...por força da lei das compensações, ossia: Pollione (Botha) neutraliza Oroveso (Kotchinian) e Adalgisa (Brunner) compensa Norma (Dussmann). Que não haja dúvidas!
Ousar incarnar a protagonista de Norma (Bellini) é como almejar o céu. Não que as pretéritas protagonistas de referência – cronologicamente: Ponselle, Cigna, Callas, Sutherland e Caballé – fossem isentas de mácula!
Felizmente, não pertenço aos que idealizam as prime donne de outrora...
Em boa verdade, discordo dos que fixaram na figura de Isolda (Tristan und Isolde) o papel feminino supremo, pela exigência dramática e de meios. Norma é, para mim, O papel.
Norma requer um domínio técnico ímpar – agilidade e extensão invulgares -, resistência e volume, a par de habilidades dramáticas reconhecidas.
Na versão de concerto de Norma, que a FCG integrou no ciclo Heroínas Trágicas da Antiguidade, Silvana Dussmann atreveu-se a abordar a protagonista da ópera. Ousou, arriscou e estatelou-se ao comprido...
Dussmann será uma intérprete esforçada e empenhada mas, como cantora, roça a mediania. Faz uma incursão no belcanto, ignorando a sua essência! Não sabe a dita senhora o que é respeitar a linha melódica, desenhar arcos belos e graciosos, ornamentar... Ao invés, a senhora Dussmann revela sérios problemas de afinação, estridência e uma falibilidade na coloratura confrangedora.
Começou péssima - uma Casta Diva de feira (o final da cabaletta merecia um apupo!) -, depois lá se aguentou, não deixando de conspurcar o notável trabalho de dois dos demais solistas, Botha e Brunner.
Heidi Brunner concebeu uma Adalgisa muito respeitável e digna. Muito disciplinada (sobretudo no acto I, é certo...), abrilhantando o dueto com Pollione, claramente o momento maior da récita, na minha opinião.
O Pollione de Botha, antes de mais, deu-me uma valentíssima bofetada de luva branca. Sempre o desprezei, apoiando-me em (algumas, por certo!) prestações sofríveis que me proporcionou, a maior das quais – hélas - como Pollione, há exactamente dez anos.
Indubitavelmente o melhor intérprete da récita, Botha revelou pujança, técnica, talento interpretativo e ousadia. Com agudos certeiros e volume generoso, brindou-nos com uma entrada triunfal – Meco all'altar di Venere -, embelezou o dito dueto com Adalgisa, sobressaindo no terceto que encerra o acto I.
Do Oroveso de Kotchinian, pouco haverá a enaltecer, para alem de um timbre interessante, que se foi abafando e extinguindo...
Foster não deixará memória na direcção desta Norma, orquestralmente rotineira e insípida.
(Giuditta Pasta, a prima Norma)
Termina assim o ciclo (ousado e atrevido, mas louvável) proposto pela FCG - Heroínas Trágicas da Antiguidade -, que havia começado com chave de ouro, com uma Elektra de antologia, tendo sido maculado por uma Medée olvidável.
Ousar incarnar a protagonista de Norma (Bellini) é como almejar o céu. Não que as pretéritas protagonistas de referência – cronologicamente: Ponselle, Cigna, Callas, Sutherland e Caballé – fossem isentas de mácula!
Felizmente, não pertenço aos que idealizam as prime donne de outrora...
Em boa verdade, discordo dos que fixaram na figura de Isolda (Tristan und Isolde) o papel feminino supremo, pela exigência dramática e de meios. Norma é, para mim, O papel.
Norma requer um domínio técnico ímpar – agilidade e extensão invulgares -, resistência e volume, a par de habilidades dramáticas reconhecidas.
Na versão de concerto de Norma, que a FCG integrou no ciclo Heroínas Trágicas da Antiguidade, Silvana Dussmann atreveu-se a abordar a protagonista da ópera. Ousou, arriscou e estatelou-se ao comprido...
Dussmann será uma intérprete esforçada e empenhada mas, como cantora, roça a mediania. Faz uma incursão no belcanto, ignorando a sua essência! Não sabe a dita senhora o que é respeitar a linha melódica, desenhar arcos belos e graciosos, ornamentar... Ao invés, a senhora Dussmann revela sérios problemas de afinação, estridência e uma falibilidade na coloratura confrangedora.
Começou péssima - uma Casta Diva de feira (o final da cabaletta merecia um apupo!) -, depois lá se aguentou, não deixando de conspurcar o notável trabalho de dois dos demais solistas, Botha e Brunner.
Heidi Brunner concebeu uma Adalgisa muito respeitável e digna. Muito disciplinada (sobretudo no acto I, é certo...), abrilhantando o dueto com Pollione, claramente o momento maior da récita, na minha opinião.
O Pollione de Botha, antes de mais, deu-me uma valentíssima bofetada de luva branca. Sempre o desprezei, apoiando-me em (algumas, por certo!) prestações sofríveis que me proporcionou, a maior das quais – hélas - como Pollione, há exactamente dez anos.
Indubitavelmente o melhor intérprete da récita, Botha revelou pujança, técnica, talento interpretativo e ousadia. Com agudos certeiros e volume generoso, brindou-nos com uma entrada triunfal – Meco all'altar di Venere -, embelezou o dito dueto com Adalgisa, sobressaindo no terceto que encerra o acto I.
Do Oroveso de Kotchinian, pouco haverá a enaltecer, para alem de um timbre interessante, que se foi abafando e extinguindo...
Foster não deixará memória na direcção desta Norma, orquestralmente rotineira e insípida.
(Giuditta Pasta, a prima Norma)
Termina assim o ciclo (ousado e atrevido, mas louvável) proposto pela FCG - Heroínas Trágicas da Antiguidade -, que havia começado com chave de ouro, com uma Elektra de antologia, tendo sido maculado por uma Medée olvidável.
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Norma (Bellini), versão de concerto, Fundação Calouste Gulbenkian - récita de 31 de Janeiro de 2009
Achei que estava a ver uma Adalgisa e Pollione e não uma Norma...
ResponderEliminarE o escândalo dos programas, que se acabaram? Pelo menos umas 40 pessoas não conseguiram comprar programa (eu entre elas). Nunca tal me tinha acontecido!
Teresa,
ResponderEliminarEu optei por não comprar, mas não é a primeira vez que esgotam! Não há justificação!
Pronto!
ResponderEliminarEstá tudo dito.
Next Stop ??...
Tudo de bom.
LG
Também eu me vejo forçado a rever a minha opinião sobre Johan Botha. Depois de um triste Don Carlo em Viena, apareceu aqui deslumbrante!
ResponderEliminara primeira Norma que ouvi foi a da Sutherland e pronto, nao há mais palavras a dizer sobre isso. já em dvd, a unica versão que vi foi com a Gruberova. Ainda sou um leigo no que toca a opera, e muito mais em relaçao à Norma, mas pareceu-me apenas uma interpretaçao cuidada e muito pouco acesa. tudo feito ali sem pisar a risca, para fazer tudo apenas como deve ser. Por vezes pergunto-me se na altura em que as operas eram compostas e interpretadas pela primeira vez, elas eram só bem cantadas ou se as intrpretaçoes eram realmente intensas e apaixonadas, extraordinarias como aquelas a que fomos habituados durante o séc XX.
ResponderEliminarPrograma de sala em http://www.musica.gulbenkian.pt/2008_2009/files/00000000/00000049_0010.pdf
ResponderEliminarFui ver esta Norma, estive no intervalo com o João e tive a feliz oportunidade de conhecer e falar muito com a Maria Helena e o Paulo, o que compensou os pontos fracos desta Norma. Mas não vamos zurzir porque somos ferozes críticos. É verdade que a grande personagem da noite foi Pollione, que pôs a sua bela e potente voz ao serviço do canto belliniano, onde o heroísmo se disciplina no belcanto. Oroveso tinha um timbre feio, mas cantou regularmente a segunda parte, ao contrário do Ite su colle inicial. A Adalgisa de Heide Bruner tinha o timbre perfeito para a versão mezzo e a sua actuação não arrebatando também não desapontou.
ResponderEliminarMas vamos à intérprete do mais exigente dos papéis na ópera italiana ou mesmo de toda a ópera, como o achava Lily Lehmann, a Norma e Brunilde do seu tempo.
Silvana Dussmann conhece a personagem, mas entrou muito mal com a Casta Diva, onde deu um pontapé na técnica, fugindo às vezes da linha de canto. Acontece que depois foi progressivamente melhorando, compondo uma cena final aceitável. Outra ideia que não gostei nela foi o aburguesamento da personagem, tornando às vezes aqueles espaços míticos em espaços domésticos.
Finalmente a orquestra que foi como a Adalgina que não empolgou nem desapontou. Conclusão: não vi a Norma ideal, mas vi a Norma de Bellini e só por isso valeua pena ir à Gulbenkian
Li agora no site de Silvana Dussmann que ela vai cantar Isolde em Barcelona em 2010.
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