terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON – um (curtíssimo) olhar psicanalítico

O meu olhar psicanalítico não deixou escapar um detalhe, manifestamente lógico, mas apenas explicável, em pleno, por uma leitura mais latente, à la Freud.

O protagonista havia sido rejeitado e abandonado pelo pai, que o colocara junto da entrada de uma casa de idosos. É possível que o progenitor desconhecesse tratar-se de um lar. Sem dúvida. Mas, não embarquemos tão rápido na coincidência!

O pai odiava o filho, recém-nascido, que responsabilizava – não conscientemente, claro – pela morte da sua amada esposa. À repulsa original pela criança acrescia a infeliz circunstância de a mesma apresentar uma fisionomia precocemente envelhecida, fruto de uma raríssima anomalia.

Dito isto, a colocação da criança junto de uma casa de repouso suscita interrogações...

É certo que, ao depositar a criança aos cuidados de outrem, o progenitor deu conta da capacidade de secundarizar e diferir o ódio primário – o desejo de morte – dirigido à criança.

Mas, se não embarcarmos na tese da coincidência, questionamo-nos sobre um desejo de morte francamente mais difuso: entregar um ente a uma casa de repouso é – convenhamos – preparar um caminho irreversível. Tratando-se de uma criança de fisionomia envelhecida...



Em todo o caso, o ponto mais relevante, psicanaliticamente falando, prende-se com a repetição do abandono, provável matriz da neurose do filho Button.

Benjamin Button, precocemente abandonado pelo pai, em circunstância terríveis, quando se vê na pele de pai, lui-même, repete a história do paterno ausente. Uma vez mais, o argumento manifesto – a idade / maturidade em retrocesso – impedi-lo-iam de assumir em pleno o lugar de pai, mas sabemos quão falível esta explicação é!

Verdadeiramente – ossia no plano latente – Button filho, por via da sua retirada de cena – que culminou no abandono da filha -, deu expressão à compulsão à repetição: a história do pai perpetua-se trangeracionalmente.

Se quisermos – no limite – o gesto do filho dá conta da identificação com o agressor. Melhor dito, o filho Button, vítima que fora, num primeiro momento, da agressão perpetrada pelo pai, torna-se agora – no momento em que abandona a sua própria filha – num agressor. Ao repetir o gesto, o filho abandona o estatuto de agredido, assumindo o de agressor activo, como o próprio pai Button.

nota: roubei esta imagem ao Lauro António! Foi por uma boa causa...

7 comentários:

  1. eu gostei bastante deste filme. foi bom poder sentar-me no cinema e ver um conto tão bem contado, sem pressas nem grandes explosoes. e a musica de Alexandre Desplat como sempre dá um tom de proximidade e de embalamento.

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  2. Citando-o:"Uma vez mais, o argumento manifesto – a idade / maturidade em retrocesso – impedi-lo-iam de assumir em pleno o lugar de pai" - Certo!
    "mas sabemos quão falível esta explicação é!" - porque???... além disso o filme é uma divagação (fidedigna ou não, não sei...) de um conto de F. Scott Fitzgerald.
    Ou então, leigo como sou em matérias mais profundas da Psicologia, não entendi os seus argumentos.
    Por tal leiguice minha, peço-lhe, desde já, as minhas sinceras desculpas... :-)

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  3. LG,

    O argumento tem lógica, sobretudo no plano da consciência. Mas os psicanalistas olham para planos mais profundos... Falo do inconsciente do autor, do argumentista, do realizador, seja lá quem for ;-)

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  4. OK.
    Muitíssimo obrigado.
    P.S.Pra mim, o filme, apesar de bom, NÃO merecia tanta nomeação Oscarisada. Onde está Tilda Swinton que CILINDROU!!! Brad Pitt nas nomeações??? Sobre o Sr. nomeado já falei noutro Post.
    All the best ;-)

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  5. P.S. do P.S (Ufa!!... :-) )
    Ansiosamente espero por SLUMDOG MILLIONNAIRE
    ...e pela GRANDE Sra. Kate Winslet em THE READER... NEM FALO!!... ;-)

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  6. Uma boa causa... e um bom texto, inteligente. O que é sempre bom ver/ler. Abraço

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  7. Lauro,

    You're welcome ;-)
    Outro abraço para si

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