No DN de ontem, João Miranda – investigador em biotecnologia – tece considerações pessoais sobre a famigerada identificação entre ópera e riqueza – de espírito, seguramente (digo eu, sem modéstia)! Riqueza material?
A páginas tantas, conclui o escriba: «Os subsídios à ópera são um caso particularmente perverso de intervenção estatal. O objectivo declarado dos subsídios é criar escolhas de modo a que ninguém possa ficar impedido de ir à ópera por razões económicas. No entanto, dado que a ópera é tendencialmente uma actividade que interessa muito mais aos ricos que aos pobres, existe uma grande probabilidade de serem os que têm menos escolhas a financiar os que têm mais escolhas.»
O artigo de opinião é uma alarvidade, do meu ponto de vista.
No essencial, o autor insurge-se contra a protecção que o estado oferece à ópera, alegando que, por via dos subsídios oferecidos, o mesmo estado alimenta um espectáculo de elites.
Terei de recordar a esta luminária que, queira eu ou não, através dos meus impostos, financio o ordenado do seleccionador nacional de futebol, o vencimento de magistrados, juízes, médicos, deputados, etc.
Se beneficio – directa ou indirectamente – dos préstimos dos citados profissionais, a questão é outra!
Já agora, pergunto ao ilustre investigador se, por casualidade, não terá beneficiado de bolsas estatais, ao longo da sua carreira? By the way, será que alguma vez eu e outros cidadãos iremos beneficiar das investigações desenvolvidas pelo senhor em questão?!
Do meu ponto de vista, devo dizer-lhe que a sua argumentação recorda a falácia que uma certa esquerda comunista apregoava, há não muitos anos: “Enquanto houver um indivíduo com fome, não deverão ser esbanjados dinheiros públicos em bens supérfluos”. Para ser demagógico, este vil argumento de nada carecia!
Fique o senhor investigador sabendo que, independentemente de eu beneficiar - ou não -, por exemplo, dos préstimos de profissionais do serviço nacional de saúde, nem ouso questionar a circunstância de parte dos meus impostos reverter em favor do dito serviço nacional de saúde!
O civismo e o princípio da cidadania têm destas coisas, meu caro.
Pense nisso, se assim o entender.
ps agradeço a Leporello o envio do artigo que esteve na origem deste post!
Li o artigo em questão num blogue. Em boa hora leio a sua desmontagem da alarvidade. (e andámos nós a pagar-lhe os estudos!)
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