sábado, 31 de dezembro de 2005

L´événement musical de l´année ou le retour du refoulé

Tristan und Isolde - Opéra National de Paris (Bastille), avril 2005 - Nouvelle Production

À plusieurs reprises, sur ce blog, j´ai eu l´occasion d´en parler.

La nouvelle production de Tristan und Isolde, issue d´une collaboration entre Sellers et Viola, témoigne de l´actualité de l´oeuvre, tout en rejetant l´idée, largement diffusée depuis des années, d´après laquelle il n´y a plus de chanteurs à la hauteur du maître de Bayreuth. Moi même, j´y croyais longtemps, je l´avoue!

Malheureusement, je n´étais pas sur Paris au moment de ce miracle.
Pourtant, je viens d´apprendre que cette production sera à l´affiche, en Avril 2007, à New York !

Voici quelques images de cette (déjà) mythique mise en scène.










O ano musical em revista...

OPERA E DEMAIS INTERESSES nasceu há quase um ano.

Nos últimos tempos, tenho-me dedicado à critica (Dio! Quanta pretensão a minha!!!) de obras que me têm tocado, de modo digno de referência; voici o meu «critério editorial»: reflicto, apenas e só, no que me agrada - no computo geral -, olvidando o que me não envolve.

Nesta minha delirante actividade, o mor das vezes, pauto-me por critérios perfeitamente subjectivos, dada a minha nula formação musical, diga-se em abono da verdade...

Neste sentido, optei por propor um best of do ano que ora finda; ei-lo:


I - RECITAIS

Destacaria, d´abord, dois ciclos de canto, que me entusiasmaram sobremaneira: SIEBEN FRÜHE LIEDER (Berg), na leitura de Abbado e Fleming, sobretudo pela segurança e beleza da linha melódica de Renée Fleming, e SONGS & DANCES OF DEATH (Mussorgsky, na orquestração de Chostakovich - 1962 -, sublinho!), que o magistral Hvorostovsky interpreta, sob um arrepiante manto de necrofilia.

Evidenciaria, também, a interpretação de Mullova (tão bela quanto virtuosa e profunda, nas diversas leituras que tem realizado) dos 5 CONCERTOS PARA VIOLINO (Vivaldi), que marcaram o seu debute na louvável ONYX, «anti-major» absoluta...

Ainda no barroco, sem surpresa, palmas e mais palmas (não sem reticências!) para OPERA PROIBITA, onde a inigualável Bartoli prossegue a sua notável cruzada em favor da reabilitação do repertório (injustamente) esquecido.



Termino o capítulo dos «CD´s Singles», com duas pérolas absolutas da interpretação de Wagner, que não cessa de me fascinar: Stemme, nos WESENDONCK LIEDER e Kerl.
Juntem-nos, e teremos um primeiro acto d´A Valquíria à l´ancienne... Se Terfel for envolvido na trama, a dita A Valquíria passará a referência suma!
Escrevam o que vos digo e verão!


II - INTEGRAIS DE ÓPERA

Wagner (sempre, sempre, sempre...), embora algo privado de coloração emocional, poesia e metafísica, pelas demasiadamente disciplinadas e contidas mãos de Pappano, brilha luminosamente com Domingo e Stemme, em TRISTAN UND ISOLDE, ou o ocaso dos integrais em estúdio...





A CARMEN (Bizet, faut-il le mentionner!?) de La Berganza e Abbado, recentemente reabilitada, é digna de menção, pela sensualidade e lascívia que veicula, sem grande dissimulação...

Retorno ao barroco, rendendo-me diante de PARIDE ED ELENA (Gluck), cujo rigor (de McCreesh) e lirismo (de Kozena, sobretudo) me embalaram...


III - DVD´s

BILLY BUDD (Britten), afirma-se pela perversão conceptual e cénica (e por Van Allan, que aqui é divino!); a soberana ELEKTRA (Strauss) reabilitada (haja Deus!), (re)afirma-se pelo deslumbramento da encenação, pelo vigor de Rysanek... e pela catedrática leitura de Böhm.



Depois... Wagner (sempre, sempre, sempre, sempre...), em DER FLIEGENDE HOLLÄNDER, com um Simon Estes arrebatador, numa fascinante encenação, que realça o carácter tenebrso, insano e sombrio da ópera, e DIE MEISTERSINGER VON NÜRNBERG, imensamente lúdica, apesar do convencionalismo da mise-en-scène, brilha e destaca-se pela tripla masculina: Allen, Heppner (ainda que maquilhado em demasia...) e, sobretudo, Morris, cuja madura e sólida interpretação do sábio Sachs (uma das melhores que conheço!) tornam absolutamente inexplicável o ostracismo a que a lírica europeia tem votado o barítono americano!



ET bien, por aqui se fica este blogger, não sem antes desejar a todos um FELIZ ANO DE 2006, pleno de alegrias, saúde... e música, pois claro!

Agora, dita a «compulsão à repetição» freudiana que regresse à Odisseia...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Iniciação à Mitologia Grega

Para os que, como eu, recentemente se lançaram na leitura de Homero, eis uma útil ferramenta!


Já agora, aqui vos deixo um interessante e esquemático abc da mitologia grega.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Odisseia: ilustrações (Canto IX)

Representações do brutal episódio do ciclope Polifemo, descrito por Ulisses, no Canto IX.







O triunfo da inteligência e astúcia sobre a brutalidade acéfala (?)

Wozzeck: forma vs conteúdo

Estúpida que é a clivagem forma vs conteúdo, retomo-a, na lírica (à semelhança do que ontem fiz), desta feita a propósito de Wozzeck, magistral criação de Berg, em cena em Barcelona e no Met.

Quanto à (desejada) forma... afirma Calixto Bieito, a propósito da sua nova produção de Wozzeck, a estrear amanhã, dia 30, no Liceu:


(nova produção de ópera de Berg, com a assinatura de Bieito, a estrear no Liceo)

"Una lectura poscapitalista de un mundo contaminado mental y físicamente, que se traduce en una escenografía, de Alfons Flores, que reproduce las tripas de una refinería de petróleo habitada por seres alienados, explotados y contaminados; un laberinto industrial metáfora de un gran estómago abierto a la mirada del público" (in El Pais, 29/12/2005).

No tocante ao (aspirado) conteúdo... da prestação de Levine, na direcção musical da citada ópera, em cena no Met, diz o New York Times, na edição de hoje:


(Alan Held e Katarina Dalayman em Wozzeck, em cena no Met)

"Mr. Levine's achievement in "Wozzeck" comes from his ability to fuse its musical and dramatic elements. (...) he drew an electrifying performance from the Met orchestra, revealing this pungent score to be deeply emotional and excruciatingly beautiful."

Da forma (encenação, leia-se), nem uma palavra!

Regresse-se a Barcelona, pois!

Eis porque insisto na (absurda) clivagem!!!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Forma e Conteúdo

Estéreis, falaciosas, artificiais e inverosímeis são as dualidades corpo / alma, fora / dentro, tributárias do debate que sustenta a divisão psyché-alma / soma-invólucro, problemática que tão cara é aos (académicos) psis.

É bem verdade que a expressão psicótica (leia-se loucura, prosaicamente), evidencia a ausência de uma membrana entre Eu e não-Eu (vide Winnicott, nomeadamente), membrana susceptível de ser alargada à citada dualidade dentro / fora.


(alma e corpo, reunidos numa só imagem: Maria Callas e Joan Sutherland)

Extemporânea, ou ultrapassada, ouso retomar a dita dualidade, aplicando-a à lírica: Sutherland=forma vs Callas=conteúdo, pois que a primeira era senhora de uma técnica inultrapassável, enquanto a segunda detinha uma alma divina, voilà!



Falo, obviamente, de exemplos extremados, quase caricaturais. Ainda assim, ambas fizeram escola, nas respectivas especialidades: Sutherland actualizou-se em Andersosn (June) e Callas em Theodossiou (Dimitra), por exemplo.


(DECCA 475 6237)

Eis um fantástico exemplo de rigor formal, assente numa técnica vocal absolutamente pirotécnica: agudo transcendente, luminoso e bem sustentado; emissão firme, segura, fácil e suave.

Sublime! De uma segurança e homogeneidade espantosas.

Quanto ao resto, nada digo... é irrelevante, para o caso...

Metamorfoses(s)

A pedido de várias famílias, decidiu este (incauto) blogger cambiar a aparência da coisa...

Nem tudo correu pelo melhor, de início; depois, a coisa recompôs-se.

Agora, regresso à Odisseia.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Manifestações do Narcisismo (na Ópera)



Pergunto-me se as identificações plenas d´A Callas com heroínas trágicas, maioritariamente do repertório romântico ( Lucia, Violetta, Norma e Anna Bolena, nomeadamente), além da mais recente Tosca, não constituiu um prenúncio de morte prematura e declínio vocal, também ele extemporâneo...



Em boa verdade, Lucia morre insana, vítima de um surto psicótico agudo, e Violetta perece acometida pela tísica; contudo, Norma, e Floria Tosca decidem da própria fortuna, fixando o momento das suas mortes, numa manifestação de omnipotência inquestionável.



Se é verdade que o suicídio é a revolta pela não revolta - na vertente mais depressiva -, na óptica narcísica, trata-se de um gesto que atesta da maior das omnipotências: triunfar sobre o arbitrário.

A Callas, cuja falha narcísica era imensa, soube - como ninguém! - expressá-la, trazendo-a para a cena dramática e operática: qualquer das citadas heroínas, em maior ou menor grau, evidencia a referida falha narcísica, vitimas que foram, todas elas, do desamor (leia-se, perda dos objectos de amor).

Odisseu: Canto V

Regresso à Odisseia de Ulisses, na escrita homérica. Canto V.
Tem aí início o regresso à pátria, Itáca.

Fascina-me a humanidade da criatura, cuja vulnerabilidade é infinita.



Não cessa Homero de sublinhar as qualidades e dotes, que de Ulisses fazem um herói: abundam os atributos fálicos (força, valentia e bravura), a que se alia uma beleza invulgar; não cessa Homero, de igual modo, de elencar a sua humanidade (temor, receio, vulnerabilidade), em tudo antagónica à omnipotência divina de Posídon e Zeus!

Bordejando a idealização, esta figura é MAIOR, imensamente humana.

Pergunto: terão os deuses - dada a sua natureza singular, onde se mesclam omnipotência e omnisciência - a possibilidade de experimentar as diferentes modalidades de expressão da ansiedade humana?

Ulisses - que é um herói, uma figura de síntese, algures entre o céu e a terra - experimenta com inegável poesia a ansiedade de separação / perda (chora, inconsolável, a ausência dos seus objectos de amor), tal como expressa com grande abertura a ansiedade de castração (frágil, apesar de possante, sofre duros golpes, que o admoestam física e mentalmente e reconhece, sem temor, a sua falha)...

A (re)ler, com indesmentível fascínio e prazer.

sábado, 24 de dezembro de 2005

Festas Felizes!

Que a dissolução reine nesta agradável quadra festiva,

São os votos d´Il Dissoluto Punito, ossia João!

Aos leitores fieis e infiéis, ocasionais e permanentes (ou acidentais...), FELIZ NATAL!

(os desejos de bom ano virão mais tarde, em tempo próprio, pois tenciono blogar, muito, antes do advento de 2006 ;-) )

"Box-Office Shortfall Forces Cuts at the Met" (in New York Times, 24/12/2005)

Nada consentânea com o espírito festivo e efusivo, característico da época mais maníaca do ano, esta recente notícia inquieta os amantes da ópera.

Quando a coisa não vai de feição, pelos lados do Met - que, indubitavelmente, é a minha sala de ópera de referência, malgré tout! -, o que se pode esperar ailleurs?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Férias!!!

Entre leituras e audições operísticas, deleitado, divido a minha fruição.
Como é bom o ócio!

Enquanto Zeus e Atena (sobretudo esta) abrem caminho a que Telémaco procure Ulisses, o amado pai, que se encontra preso, longe de Itáca, von Karajan abre as hostes, numa soberba abertura, conduzida com brio, ora sublinhando o trágico e lúgubre, ora enfatizando a comedia...

Pausa no Canto II; pausa na cumplicidade inicial entre Don Giovanni e Leporello.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Carlos AMARAL DIAS na blogosfera

Eis Um Americano em Lisboa, blog da autoria de Carlos Amaral Dias, meu mestre. A (re)pensar, parafraseando-o.

ELEKTRA, de R. Strauss: um exercício de secundarização

Embora não esteja, hoje, particularmente inspirado, conforme prometera, aqui vai, por fim, a minha apreciação detalhada desta pérola musical e teatral.



(DG 00440 073 4095)

A glória desta magistral interpretação, da mais brutal das óperas de Richard Strauss - Elektra, de sua graça -, radica na direcção de Böhm, na composição de Rysanek e, acima de tudo, no labor de mise-en-scène, que conta com a assinatura de Götz Friedrich.

A prodigiosa encenação de Friedrich - que data dos anos 1980, sendo intemporal - sublinha o óbvio, qual Ovo de Colombo, exacerbando-o, até aos limites do representável.

Elektra é uma ópera crua, despudorada e selvática sobre a brutalidade, dominada pela libido, na mais categórica das acepções do termo, como Freud o concebeu: expressão da agressividade e da sexualidade.
O encenador compreendeu esta dualidade, explorando-a e representando-a, como poucas vezes tive ocasião de ver, em matéria de produção operática, claro está!

Por que falo de óbvio?! Justamente, porque a tónica da encenação é colocada na incompatibilidade inexorável de dois mundo, clivados em absoluto: o de Elektra - monocromático (predominantemente cinza, com dégradés, alusões a um luto paterno inelaborável, que domina toda a trama), brutal, primário, rochoso e desgrenhado - e o de Klytämnestra - sofisticado, ornamentado até à exaustão, dominado por um erotismo perverso e luxuriante...

Plasticamente, esta concepção é alvo de um trabalho memorável, sendo os contrastes sublinhados com grande mestria: os mundos de Elektra e de sua mãe - absolutamente antagónicos - são entremeados por uma coluna clássica, de uma simplicidade notável!

O elemento clássico - riquíssimo, do ponto de vista simbólico, a começar pelo equilíbrio que encerra - sublinha as diferenças, assumindo-se como um marco de fronteira (e alternativo, se quisermos, à insanidade e perversão...), que se distingue de um e de outro dos universos, radicalmente.


Que eficácia singela! Notável!!!


A direcção de Böhm - que dirige pela derradeira vez, em estúdio, se não me engano - é meticulosa, muito precisa mas visceral: a rica expressividade orquestral é extraída com uma astúcia calculada, absolutamente controlada, roçando a perfeição, pela excelência...
De início, os tempi poderão chocar os mais ortodoxos, pela lentidão, mas logo nos habituamos!

Vamos aos solistas...

Vergo-me vezes e vezes sem conta diante do talento de La Rysanek, straussiana absoluta.
Nesta interpretação, pela primeira e única vez, Leonie Rysanek encarna o papel titular da ópera - antes encarnara Chrysothemis e acabará a carreira na pele de Klytämnestra.
Esperou pelos cinquenta anos para o fazer, cedendo à sábia sugestão de Böhm.

A maturidade interpretativa domina a figura complexa e brutal de Elektra: a expressão alienada, o ódio, o rancor, o desespero, a imensidão da dor ganham asas na leitura de Rysanek, que se afirma como Elektra definitiva (brutal, como a de Nilsson e de Marton, mas mais feminina; colossal como a de Polaski, ainda mais humana que a de Behrens...).
A voz está mais madura e escura do que outrora - como se quer! -, veiculando de forma plena toda a complexidade da protagonista.

Astrid Varnay, no seu auge, encarnou também o papel titular da ópera, tendo mesmo sido considerada uma das suas intérpretes de referência, sobretudo pelo volume dramático e vocal que imprimia a Elektra.

Pessoalmente, sempre apreciei o seu arrojo e histrionismo, inversamente proporcionais à falível técnica.


Nesta interpretação, Varnay (bem entradota na idade...) compõe uma Klytämnestra tremenda, recorrendo à notória falibilidade vocal de forma assaz inteligente: coloca-a ao serviço da construção dramática da decadência! A voz fatigada e o crescentemente incómodo vibrato esbatem-se de forma impressionante, diante da espessura cénica de Astrid Varnay! Voilà, rien que ça! Eis o que, no meu modeste entender, constitui um exemplo sumo de «inteligência musical»!


A Chrysothemis de Ligendza é muito convincente, sobretudo em termos interpretativos.

Não tendo uma voz particularmente bela (antes pelo contrario... ácida e insegura, nas passagens mais agudas), Catarina Ligendza envolve-se num jogo dramático de forma arrebatadora, conferindo à personagem uma dimensão pueril extraordinária. A sua Chrysothemis encontra-se radicalmente presa a um conflito com contornos histéricos, irresolúvel: anseia pela maternidade, deseja assumir a sua feminilidade, tanto quanto as teme...


Destacaria, por último, a prestação de Fischer-Dieskau, maduro, bem trabalhado, altaneiro e soberano.
A cena que constrói com Elektra - desde o reconhecimento, até à concretização da vingança - constitui, a meu ver, o ponto alto desta notável récita: de uma riqueza dramática transcendente, pontuada pelo fascínio e pelo horror...


Enfim, uma magnifica interpretação, encabeçada por um elenco assumidamente sénior, que se move numa encenação assente em infinitos desdobramentos da crueza, cuja expressão - quase pornográfica! - é avessa aos limites...

Um valor seguríssimo, interdito a menores de 30 anos, porque prolixo em cenas altamente chocantes...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

MET - 75 anos de transmissões radiofónicas

Amanhã, Sábado, 17 de Dezembro, pela 75º vez, têm início as famosas e louváveis transmissões radiofónicas de ópera, Live From Met. No âmbito das comemorações do evento (?), eis uma inteligente forma de aliar espírito comercial (leia-se interesse pelo vil metal) e preservação de um imenso património artístico.

By the way, a récita de amanhã (Rigoletto, de Verdi) conta com duas estrelas do firmamento lírico actual, cujo mérito é - a meu ver, claro está! - altamente discutível... Falo da bela, sensual e fogosa Netrebko (c´est tout, voilà ce que j´en pense!) e do latino Villazón (artistica e tecnicamente bem mais sólido que a sua partenaire...).

A ler e - para os fans - escutar.

Balanços, saldos, ciclos

Em época de (cíclicos) balanços, avaliações e saldos, o NEW YORK TIMES oferece-nos uma longa (4 páginas) revisão das interpretações discográficas mais destacadas do ano que ora finda.
A consultar.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

PALAVRA do SENHOR...



Jamais a relação do homem com a TRANSCENDÊNCIA foi abordada de forma tão pueril, singela, profunda e metafísica.

A colossal obra de Dreyer, que de forma magistral condensa todas as posições possíveis diante da relação com o DIVINO e a TRANSCENDÊNCIA - ortodoxia, heterodoxia, cepticismo, crença, alienação, racionalismo, fé... -, é milagrosa: longe de a REVERSIBILIDADE decorrer da omnipotência humana, a mesma é secundária à fé (no CRIADOR).

A PALAVRA - criação definitiva - constitui um momento ímpar na compreensão destas questões.

Agora, depois de a visionar, com um indescritível deslumbramento, já não sou o que era.


Para ti, Tiago, que és o maior dos meus amigos,

João

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Crise do mercado discográfico...

...este artigo prova-nos que o chavão "crise de vendas", particularmente no tocante à música clássica, tem muito que se lhe diga! Veja-se o desmesurado sucesso que a holandesa Brilliant tem vindo a alcançar, praticando preços espantosamente baixos.

Atenção... A Senhora Bartoli só grava o que quer e quando quer!!!

sábado, 10 de dezembro de 2005

Softcore...

Soberbo, este Billy Budd!


(ARTHAUS MUSIK 100 278)

Paradigmático de uma lógica perversa, diametralmente atravessado por um sadomasoquismo terrificante.

A encenação equaciona escuridão a perversão e clareza a inocência: Allen translúcido, magnifico, pela expressividade infinita - ora cândido, ora naif, mas sempre, sempre jovialmente inocente... arrebatador; Van Allan - na interpretação da sua vida - obscuro, opaco, majestoso na infinita malignidade perversa, sequioso de carne... Odioso no calculismo e na intriga; Langridge algures entre a Luz e as Trevas, mortificado pela culpabilidade... Esplêndido, pela humanidade, movendo-se titubeante em terrenos marcados pela conflitualidade...

O universo de Britten magistralmente caracterizado, em toda a sua polissemia: exclusão, desvio, alheamento, soturnismo, culpabilidade, medo, amor, ódio, singeleza...

Muito para além da trivialmente percepcionada luta entre conservadorismo-repressão-britanismo e espírito libertário-francofonismo, aqui, é a singular psicologia de Britten que se explana; dela, muito pouco é dito com clareza... quase tudo é sugerido, com pudor.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Hardcore...


A brutalidade visceral, o horror, a lascívia, o asco e a decadência entram no domínio do sublime, por esta via.

Ansiei anos a fio pela reabilitação desta obra-maioríssima.

O cadáver exumado ganha vitalidade, eternizando-se. Para todo o sempre, para todo o sempre...

De enlouquecer...

Por ora, nada mais posso acrescentar, submerso que estou por esta experiência insólita...
As representações desta vivência virão depois, quando a alma retomar o seu reencontro com a minha matéria carnal...

A Elektra de Strauss envolta na mais indescritível e magnética forma que a criação humana pode conceber.

7 de Dezembro... : 2-1, a favor dos anglo´s

Ainda o caso alla Scala´s Opening night!

Depois de ler esta abonatória crítica (in New York Times), pergunto-me se as dispares visões clivadas a respeito da première de Idomeneo, em Milão, não serão actualizações do ancestral conflito que opõe francófonos a anglófonos: afinal Daniel Harding - il maestro - é britânico e brilha muito...

Paira no ar um confronto de subjectividades ou - para retomar o meu estilo prosaico - cheira a inveja?

7 de Dezembro: (glorioso) dia 1º da Era Lissner

Perplexidade, espanto e estupefacção: eis a tríade que domina a minha mente, depois de ler uma crítica (outra...) absolutamente antagónica à que aqui coloquei, ontem, relativamente à abertura da temporada do alla Scala.

A subjectividade tem destas particularidades...

Não pretendendo apregoar um discurso monolítico - nomeadamente no que toca à apreciação crítica sobre a criação (seja ela de que natureza for...) - e sendo certo que a singularidade e subjectividade devem imperar, em matéria de apreciação da expressão - mais que não seja porque definem a condição humana! -, não deixo de me questionar (sempre) diante de visões em tudo antagónicas...

Em jeito bem mais prosaico, ao meu estilo, pergunto se os senhores do TELEGRAPH e do LE MONDE estiveram presentes na mesma soirée?

Que a produção de Bondy suscite polémica, não me espanta; espanta-me, sim, que duas criaturas teçam considerações técnicas (objectivas, pergunto?!) radicalmente diferentes, por exemplo, a respeito das prestações vocais dos intérpretes!

Pensemos nos limites da subjectividade / objectividade, eis a minha proposta!

7 de Dezembro: (negro) dia 1º da Era Lissner

As criaturas - como eu - que padecem de operite crónica aguardam com notória ansiedade a soirée milanesa de 7 de Dezembro, data que marca o início da temporada lírica naquela faustosa cidade .

Ora, pelo que aqui pude ler, nem tudo corre bem pelas bandas do alla Scala: Bondy altamente contestado, para não falar nos intérpretes, no maestro Harding... e no público!

Aguardam-se melhores dias.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Mozart, Così e McVicar

McVicar, a propósito da sua última encenação de Così Fan Tutte, para a Opéra national du Rhin:

«Cosi est une merveilleuse histoire au sujet de l'amour et de l'innocence. Son message est que l'on ne peut pas être humain sans être triste. Nous devons quitter le jardin d'Eden et manger la pomme.»

(in Le Figaro, 6 de Dezembro de 2005)

Interessante tirada, esta, em que o encenador identifica inocência a felicidade e crescimento a perda.

Prosaica, mas sábia, esta evocação do labor de luto, que a expansão e o crescimento contêm, acarretam e implicam.