terça-feira, 29 de maio de 2007

Ópera e DN - La Suite

A saga operática do DN prossegue!
Eis as "veras caras" da última - Tito Manlio (Vivaldi) - e da próxima - Salome (R.Strauss) - óperas, respectivamente:




segunda-feira, 28 de maio de 2007

(Gooooooooooooood) News



Por escassos Euros - 6, mais coisa, menos coisa - terá o leitor acesso a um dos mais notáveis baixos da história da lírica!

Indubitavelmente, é O meu predilecto: tão lírico quanto buffo, tão expressivo quanto jocoso.

Maior Don Giovanni do que ele - nos anos 1950 -, seguramente, não houve!

domingo, 27 de maio de 2007

Bullying: a explicação da psicanálise

Por via da Identificação Projectiva – conceito criado por Melanie Klein, na década de 1940 -, o sujeito tem a ilusão de livrar-se de partes de si, intoleráveis, colocando-as no interior do outro (o objecto). Este mecanismo proporciona ao sujeito uma sensação de omnipotência, dado que lhe alimenta um vivido de controlo.

Este conceito – absolutamente fundamental, nomeadamente na compreensão e explicação da dinâmica psicótica (ansiedade paranóide, delírio, etc.) – permite explicar de forma bastante razoável e clara fenómenos como o racismo, a discriminação e o (tão em voga) bullying.

No caso deste último, o sujeito / grupo mais não faz do que nomear um bode expiatório, doravante portador do material psiquicamente intolerável por parte dos ditos sujeito e / ou grupo.

Recentemente, os media têm divulgado o caso de discriminação de que tem sido alvo uma criança portadora de doença oncológica.

A dita criança – identificada com o cancro, leia-se com a morte, em derradeira instância – torna-se, deste modo, a portadora das angústias de morte dos colegas, que se mostram incapazes de as integrar / suportar.

Afastando-se o colega portador do mal, ilusória e omnipotentemente, irradica-se a morte do espectro mental!

O bullying é, pois, uma entre tantas outras manifestações da Identificação Projectiva patológica, essencialmente evacuativa.

Em minha opinião, ou se tem em consideração este aspecto - bullying determinado pela Identificação Projectiva -, na abordagem dos colegas de escola da mencionada criança, ou a intervenção psicológica estará votada ao fracasso, sobretudo se se investir no moralismo pedagógico - "Temos de ter compaixão pelos desfavorecidos, não os discriminando!!"

Alagna: a hipoglicémia

Ri-me a bom rir com esta longa entrevista de Alagna ao El Pais.
Entre outros mimos, o grande tenor brinda-nos com "petas" criativas até mais não!
Por exemplo, as suas palavras justificam o já famoso caso-alla-Scala (a que clinicamente se chama passagem-ao-acto) com base na hipoglicémia!
Extraordinário…

Bom, o que mais se evidencia, nesta entrevista, é a depressividade.
Alagna atravessa um momento particularmente frágil, psiquicamente falando.
Ao meu jeito, diria que por trás da hipoglicémia está uma fragilidade oral, que agora se evidencia de forma aparatosa.

Falta-lhe açúcar…

Será demasiado ousado – e por ora injustificado – falar-se de uma depressão oral (explicada pela falha da provisão nutritiva-afectiva, pela parte do objecto). Mas… quiçá, €50 por sessão, três vezes por semana, e um divã… talvez resolvessem o problema!

Verdadeiramente, as palavras de Alagna revelam uma fragilidade narcísica de tipo oral.

Pelo meio, Roberto evidencia uma tendência interpretativa – na acepção mais paranóica do termo – algo obstinada (vide caso alla Scala), polvilhada por uma hiperexpressividade emocional e muito, muito histrionismo...

Moral da história: Alagna revela uma personalidade essencialmente histérica, com inúmeros dotes artísticos! Quase nos convence, tal não é o seu talento artístico ;-)

sábado, 26 de maio de 2007

Gulbenkian: temporada 2007 / 2008


Não fiquei particularmente deslumbrado com esta programação…
Eis os meus dilectos momentos:

Quinta, 18 Out 2007, 21:00 - Grande Auditório e
Sexta, 19 Out 2007, 19:00 - Grande Auditório


ORQUESTRA GULBENKIAN
LAWRENCE FOSTER (maestro)
SOILE ISOKOSKI (soprano)
Richard Strauss
Prelúdio, para sexteto de cordas, da ópera Capriccio, op.85
Finale da ópera Capriccio
Duas árias da ópera Ariadne auf Naxos:- «Ein schönes war»- «Es gibt ein reich»
Le Bourgeois gentilhomme, suite para orquestra, op.60

Sábado, 8 Dez 2007, 19:00 - Grande Auditório

ACCADEMIA BIZANTINA
OTTAVIO DANTONE (direcção)
ANDREAS SCHOLL (contratenor)
«Andreas Scholl and Friends»
Georg Friedrich Händel
Vedendo Amor, Cantata para Contralto e baixo contínuo, HWV 175
Sonata em Trio, em Si menor, op.2 nº 1
Nel doce tempo, Cantata para Contralto e baixo contínuo, HWV 135b
Dolce pur d’amor l’affanno, Cantata para Contralto e baixo contínuo, HWV 109
Sonata em Trio, em Fá Maior, op.2 nº 5
Mi palpita il cor, Cantata para Contralto, flauta e baixo contínuo, HWV 132c

Sábado, 9 Fev 2008, 19:00 - Grande Auditório

ORQUESTRA DE CÂMARA DE BASILEIA
CECILIA BARTOLI (meio-soprano)
«A Revolução Romântica»
(programa a anunciar)


Segunda, 10 Mar 2008, 19:00 - Grande Auditório

MAGDALENA KOZENÁ (meio-soprano)
Obras de: Claude Debussy, Gustav Mahler, Francis Poulenc, Richard Strauss, Antonín Dvorák


Terça, 18 Mar 2008, 19:00 - Grande Auditório

KRYSTIAN ZIMERMAN (piano)
(programa a anunciar)


Sexta, 25 Abr 2008, 19:00 - Grande Auditório e
Sábado, 26 Abr 2008, 21:00 - Grande Auditório

CORO GULBENKIAN
JOHN NELSON (maestro)
NORA GUBISCH (meio-soprano) - Marguerite
PAUL GROVES (tenor) - Faust
SIR WILLARD WHITE (barítono) - Méphistophélès
LUÍS RODRIGUES (barítono) - Brander
Hector Berlioz
La Damnation de Faust, op.24


Segunda, 12 Mai 2008, 19:00 - Grande Auditório

EUROPA GALANTE
FABIO BIONDI (maestro)
IAN BOSTRIDGE (tenor) - Idomeneo
EMMA BELL (soprano) - Elettra
CHRISTINE RICE (meio-soprano) - Idamante
KATE ROYAL (soprano) - Ilia
BENJAMIN HULETT (tenor) - Arbace
Wolfgang Amadeus Mozart
Idomeneo, K.366
(ópera em versão de concerto)


Quinta, 29 Mai 2008, 20:00 - Grande Auditório e
Sábado, 31 Mai 2008, 20:00 - Grande Auditório

CORO GULBENKIAN
LAWRENCE FOSTER (maestro)
SERGEY MURZAEV (barítono) - Onegin
ELENA PROKINA (soprano) - Tatyana
MARIA SOULIS (meio-soprano) - Olga
ANATOLI KOTSCHERGA (baixo) - Gremine
MARIUS BRENCIU (tenor) - Lensky
(restantes solistas a anunciar)
Piotr Ilitch Tchaikovsky
Evgeny Onegin, op.24
(ópera em versão de concerto)

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Lohengrin, na Bastilha

Em nada me surpreende este sucesso! O elenco, a direcção do maestro, a encenação...
Enfim, previsivelmente notável!

O que mais me fascinou neste artigo é a reflexão em torno das liberdades interpretativas, no tocante à mise-en-scène:

«A chaque fois, un même argument : réactualiser les oeuvres lyriques pour que le spectateur d'aujourd'hui y trouve un intérêt. Ce qui est absurde. Quand on se plonge dans Proust, Mann ou Dostoïevski, c'est pour entrer en résonance avec des lieux et des époques spécifiques. Quand on va voir des Monet ou des Delacroix, ce n'est pas pour être téléporté dans le monde de la Guerre des étoiles.»

A questão da liberdade, neste contexto, permanece na ordem do dia!
Será - creio - uma mera questão de limites!?

«En quelques jours, on a pu voir Elina Makropoulos, l'héroïne de Janácek, soulever sa jupe et s'asseoir sur la cuvette des toilettes, dans la production signée Warlikowski pour Bastille. Puis Carmen tailler une pipe sur la scène du Châtelet, tandis que Micaëla se faisait sodomiser puis dessouder, au milieu de saillies brutales méticuleusement mises en scène par l'Autrichien Martin Kusej (...)»

Alagna Triunfal: Vendetta?

Esta notícia dá conta de um outro Roberto Alagna, bem mais interessante do que a estrela birrenta e caprichosa.



Negar que Alagna possui um imenso talento - limitando-o à fútil dimensão de star - será absurdo, no mínimo.

Pessoalmente, continuo a apreciá-lo muitíssimo, malgré tout.

Centremo-nos no talento, que é desmesurado:

«La Sicile est debout, les Champs-Elysées aussi, qui scandent le triomphe d'Alagna et le vengent des huées de la Scala.»

Também eu te aplaudo, de pé!!!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Macbeth abre o Festival de Glyndebourne!!!

Antes do Macbeth luso - no TNSC -, Glyndebourne propõe uma leitura particular desta ópera

Expectante, Dissoluto Punito vai encontrando outras razões para uma saltada ao maior festival de lírica em terras de Sua Majestade, A Rainha.

Rainha, rainha, Stemme não será. Mas - diz quem a viu - é uma imperatriz do canto wagneriano. Se lhe juntarmos Skovhus e Pape, apenas teremos de procurar um Tristan à altura para que as récitas façam história.



Reclama-se, pois, Heppner!

domingo, 20 de maio de 2007

(ainda) A Valquíria de Marselha

Neuroticamente – ou não! -, retomo a notícia do post anterior, alusiva à A Valquíria de Marselha (desta feita via Le Monde).

Não me surpreende que tenha encantado, esta A Valquíria marselhesa!
Nos anos 1970, o “couple” Vickers & Rysanek abrilhantou récitas e récitas desta mesma ópera, justamente em Marselha.

Mais virtudes: Dohmen é seguramente um imenso Wotan!
Vi-o no Met – como João Baptista (Salome), em substituição de Terfel – e convenceu-me.

Ainda mais esta: Kerl será, sem sombra de dúvida, um dos Siegmund do século!
Tive ocasião de me vergar diante do seu notável talento, aqui.


Mais, ainda?
Vamos todos para Marselha, apanhar o final de O ciclo da lírica!!!

O Conflito (também) presente na Wagneriana

Prolixa é "a coisa" wagneriana em aspectos psicopatológicos: megalomania, perversidade e narcisismo, além de uma bem camuflada ansiedade de perda.

Ora, a propósito de uma – aparentemente interessantíssima – A Valquíria, em Marselha, esta notícia enfatiza a dimensão mais neurótica da wagneriana, pois sublinha o conflito de Wotan: debatendo-se entre desejo (o ID) e defesa (o Super-Eu), o herói (?!) conflitua, como segue:

«Mais, au-delà, c'est le combat intérieur d'un Wotan particulièrement humain déchiré entre son amour pour ses enfants et le devoir de défendre l'ordre selon les désirs de Fricka, sa femme, qui donne une force dramatique universelle à cette oeuvre.»

Mas… vamos mais a fundo, pois que a psicanálise aspira à verdade – e esta, e apenas esta, cura:

«L'air où il se sépare de sa fille préférée, Brünnhilde, à laquelle il voue un amour presque incestueux, est bouleversant. L'inceste, la transgression ultime, est d'ailleurs un autre thème central de l'opéra. Sieglinde quitte Hunding pour vivre avec Siegmund, son frère jumeau né des amours adultérines de Wotan, une passion qui brise les tabous et les conventions.»

Wagner levanta a ponta do véu, ao ousar afrontar a regra de ouro da neurose: a interdição do incesto.

Não é o único a fazê-lo, diga-se em abono da verdade! Neurótico que se preze, psiquicamente – apenas e só, sublinho! –, evoca a possibilidade da transgressão primeira!

No caso em questão – para retomar a luta interior (intrapsíquica) de Wagner / Wotam -, o conflito reside num ponto bem mais distante do que o primeiro parágrafo evoca.

A luta situa-se entre o desejo por Brünnhilde (ditado pelo ID, que reenvia ao Incesto) e a defesa contra o mesmo (esta ditada pelo Super – Eu, representante interno da Lei e do Interdito).

Ainda há quem ouse limitar o acesso da wagneriana à neurose de todos nós!

Nem só de perversidade (e ou perversão) vive Richard Wagner.



Enfim, com os Mestres aprendemos a ver o mundo com outros olhos!
Obrigado, CAD ;-)

O Retorno do Virtuoso

Fala-nos Mestre Freud da Compulsão à Repetição, como um dos mecanismos essenciais do conflito neurótico.
O neurótico, mais ou menos sistematicamente, repete e repete, de forma viciosa. Sem sombra de virtude.

Quando o vício repetitivo cede à virtude mutativa, o conflito dissolve-se, pois a compulsão à repetição cedeu. E cessa a conflitualidade neurótica.

Quando "a coisa" não se resolve de per si, o divã termina o processo; não sem sofrimento, não sem alguma dor.

Ora,
esta notícia – onde se comemora a estreia do Grande, Grande Plácido Domingo na Ópera de Viena -, alude à recolocação da estrela no início de ciclo, que nada teve de vicioso. De virtuoso teve muitíssimo!

«A Plácido Domingo, lo que le fascina de la capital austriaca es que haya tanta gente que perciba la música como una lengua materna. "En Viena, las familias van a misa con los niños, que crecen con Bach, Mozart y Händel. Conozco a espectadores de más de 30 años que ya venían a verme a los ocho. Tienen la música a mano, y sería bueno que esto sucediera en otros lugares"



Bravo, DOMINGO!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

(mais) Ópera de Qualidade!

Via DN!

Boa, barata e bem embalada: o que mais se quer?!

Na semana passada, brindaram-nos com esta pérola:



Amanhã, será a vez desta:



Price, King, Donath e SAWALLISCH, em 1973, é seguramente do melhorio!!!

Não cesso de dar a mão à palmatória.

Ainda há que diga que a vida não tem (pequenas) coisas boas, para além de tomate - cereja, gin - tónico, abacate, camisas EMPORIO ARMANI, sapatos TODS, relógios & canetas MONTBLANC, TOBLERONE, telemóveis a €29,95, meias - de - leite (escuras e com espuma, como na CRISTAL, à Lapa), croissants mistos com manteiga, manhãs de fim - de - semana na cama, manhãs de fim - de - semana no parque infantil, pacientes provocadores (os muito submissos são uns sacanas!), JOÃO PIRES, APPLE - Mac, leite VIGOR fresco, batidos de morango, IPOD's (Mini, Maxi), Free - pass HOLMES PLACE, imeeeeeeeeeeeeeenso NESPRESSO (preferencialmente com bichas intermináveis, no Chiado), fotografias da Ornella Muti..., e mais não digo !

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Milos Forman e a Ópera – Acto II

Queiramos ou não, Milos Forman contribuiu em larga medida para perpetuar uma falácia história.

Se o leitor bem se recorda, em AMADEUS, vigora a tese de um Mozart-genial-vítima, face a um Salieri-medíocre-pérfido.

Nos tempos mais recentes (entre muitos outro) duas criaturas se esforçaram, por via do trabalho desenvolvido, por rebater esta inverdade: Bartoli e Rousset.

Vem esta prosa a propósito da segunda (?) incursão do cineasta checo nos domínios da lírica.

A edição de hoje de El Pais divulga esta notícia, que dá conta, justamente, de Un paseo bien pagado (tradução castelhana, claro está), que estreia no Palau de les Arts, em Valência.

Oxalá o epílogo repare o desastre do Acto I…

Stemme & Strauss

Desde esta altura que anseio pela chegada da pérola (?).
Para já, fiquemos com a opinião do The Guardian.
(a DIAPASON dá-lhe 5/5, aquém, portanto, do DIAPASON D'OR)

De la maison des morts, de Janacek...

...triunfou em Viena!

Há cerca de dois anos, assisti a uma récita desta mesma ópera, na Bastilha, sem entusiasmo de maior.

Ao ler esta notícia, roo-me de inveja, assumidamente!

A dupla Boulez - Chéreau sempre me fascinou. Facilmente se percebe...

Depois de um Der Ring triunfal, em Bayreuth, e de uma extraordinária Lulu, à Garnier, desta feita a dupla revitaliza Janacek.



«(...) les deux hommes ont reformé, grâce à Stéphane Lissner, leur union sacrée comme s'ils ne s'étaient jamais quittés. Et c'est d'abord à eux que s'adressaient les douze minutes d'ovations debout, samedi soir au Theater an der Wien, en ouverture des Wiener Festwochen.»

E mais não cito!

E os mortos ressuscitam, ao que parece...

terça-feira, 15 de maio de 2007

A Marcha Triunfal...

...do Tiago começou hoje, dia 15 de Maio de 2007, ano da graça do Senhor.

O momento é de CELEBRAÇÃO, com Verdi, claro está!

domingo, 13 de maio de 2007

Polémicas em torno da ópera...

No DN de ontem, João Miranda – investigador em biotecnologia – tece considerações pessoais sobre a famigerada identificação entre ópera e riqueza – de espírito, seguramente (digo eu, sem modéstia)! Riqueza material?

A páginas tantas, conclui o escriba: «Os subsídios à ópera são um caso particularmente perverso de intervenção estatal. O objectivo declarado dos subsídios é criar escolhas de modo a que ninguém possa ficar impedido de ir à ópera por razões económicas. No entanto, dado que a ópera é tendencialmente uma actividade que interessa muito mais aos ricos que aos pobres, existe uma grande probabilidade de serem os que têm menos escolhas a financiar os que têm mais escolhas

O artigo de opinião é uma alarvidade, do meu ponto de vista.

No essencial, o autor insurge-se contra a protecção que o estado oferece à ópera, alegando que, por via dos subsídios oferecidos, o mesmo estado alimenta um espectáculo de elites.

Terei de recordar a esta luminária que, queira eu ou não, através dos meus impostos, financio o ordenado do seleccionador nacional de futebol, o vencimento de magistrados, juízes, médicos, deputados, etc.

Se beneficio – directa ou indirectamente – dos préstimos dos citados profissionais, a questão é outra!

Já agora, pergunto ao ilustre investigador se, por casualidade, não terá beneficiado de bolsas estatais, ao longo da sua carreira? By the way, será que alguma vez eu e outros cidadãos iremos beneficiar das investigações desenvolvidas pelo senhor em questão?!

Do meu ponto de vista, devo dizer-lhe que a sua argumentação recorda a falácia que uma certa esquerda comunista apregoava, há não muitos anos: “Enquanto houver um indivíduo com fome, não deverão ser esbanjados dinheiros públicos em bens supérfluos”. Para ser demagógico, este vil argumento de nada carecia!

Fique o senhor investigador sabendo que, independentemente de eu beneficiar - ou não -, por exemplo, dos préstimos de profissionais do serviço nacional de saúde, nem ouso questionar a circunstância de parte dos meus impostos reverter em favor do dito serviço nacional de saúde!


O civismo e o princípio da cidadania têm destas coisas, meu caro.

Pense nisso, se assim o entender.


ps agradeço a Leporello o envio do artigo que esteve na origem deste post!

L'ITALIANA IN ALGERI, récita de 10 de Maio de 2007, Teatro Nacional de São Carlos

Vinte anos volvidos sobre a última L’Italiana in Algeri, em Lisboa, no São Carlos, ei-la de novo em cena, triunfal.

Rossini será, porventura, o mais maniforme dos compositores de música lírica de todos os tempos. As suas criações demandam uma celeridade radical, sarcasmo, ironia, malícia, a par de graciosidade e inteligência.
O que a lírica buffa mozartiana tem de subtil, tem a rossiana de sagaz, despudorada e libidinosa.



Chez Rossini, tecnicamente, as dificuldades são de maior: G. Rossini é um dos expoentes máximos do belcanto italiano - lado-a-lado com Bellini e Donizetti - (período que, como se sabe, faz do domínio técnico o eixo central da expressão artística), sendo o maior dos buffos desta mesma escola de canto.
Que se saiba, Bellini só compôs opera seria e Donizetti apenas fez algumas incursões buffas, sendo O Elixir do Amor a mais proeminente de todas elas.

Dito isto, abordar a lírica rossiniana - particularmente a buffa - será das maiores ousadias que imaginar se pode, no que à música (dita) erudita concerne.

A talho de foice, devo confessar que a última ópera do compositor de Pesaro a que assisti - justamente em Lisboa, no TNSC - permanece como a mais miserável do meu repertório! Tratou-se de O Turco em Itália, há cerca de três anos.
Uma vergonha inconcebível, sem ponta por onde pegar!

L’Italiana in Algeri, segundo me parece, em termos de composição, nada revela de inovador. Ainda assim - à semelhança de O Barbeiro de Sevilha - faz a apologia da inteligência e sagacidade, que triunfam sobre as convenções e hábitos da tradição. Todos os envolvidos neste conjunto de récitas parecem tê-lo compreendido!
Quanto às leituras politicas e antropológicas do libretto, não me adianto, pois prezo muito a minha cabeça, if you (all) see what I mean ;-)

Pois bem, parti para esta récita com algumas reticências.
O humor não estava de feição, a fadiga era muita e os ecos das récitas - à excepção da opinião favorável de Bernardo Mariano (do DN) - não eram animadores.
Enganei-me redondamente!

D’emblé, gostei da produção, que procurou servir a obra com humildade, sem a abafar.
Do meu ponto de vista, assim é que deve ser!
É bem verdade que as produções europeias (cultoras da erudição) - contrariamente às americanas (hiper-realistas e dadas ao fausto) - se esforçam por subjugar a lírica à criação plástica...

Em jeito de provocação, diria que o grande mérito desta produção reside na dispensa de estudos pós-graduados em metafísica, por parte do espectador!
Rossini escrevia assumidamente para o povo, que pretendia divertir e animar, não procurando educá-lo, no sentido mais livresco e erudito do termo (a ler como fastidioso e chato).

Com efeito, a presente produção, acima de tudo, desenvolveu um trabalho honesto, singelo, despretensioso, e bastante afim com a eficácia.

Nada contendo de particularmente original, a dita produção apostou numa recriação do ambiente da ópera, de forma fiel, sem aberrações nem liberdades excessivas. A encenação sublinhou a agitação, o frenesim, a ironia, o ridículo (sobretudo) e o humor em que decorre a trama e - a meu ver - conseguiu!
Prolixa em cores fortes e quentes, rica em detalhes e ornamentos arabescos, a equipa acentuou o ambiente de câmara - necessariamente buffo - da obra.

Nesta L’Italiana in Algeri, optou-se pela exploração de um único dispositivo cénico, que se metamorfoseou sucessivas vezes, recriando os diversos cenários que a peça convoca.

Com pequenas transformações, o barco - que alude à viagem -, num ápice torna-se em palácio, ou nos aposentos de Isabella, retomando - no final - a sua forma original.
Dir-me-ão não ser uma ideia noval! Concedo, mas que é eficaz, é; indubitavelmente!

Pese embora a grande harmonia reinante, em termos de produção - encenação, cenografia e figurinos -, em minha opinião, o desenho de luzes revelou algumas fragilidades, pouco ou nada contribuindo para a explicitação das nuances da trama. Esperava-se outro tipo de labor.

Se é verdade que as cenas de conjunto - mais feéricas - revelavam uma luminosidade e brilho concordantes, os ambientes recatados em nada foram servidos pelo desenho de luzes, evidentemente ineficaz na construção da intimidade e do recato.

Quanto a intérpretes, numa palavra, vocal e artisticamente, diria que a trupe levou a melhor!

Comecei por lamentar a indisposição de Lorenzo Regazzo (o GRANDE Figaro de Jacobs) - que anulou a sua presença -, para mim o maior argumento em favor desta récita...
Acabei a aclamar o seu substituto (cujo nome me escapa...).

O seu Mustafà era a actualização do basso buffo rossiniano - voz bem matizada e colorida, profunda (embora nem sempre muito bem projectada), com uma riqueza expressiva notável.
Actor cómico de primeira apanha, este Mustafà revelou talento cénico e humor a rodos, fazendo do ridículo - tal como Rossini pretendia - o eixo central da sua construção artística. A seu lado, Raimondi e Ramey - os dois mais recentes Mustafà’s da discografia -, artisticamente, muito teriam a aprender...



Quanto à Isabella de Kate Aldrich... fascinou-me!
É certo que a coloratura podia ser mais brilhante - nem todas podem ser Colbran’s, Supervia’s, Berganza’s ou Bartoli’s...
Na lírica - queiramos ou não - a bravura é um bem em vias de extinção.

Actriz notável e versátil - tão deslumbrante na malícia e no humor, como convincente na heroicidade e lirismo (recorde-se, a este título, a sua magnífica prestação em Pensa alla patria, verdadeira exaltação da italianidade!) -, Aldrich investiu na inteligência e argúcia, as grandes armas de que Rossini dotou a sua personagem (e que lhe permitem triunfar!) - e ainda há quem questione o carácter fálico da inteligência feminina!!!

Some-se a tudo isto uma bela figura - recorda a Larmore (outra grande rossiniana contemporânea), nos tempos áureos - e fica-se com um talento (mais artístico do que vocal, é certo) a seguir!

Do Lindoro de John Osborne, destacaria a ousadia da emissão. Embora não sendo um belcantista puro - falta-lhe disciplina e método -, o intérprete possui uma voz ampla e, aqui e ali, luminosa.

Quanto aos restantes solistas, globalmente, considero que cumpriram com rigor e empenho, sendo de destacar o Taddeo de Paolo Rumetz, actor cómico de talento excepcional, espantosamente vil e sacana.

Apreciei muitíssimo a direcção de Donato Renzetti - viva, ágil e divertida.
Infelizmente, o maestro não faz milagres: a mediocridade dos sopros da OSP é incontornável - em Wagner, Rossini, Verdi...
Alguém me explica por que não se enviam os músicos - dos sopros... - da citada OSP... para a Argélia, a banhos... ou em reciclagem?!

Já agora, enviem-se os senhores do coro - como alguém aqui disse, com imensa graça - para o Holmes Place! Apenas um argumento justifica a exibição de tanta adiposidade: o rídiculo (rossimiano)!

Enfim, depois de uma récita airosa, graciosa e plena de frescura - como a que assisti -, outra coisa não seria de esperar senão uma extraordinária viragem de humor: em clima de euforia, eu e a minha mulher deleitamo-nos com um excelente entrecôte, à la La Brasserie dudit ;-)))

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A Italiana em Argel

Eis, por ordem de aquisição, as minhas interpretações d'A Italiana em Argel, de Rossini.







O que posso assegurar ao leitor é que nenhuma delas me divertiu tanto quanto... a récita de ontem, no TNSC, desta mesma ópera !

Mais tarde, prometo uma crítica detalhada ;-)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Disse-me um passarinho...

...que o barroco é que está a dar, em matéria de novidades discográficas!



Wagner and the Art of the Theatre

Carnegy publica Wagner and the Art of the Theatre (edição da Yale University Press).

Já chovem as aclamações...

Neste artigo - subordinado ao lançamento da obra, que levou 40 anos a redigir (?!) - levanta-se a ponta do véu, como segue:

«"People who say that Wagner knew exactly how he wanted his works produced - so what right have you to stage the Ring on Mars or down a salt mine - are wrong," he says. "Wagner was precise [in his stage directions] because the theatrical world into which he launched his works was a total mess, and the quality was very poor. The reason he took such trouble was defensive: it wasn't so much that he knew what he wanted, but he jolly well knew what he didn't want."».

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Le Malheureux Rouge



Moi, de ma part, je suis triste…

On aurait pu avoir une belle femme présidente, même si - chez elle -, à part cette beauté, il ne reste pas grand chose ! Peut-être, il lui manque un certain pragmatisme, lui permettant, notamment, de mettre en place ses projets ambitieux et assez flous…

A sa place, il parait que nous aurons plutôt un amant de la racaille !

domingo, 6 de maio de 2007

A Lusa Depressividade (feita) Crónica



Leio a Pluma Caprichosa. Porque hoje é sábado.
Sem grande surpresa, a leitura do Expresso apenas me rouba meia horita.

Acho alguma graça à escrita de Clara Ferreira Alves.
A associação livre leva-a me a outras paradas…
Acho alguma graça à escrita de Vasco Pulido Valente; riu-me com a prosa de Maria Filomena Mónica.

A minha reacção diante das palavras dos três cronistas é idêntica, como idêntica é a tonalidade emocional dos três escribas. Quiçá defensivamente, divirto-me!

Em diversas ocasiões, neste espaço, tive oportunidade de explicitar uma máxima da psicopatologia da depressão: a mania e seus sucedâneos – a euforia, por exemplo - é o outro lado da depressão.

Está bem de ver que o registo predominantemente eufórico em que me coloco, diante da escrita de CFA, VPV e MFM, é uma resposta ao afecto depressivo - ora mais dissimulado, ora mais expresso - que inunda as palavras das três criaturas.

Ferreira Alves, Pulido Valente e Mónica habitam um mundo Luso-depressivo, impregnado de cinza dégradé, sempre aquém do luto, povoado de criaturas mui semelhantes: incompetentes, imbecis, incapazes, corruptos, incultos, ladrões, mandriões, malfeitores, acéfalos, parolos, pirosos, estúpidos, oportunistas, canalhas, etc., etc.

A adjectivação seguiria de bom grado, não fora a minha má-língua constitucionalmente limitada. Ninguém é perfeito.

Considero absolutamente extraordinária – e invejável! – a possibilidade de o sujeito viver da sua problemática.

Há quem viva submerso pela depressão, lentificado, incapacitado, quando não paralisado pela melancolia.
Outros há que exploram a depressividade. Vivem num mundo negro, eivado de pessimismo, considerando inexorável o destino trágico: “todos caminhamos para o abismo, Portugal está perdido, não há mudança possível”, blá, blá, blá…
Tal é o caso de Clara Ferreira Alves, Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica.

Pois bem, seja! Se a depressividade "der uns cobres", porque não?!

Se o perverso vive da pornografia, porque não há-de o depressivo viver da depressão (contando que a dita depressão o não esmague…)?

Do meu ponto de vista – procurando ser sério, no porte e nas palavras -, o que ressalta do discurso dos três cronistas é o movimento projectivo constante, ditado e movido pela depressividade. A interioridade de cada um – certamente bem afim com a psicologia depressiva (perda, pessimismo, incurabilidade, inexorabilidade do destino et ainsi de suite) -, de modo sistemático, é projectada no exterior.

Dir-me-á o leitor – não sem razão – que o terreno em que projectam o vivido depressivo é fértil. Claro que sim! É essa a diferença entre o depressivo normalo-neurótico e o psicótico melancólico. O primeiro conserva o sentido da realidade, enquanto o segundo mescla patologicamente a sua realidade com a realidade objectiva.

Evidentemente, há em Portugal – e no mundo - razões de sobra para a má língua!

O que considero espantoso é que nenhum dos três ilustres disserte sobre o prazer, o sol, o amor, a felicidade, a beleza, a diversão, o gozo!

Clara Ferreira Alves, Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica, na minha singela opinião, mais não fazem do que perpetuar um lógica depressiva lusa, literariamente inaugurada por Herculano e Garrett e sublinhada pela famigerada Geração de 70: desde então, nem o objecto, nem o mecanismo mudou, pois “Portugal continua a ser podre, estando condenado à dissolução”!

Triste destino, o do depressivo, inalterável e monótono.

Todos sabemos que a escrita – entre outras façanhas – conserva a virtude da elaboração, como a palavra o faz, aliás, para os psicanalistas.

Estranhamente, a escrita das personalidades enunciadas, de elaborativa, nada tem! Perpetua uma imutável depressividade, patológica até às entranhas.

Enunciar a perda é meio caminho para a transformação saudável. Porém, assumi-la, não chega para a mutação.

Ainda assim, será por via da palavra que a mudança se anuncia, no divã, com o analista.

Pobre é, pois, o discurso dos três, porque monolítico, apesar da graça episódica que lhes reconheço (paradoxalmente!).

Posto que não sou (apenas) depressivo, conservo a esperança de, um dia, ver Clara Ferreira Alves, Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónia – e bem assim, alguns ilustres (muitos!) da blogosfera, que evacuam a respectiva depressvidade em tudo e todos, apenas reconhecendo a merdificação nos outros! – dissertarem sobre o verde, o sol, a felicidade, o enamoramento…

A Lusa Felicidade poderá, também, ser crónica. Um dia…

sábado, 5 de maio de 2007

Orfeu, aliás Hunt Lieberson, aliás Daniels



Há muito que o Met propusera Orfeu a Hunt Lieberson. A grande mezzo acedera.
A morte traiu-a, privando-nos dela, da sua mestria e do seu Orfeu.

A arte tem possibilidades mágicas, conseguindo contrariar os desígnios da natureza: Hunt Lieberson, por via de Daniels, encarnou o herói de C. W. Gluck.

Alguma intelectualidade portuga adora menosprezar Daniels.
Pessoalmente, aprecio-o muitíssimo, sobretudo em Handel.

Segundo reza esta notícia do The New York Times, Daniels triunfou – bem como Lieberson -, no Orfeo de Gluck! Era de prever.

Indubitavelmente, há em Daniel um misto de bicha e andrógino, que combina na perfeição com a figura de Orfeo!


sexta-feira, 4 de maio de 2007

Disse-me um passarinho...

Que está para breve a ruína absoluta!

As major's persistem na reabilitação dos fundos-de-catálogo (a ler como reabilitação financeira), apostando nas colecções.

Desta feita, seleccionei 4 coffrets, muito apetitosos, e um Tancredi, com a mítica Horne.

Nem mais, nem menos!

Cartão de crédito, Olé, olé ;-)))





quinta-feira, 3 de maio de 2007

Cho Seung-Hui: a esquizofrenia

A propósito do caso Cho Seung-Hui, passada a passionalidade, inimiga da reflexão, reflito.

Não vi a mais discreta referência - falo da blogosfera - à psicopatologia do rapaz!

Ele é «falhanço do multiculturalismo» (?), ele é «falência da integração» (?), etc.
No essencial, as explicações de pendor sociológico que li, em nada me satisfizeram.



Não pretendendo ser visionário - dado que sou psi, com muita honra! -, do meu ponto de vista, a explicação é simples: tratou-se de um surto psicótico, provavelmente revelador de uma entrada na esquizofrenia.

A entrada na psicose esquizofrénica faz-se, regra geral, no final da adolescência, início da vida adulta. O seu prelúdio é, habitualmente, um surto psicótico - o "ataque de loucura", na vulgata.

Pelo muito pouco que li, os indícios desta perturbação há muito que se faziam ver: retraimento relacional acentuado / isolamento, frieza afectiva, etc.

En passant, das fugazes imagens que visionei, sobressai uma ódio primitivo, em estreita articulação com uma angústia persecutória invasora.

Provavelmente, no seu delírio de perseguição - ditado pela identificação projectiva patológica, evacuativa - o jovem mais não fez do que atribuir a outrem - às vítimas, no caso – partes não toleradas do seu próprio self.

A identificação projectiva tem, de facto, este carácter omnipotente, de evacuação e controlo, em / de outrem, daquilo que o próprio odeia e não tolera como sendo seu.

Assim, a realidade interna, com toda a sua fantasmática destrutiva, tornou-se na realidade externa.

Entendamo-nos, fiel leitor: o perseguidor que o psicótico identifica, no exterior, mais não é do que O perseguidor interno - o chamado mau objecto persecutório -, maciçamente projectado. Não se tratando o externo de um representante - um símbolo do mau objecto interno -, com propriedade, podemos falar de equação simbólica (a antítese da representação simbólica), segundo a qual se esbate a diferença essencial entre símbolo e objecto simbolizado; i.e., por força do mecanismo da identificação projectiva, em articulação com a equação simbólica, as criaturas que Cho Seung-Hui assassinou, para o próprio, mais não são do que os seus perseguidores internos, e não representantes dos mesmos.

Depois venham falar-me em «revolta contra a não-integração», «intolerância pela diferença» e teses análogas, que falham redondamente na base!

O que posso assegurar ao leitor é que, não fora a natureza psicótica do jovem em questão, nada disto teria sucedido! A dita revolta teria sido viviva neuroticamente - por via da palavra e da representação -, sem confusão entre mundo interno / mundo externo!

That’s my point!

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Dawn Upshaw's back ;-)

A lírica americana feminina anda ensombrada pelo cancro: Hunt Lieberson perece, depois de uma longa agonia, ao passo que Swenson e Upshaw, sensivelmente na mesma época, são vitimadas pelo cancro da mama.

So far so good, felizmente para ambas!

Swenson retomou o trabalho, triunfando como Cleópatra.

Desta feita, é Dawn Upshaw que regressa aos palcos, para felicidade de todos nós.

Upshaw está longe de possuir uma voz de antologia.
Em todo o caso, é uma excelente diseuse, afirmando-se como uma das mais prodigiosas intérpretes de lírica contemporânea – Gorecki não a dispensa, Adams muito menos! -, para não mencionar as suas magníficas leituras das mélodies de Debussy ou Messiaen.


It’s good to see you again, dear Dawn!

O 1º de Maio nas províncias Ultramarinas, quando Angôla e Lourenço Marques ainda êram nôssas

Quando o tio bôtas mandava nesta têrra – Ufff ! Parêce que ‘tá de vôlta! -, era assim o 1º de Maio em África, têrra de liberdade, prosperidade e opulência, onde todos êram iguais – uns mais pretinhos que outros, ê cêrto -, e assim.

Em África, tínhamos uma machamba, tínhamos um comércio, tínhamos um machibombo, tínhamos roças...

Depois, vieram os comunistas e tiraram-nos tudo, tudo! Tudinho!

Pelo andar da carruagem, acho que África inda vai ser nôssa, um dia, em brêve.


(A Nossa Lourenço-Marques)


(A Nossa Ângola)

Oooooooooops… é 1º de Maio!!!

Claro que sou um proletário! Até já “militei” afectivamente no PSR!

O Barbeiro de Munique ossia A Excepção Confirma a Regra!

Os meus (espiritualmente falando) conterrâneos francófonos, a propósito de Gruberová, são, à la fois, implacáveis e exímios na avaliação que fazem: capaz do melhor e do pior, sem compromissos possíveis.
Têm toda a razão, concedo!

Desta feita - e porque a excepção confirma a regra -, manda a prudência que advirta o leitor entusiasmado, que por minha sugestão (?) tem embarcado na louvável aventura OS CLÁSSICOS DA ÓPERA 400 ANOS.

É bem verdade, prezado e fiel leitor, que a qualidade da colecção se tem pautado por critérios artísticos de primeira linha. Contudo, no que toca a O Barbeiro de Sevilha - a sair na próxima sexta-feira -, todo o cuidado é pouco... Não fora o incontornável Almaviva de Florez, o artigo seria bem dispensável: Gruberová, no belcanto - à excepção de Lucia -, roça o desastre e Chernov rima com mediania...

Segundo a recensão da arrogante e parcialíssima (mas indispensável!) Diapason, Juanito Diego constitui o único vértice interessante desta interpretação.

Preconceituosamente, embarco nesta apreciação, pois o Rossini de Gruberova é quase assassino.

Se a tudo isto se somar a idade entradota da Senhora Gruberová – cinquentas e muitos -, by that time...

Mas, para que alguns dos mais fervorosos leitores não me apelidem de bota-abaixista, sem hesitar, aconselho Edita Gruberova como Zerbinette, inquestionavelmente a mais perfeita, avant La Dessay!



Posto isto, o risco é inteiramente por sua conta, fiel leitor!