o Corelli e Ludwig, pela simples razão que a análise da personagem passa da compreenção para a lição. Embora a voz na zona aguda acuse alguns pequenos problemas, inexistentes nas outras gravações, a zona média e principalmente a zona grave servem o drama de uma maneira para a qual não encontro adjectivação. É todo o Sediciozi voci (aquele grave !), o «madrina», o «nominare non oso» , o «in mia man». Sãos sons que, a mim pelo menos, ficaram gravados para sempre bem dentro da minha sensibilidade. Outras Normas? A Caballé, evidentemente pela beleza da voz e força dramática e porque é Norma dos pés à cabeça, a grande Cerquetti, pela voz de soprano dramático, porque tem a autoridade de Norma, pelo timbre, pela italianidade. A Sutherland, voz excepcional, não é a Norma que idealizo. Não tem graves, a voz não tem cor dramática, o italiano não serve os recitativos, embora tenha autoridade e canta a Casta Diva, um canto elegíaco, como nenhuma outra, mas a ária não Norma a pensar ou a agir.

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  10. Car Raúl,
    100% do meu apoio neste seu Post.
    See You.
    LG

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  11. Caro Mr. LG, sem querer duplicar a oferta do nosso caríssimo Dissoluto (desculpe, João), também lhe posso arranjar as ditas gravações. Que me recorde, a do Scala é directamente remasterizada do LP. A de Trieste apresenta um qualidade sonora entre o mediocre e o razoável.

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  12. Grato pela atenção e cuidado no seu Post, Hugo Santos.
    Sem desprezar a sua oferta e como o nosso Dissoluto avançou primeiro, estou em vias de negociação com o respectivo dono deste Blog.
    (Lembrei-me e comparei... sem nada a propósito... mas o cérebro tem destas coisas...) se o conflito israelo-árabe se resolvesse como nós resolvemos com uma simples troca de Gravações da Suprema Maria na NORMA...
    O mundo seria o Jardim do Eden, com as Marias, as Karitas e as Varnays a emprestarem as suas vozes contribuindo para a harmonia humana...hmmm ... Sinfonia nº9 de Ludwig van Beethoven, op.125, dita a "Coral"...
    Não sei porquê, passei-me de repente e deu-me para estas reflexões...
    Desculpa lá Hugo... é da idade... :-D :-D ;-)

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  13. Acrescentando...
    Eu enganei-me quando disse que possuía as 4 Callas referidas pelo João. A versão com a Stignani e o Del Monaco não possuo.
    Sobre a gravação do Covent Garden apenas pode haver o preciosismo da Callas na Casta Diva transmitir um cuidado excessivo, fruto de um certo nervosimo. O que se segue é a Norma da Callas no que tem de único. Sobre a Stignani ainda há poucos anos relembrou o grande crítico John Steane, presente na récita, o «frisson» que foi quando a voz da Stignani se soltou pela primeira vez percorrendo a sala. O dueto do primeiro acto com a Callas é para mim o melhor que há gravado. À voz opulenta da Stignani responde a Callas na sua mais perfeita sintaxe belcantista. Mirto Picchi é um estilista e grande cantor e Giacomo Vaghi, baixo de voz bem sonora é um grande Oroveso. Quanto ao maestro Vittorio Gui, estamos a falar de um dos maiores maestros de ópera italiana do século XX, da exclusiva prateleira do De Sabata, do Serafim e do Marinuzzi, os seguidores de Toscanini. Não é por acaso que a EMI editou esta gravação ao vivo colocando-a a par das outras duas da Callas em estúdio.
    Nesta lista de CDs uma Norma não foi referida e que é de altíssimo nível, a da Caballé com a Cossoto e o Domingo, todos intérpretes ideais: a Caballé já sabemos; a Cossoto é a perfeita Adalgisa, superior à Horne e à divina Ludwig, que tem um pouco falta de italianitá; o Domingo é perfeito não devendo nada aos outros Polliones, excepto ao Corelli, para mim, a personificação da personagem, Aliás todos as personagens romanas (Pollione, Licinio de La Vestale e o Poliuto) assentavam-lhe como uma luva. Ouví-lo na versão da Cerqueti é uma experência única.

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  14. Não tenho muito a acrescentar à discussão. Tudo o que haveria a dizer acerca das Normas da Callas já foi dito.

    No entanto, deixem-me lançar uma discussão ;)

    Acham que hoje em dia há Normas no activo?
    Na minha opinião, e de todas a tentativas recentes que ouvi, acho que não (Gruberova, Guleghina, Papian).

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  15. Bom lembrete, Raúl.
    1ºs dias de Janeiro de 1958, Scandalo a Roma: a Norma/Callas dá lugar à tigreza, a tigreza dá lugar à titã vocal Cerquetti que tem que enfrentar os não menos titãs Corelli e Neri. Faço ideia a sanidade vocal que fazia abanar as paredes da Ópera de Roma…
    Meus senhores, Pretéritos vocais em plena acção!!... :-)
    A etiqueta MYTO acabou de lançar esta gravação pirata? radiofónica? dos tempos da glória passada... :`-(
    Quanto ao som…. Raúl??...
    No norte não se arranja a MYTO, em Lisboa onde?...
    A preço Top, estou mesmo a ver… :-(
    Resposta a este Post… alguém…??
    All the Best ;-)

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  16. LG,
    Eu comprei essa Norma da Cerquetti no Corte Inglês de Vigo (!) há uns 15, 16 anos. O som é aceitável. A gravação de de 4 de Janeiro de 1958 dá-nos uma ideia da atmosfera reinante, que é o mais anti-Callas possível. No fim da Casta Diva, maravilhosamente cantada, o teatro vem abaixo, com os aplausos a misturarem-se com as «bocas» do público. Já perto do fim alguém solta um «grazie» seguida de mais uma onda de aplausos.

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  17. Ricardo,
    No século XX grandes Normas só a Ponselle, a Callas, a Caballé e de uma forma cometa a Cerquetti. Podemos juntar outras Normas que não são ideais mas vale a pena escutar: Cigna (berrava), Souliotis, Scotto, Sutherland, Verrett e a Gruberova, cuja abordagem depois dos 60 me deixou impressionado. Outras já estão longe dos requesitos. Vamos ver se a Nina Stemme, com o seu potencial de voz o põe ao serviço da gluckbelliniana Norma.

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  18. Em resposta ao Ricardo

    Sim existe uma excelente Norma no activo, mais Cerquetti que Callas, como comprovam dois extractos no youtube. Vimo-la em Lisboa no Guilherme Tell ainda muito jovem, aliás em estreia absoluta, e na Aida em circunstâncias bastante dificeis e chama-se Ana Maria Sanchez. Que vir os links abaixo poderá avaliar por si própio.

    http://www.youtube.com/watch?v=ZzdSMMajS5E


    http://www.youtube.com/watch?v=E_DWDN4YeRA

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  19. Outra Norma do séc. XX que vale MESMO a pena descobrir é a holandesa Christina Deutekom! Absolutamente fantástica. Não há gravações comerciais das suas Normas mas para quem quiser posso arranjar umas gravações pirata relativamente boas!

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  20. Ricardo,
    Sim, tem razão. Grande voz.

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  21. Eu tenho a Norma da Deutekom ao vivo em São Francisco (1975) com a Troyanos, o Robleto Merolla e o Clifford Grant, dirigidos pelo Carlo Felice Cillario. Outra gravação com a diva holandesa que devo ter algures é de Bregenz (1970) e conta com o Aldo Bottion, a Bianca Maria Casoni e o Paolo Washington. Seja como for, a Deutekom tem a "stamina" que lhe permite abordar o papel embora a densidade dramática da Callas não se vislumbre. Outra intérprete longe do ideal que me agrada como Norma é a Grace Bumbry. Existe a gravação de Covent Garden (1978) com Veasey e Pedro Lavirgen, Rio de Janeiro (1980) com Florence Quivar e Ruben Dominguez e aquela com a melhor qualidade sonora: Martina Franca (1977) com Giacomini, Cuberlli e Lloyd. Demais Normas que vale a pena ouvir incluem a Gencer (Buenos Aires, 1964 / Scala, 1965), a Radmila Bakocevich (Trieste, 1968; quem sabe, um dia, surjam as récitas de São Carlos com a Cossotto em 1967), a Elinor Ross (Veneza no La Fenice ou em Berlim, 1966/67 com Cossotto/Vighi e Del Monaco) e ainda a Marisa Galvany (Caracas, 1975 / MET, 1979). Relativamente ao papel de Pollione, a virilidade e relativa flexibilidade do material vocal, transformam o Corelli num intérprete ideal, embora o "desplante" com que o Del Monaco aborda o papel o torne irresistível.

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