quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Best of Opera e Demais Interesses - 2008 - I cd & dvd

Por esta altura, já vem sendo tradição, neste blog, o balanço das edições do ano.

Eis, pois, a minha lista dos eleitos. A dita lista obedece a um critério alfabético.

By the way, o leitor atento já terá constatado que, na coluna da direita do blog, perto do final, existe uma secção designada, justamente, Best of Opera e Demais Interesses.



Live from La Scala, Angela Gheorgiu (comentário aqui)



Furore, Joyce Didonato (comentário aqui)



From the House of the Dead (Janácek), Boulez



Mozart: Opera & Concert Arias - Donna, Damrau (comentário aqui)



Strauss: Four Last Songs, Fleming (comentário aqui)



Wagner: Tristan und Isolde, Barenboim (comentário aqui)



Wagner: Tristan und Isolde, Bĕlohlávek (comentário aqui)

A seu tempo, dedicarei outro post aos Best of espectáculos.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Talento & Beleza

Além da incontornável inveja – humano sentimento tão real como outros, embora mais conformes -, argumento algum invalida a síntese talento – beleza.

Só uma criatura aberrante prefere uma Violetta mastodonte a uma fêmea esbelta, um Don Giovanni quasimodo a um bonito homem, não?

Dito isto, pergunto-me se esta notícia terá razão de ser?!

«La sensualidad carnal de las nuevas estrellas de la música y del canto ha asaltado las tiendas de discos.

Las discográficas han echado por tierra el recato y la distante discreción de sus figuras, y han apostado por un marketing más agresivo, mucho más terrenal, donde el físico es un nuevo valor a explotar. Por ahora, además de cantar, conviene ser guapo.

(...)

Los nuevos cantantes saben sacar partido a las demandas de sus promotores. Las sesiones fotográficas ajustan las tallas. Miran descaradamente a la cámara, juegan con ella, se prestan a juegos que les alejan de antiguos rigores y les apartan de una trasnochada y hasta antipática formalidad. La clave es buscar nuevos públicos y seducir a generaciones más jóvenes alejadas de la pomposidad del melómano.

Existen ya auténticos dominadores de este nuevo escenario. No hay más que echar un vistazo a estos nombres: la bellísima y provocativa Danielle de Niese, la simpática y resultona Measha Bruggergosman, el siempre sorprendente Lang Lang, esa estrella china que ha refrescado la imagen del piano.

O no hay más que seguir las vicisitudes de la pareja de moda en el mundo del canto: ese matrimonio entre la soprano rusa Anna Netrebko y el barítono uruguayo Erwin Schrott. Por separado, ella es la gran diva del momento; él no duda en mostrar su torso para hacer de Don Giovanni en grandes teatros. Juntos también saben de marketing.»


(Anna Netrebko e Danielle Deniese)

Por que razão não hão-de os intérpretes ser belos, além de talentosos?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Férias VI - Hamlet


(Hamlet in Obras Dramáticas de William Shakespeare, BBCDN 2233)

Se outros argumentos faltassem em favor desta interpretação de Hamlet, a prestação de Derek Jacobi, por si só, seria um irresistível íman!

Jacobi, nado e criado no seio da nata shakespeareana, propõe-nos uma leitura a todos os títulos exemplar da personagem homónima da peça: verdadeiro epicentro da trama, mesmo quando ausente de cena, a figura de Hamlet encontra-se omnipresente.

«Jacobi's Prince of Denmark is a complex and embittered intellectual, whose occasional bursts of love, faith and even fury are transformed within an instant into weary skepticism. His first resort in any dilemma is to let fire with irony on his nearest and dearest. In a way, though hardly "innovative"--too many actors seem desperated to find (or invent) something wholly new in this too-famous character-- Jacobi is giving us a very postmodern, almost "deconstructed" Hamlet--attractive, sensitive, even high-minded on the surface, but underneath a man whose sanity and even noble intentions are ultimately untrustworthy. »


(Derek Jacobi ossia Hamlet)

A complexidade terrífica do protagonista – sequioso de vingança, deprimido porque enlutado, ora dominada pelo histrionismo, ora escravo da dissociação psicótica -, a sua majestosa progressão dramática e respectiva vitalidade constituem a espinha dorsal da revitalização de Jacobi.

Um incontornável Hamlet!

Férias V - A Poesia Wagneriana


(Tristan und Isolde, Virgin Classics 51931599)

Este longo e belo poema tem quatro autores: Meier, Salminen, Chéreau e Barenboim, o poeta supremo.

A presente produção milanesa fez correr tinta e mais tinta, por ocasião da sua estreia – a mítica noite de 7 de Dezembro de 2007, data da abertura da temporada do Teatro alla Scala.

Chéreau concebeu um Tristan und Isolde de uma beleza e eficácia cénicas indesmentíveis. O encenador multiplicou-se em (estéreis?!) entrevistas e declarações, onde explicitou as fontes da sua concepção: da psicanálise freudiana (?) ao misticismo supremo, passando pela obra de Bergman (?), etc., etc.

Pessoalmente, o deslumbramento da proposta cénica de Patrice Chéreau passa, eminentemente, por um enquadramento cénico escorreito, imenso e monocromático – um dégradé cinza -, figurinos simplistas, com pouca variação cromática (preto, cinza e azul-escuro), tudo isto num ambiente marcado pela inexorabilidade de um destino que se antevê trágico, desde o primeiro instante.

Dir-se-ia que toda a proposta de Chéreau segue uma linha absolutamente coerente, fiel à concepção de Wagner, com algumas liberdades – o escarlate de Isolda (a única personagem capaz de assumir um tom estranho à escuridão ditatorial reinante), que contém a marca do erotismo e volúpia (acto I) e da morte (acto III), o gesto suicida de Tristão, que investe voluntariamente contra a lança de Melot, a intemporalidade da trama, por exemplo.

Waltraud Meier cria uma Isolda absoluta, de antologia, marcada pela humilhação e despojamento, que aspira ao amor supremo, entregando-se a ele sem temor algum. O timbre é o de sempre, colorido pelo bronze. Aqui e ali há sinais de fadiga e desgaste vocais, a par de uma invulgar mestria – contorna os obscenos agudos da narrativa com grande habilidade. 
Meier é Isolda e esta – se existisse -, também se chamaria Waltraud. Barenboim sabe-o, desde há décadas – nos anos 1980, em Bayreuth, propôs-lhe o papel de Isolda, tendo a intérprete recusado.

O Tristão de Storey, compreensivelmente, enferma de certa banalidade: tratou-se da sua estreia no papel. Se a voz não o trai, a interpretação… De Young segue-lhe o trilho, desenhando uma Brangäne excessivamente dócil e inespecífica. Ladeiam-nos o magistral Rei Marke, de Salminen, de voz e figura soberanas, e o ousado Kurwenal, de Grochowski.

Por fim, uma interminável vénia diante do grande e inquestionável herói da noite, Daniel Barenboim.

Barenboim é o mais experiente maestro wagneriano das últimas décadas. Já gravou e interpretou inúmeras vezes a grande maioria da lírica de Wagner, incluindo um Der Ring. Só Tristan und Isolde perpetuou vários, três em dvd.

O maestro revela um controlo absoluto sobre a sumptuosa orquestra, evidenciando um conhecimento profundíssimo da partitura. A sua leitura, plena de maturidade, é absolutamente poética, de uma fluidez, elegância e consistência líricas assombrosas. 
Sem mácula, sem deslize algum, sem excessos…

Desde Kleiber, jamais uma leitura orquestral de Tristan und Isolde ecoou em mim com tamanha intensidade, fascínio e respeito!

Por Barenboim, Meier, Chéreau e Salminen, sem hesitações. Quanto ao resto…

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(4/5)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Férias IV - Brava Bravura!

(Joyce Didonato, mezzo-soprano)

O meu primeiro rendez-vous com Joyce Didonato deu-se em Paris, na Bastilha, em Julho de 2002. O pretexto foi um O Barbeiro de Sevilha medíocre, com uma Rosina pouco acima da mediania.
Erradamente – reconheço agora -, adivinhei-lhe uma carreira anónima.

Anos e anos volvidos sobre o dito encontro, Didonato regressa ao meu palco privado, a propósito de um registo handeliano superlativo.

Neste trabalho, Joyce Didonato revela uma técnica hercúlea, ousada e atrevida na coloratura, com uma respiração e folgo perfeitos: a agilidade atinge a insolência absoluta nas áreas de bravura (Serse, TeseoIra, sdegni, e furore… - Semele e Imeneo, por exemplo).
À técnica associa-se uma versatilidade teatral espantosa, particularmente feliz nas passagens recatadas e melancólicas, impregnadas de um lirismo pueril, quase etéreo – Ariodante desprendido e abandonado, Dejanira (Hercules) sofrida e sonhadora.

Intérprete de primeira água, a mezzo americana brilha pela disciplina, pelo travestismo arrojado e lirismo cristalino.


No meio de virtudes mil, apenas a falta de ousadia na escolha do repertório – árias repisadas e repisadas, por contraltos, contra-tenores e mezzos - macula o presente trabalho.

(Virgin Classics 50999 519038 2 4)
Indispensável!

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(5/5)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Férias III - Macbeth



Macbeth, de Shakespeare, ossia um eloquente e literário tratado sobre o poder e suas tortuosas relações com a ambição, ganância, traição e culpabilidade.

Esta interpretação – dirigida e protagonizada por Orson Welles – figura entre as mais proeminentes.

Uma encenação muito afim com a corrosão (moral e psicológica), ultra-sombria, e duas magníficas interpretações: Welles, sublime, totalmente dominado pela sombra da urdidura (a cena do banquete, particularmente o delírio do protagonista, está entre as teatralmente mais ricas a que assisti) e Jeanette Nolan, cuja degradação psíquica é um assombro (atente-se na cena do sonambulismo e subsequente desenlace...)


Pouco afim com a quadra natalícia, esta superlativa peça, dada a natureza da problemática que ilustra, conserva a sua actualidade, volvidos séculos sobre a sua criação.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Banal, banal...


(Karita Mattila)

A propósito da produção ora em cena no Real de Kat’a Kabanová (Janacek) - cuja protagonista é a extraordinária Mattila -, o El Pais propõe-se entrevistar a diva, colocando-lhe um conjunto de questões absolutamente redundante e lamentável que, previsivelmente, desencadeia um longo voo sobre banalidades e lugares-comuns.

Dir-se-ia que a entrevista se resume a uma ideia central:

«"Me parece justo que un director me diga que para interpretar un papel tengo que adelgazar. Si a mí me interesa ese papel, lo haré".»

E fez, sim senhor! Há uns anos, no Met, vi-a no Fidelio e testemunhei que havia cortado o cabelo bem curto, por sugestão do encenador, com vista a credibilizar a sua personagem!

O leitor sabe o quanto estimo e aprecio o singularíssimo labor de Karita Mattila. Tive ocasião de conversar algumas vezes com a senhora, all over the world, podendo atestar que a dita é uma mulher inteligentíssima e interessante.

Dito isto – presumivelmente –, a tontice fica do lado de quem a entrevistou...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

domingo, 21 de dezembro de 2008

Férias II - Velvet & Silk


(Mikko Franck e Soile Isokoski)

Eis uma colectânea de árias tipicamente românticas – Puccini à côté – ajustadas à fina voz de soprano lírico.

Isokoski, infinita e graciosamente lírica, de uma elegância aristocrática, revisita as heroínas que tem vindo a incarnar nos últimos anos da sua singular carreira operática. O timbre é pura seda, a técnica de veludo. Tudo se funde numa voz redonda, sem mácula, nem arestas.

O acompanhamento orquestral é um sonho: Mikko Franck – sim, sim, caro leitor, há vida para além de Gustavo Dudamel! – dirige um Filarmónica de Helsínquia majestosa, rica em subtilezas, sombreados e cor.

Duas lacunas – hélas! – apresenta este registo: a inexplicável ausência de papeis secundários, curtos e seguramente em conta, mas teatralmente indispensáveis (Eugene Onegin, La Bohème e Otello), e a débil habilidade histriónica (a ler como teatral) de Soile Isokoski, que se traduz em interpretações demasiado ligeiras e psicologicamente irrelevantes.

nota: a nossa condição periférica coloca-nos à margem da distribuição de editoras comercialmente menores. Tal é o caso da notável ONDINE. Encontrar este registo no mercado nacional será, praticamente, um feito...
Felizmente há lojas on-line (iTunes, nomeadamente), onde o leitor encontrará este importante registo.


(Scene d' Amore, ONDINE ODE 1126-2)


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(4/5)

Enfim (o derradeiro e desejado registo de) Isokoski



O maior e melhor amigo do mundo tornou possível esta aquisição, paradoxalmente vinda de chez moi!

Isokoski há muito que é seguida neste espaço, sendo uma das figuras de eleição deste blogger.

Há exactamente 9 anos, na Bastilha, vi a sua Donna Elvira. Na saison seguinte, iluminou Strauss. Já em solo luso, na temporada passada da Gulbenkian, Isokoski triunfou no dito Strauss...

A crítica virá depois, ainda em férias ;-))))

sábado, 20 de dezembro de 2008

Férias I - Romeu & Julieta


(Romeu & Julieta BBCDN 2231 in Obras Dramáticas de William Shakespeare)

Um produção hiper-realista, datada e algo caduca, particularmente nos cenários – exteriores, sobretudo, pouco credíveis, dada a fraca qualidade dos materiais empregues (muros e paredes dos edifícios descaradamente falsos).

Interpretações muito ricas e intensas, entre o pueril apaixonado (Rebecca Saire ossia Julieta) e o arrebatamento ousado e juvenil (Patrick Ryecart ossia Romeu).

Dois momentos marcam, a meu ver, esta interpretação: o confronto entre Tebaldo e Romeu – subitamente dá-se a viragem na trama (a comédia torna-se num drama) e o primeiro encontro dos amantes, no leito de Julieta – diáfano e etéreo, embora de uma dimensão e força universais! A melhor definição imagética de AMOR, seguramente.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Despudor









Fotos de Anna Netrebko, após a récita privada de Thaïs, Praça das Flores Opera House, a 17 de Dezembro de 2008.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Thaïs, Praça das Flores Opera House...

For the moment, Anna Netrebko limita a sua Thaïs a espaços recatados e privados.
Consta que estreou o papel em Lisboa, para os lados da Praça das Flores...



Ainda com as malitas inside, arrisco: proponho à Dama uma reprise, em privado... pode ser que não me apanhem!



Se és jovem, arrojado e não temes que te ponham as malas à porta, orienta-te e faz-te
à vida!



Esta récita é só para mim!!!

Fotos de Thaïs, Praça das Flores Opera House, Dezembro de 2008.

Thaïs, Met


(Fleming, protagonista de Thaïs, de Jules Massenet)

A Senhora (!!!) Fleming triunfa em mais um papel de grande cortesã, Thaïs (Massenet), no Met.

As férias – entre outras coisas – têm-me permitido organizar a (minha) dispersão. Estive a arrumar a casa e eis que deparei com uma curta entrevista de Renée Fleming, a propósito da sua Thaïs:

«You're known as one of the great interpreters of Thaïs. What draws you to this character?
Thaïs is one of the iconic roles in the entire soprano literature and the most musically glamorous role I sing. This opera uses every single vocal mechanism in the entire soprano lexicon, from full-bodied lyricism to high pianissimo singing... Every three pages there's some effect that sounds terrifying and risky and difficult–and it is–but it's worthwhile, and the role fits me in terms of vocal weight and tessitura. The best roles are the ones that are interesting and challenging dramatically as well. Thaïs is one of perhaps four roles in my entire repertoire that could have been written for me.

What makes it such a good fit?
It's the tessitura. Thaïs is high-flying, but the general tessitura is very much middle-voice. That's the key for me. The Massenet roles really want a full lyric voice in addition to lighter qualities. Anything heavier, for me, weighs the voice too much, which is also very much dependant on the orchestration.

Thaïs is not just a vocal showpiece. From an acting standpoint, it's an interesting psychological study as well.
She is such a modern figure. One of the things that's important to understand is that the word "courtesan," particularly in the time that Massenet was writing, had completely different–and much more positive–connotations than it does today, more kept woman than prostitute. There's a fantastic book by Joanna Richardson called The Courtesans: The Demi-monde in 19th Century France. It's a profile of all of the top courtesans of that time, and what you realize is each of these women, if they were lucky and financially savvy and healthy, then they had fascinating lives. They were completely independent, unlike married women, and could surround themselves with the greatest artists and minds of the day. Thaïs is also a great actress and performer, a star, which is precisely why Athanaël wants to convert her. So she is a wonderful character to play both in her outward confidence and in the way she uses her seductive gifts to rule her world. But she is also incredibly lonely. She sees very much in her future that once her beauty fades, she will have no value anymore in society, and she's desperately looking for more. That quest for a spiritual life beyond passing physical beauty relates to us today–it has related to people in all times.

Thaïs has not been heard at the Met since Beverly Sills starred in the title role in 1978. Why?
It's rarely performed because it's impossible to cast. If my role is difficult, Athanaël is twice as hard. It's long, it's heavy–extremely challenging. And then there's the legend going back to the original Thaïs, Sybil Sanderson, experiencing a costume malfunction in her dress rehearsal, when her top fell off–which may or may not have been planned. There have been other recent productions where the scandal of what somebody wears–or more importantly doesn't wear–becomes more of a focus than the actual theatrical or musical values of the show. So Thaïs has some baggage.

Do you enjoy doing research into the history of a piece?
I love it! I wish I could do more, because it really does teach you a lot. The history of Sanderson and Massenet is so interesting. I have the first edition of this opera, and the vocal writing is completely different. It's quiLinkte staid and simple and not very high. But Massenet fell in love with Sanderson–or was infatuated with her, obsessed with her–and she helped him forge a much more agile, exciting vocal line in what became a completely different score. She was his muse. What's interesting is when Sanderson made her debut at the Met in Manon, it was an absolute disaster. The reviews were all terrible. The critics said, "How on earth was she famous?" They thought her voice was too small, it had no color, her acting was fake. But she's this historic figure who actually inspired several roles I sing. She completely changed the way Massenet wrote for the voice. It's fascinating to read about these collaborations.

Sills, Sanderson–are you inspired by legendary singers?
I connect very much to singers of the past. It makes me feel that I belong to a tradition. I don't think one could get decades of pleasure doing what I do if you didn't really want to be connected to this network of great singers who've come before.»


Entretanto, o The New York Times publica uma enaltecedora critica da récita de 8 de Dezembro, como segue:



«An opera company does not decide to mount a production of Massenet’s “Thaïs” and then look for a soprano to sing the title role. The only reason to produce this ultimate star vehicle today is that a company has a genuine star who wants to sing it.

At the Metropolitan Opera in 1978 that star was Beverly Sills. Now, 30 years later, it is Renée Fleming, who appeared as Thaïs in the Met’s new production on Monday night. Ms. Fleming justified the company’s faith by delivering a vocally sumptuous and unabashedly show-stealing Thaïs. A glamorous courtesan in fourth-century Alexandria, Thaïs undergoes a spiritual transformation when confronted by an ascetic monk, Athanaël, whose fierce religiosity cannot contain his erotic desires.

For decades the opera has claimed only a marginal place in the standard repertory. So even with a soprano of Ms. Fleming’s audience appeal, the Met was not about to mount its own production just for her. Instead it has imported a 2002 staging by John Cox from the Lyric Opera of Chicago, a high-camp affair with exotically ornate new costumes for Ms. Fleming designed for this occasion by Christian Lacroix. The baritone Thomas Hampson, who sang Athanaël opposite Ms. Fleming in Chicago (and has recorded the opera with her), returns to the role here, and he was in top form.

(…)

Ms. Fleming, who has always made deliberate decisions about repertory, has said that the role of Thaïs could have been written for her. Her performance proves her point. Though filled with lyrical flights to the upper register and some florid singing, which she handled beautifully, the vocal lines mostly hover in the soprano’s midrange, where Ms. Fleming’s sound is especially rich, sensual and strong.

In the early scenes, when Ms. Fleming’s Thaïs, wearing curly golden locks, is flirtatious and tempestuous, the poignant colorings of her voice tinge her singing with sadness, lending ambiguity to her defiance. Later, when she turns as a supplicant to God, there are still elements of sensual longing in her singing, which again enhance the complexity of the portrayal.

But let’s face it. “Thaïs” is a diva spectacle, and Ms. Fleming plays it to the hilt. In Scene 2, during a party at Nicias’ well-appointed house, complete with solid-gold decorative palm trees, Athanaël appears, issuing apocalyptic threats to Thais, which Mr. Hampson sings chillingly. The guests ridicule the monk, forcing him to his knees and bedecking him with garlands in tribute to Venus. In the midst of a vocal outpouring, Ms. Fleming climbs a winding staircase just so she can deliver a triumphant high C from the top landing, then scurries back down to face the humiliated monk as the curtain falls.

In the scene most crucial to this drama of conversion, Ms. Fleming and Mr. Hampson are inspired. It takes place in a desert oasis near the convent of Albine. Thaïs, exhausted from traveling, her feet bleeding, can go no farther. Athanaël entrusts her to the care of the welcoming nuns. In a couple of impassioned outbursts Mr. Hampson pushed his voice worrisomely. But for the most part he sang with plaintive sound and sensitive lyricism.»


(Renée Fleming ossia Thaïs)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Hipomania ;-)))



Prosaicamente, trata-se de um estado de graça que se atinge quando as férias se aproximam.

De amanhã em diante, tirando as incontornáveis compras da quadra, apenas uma preocupação povoa a minha mente: ler, escutar e visionar as toneladas de, respectivamente, livros, discos e filmes que acumulo.

A felicidade também é isto: ócio & lazer!

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Legenda:

- o sorriso - muito contido e controlado - já faz antever a joie que se avizinha.
- o armário que se vislumbra esconde as ditas toneladas.
- o sobretudo low-cost - há que reconhecê-lo... - foi adquirido numa tarde memorável, em que me preparava para assistir a uma extraordinária actuação da diva...
- o cachecol tem uma gaaaaaanda pinta e desencadeia invejas mil!

ps quem disse que a hipomania não é sinónimo de futilidade?!

domingo, 14 de dezembro de 2008

100 anos e 3 dias...



Eis O meu Manoel de Oliveira de eleição.

sábado, 13 de dezembro de 2008

A Kabanová de Carsen: Madrid, Teatro Real


(Karita Mattila ossia Kat'a Kabanová)

Ao que tudo indica, a nomeação de G. Mortier para a direcção do Teatro Real promete grandes mudanças. Pelo que conheço do senhor, são duas as suas predilecções: repertório contemporâneo (pós-romântico, mais exactamente) e encenações arrojadas.

À margem do dedo de Mortier, Robert Carsen encenou uma Kat'a Kabanová promissora, cuja protagonista é, sem dúvida de espécie alguma, o soprano lírico-dramático mais destacado dos últimos 15 anos, Mattila de sua graça.

Na temporada passada, em Amesterdão, tive a felicidade de assistir a uma magnífica récita de Kat'a Kabanová, com Amanda Roocroft na pele de dasafortunada protagonista. Mas, convenhamos, Roocroft está uns pontos abaixo da fabulosa finlandesa!

Karita Mattila – cuja carreira operática sigo de perto desde finais do milénio (A Dama de Espadas – Bastille, Fevereiro 2000; Otello – Châtelet, Abril 2000; Salome – Met, Março 2004; Arabella – Châtelet, Maio 2005; Jenufa – Met, Fevereiro 2007) -, entre outras sobejamente conhecidas virtudes, é uma destacada e reputadíssima intérprete de Janacek.

Logo agora, que a tenho aqui ao lado, na grande Madrid, a senhora escapa-me... por dificuldades de agenda, minhas, claro está!

Em jeito de vingança, na abertura da temporada 2009 / 2010 do Met, lá estarei!

Entrementes, aqui fica a revista de imprensa desta (mais que não seja...) belíssima produção:

«En el panorama de la escena internacional abundan la boutade y alguna que otra extravagancia. Pero falta provocación. De la buena. Por eso, cuando uno asiste a la magia suele quedar perplejo. Ocurre poco, pero cuando se da la circunstancia, al espectador le cuesta, para bien, recuperarse de la experiencia. Uno de los escasos directores de escena que suelen hacer explotar a menudo el milagro es un canadiense pequeño, discreto, con tono de voz bajo y pausado, que se llama Robert Carsen: uno de los mayores poetas escénicos con los que puede toparse el espectador hoy en un teatro.

(...) Ahora, Carsen regresa con toda su profundidad poética de la mano del enigmático Leos Janácek y su ópera Katia Kabanova.

(...) "El tiempo en Janácek es lo que más me fascina de él. Nuestras vidas son una carrera contra el reloj. Ese avance se lo traga todo como una apisonadora. Por eso el hombre es vicioso, porque las drogas, el alcohol, el sexo, detienen el tiempo. Janácek también. Lo congela, lo consigue siempre, y en medio no dejan de ocurrir cosas", afirma Carsen.

(...) En las funciones del Real, la batuta está en manos de Jiri Belohlavek, y en el reparto destacan Karita Mattila, Miroslav Dvorsky y Oleg Bryjak.

No sólo es el tiempo elemento esencial en la escena de Carsen. El espacio, el movimiento, también desempeñan un papel primordial. Junto a eso, este artista juega con la física, la precisión, la matemática. Pero a todo lo citado le añade los ingredientes que conforman la emoción: el color, la dramatizaación, el símbolo... En Katia Kabanova, basada en la obra La tormenta, de Alexander Ostrowski, existe uno esencial sobre todos los demás: el agua.

"El agua en este montaje es elemento, personaje y sobre todo metáfora de los sentimientos que atormentan a esta mujer. Provoca claustrofobia y ansia de libertad, se comporta como un espejo", asegura Carsen. Un espejo en el que todos se reflejan rodeados de líquido, movimiento y color. "Fue arriesgado elegirlo, porque uno no puede hacerse idea de lo poco práctico y lo peligroso que es en escena, pero era fundamental para explicar muchas cosas de la obra. Quise utilizarla de forma poética".»


(cena de Kat'a Kabanová, d'après Robert Carsen)

Pela bandas lusas, na temporada passada, tivemos ocasião de assistir ao notável trabalho de Carsen. Evidentemente, a intelectualidade nacional revelou desprezo pela sua obra!
É natural, está a dita intelectualidade habituada a uma fasquia elevada.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Don Carlo, première alla Scala (II): algures entre a desgraça e a graça...


(Furlanetto na pele de Filipe II)

A avaliar pela critica precisa e meticulosa do El Pais, decididamente, este Don Carlo milanês não deixará saudades: Gatti sofrível, intérpretes pouco inspirados e uma encenação demasiado despojada:

«Las primeras protestas llegaron antes de comenzar el segundo acto y estuvieron dirigidas contra el director musical Daniele Gatti. Se reproducirían en el segundo intervalo y al final, aunque con menor intensidad. Venían de arriba, de los loggionisti. Los espectadores de platea no suelen silbar ni abuchear. Es poco fino, después de haber pagado 2.000 euros por la localidad. Gatti cerraba su año histórico después del éxito inaugurando el Festival de Bayreuth. Pero Wagner no es Verdi. El director milanés planteó un Verdi más sinfónico que lírico, más pesante que ligero. Abusó del volumen, en perjuicio de los cantantes y se movió arbitrariamente en los tempos. Obtuvo momentos de color, atmósfera y contrastes fabulosos, pero la representación adoleció de continuidad, fue desangelada por momentos, e incluso tediosa.

Los cantantes estuvieron agarrotados. El sustituto Neill quizás sea más contundente y musical que el sustituido Filianoti, pero en escena es la antiteatralidad. No lo digo por su gordura sino por su pésima capacidad como actor. Ferruccio Furlanetto aguantó el tipo como Felipe II, pero sin pasión. Fiorenza Cedolins hizo una delicada Elisabetta con filados extraordinarios y una gran intuición melódica, pero dejó que desear en la expresividad dramática. Dolora Zajick se mostró poderosa como Éboli, aunque también vulgar. Dalibor Jenis pasó sin pena ni gloria como Rodrigo y Kotscherga no tuvo su día. Para una inauguración de temporada milanesa no es como para tirar cohetes.

La dirección teatral del francés Stéphane Braunshweig es sensible y minimalista. Añade un elemento psicológico con el desdoblamiento en la infancia de algunos personajes. Si la parte musical hubiese tenido más inspiración, seguramente habría pasado la escénica como correcta. Pero no estaba el horno para bollos conceptuales. Y así resultó fría y distante, con carencias en la dirección de actores. Verdi exige otro fuego más directo y comprometido que Mozart o Janácek, autores con los que este director ha conseguido resultados encomiables.

(…)

Pero lo fundamental, no lo olvidemos, es la calidad de las representaciones. La de Don Carlo, instalada en la corrección, estuvo varios enteros emocionales por debajo de lo que en Verdi es deseable


(Furlanetto e Cedolins ossia Filipe II e Elisabete de Valois)


Noutro quadrante, o International Herald Tribune resume a coisa a uma récita convincente, com inúmeros pontos de interesse, a começar pelo brilho de Neill (Don Carlo), densidade de Furlanetto (Filipe II) e entrega de Cedolins (Elisabete):

«Last year the house scored an artistic success with "Tristan und Isolde," but a Verdi opening at La Scala always brings a special frisson and not infrequently a bit of scandal. The conductor Daniele Gatti's decision to restore a passage that Verdi cut before the premiere of the original five-act Paris version of the opera (and later reused in the Lacrymosa of his "Requiem") attracted some advance attention.

(…) the American tenor Stuart Neill, scored a decided success. Neill is a big man with a big voice, yet the voice, in addition to having a robust, ringing sound, is unusually flexible, and Neill managed some arresting soft singing in Carlo's final duet with Elisabetta di Valois, his one true love (and later stepmother after his father, Philip II of Spain, marries her). Neill had obviously been rehearsed and entered into Braunschweig's production without a hitch. Braunschweig's ongoing production of Wagner's "Ring" for the Aix-en-Provence and Salzburg Easter Festivals has gotten mixed reviews, but his production here has an interesting original dimension while preserving the benefits of a traditional staging.

In a program note, Braunschweig observes that the origins of Don Carlo's ardent friendship with the political reformer Rodrigo, the Marquis of Posa, are left unexplained by Verdi, whereas the opera's source - Schiller's play "Don Carlos" - traces their comradeship to childhood. This observation provides a kind of springboard for portraying the opera's harsh realities against a background of a "lost paradise," the latter, above all, standing for the moment when, in the forest of Fontainebleau, Don Carlo and Elisabetta declare their love only to be told that for political reasons Philip will marry her.

Braunschweig's approach makes special sense when the opera is performed, as here, in Verdi's revised four-act Milan version, in which the Fontainebleau scene is omitted but remains a potent memory. To invoke the past, Braunschweig arrestingly relies on children, doubling the characters, to appear in key scenes, sometimes against the colorful background of the forest itself, which provides welcome contrast to Braunschweig's stark, black and white sets, as do Thibault van Craenenbroeck's lavish ultra-traditional costumes.

Neill finds himself in estimable vocal company, not least with Dolora Zajick, as Princess Eboli, and Ferruccio Furlanetto, as Philip - probably the leading exponents of these roles currently. Furlanetto is especially strong in projecting a human dimension to Philip, not an easy task. In the scene, for instance, when Don Carlo challenges Philip with his sword, Furlanetto really suggests Philip's vulnerability. Another excellent portrayal comes from Fiorenza Cedolins as Elisabetta, who invests key phrases in the final act with lovely pianissimos and brings passion to her moments with Carlo. Dalibor Jenis sings Posa with ardor, sounding best in his upper range, and Anatoli Kotscherga is a solid Grand Inquisitor.

Gatti sets a number of slow tempos - which may account for the expressions of hostility he drew from the gallery - but for the most part he makes them work in a performance that is persuasive overall. The passage Gatti restored, essentially a lament for Posa by both Philip and Carlo, was a treat to hear, but you can understand why Verdi cut it - both characters already have had ample occasion to demonstrate their esteem for Posa, and Verdi may have thought he could put the compelling theme to better use, as in fact he did.»

Moral da história: terão os dois críticos assistido à mesma récita???

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Un'altra Donna: Caroline Henderson



Caroline Henderson

As imagens seguem a ordem de edição dos respectivos registos – da mais recente (no. 8), até à mais antiga (Made in Europe); a qualidade segue a ordem inversa.

Imperdível!

Don Carlo, première alla Scala: (escassos) 8 minutos de graça



Ensombrado por ameaças de greve, substituições de última hora e o espectro de cortes orçamentais radicais, o Don Carlo milanês lá viu a luz do dia, entre apupos e desagrados.

«Critics' reaction to the gala premiere at La Scala can be summed up in one word: Boring.

The last-minute decision to substitute the lead "Don Carlo" tenor with his understudy created tension that spurred many in the audience to open rebellion against conductor Daniele Gatti, emitting whistles and catcalls at his every entrance.

A critic for Corriere della Sera called the level of hostility "almost scary."

But for all of the backstage drama that seemed to poison the audience's reception, American tenor Stuart Neill, received sympathetic, if lukewarm, reviews for the performance he gave after Giuseppe Filianoti was unexpectedly removed.

(...)

Alfredo Gasponi of il Messagero agreed that Neill demonstrated "confidence," but noted that the last-minute switch had taken its toll with the orchestra overwhelming the singers in some places "because the new tonal relationships were not yet defined."

Despite the difficult circumstances, Neill told reporters afterward that he felt comfortable in the role.

Neill wasn't singled out for criticism by Corriere's long-time critic, Paolo Isotto, who said he found the whole execution "boring."

Most of the cast — with the full exception Dolora Zajick as the princess of Eboli and partial exception of bass Ferruccio Furlanetto as Philip — "sang their roles as though they were reading the phone book," Isotto wrote.

Isotto expressed disapproval for the catcalls mid-performance, the likes of which he said he hadn't seen in nearly 30 years covering opera. "It is tantamount to tampering with a sporting event," Isotto wrote.

While Gatti was "courageous and resisted with apparent serenity," the tension came through "in a dry sound that in some parts seemed like the orchestra drowning out the singers like an illegal streetband."

In the end, "Don Carlo" received just eight minutes of applause — a modest showing for a La Scala premiere.
»

No final, sublinho, os escassos 8 minutos de aplausos – manifestamente pouco, no caso de uma première - resumem a coisa: pouco acima da indiferença.


(Stuart Neill, como protagonista de Don Carlo, em substituição de Giuseppe Filianoti)

sábado, 6 de dezembro de 2008

La Lirica


(ARTHAUS MUSIK 101 343)

Célebres e sábias são as considerações de Anna Moffo a respeito das especificidades e exigências do papel titular de La Traviata: soprano ligeiro no acto I, lírico no acto II e lírico-spinto no derradeiro acto. Nem mais, nem menos, sublinho, em total acordo com a intérprete americana, também ela uma notável Violetta Valery.

Pessoalmente, creio que as intérpretes que reuniram nas suas prestações os descritos quesitos foram uma escassa
meia dúzia: Callas, Moffo, Caballé, Scotto e Cotrubas, eventualmente Theodossiou. O resto são Violettas mancas, ora técnicas e vazias (Sutherland), ora líricas em demasia (Freni), ora meramente teatrais...


Esta La Traviata, estreada em 2007, foi acolhida no alla Scala com certa indiferença e frieza. No centro de todas as avaliações encontrava-se a performance da famigerada Gheorghiu, pretensa derradeira Violetta do mundo lírico contemporâneo.

Angela Gheorghiu será tristemente célebre pela fragilidade do seu narcisismo e incontornável parolice. É de lamentar... Ainda assim, sejamos justos, em palco, Gheorghiu é muito mais do que uma mera estrela.

Em abono da verdade, há que reconhecer a notável Violetta que a intérprete romena nos oferece nesta La Traviata. Nem o timbre, nem a técnica da senhora são de primeira apanha, como bem se sabe. Em contrapartida, na interpretação proposta, Gheorghiu roça o sublime. Não fora o exagero (a ler como histrionismo gratuito) que inunda a sua personagem no acto III e seria perfeita!

Pese embora a banalidade da coloratura (acto I) e maneirismo teatral (acto III), no que concerne ao lirismo e drama, Angela apenas é ladeada pela Callas e poucas mais. De facto, o segundo acto desta récita é absolutamente avassalador, revelando uma progressão dramática de antologia. Fidelíssima a Dumas, a sua Violetta transpira elegância e graciosidade, conflito e dilaceração. Onde Netrebko é lasciva, Gheorghiu é aristocrata – mais pela nobreza romântica da sua condição, sofrida, frágil e altruísta, não tanto pela linhagem, evidentemente.

Totalmente engagée, numa entrega absoluta e invulgar, a intérprete funde-se com a personagem. Dá-nos tudo, verdadeiramente tudo o que tem, sem a mínima reserva, vocal ou interpretativa, enfrentando os inúmeros riscos com assinalável ousadia. E depois há a delicadeza e respeito pela palavra, que estima e preserva como poucos...
É obra, digo eu!

Quanto ao resto, aparte o brilho, suma elegância e requinte megalómano da mise-en-scène, é de segunda água: um Alfredo sempre à defesa, actor medíocre - já para não falar da figura... – (Vargas), um Giorgio soberano na voz mas tendencialmente estático (Frontali) e uma direcção musical indiferente, apagada e – não raras vezes – inimiga dos intérpretes (Maazel).

Por Ghoeorghiu, indubitavelmente.

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(3,5/5)