quinta-feira, 11 de maio de 2006

Manuel Maria Carrilho: Aquém da Depressão

Dissoluto Punito não resiste a tecer considerações clínicas sobre o caso Sob o Signo da Verdade, de Manuel Maria Carrilho, obra hoje apresentada...



Manuel Maria Carrilho, por via do livro ora publicado - que versa sobre a sua verdade, no que se refere ao clima reinante, aquando da sua candidatura à presidência da autarquia lisboeta -, presenteia-nos com uma esplendorosa ilustração clínica da falha do processo depressivo / mecanismo de luto.

MMC está, efectivamente, aquém da depressão, dado recusar, com veemência, deprimir-se, isto é, tolerar a sua falha, aceitar a perda que se lhe associa, e, acima de tudo, reconhecer a sua incontornável responsabilidade no desaire eleitoral.
Que o seu narcisismo é por demais frágil, já todos nos havíamos dado conta, mas não a este ponto, absolutamente caricatural.

Ao invés de aceitar a sua falha, deprimir-se e elaborar a dita perda, de forma a, no futuro, poder realizar outros investimentos políticos, MMC regride, optando por mecanismos de defesa mais primitivos e, forçosamente, menos elaborados.
Assim, evita a ansiedade de perda, tornando-se vítima da ansiedade persecutória.

Recorrendo a mecanismos de defesa como a clivagem, projecção e negação, o malogrado politico constrói uma argumentação falaciosa, distorcendo a realidade que, na sua óptica, se encontra governada por seres maléficos, organizados numa lógica de urdidura: os maus contra o bom!
Com relativa eficácia, MMC "evacua" a sua responsabilidade na derrota, apoiando-se na tese paranóica da teoria da conspiração.

Mais saudável seria - é esta a opinião de um singelo psi - deprimir-se...
Mas, para o bem e para o mal, a depressão - com toda a sua dinâmica psíquica (perda, culpabilização, etc.) - não está ao alcance de todos!

Saiba o leitor que a capacidade de o sujeito se deprimir, contrariamente ao que se julga e difunde, é reveladora de saúde mental!
Grave é evitar a depressão, seja a que preço for!

10 comentários:

  1. Querido João, não resisto a expremir o meu afecto:-))) encantado por encontrar uma mente lúcida capaz de analisar com tanta imparcialidade e eficácia um dos acontecimentos sociais e politicos mais grotescos dos últims tempos.
    O Jose Maria Carrilho simplesmente não suporta o mundo por este não o achar tão brilhante e encantador como ele se acha a si própio, não é verdade?

    J. Ildefonso.

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  2. Parece-me que Carrilho fez uma má escolha ao optar pela política. Deveria ter limitado a sua accção às investigações sobre Filosofia Analítica e Filosofia da Linguagem. Esta carreira de sofista pós-moderno só poderia ter os resultados que o João tão bem descreve :)

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  3. Caro João:

    Concordo contigo. Grave é evitar a depressão. O Carrilho foi meu professor e esteve para orientar a minha tese final em filosofia. Adiei e fui orientado por outro. Sou imparcial, portanto. Não devo nada ao Carrilho que, de resto, se revelou, enquanto ministro,absolutamente ineficaz quando lhe disse que os projectos do meu grupo de música estavam a ser bloqueados, talvez pelo "cortesão ressabiado", como Carrilho o intitulou.
    Não faças é côro, caro João, com a "massa" que parece ter um gozo perverso (e sabes bem o que é isso, espero) a crucificar o mesmo Carrilho. Abraços e saudações sinceras. AST

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  4. PARA QUE NÃO RESTEM DÚVIDAS, QUE DE RESTO DUVIDO QUE ACONTECESSEM, "AST" SOU EU: ÁLVARO SÍLVIO TEIXEIRA QUE NÃO COLABORO EM CRUCIFICAÇÕES PÚBLICAS, TÃO AO GOSTO DO "POLITICAMENTE CORRECTO".

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  5. João,

    Também me parece que o problema do Carrilho decorre de um muito particular tipo de narcisismo ;-))

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  6. Helena,

    Ao que julgo, a carreira académica do dito senhor nada tem que ver com o seu tortuoso percurso político... Concordo consigo, pois...

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  7. Álvaro,

    Crucificações? Nada disso, meu caro! Limito-me a utilizar meu modelo de compreensão do mundo - o psicanalítico -, sem pretender desnarcisar quem quer que seja!

    Além disso, o gozo alheio parece-me mais próximo da perversidade do que da perversão (espero que saibas a diferença ;-)

    Outro abraço para ti,
    João

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  8. Para quem vive fora, acha pessoas deste tipo "insuportáveis" e estas atitudes "patéticas". Adoram ribaltas e acham-se com direito a elas. Que falta nos faz o talento de um Eça para caracterizar esta sociedade !
    Raul

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  9. Com explicações psicológicas, ou quaisquer outras de tipo pessoal, em torno da intimidade de Carrilho, evita-se discutir o essencial.
    Estou de acordo com a maioria dos analistas que a campanha para Lisboa foi um desastre. E isto, pessoalmente, não lhe perdoo, pelo simples facto de o ver como melhor candidato que o outro incompetente senhor que ganhou a eleição.
    Este homem contraditório que Carrilho é, não significa um mau político. Entendo aliás que ele é um bom estratega falhando na táctica. E que foi o melhor ministro da cultura das últimas décadas, ainda que discorde pontualmente de algumas medidas.
    Carrilho é dos poucos políticos em Portugal que "põe o dedo nas feridas", e mais uma vez, com este livro, parece tê-lo feito. Não é verdade que os níveis de manipulação dos media é preocupante?

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  10. Caro Roteia,

    Obviamente, não concordo consigo!

    O que me parece espantoso é que o tal "pôr-o-dedo-na-ferida" apenas teve lugar pela circunstância de uma derrota que Carrilho (e a sua imensa ferida narcísica) não consegue elaborar!

    O "fundo-da-questão" a que alude é sobejamente conhecido de todos nós, desde há décadas: a informação é o quarto poder...

    Deixe que lhe diga que, na minha qualidade de psi, procuro sempre apalpar um terreno que os media não exploram, nem a maioria da população - perdoe-me a imodéstia...

    Cumprimentos

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