Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
segunda-feira, 29 de maio de 2006
sábado, 27 de maio de 2006
O Parsifal de Thielemann & O Ouro (Vicktorioso?) de Graham
Depois da divulgação desta interpretação da magistral ópera wagneriana Parsifal, tenho andado particularmente atento à crítica.
Após o rol de elogios da Gramophone, é agora a vez do Telegraph.
Aguardo com indesmentível ansiedade o veredicto da Diapason.
Se a regra se mantiver, destruirá em absoluto a dita interpretação: sempre que a crítica anglo-saxónica elogia, a francófona arrasa (e vice-versa)!
Enfim, coisa da não-objectividade.
(Parsifal: Bayreuth, 1951, produção de Wieland Wagner)
Entretanto, dei-me conta de que assistirei à estreia de O Ouro do Reno, amanhã!
Não gosto nada de estreias... Enfim!
Não escondo a minha grande admiração pelo grande G. Vick que, desta feita - ainda que num "trabalho a prestações" - acedeu a encenar a mais extraordinária parábola sobre o pessimismo, a decadência e a perversidade humanas.
Os mais letrados consideram que tais características correspondem à concepção romântica da humanidade...
Pela parte que me toca, interessa-me mais a dimensão projectiva das ditas personagens, i.e.: em que medida as ímpares figuras d´O Anel não representam dimensões do próprio compositor, que além de genialíssimo, era pessimista, omnipotente, algo perverso, megalómano, etc?
A meu ver, O Anel é um dos marcos na história da lírica... e uma notável expressão da psicologia wagneriana, onde se mesclam, justamente, narcisismo e perversidade...
Voltarei "à carga" sobre estas questões!
Adianto, desde já que mais vale um Anel-a-prestações (Washington e Zurique) do que um não-Anel (Paris - Châtelet)!
(Das Rheingold: Bayreuth, 1960, produção de Wolfgang Wagner)
Ver-se-á...
Após o rol de elogios da Gramophone, é agora a vez do Telegraph.
Aguardo com indesmentível ansiedade o veredicto da Diapason.
Se a regra se mantiver, destruirá em absoluto a dita interpretação: sempre que a crítica anglo-saxónica elogia, a francófona arrasa (e vice-versa)!
Enfim, coisa da não-objectividade.
(Parsifal: Bayreuth, 1951, produção de Wieland Wagner)
Entretanto, dei-me conta de que assistirei à estreia de O Ouro do Reno, amanhã!
Não gosto nada de estreias... Enfim!
Não escondo a minha grande admiração pelo grande G. Vick que, desta feita - ainda que num "trabalho a prestações" - acedeu a encenar a mais extraordinária parábola sobre o pessimismo, a decadência e a perversidade humanas.
Os mais letrados consideram que tais características correspondem à concepção romântica da humanidade...
Pela parte que me toca, interessa-me mais a dimensão projectiva das ditas personagens, i.e.: em que medida as ímpares figuras d´O Anel não representam dimensões do próprio compositor, que além de genialíssimo, era pessimista, omnipotente, algo perverso, megalómano, etc?
A meu ver, O Anel é um dos marcos na história da lírica... e uma notável expressão da psicologia wagneriana, onde se mesclam, justamente, narcisismo e perversidade...
Voltarei "à carga" sobre estas questões!
Adianto, desde já que mais vale um Anel-a-prestações (Washington e Zurique) do que um não-Anel (Paris - Châtelet)!
(Das Rheingold: Bayreuth, 1960, produção de Wolfgang Wagner)
Ver-se-á...
quinta-feira, 25 de maio de 2006
Nova Temporada Gulbenkian
Vá aqui... e deleite-se com a programação do Serviço de Música, 2006 / 2007!
(o ciclo de música é de arrepiar :-)))
terça-feira, 23 de maio de 2006
11/09 & Oliver Stone: (mais) Vinhetas Clínicas - a Ansiedade de Castração
Anos volvidos sobre o "trauma", O. Stone revê a situação traumática, quiçá em busca de uma outra verdade.
Oliver Stone procura sempre reviver o trauma original - qual analisando -, a ele volvendo por via fílmica.
Fê-lo (magistralmente - vide Platoon) a propósito do Vietname; fá-lo agora a propósito do 11 de Setembro.
Diria que esta recherche de Stone é partilhada por muitos ocidentais, que se questionam sobre o significado e repercussões da aparatosa destruição das Torres Gémeas.
Dissoluto Punito - cada vez mais atento ao latente - reflecte, reflecte...
Os trágicos acontecimentos ocorridos a 11 de Setembro de 2001 - particularmente no tocante à absoluta destruição do World Trade Center -, além de darem conta da vulnerabilidade estado-unidense (nos antípodas da omnipotência, sentimento que até à dita data reinou, sobretudo), a meu ver, decorrem de uma ansiedade tipicamente neurótica, na acepção psicanalítica: a ansiedade de castração.
De facto, não creio existirem símbolos mais afins com o poder fálico do que o World Trade Center, bem como a super-estrutura armada Pentágono!
Obviamente refiro-me à expressão fálica em termos simbólicos, dado que ambos os edifícios constituem duas expressões de poder absoluto: financeiro - no caso das torres - e militar - no caso do Pentágono.
Em minha opinião, o que se pretendeu com os atentados ocorridos a 11/09 nada teve que ver com um desejo de aniquilamento ou de erradicação maciça!
Antes se procurou lesar uma parte do mundo, isto é, castrá-la, tão profundamente quanto possível.
Resta dizer que, no que ao desenvolvimento psíquico diz respeito, a ansiedade de castração é organizadora, não apenas por confrontar o individuo com os seus limites e fragilidades, como por estabelecer alguns dos interditos fundamentais (nomeadamente os que decorrem da regra fundamental da interdição do incesto)...
Oliver Stone procura sempre reviver o trauma original - qual analisando -, a ele volvendo por via fílmica.
Fê-lo (magistralmente - vide Platoon) a propósito do Vietname; fá-lo agora a propósito do 11 de Setembro.
Diria que esta recherche de Stone é partilhada por muitos ocidentais, que se questionam sobre o significado e repercussões da aparatosa destruição das Torres Gémeas.
Dissoluto Punito - cada vez mais atento ao latente - reflecte, reflecte...
Os trágicos acontecimentos ocorridos a 11 de Setembro de 2001 - particularmente no tocante à absoluta destruição do World Trade Center -, além de darem conta da vulnerabilidade estado-unidense (nos antípodas da omnipotência, sentimento que até à dita data reinou, sobretudo), a meu ver, decorrem de uma ansiedade tipicamente neurótica, na acepção psicanalítica: a ansiedade de castração.
De facto, não creio existirem símbolos mais afins com o poder fálico do que o World Trade Center, bem como a super-estrutura armada Pentágono!
Obviamente refiro-me à expressão fálica em termos simbólicos, dado que ambos os edifícios constituem duas expressões de poder absoluto: financeiro - no caso das torres - e militar - no caso do Pentágono.
Em minha opinião, o que se pretendeu com os atentados ocorridos a 11/09 nada teve que ver com um desejo de aniquilamento ou de erradicação maciça!
Antes se procurou lesar uma parte do mundo, isto é, castrá-la, tão profundamente quanto possível.
Resta dizer que, no que ao desenvolvimento psíquico diz respeito, a ansiedade de castração é organizadora, não apenas por confrontar o individuo com os seus limites e fragilidades, como por estabelecer alguns dos interditos fundamentais (nomeadamente os que decorrem da regra fundamental da interdição do incesto)...
segunda-feira, 22 de maio de 2006
Para americano ver...
A typical american success story: o carpinteiro que se torna director-geral...
(J. Volpe, o ex-Senhor Met)
Foi assim a gala do Met, que assinalou o final da Era Volpe.
(J. Volpe, o ex-Senhor Met)
Foi assim a gala do Met, que assinalou o final da Era Volpe.
sábado, 20 de maio de 2006
Hvorostovsky: o eterno retorno
Dissoluto Punito, de muito bom grado, regressa sempre aos Deuses!
Invariavelmente, disse-vos que ele era soberano (aqui e aqui)...
(Unofficial Homepage de D. Hvorostovsky)
Invariavelmente, disse-vos que ele era soberano (aqui e aqui)...
(Unofficial Homepage de D. Hvorostovsky)
sexta-feira, 19 de maio de 2006
Parabéns ao Crítico...
...por três anos de existência na blogosfera!
Embora o estílo seja polémico, aprecio a autenticidade e seriedade do Crítico, que constitui um dos meus blogs de eleição.
Parabéns ao Henrique Silveira!
Faço votos de longevidade ;-)
Embora o estílo seja polémico, aprecio a autenticidade e seriedade do Crítico, que constitui um dos meus blogs de eleição.
Parabéns ao Henrique Silveira!
Faço votos de longevidade ;-)
Met, Volpe & o (poder do) Inconsciente
Curiosamente, na gala de homenagem a J. Volpe - até à data o director-geral do Met -, a geração de cantores que mais se afirmou nos anos 1990 (justamente, em plena Era Volpe...) estará praticamente ausente, conforme aqui se noticia.
Na minha análise - que se pretende psi, até às entranhas -, trata-se de uma bela manifestação da ambivalência e do poder incontornável do inconsciente!
Por muito que aprecie determinados aspectos deste tipo de eventos - refiro-me às Galas do Met -, nomeadamente a qualidade dos intérpretes que actuam, reconheço tratar-se de um acontecimento algures entre o possidónio e o social (no pior dos sentidos...).
Regressando ao lapso, pretenderá Volpe melhor e mais eloquente demonstração do apreço que por ele nutre a Metropolitan Opera House, dada a manifesta ausência dos cantores que o dito senhor ajudou a afirmar-se, na gala que pretende homenageá-lo???
À la Freud, diria que, em termos manifestos, a Gala gratifica Volpe, sendo que, ao nível latente, o lapso ilustra o não-apreço por J. Volpe (isto para não ser mais incisivo...)!
Na minha análise - que se pretende psi, até às entranhas -, trata-se de uma bela manifestação da ambivalência e do poder incontornável do inconsciente!
Por muito que aprecie determinados aspectos deste tipo de eventos - refiro-me às Galas do Met -, nomeadamente a qualidade dos intérpretes que actuam, reconheço tratar-se de um acontecimento algures entre o possidónio e o social (no pior dos sentidos...).
Regressando ao lapso, pretenderá Volpe melhor e mais eloquente demonstração do apreço que por ele nutre a Metropolitan Opera House, dada a manifesta ausência dos cantores que o dito senhor ajudou a afirmar-se, na gala que pretende homenageá-lo???
À la Freud, diria que, em termos manifestos, a Gala gratifica Volpe, sendo que, ao nível latente, o lapso ilustra o não-apreço por J. Volpe (isto para não ser mais incisivo...)!
O dito lapso é, pois, uma expressiva manifestação do retorno do recalcado: por via deste engano, algo que se pretendia ocultar (leia-se, reprimir), manifesta-se!
Moral da história: o material recalcado encarrega-se sempre de contornar a censura - que originalmente impede a sua franca expressão - e de se fazer notar!
Moral da história: o material recalcado encarrega-se sempre de contornar a censura - que originalmente impede a sua franca expressão - e de se fazer notar!
quinta-feira, 18 de maio de 2006
Glyndebourne Festival Opera 2006
É amanhã que tem início o mais importante evento musical britânico pré-estival, o Festival de Glyndebourne!
Eis o programa (retirado deste artigo do Telegraph):
Eis o programa (retirado deste artigo do Telegraph):
Glyndebourne Festival Opera 2006
Così fan tutte Mozart
May 21, June 4 at 3.45pm; May 27, 30, June 7, 10, 14, 17, 20, 23, 27, July 1, 7, 10 at 5pm
Die Fledermaus Strauss
May 24, 26, June 1, 3, 6, 9, 16, 22, 25, 28, July 6, 15, 21, 24, 28 at 5.15pm; May 28 at 4 pm
A Midsummer Night's Dream Britten
June 11, 18, July 9, 16 at 4.20pm; June 15, 21, 24, 30, July 14, 22, 27, Aug 1, 7 at 5.35pm
Fidelio Beethoven
July 2, Aug 6, 13, at 4.50pm; July 5, 8, 11, 19, 29, Aug 3, 10, 16, 19, 24 at 6.50pm
Betrothal in a Monastery Prokofiev
July 23, 30, Aug 6, 13, 27 at 4.15pm; July 29, Aug 3, 10, 16, 19, 24 at 6.05pm
Giulio Cesare Handel
Aug 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23, 26 at 4.05pm; Aug 20 at 2.50pm
***
[Mais lhe digo, caro leitor, que a belíssima Danielle de Niese voltará a encantar, na pele de Cleópatra!
Aliás, o nível do elenco das récitas de Giulio Cesare é de fazer inveja a qualquer amante desta magistral ópera de Handel: D. Daniel, K. Karnéus, S. Mingardo, para além da esbelta D. de Niese...
(Danielle de Niese, a Cleópatra-sensação de Glyndebourne ´05... e ´06!) ]
quarta-feira, 17 de maio de 2006
Real & Ideal, na lírica (e na depressão...)
Este interessante artigo do New York Times versa sobre uma questão central, no tocante à interpretação - particularmente no que se refere à lírica.
(Voigt vs Callas ou real vs ideal???)
A propósito da recente Tosca, interpretada por Deborah Voigt, no Met, o autor do artigo questiona a pertinência da persistente comparação entre passado e presente - leia-se, entre as encarnações da referida figura a cargo de Maria Callas e Renata Tebaldi e as interpretações contemporâneas da mesma personagem.
Em minha opinião, uma vez mais, creio tratar-se de uma típica confrontação entre o ideal e o real, questão tão premente na lógica depressiva, segundo a qual existem modelos ideais - forçosamente inalcançáveis, perfeitos e, invariavelmente, pretéritos -, que ofuscam em absoluto o presente, que é real e falível.
Note o leitor que o trabalho psicanalítico permite perceber que não há bela sem senão... O mesmo é dizer que o objecto idealizado esconde, sempre - sublinho esta invariância - um objecto persecutório! Pelo que, permito-me duvidar da aura intocável das leituras passadas, dado imaginar que ocultam uma dimensão persecutória, que evitamos aceitar!
Quando o deprimido consciencializa esta dimensão oculta, inicia-se a desidealização do objecto, tornando-se o sujeito mais sadio...
(Voigt vs Callas ou real vs ideal???)
A propósito da recente Tosca, interpretada por Deborah Voigt, no Met, o autor do artigo questiona a pertinência da persistente comparação entre passado e presente - leia-se, entre as encarnações da referida figura a cargo de Maria Callas e Renata Tebaldi e as interpretações contemporâneas da mesma personagem.
Em minha opinião, uma vez mais, creio tratar-se de uma típica confrontação entre o ideal e o real, questão tão premente na lógica depressiva, segundo a qual existem modelos ideais - forçosamente inalcançáveis, perfeitos e, invariavelmente, pretéritos -, que ofuscam em absoluto o presente, que é real e falível.
Note o leitor que o trabalho psicanalítico permite perceber que não há bela sem senão... O mesmo é dizer que o objecto idealizado esconde, sempre - sublinho esta invariância - um objecto persecutório! Pelo que, permito-me duvidar da aura intocável das leituras passadas, dado imaginar que ocultam uma dimensão persecutória, que evitamos aceitar!
Quando o deprimido consciencializa esta dimensão oculta, inicia-se a desidealização do objecto, tornando-se o sujeito mais sadio...
A Palavra e a Lei: a propósito do encerramento das maternidades (portuguesas) e da falha da ordem (em São Paulo - Brasil)
A Palavra - expressão suma da representação simbólica (da capacidade de representar ou, na vulgata, da possibilidade de "fazer-de-conta") - e a Lei são dois dos mais sérios alicerces da identidade humana.
Além de permitir representar (evocar o ausente), a Palavra implica distância e separação.
O domínio da Palavra - do Simbólico, leia-se - ocorre por via do Paterno: a criança que se distancia da mãe, fala, demonstrando, por essa via, que tolera a distância e a separação do primeiro objecto de amor (o objecto materno, tal como o designa a psicanálise).
O acesso à Lei - na sua acepção mais lata - decorre, de igual modo, do Paterno, dado ser o pai quem introduz os primeiros interditos, constitutivos da ordem futura.
Recentemente, são vários os acontecimentos nacionais e mundiais que evidenciam falhas no domínio do simbólico, e bem assim no que à interiorização da lei diz respeito.
De cor, cito a desmesuradamente emotiva discussão em torno do encerramento de maternidades (com poucas palavras!) e a inversão da lógica do poder e autoridade, no Brasil, onde, em São Paulo, a lei (paradoxalmente, pasme-se!) pretende ser imposta pelos que por ela própria foram condenados!
Se é verdade que a celeuma em torno das maternidades a encerrar, geradora de movimentos populares contra esta possibilidade - à parte os argumentos políticos e técnicos - reenvia à intocabilidade do materno - disso mesmo havendo inúmeros outros exemplos: "indisponibilidade" politica para rever a lei do aborto, possibilidade de recuo face à venda livre da pílula-do-dia-seguinte, etc. -, já os recentes acontecimentos ocorridos em São Paulo (onde grupos de condenados se arrogam o direito de instaurar a sua lei, fazendo vacilar o poder politico, soit-disant legítimo e legal) dá conta da falha na integração da lei.
O materno, na sua acepção mais abstracta, goza de uma omnipotência crescente: deteriora-se a palavra e o valor do símbolo, perverte-se a lógica da lei...
Além de permitir representar (evocar o ausente), a Palavra implica distância e separação.
O domínio da Palavra - do Simbólico, leia-se - ocorre por via do Paterno: a criança que se distancia da mãe, fala, demonstrando, por essa via, que tolera a distância e a separação do primeiro objecto de amor (o objecto materno, tal como o designa a psicanálise).
O acesso à Lei - na sua acepção mais lata - decorre, de igual modo, do Paterno, dado ser o pai quem introduz os primeiros interditos, constitutivos da ordem futura.
Recentemente, são vários os acontecimentos nacionais e mundiais que evidenciam falhas no domínio do simbólico, e bem assim no que à interiorização da lei diz respeito.
De cor, cito a desmesuradamente emotiva discussão em torno do encerramento de maternidades (com poucas palavras!) e a inversão da lógica do poder e autoridade, no Brasil, onde, em São Paulo, a lei (paradoxalmente, pasme-se!) pretende ser imposta pelos que por ela própria foram condenados!
Se é verdade que a celeuma em torno das maternidades a encerrar, geradora de movimentos populares contra esta possibilidade - à parte os argumentos políticos e técnicos - reenvia à intocabilidade do materno - disso mesmo havendo inúmeros outros exemplos: "indisponibilidade" politica para rever a lei do aborto, possibilidade de recuo face à venda livre da pílula-do-dia-seguinte, etc. -, já os recentes acontecimentos ocorridos em São Paulo (onde grupos de condenados se arrogam o direito de instaurar a sua lei, fazendo vacilar o poder politico, soit-disant legítimo e legal) dá conta da falha na integração da lei.
O materno, na sua acepção mais abstracta, goza de uma omnipotência crescente: deteriora-se a palavra e o valor do símbolo, perverte-se a lógica da lei...
Ai de quem beliscar o materno!
[Ou muito me engano, ou o ministro Correia de Campos vai ficar em maus lençóis, se a sua intenção de encerrar algumas das maternidades portuguesas se concretizar...]
[Ou muito me engano, ou o ministro Correia de Campos vai ficar em maus lençóis, se a sua intenção de encerrar algumas das maternidades portuguesas se concretizar...]
segunda-feira, 15 de maio de 2006
Parsifal(s)
Pelo que consta, a nova produção de Parsifal, no Met, não gorou as expectativas.
Pela parte que me toca, foi na mítica sala nova-iorquina que assisti à mais extraordinária leitura da dita ópera de Wagner.
À época, Domingo incandesceu e Urmana inebriou...
Desta feita, é Heppner - il heldentenorissimo - e Meier - a maior cantora wagneriana do momento (ora soprano, ora mezzo, acima de qualquer categoria!), ex-equo com Stemme.
By the way, a GRAMOPHONE de Maio, que tive ocasião de folhear esta tarde, tece um rasgado elogio ao Parsifal de Thielemann (de que aqui falei), justamente com Domingo e Meier nos papeis titulares.
Fiquei (ainda) mais excitado com a nova...
Contudo, devo dizer que, em matéria de registos áudio, desde as soberanas interpretações da mesma ópera, a cargo de Kna (1951 e 1962), nada foi acrescentado à mais mística de todas as criações líricas...
Ver-se-á...
Pela parte que me toca, foi na mítica sala nova-iorquina que assisti à mais extraordinária leitura da dita ópera de Wagner.
À época, Domingo incandesceu e Urmana inebriou...
Desta feita, é Heppner - il heldentenorissimo - e Meier - a maior cantora wagneriana do momento (ora soprano, ora mezzo, acima de qualquer categoria!), ex-equo com Stemme.
By the way, a GRAMOPHONE de Maio, que tive ocasião de folhear esta tarde, tece um rasgado elogio ao Parsifal de Thielemann (de que aqui falei), justamente com Domingo e Meier nos papeis titulares.
Fiquei (ainda) mais excitado com a nova...
Contudo, devo dizer que, em matéria de registos áudio, desde as soberanas interpretações da mesma ópera, a cargo de Kna (1951 e 1962), nada foi acrescentado à mais mística de todas as criações líricas...
Ver-se-á...
Valha(m)-nos Deus(es)!
Ghiaurov, Popp, King e Varady: quatro monstros sagrados da lírica.
À excepção de Varady, todos partiram.
A ORFEO D´OR eternizou-os, por via do live, sem rede, nem artificialismo de espécie alguma.
Magistrais, pela versatilidade, entre outras razões.
Em qualquer dos registos, sente-se o pulso dos intérpretes, a adrenalina, o risco...
À excepção de Varady, todos partiram.
A ORFEO D´OR eternizou-os, por via do live, sem rede, nem artificialismo de espécie alguma.
Magistrais, pela versatilidade, entre outras razões.
Em qualquer dos registos, sente-se o pulso dos intérpretes, a adrenalina, o risco...
(Julia Varady)
(Lucia Popp)
(James King)
(Nicolai Ghiaurov)
domingo, 14 de maio de 2006
sábado, 13 de maio de 2006
O Ouro Wagneriano...
...por apenas 12 euros (sensivelmente), poderá o wagneriano leitor - como eu... - adquirir uma soberba colecção de grandes intérpretes wagnerianos do século XX!
Trata-se uma compilação de 10 cd´s - nem mais, nem menos: 10 (dez)!!! -, com excertos sublimes, interpretados por figuras como Leider, Traubel, Lehmann, Callas (ainda que em italiano...), De Los Angeles, Melchior, Kipnis, HOTTER, Lorenz, Weber, FLAGSTAD, entre outros.
A primeira metade do século XX servida pela nata do magistral canto wagneriano...
Trata-se uma compilação de 10 cd´s - nem mais, nem menos: 10 (dez)!!! -, com excertos sublimes, interpretados por figuras como Leider, Traubel, Lehmann, Callas (ainda que em italiano...), De Los Angeles, Melchior, Kipnis, HOTTER, Lorenz, Weber, FLAGSTAD, entre outros.
A primeira metade do século XX servida pela nata do magistral canto wagneriano...
quinta-feira, 11 de maio de 2006
Manuel Maria Carrilho: Aquém da Depressão
Dissoluto Punito não resiste a tecer considerações clínicas sobre o caso Sob o Signo da Verdade, de Manuel Maria Carrilho, obra hoje apresentada...
Manuel Maria Carrilho, por via do livro ora publicado - que versa sobre a sua verdade, no que se refere ao clima reinante, aquando da sua candidatura à presidência da autarquia lisboeta -, presenteia-nos com uma esplendorosa ilustração clínica da falha do processo depressivo / mecanismo de luto.
MMC está, efectivamente, aquém da depressão, dado recusar, com veemência, deprimir-se, isto é, tolerar a sua falha, aceitar a perda que se lhe associa, e, acima de tudo, reconhecer a sua incontornável responsabilidade no desaire eleitoral.
Que o seu narcisismo é por demais frágil, já todos nos havíamos dado conta, mas não a este ponto, absolutamente caricatural.
Ao invés de aceitar a sua falha, deprimir-se e elaborar a dita perda, de forma a, no futuro, poder realizar outros investimentos políticos, MMC regride, optando por mecanismos de defesa mais primitivos e, forçosamente, menos elaborados.
Assim, evita a ansiedade de perda, tornando-se vítima da ansiedade persecutória.
Recorrendo a mecanismos de defesa como a clivagem, projecção e negação, o malogrado politico constrói uma argumentação falaciosa, distorcendo a realidade que, na sua óptica, se encontra governada por seres maléficos, organizados numa lógica de urdidura: os maus contra o bom!
Com relativa eficácia, MMC "evacua" a sua responsabilidade na derrota, apoiando-se na tese paranóica da teoria da conspiração.
Mais saudável seria - é esta a opinião de um singelo psi - deprimir-se...
Mas, para o bem e para o mal, a depressão - com toda a sua dinâmica psíquica (perda, culpabilização, etc.) - não está ao alcance de todos!
Saiba o leitor que a capacidade de o sujeito se deprimir, contrariamente ao que se julga e difunde, é reveladora de saúde mental!
Grave é evitar a depressão, seja a que preço for!
Manuel Maria Carrilho, por via do livro ora publicado - que versa sobre a sua verdade, no que se refere ao clima reinante, aquando da sua candidatura à presidência da autarquia lisboeta -, presenteia-nos com uma esplendorosa ilustração clínica da falha do processo depressivo / mecanismo de luto.
MMC está, efectivamente, aquém da depressão, dado recusar, com veemência, deprimir-se, isto é, tolerar a sua falha, aceitar a perda que se lhe associa, e, acima de tudo, reconhecer a sua incontornável responsabilidade no desaire eleitoral.
Que o seu narcisismo é por demais frágil, já todos nos havíamos dado conta, mas não a este ponto, absolutamente caricatural.
Ao invés de aceitar a sua falha, deprimir-se e elaborar a dita perda, de forma a, no futuro, poder realizar outros investimentos políticos, MMC regride, optando por mecanismos de defesa mais primitivos e, forçosamente, menos elaborados.
Assim, evita a ansiedade de perda, tornando-se vítima da ansiedade persecutória.
Recorrendo a mecanismos de defesa como a clivagem, projecção e negação, o malogrado politico constrói uma argumentação falaciosa, distorcendo a realidade que, na sua óptica, se encontra governada por seres maléficos, organizados numa lógica de urdidura: os maus contra o bom!
Com relativa eficácia, MMC "evacua" a sua responsabilidade na derrota, apoiando-se na tese paranóica da teoria da conspiração.
Mais saudável seria - é esta a opinião de um singelo psi - deprimir-se...
Mas, para o bem e para o mal, a depressão - com toda a sua dinâmica psíquica (perda, culpabilização, etc.) - não está ao alcance de todos!
Saiba o leitor que a capacidade de o sujeito se deprimir, contrariamente ao que se julga e difunde, é reveladora de saúde mental!
Grave é evitar a depressão, seja a que preço for!
Looking for Don Giovanni?
Breve e directo vos informa Dissoluto Punito ter descoberto o Don-protagonista da actualidade... Duplo de si, reflexo narcísico... (tantos anos de divã, para quê, João??!!)
Sem hesitar um segundo, pelo timbre nobre, pela pulhice altaneira, pela sobranceria, pelo jocoso corrosivo, ei-lo... Skovhus, esplendoroso!
(Bo Skovhus, o último grande Don Giovanni)
Onde para o Senhor? A última vez que o vi foi na Bastille, com Isokoski... Magnífico(s)!
Mas, caro leitor, parece-me que também pára por estas bandas...
(NAXOS 8660080-82)
e por aqui...
(TELARC20 CD - 80442 - excertos)
ps esqueçam o resto do elenco, em ambas as interpretações, dada a mediania dos mesmos! Por Bo Skovhus, tão só!!
Sem hesitar um segundo, pelo timbre nobre, pela pulhice altaneira, pela sobranceria, pelo jocoso corrosivo, ei-lo... Skovhus, esplendoroso!
(Bo Skovhus, o último grande Don Giovanni)
Onde para o Senhor? A última vez que o vi foi na Bastille, com Isokoski... Magnífico(s)!
Mas, caro leitor, parece-me que também pára por estas bandas...
(NAXOS 8660080-82)
e por aqui...
(TELARC20 CD - 80442 - excertos)
ps esqueçam o resto do elenco, em ambas as interpretações, dada a mediania dos mesmos! Por Bo Skovhus, tão só!!
Fogo Cruzado!
A DIAPASON de Maio coloca em pé de igualdade as recentíssimas leituras de Mackerras e Jacobs de La Clemenza di Tito, considerando-as o acontecimento do mês...
VS
A disputa parece estar a subir e tom: Jacobs vs Mackerras ou Fink vs Kozena? DG vs Harmonia Mundi???
Ver-se-á...
VS
A disputa parece estar a subir e tom: Jacobs vs Mackerras ou Fink vs Kozena? DG vs Harmonia Mundi???
Ver-se-á...
quarta-feira, 10 de maio de 2006
Teatro alla Scala...
...o Senhor que se segue a Muti é... Daniel Barenboim.
Pelo que me toca, nunca me impressionou. No se refere a Muti, não posso dizer o mesmo.
Ver-se-á...
Pelo que me toca, nunca me impressionou. No se refere a Muti, não posso dizer o mesmo.
Ver-se-á...
terça-feira, 9 de maio de 2006
segunda-feira, 8 de maio de 2006
La Forza del Destino... Revisitação Edipiana
Prometo, prometo, tardo, tardo... mas cumpro!
Desta feita, no bem fadado fim-de-semana que ora finda, debrucei-me sobre a La Forza del Destino, na leitura de Serafin.
Recordei a mui nobre e interessantíssima interpretação de Muti.
Por ora, apenas digo, caro leitor, que esta ópera versa sobre o inexorável.
Mais, refiro que Édipo é reconvocado, nesta trama, por demais romântica e exacerbada
Verdi, à semelhança de Aïda, Un Ballo in Maschera, Don Carlo, Ernani e Luisa Miller - para citar, apenas, algumas das mais célebres óperas -, em La Forza Del Destino, alicerça a trama numa situação conflitual, triangular.
Desta feita, Leonora debate-se entre o amor genital - por Alvaro - e o amor filial - pelo Marquês de Calatrava. De notar, contudo, que o fulcro neurótico - leia-se, conflitual - da trama, uma vez mais, não comporta uma saída saudável (ou não fora ele neurótico!).
Apreciei a força (?) do deslocamento - ao invés de matar o rival, com esse fito, Alvaro fá-lo acidentalmente. So far, so good!
Aqui para nós, a força da neurose verdiana é de tal ordem, que não possibilitou uma resolução audaciosa!
Leonora, corroída pela culpabilidade da escolha, castra-se, dando entrada numa vida de clausura...
O resto? Fica para depois!
Por qual delas opto? Espere, espere, caro leitor...
Desta feita, no bem fadado fim-de-semana que ora finda, debrucei-me sobre a La Forza del Destino, na leitura de Serafin.
Recordei a mui nobre e interessantíssima interpretação de Muti.
Por ora, apenas digo, caro leitor, que esta ópera versa sobre o inexorável.
Mais, refiro que Édipo é reconvocado, nesta trama, por demais romântica e exacerbada
Verdi, à semelhança de Aïda, Un Ballo in Maschera, Don Carlo, Ernani e Luisa Miller - para citar, apenas, algumas das mais célebres óperas -, em La Forza Del Destino, alicerça a trama numa situação conflitual, triangular.
Desta feita, Leonora debate-se entre o amor genital - por Alvaro - e o amor filial - pelo Marquês de Calatrava. De notar, contudo, que o fulcro neurótico - leia-se, conflitual - da trama, uma vez mais, não comporta uma saída saudável (ou não fora ele neurótico!).
Apreciei a força (?) do deslocamento - ao invés de matar o rival, com esse fito, Alvaro fá-lo acidentalmente. So far, so good!
Aqui para nós, a força da neurose verdiana é de tal ordem, que não possibilitou uma resolução audaciosa!
Leonora, corroída pela culpabilidade da escolha, castra-se, dando entrada numa vida de clausura...
O resto? Fica para depois!
Por qual delas opto? Espere, espere, caro leitor...
sexta-feira, 5 de maio de 2006
Met & Handel?!
Parece que a coisa funciona! A Rodelinda, de Handel, em reprise, correu na perfeição, pelo que aqui se diz!
Pensar-se que a imensa sala do Met apenas se adequa à ópera romântica, indubitavelmente, é um erro!
Também a ópera barroca e clássica - óperas mais recatadas, na estrutura e trama, plenas de recitativos e privilegiando o intimismo, de camara, portanto - pode fazer sensação na dita sala!
Handel, Fleming (malgré tout... leia-se, apesar do fracasso do cd consagrado a G. F. Handel), Scholl & o Met triunfam!
(Fleming e Daniels que, nesta reprise, é substituído por Scholl, debutando no Met)
Pensar-se que a imensa sala do Met apenas se adequa à ópera romântica, indubitavelmente, é um erro!
Também a ópera barroca e clássica - óperas mais recatadas, na estrutura e trama, plenas de recitativos e privilegiando o intimismo, de camara, portanto - pode fazer sensação na dita sala!
Handel, Fleming (malgré tout... leia-se, apesar do fracasso do cd consagrado a G. F. Handel), Scholl & o Met triunfam!
(Fleming e Daniels que, nesta reprise, é substituído por Scholl, debutando no Met)
quarta-feira, 3 de maio de 2006
O Mozart de Giulini...
Se não me engano, as afinidades do velho mago maestro italiano com W. A. Mozart não eram as maiores, pelo menos, é o que as editoras discográficas atestam!
Giulini gravou algum Mozart. Não em demasia, para minha grande infelicidade...
Há anos que empreendo uma louca cruzada, no encalço de uma interpretação de Don Giovanni que - já não digo suplante, coisa impossível - iguale a primeira (1961) de Carlo Maria Giulini (EMI).
Busch, 1936 (NAXOS Historical)?
Furtwängler, 1954 (EMI)...
Haitink, 1984 (EMI)?
Krips, 1958 (DECCA)?! Sim, seguramente!!!
Mitropoulos, 1956 (SONY)? Simmmmmmmmm!!!
Muti, 1991 (EMI)? Indubitavelmente!
O resto... no que ao áudio concerne, é treta, salvo alguns parcos detalhes.
(EMI - 7243 5 67869 2 9)
Sempre ouvi dizer que não há duas sem três... Por ora, creio não haver uma sem duas!
Assim é, caro e paciente leitor!
Este bloger anda sob o efeito de medicação, desde que foi acometido por uma valentíssima crise de hiper-tensão, causada por As Bodas de Figaro, na triunfal, mítica, lendária e singularíssima leitura de Carlo Maria Giulini!!!
(EMI - 0777 7 63266 2 7)
E mais não digo, por ora, a conselho do Senhor Dr.!!!
Se é verdade que não há duas sem três, pergunto: Onde pára o Così de Giulini???
ps andei anos a fio em torno d´As Bodas de Gardiner, Von Karajan (1950), Solti (1983), Jacobs (2004)...
Giulini gravou algum Mozart. Não em demasia, para minha grande infelicidade...
Há anos que empreendo uma louca cruzada, no encalço de uma interpretação de Don Giovanni que - já não digo suplante, coisa impossível - iguale a primeira (1961) de Carlo Maria Giulini (EMI).
Busch, 1936 (NAXOS Historical)?
Furtwängler, 1954 (EMI)...
Haitink, 1984 (EMI)?
Krips, 1958 (DECCA)?! Sim, seguramente!!!
Mitropoulos, 1956 (SONY)? Simmmmmmmmm!!!
Muti, 1991 (EMI)? Indubitavelmente!
O resto... no que ao áudio concerne, é treta, salvo alguns parcos detalhes.
(EMI - 7243 5 67869 2 9)
Sempre ouvi dizer que não há duas sem três... Por ora, creio não haver uma sem duas!
Assim é, caro e paciente leitor!
Este bloger anda sob o efeito de medicação, desde que foi acometido por uma valentíssima crise de hiper-tensão, causada por As Bodas de Figaro, na triunfal, mítica, lendária e singularíssima leitura de Carlo Maria Giulini!!!
(EMI - 0777 7 63266 2 7)
E mais não digo, por ora, a conselho do Senhor Dr.!!!
Se é verdade que não há duas sem três, pergunto: Onde pára o Così de Giulini???
ps andei anos a fio em torno d´As Bodas de Gardiner, Von Karajan (1950), Solti (1983), Jacobs (2004)...
Looking for a fire-eater?
Nabucco, de G. Verdi, salvo algumas passagens, é, em minha opinião, uma ópera musicalmente desinteressante, sobretudo. O Libreto é de má qualidade e a orquestração monótona e repetitiva.
À excepção do célebre Coro dos Peregrinos e da pirotécnica cabaletta de Abigaille, pouco mais há a destacar nesta peça lírica.
Bem sei, bem sei... Bruson, nos idos anos 1980, deu à personagem titular - Nabucco - uma espessura e densidade dramática mais do que interessante! Mas, ainda assim...
Quanto à pérfida Abigaille, apenas Dimitrova a afrontou, com a indispensável bravura, nas últimas décadas.
Vem esta referência a propósito do notabilíssimo trabalho de restauração e reabilitação da única gravação disponível de Nabucco, gravada em Nápoles, em 1949, com a Divina na pela da maligna heroína.
São muitas as editoras a explorarem esta gravação. O mor das vezes, não realizam trabalho algum, no sentido de contornarem a deficientíssima prise de son da dita gravação, que apresenta momentos que bordejam o inaudível!
Ora, a séria e louvável MEMBRAN apresenta, agora, uma aceitável gravação da mencionada ópera, depurada - tanto quanto possível... - das deficiências originais.
A meu ver, apesar das falhas técnicas - no que ao som concerne - e do paupérrimo trabalho de interpretação de Gino Bechi, na pele da personagem titular, este artigo merece ser adquirido, mais que não seja pela triunfal prestação da Callas, que confere à personagem a mais absoluta malignidade!
A voz - fresca, flexível, habilidosa, extensa, densa e robustíssima - materializa aquilo a que chamo soprano-fire-eater, que tecnicamente se designa dramatico-di-agilitá (ainda mais potente do que o lírico-spinto, na minha opinião!).
Destaque, ainda, para o notável Zaccaria de Luciano Neroni, pleno de pujança e autoridade!
(Nabucco - Gui; MEMBRAN 222387-311)
Caso o leitor pretenda outras gravações de La Divina - recentemente caídas em domínio público, para bem de todos nós! -, a preços bem mais módicos do que os praticados pela gulotona EMI, basta visitar esta página, pertença da já referenciada MEMBRAN.
Bravo MEMBRAN, bravo!!!
À excepção do célebre Coro dos Peregrinos e da pirotécnica cabaletta de Abigaille, pouco mais há a destacar nesta peça lírica.
Bem sei, bem sei... Bruson, nos idos anos 1980, deu à personagem titular - Nabucco - uma espessura e densidade dramática mais do que interessante! Mas, ainda assim...
Quanto à pérfida Abigaille, apenas Dimitrova a afrontou, com a indispensável bravura, nas últimas décadas.
Vem esta referência a propósito do notabilíssimo trabalho de restauração e reabilitação da única gravação disponível de Nabucco, gravada em Nápoles, em 1949, com a Divina na pela da maligna heroína.
São muitas as editoras a explorarem esta gravação. O mor das vezes, não realizam trabalho algum, no sentido de contornarem a deficientíssima prise de son da dita gravação, que apresenta momentos que bordejam o inaudível!
Ora, a séria e louvável MEMBRAN apresenta, agora, uma aceitável gravação da mencionada ópera, depurada - tanto quanto possível... - das deficiências originais.
A meu ver, apesar das falhas técnicas - no que ao som concerne - e do paupérrimo trabalho de interpretação de Gino Bechi, na pele da personagem titular, este artigo merece ser adquirido, mais que não seja pela triunfal prestação da Callas, que confere à personagem a mais absoluta malignidade!
A voz - fresca, flexível, habilidosa, extensa, densa e robustíssima - materializa aquilo a que chamo soprano-fire-eater, que tecnicamente se designa dramatico-di-agilitá (ainda mais potente do que o lírico-spinto, na minha opinião!).
Destaque, ainda, para o notável Zaccaria de Luciano Neroni, pleno de pujança e autoridade!
(Nabucco - Gui; MEMBRAN 222387-311)
Caso o leitor pretenda outras gravações de La Divina - recentemente caídas em domínio público, para bem de todos nós! -, a preços bem mais módicos do que os praticados pela gulotona EMI, basta visitar esta página, pertença da já referenciada MEMBRAN.
Bravo MEMBRAN, bravo!!!
Salome (versão de concerto): Fundação Calouste Gulbenkian, direcção de L. Foster; récita de 27 de Abril de 2006
Raras são as ocasiões em que o público português pode assistir à um dos pilares da visceralidade musical e teatral.
Salome, juntamente com Elektra - óperas de reportório, de Richard Strauss -, constitui a materialização da heterodoxia do compositor austríaco.
De facto, considerar Richard Strauss um ultra-romântico tout-court, depois das rupturas introduzidas pelas citadas óperas - quer em termos melódicos e de composição, quer no tocante à densidade do texto subjacente - parece-me assaz redutor, senão erróneo!
À época, segundo creio, qualquer uma das óperas inscreveu-se nos antípodas do convencionalismo!!!
Confesso a minha enorme admiração pela capacidade de conceber obras tão extraordinárias, como antagónicas - estilística e estruturalmente falando -, como Ariadne auf Naxos e Salome, Arabella ou Elektra...
Centremo-nos em Salome, paradigma da ópera visceral, onde se cruza histeria, sedução e perversão, num clima de exotismo e decadência.
Discordo, radicalmente, de quem considera que o papel de Salomé se ajusta a um soprano dramático.
Indubitavelmente, interpretar esta figura da lírica requer volume e robustez física, atributos que um soprano dramático, por inerência, deve deter. Mas, Salomé requer, igualmente, lirismo, suavidade e luminosidade - características que dão corpo à dimensão erótica da figura -, sem o que a personagem redunda numa "matrona" (vide Marton e... Nilsson: ambas triunfam pela robustez, falhando redondamente na feminilidade!).
Se me é permitido, na história da lírica recente, apenas conheço três intérpretes capazes de reunir os dois descritos predicados, construindo uma protagonista convincente: C. Studer, L. Rysanek e K. Mattila.
Em minha opinião, a récita de Salomé, em versão de concerto - récita de 27 de Abril de 2006 -, na Fundação Calouste Gulbenkian, com direcção de Lawrence Foster, afirmou-se, acima de tudo, pela qualidade cénica e vocal da protagonista da ópera.
Mlada Khudoley, aquém e além da partitura, assumiu um protagonismo notável, inquestionavelmente.
Escarlate no temperamento cénico e na voz, a soprano russa brilhou pela convicção e entrega.
Compôs uma Salomé, simultaneamente, sedutora, sensual, caprichosa e perversa. Não fora a ópera interpretada em versão de concerto e teríamos, seguramente, um dos mais escandalosos espectáculos de pornografia lírica de que há memória...
Ainda tive a esperança de a ver bambolear-se ao som inebriante da infinitamente exótica Dança dos Sete Véus... Enfim...
(Mlada Khudoley)
Vocalmente, Mlada Khudoley brilhou pela inquestionável endurance. Aguentou a récita com folgo, brilho e fulgor. Dramática "qb" na resistência, melodiosa e radiosa no fraseado, esta intérprete projectou uma protagonista singular.
Ainda assim, aponte-se-lhe algo a corrigir, em termos técnicos: com registos bastante homogéneos, a transição entre os mesmos revelou-se algo estranha à subtileza e elegância...
A técnica, invariavelmente, é o calcanhar-de-Aquiles das intérpretes russas [não te parece, João Ildefonso?! Já discutimos esta questão, vezes sem conta!].
(Mlada Khudoley, como Salome, algures...)
No tocante à restante distribuição, dirijo apenas duas palavras, a dois intérpretes, pela melhor e pior das razões, respectivamente: Donald Litaker - Herodes - e Ruuttunen - Iokanaan.
O tenor Litaker interpretou um interessante Rei Herodes, pleno na decadência, bem ao jeito do seu compatriota K. Riegel, a meu ver, o melhor Herodes da discografia, sob a direcção de C. Von Dohhányl (DECCA). Faltou-lhe, com frequência, mais firmeza na emissão, que se esbateu na / pela massa orquestral...
Quanto ao Iokanaan do barítono finlandês... revelou-se catastrófico!
Sem folgo nem pujança, compôs um João Baptista dificilmente audível, pela falta de recursos vocais, sobretudo. Desenhou uma figura esbatida, decrépita, em tudo estranha ao carácter da personagem, que se imagina altiva e esbelta.
A figura do intérprete não ajudou, há que dizê-lo...
Relativamente à orquestra, Foster assumiu uma direcção eficaz, correcta, embora contida e sem grande brilho.
Apesar do inquestionável domínio de um dos efectivos orquestrais mais extensos - a orquestração da ópera é, ao que julgo, das mais complexas, pelo elevado número de instrumentos envolvidos, bem como pela "polifonia" que encerra -, o maestro revelou falta de espontaneidade e pouca liberdade expressiva.
Por exemplo, não senti a orquestra sublinhar os acentos da Dança dos Sete Véus...
A toada mantinha-se, sem grandes modulações. Aqui e ali, a excitação era visível, mais pela mímica de Foster e pelo volume sonoro impresso, do que pela palpitação musical, diga-se!
***
Para os mais interessados, aqui deixo a minha Salomé de eleição, que não cesso de recomendar:
(DG 431 810 - 2, com direcção de Sinopoli)
Salome, juntamente com Elektra - óperas de reportório, de Richard Strauss -, constitui a materialização da heterodoxia do compositor austríaco.
De facto, considerar Richard Strauss um ultra-romântico tout-court, depois das rupturas introduzidas pelas citadas óperas - quer em termos melódicos e de composição, quer no tocante à densidade do texto subjacente - parece-me assaz redutor, senão erróneo!
À época, segundo creio, qualquer uma das óperas inscreveu-se nos antípodas do convencionalismo!!!
Confesso a minha enorme admiração pela capacidade de conceber obras tão extraordinárias, como antagónicas - estilística e estruturalmente falando -, como Ariadne auf Naxos e Salome, Arabella ou Elektra...
Centremo-nos em Salome, paradigma da ópera visceral, onde se cruza histeria, sedução e perversão, num clima de exotismo e decadência.
Discordo, radicalmente, de quem considera que o papel de Salomé se ajusta a um soprano dramático.
Indubitavelmente, interpretar esta figura da lírica requer volume e robustez física, atributos que um soprano dramático, por inerência, deve deter. Mas, Salomé requer, igualmente, lirismo, suavidade e luminosidade - características que dão corpo à dimensão erótica da figura -, sem o que a personagem redunda numa "matrona" (vide Marton e... Nilsson: ambas triunfam pela robustez, falhando redondamente na feminilidade!).
Se me é permitido, na história da lírica recente, apenas conheço três intérpretes capazes de reunir os dois descritos predicados, construindo uma protagonista convincente: C. Studer, L. Rysanek e K. Mattila.
Em minha opinião, a récita de Salomé, em versão de concerto - récita de 27 de Abril de 2006 -, na Fundação Calouste Gulbenkian, com direcção de Lawrence Foster, afirmou-se, acima de tudo, pela qualidade cénica e vocal da protagonista da ópera.
Mlada Khudoley, aquém e além da partitura, assumiu um protagonismo notável, inquestionavelmente.
Escarlate no temperamento cénico e na voz, a soprano russa brilhou pela convicção e entrega.
Compôs uma Salomé, simultaneamente, sedutora, sensual, caprichosa e perversa. Não fora a ópera interpretada em versão de concerto e teríamos, seguramente, um dos mais escandalosos espectáculos de pornografia lírica de que há memória...
Ainda tive a esperança de a ver bambolear-se ao som inebriante da infinitamente exótica Dança dos Sete Véus... Enfim...
(Mlada Khudoley)
Vocalmente, Mlada Khudoley brilhou pela inquestionável endurance. Aguentou a récita com folgo, brilho e fulgor. Dramática "qb" na resistência, melodiosa e radiosa no fraseado, esta intérprete projectou uma protagonista singular.
Ainda assim, aponte-se-lhe algo a corrigir, em termos técnicos: com registos bastante homogéneos, a transição entre os mesmos revelou-se algo estranha à subtileza e elegância...
A técnica, invariavelmente, é o calcanhar-de-Aquiles das intérpretes russas [não te parece, João Ildefonso?! Já discutimos esta questão, vezes sem conta!].
(Mlada Khudoley, como Salome, algures...)
No tocante à restante distribuição, dirijo apenas duas palavras, a dois intérpretes, pela melhor e pior das razões, respectivamente: Donald Litaker - Herodes - e Ruuttunen - Iokanaan.
O tenor Litaker interpretou um interessante Rei Herodes, pleno na decadência, bem ao jeito do seu compatriota K. Riegel, a meu ver, o melhor Herodes da discografia, sob a direcção de C. Von Dohhányl (DECCA). Faltou-lhe, com frequência, mais firmeza na emissão, que se esbateu na / pela massa orquestral...
Quanto ao Iokanaan do barítono finlandês... revelou-se catastrófico!
Sem folgo nem pujança, compôs um João Baptista dificilmente audível, pela falta de recursos vocais, sobretudo. Desenhou uma figura esbatida, decrépita, em tudo estranha ao carácter da personagem, que se imagina altiva e esbelta.
A figura do intérprete não ajudou, há que dizê-lo...
Relativamente à orquestra, Foster assumiu uma direcção eficaz, correcta, embora contida e sem grande brilho.
Apesar do inquestionável domínio de um dos efectivos orquestrais mais extensos - a orquestração da ópera é, ao que julgo, das mais complexas, pelo elevado número de instrumentos envolvidos, bem como pela "polifonia" que encerra -, o maestro revelou falta de espontaneidade e pouca liberdade expressiva.
Por exemplo, não senti a orquestra sublinhar os acentos da Dança dos Sete Véus...
A toada mantinha-se, sem grandes modulações. Aqui e ali, a excitação era visível, mais pela mímica de Foster e pelo volume sonoro impresso, do que pela palpitação musical, diga-se!
***
Para os mais interessados, aqui deixo a minha Salomé de eleição, que não cesso de recomendar:
(DG 431 810 - 2, com direcção de Sinopoli)