sexta-feira, 31 de março de 2006

Adriana Mater, estreia na Bastilha

KAIJA SAARIAHO, compositora finlandesa, estreia em Paris a sua última composição lírica, Adriana Mater.



Depois do sucesso de L´Amour de Loin, eis outro fruto de uma confluência de génios: Sellars encena, Malouf escreve e Saariaho compõe...

(Patricia Bardon e Stephen Milling, em Adriana Mater)

Diz-nos a compositora, a propósito da temática da obra, tratar-se de um cruzamento entre a maternidade e a violência humana.
Questiono-me sobre a síntese de tal cruzamento...

Na lírica, temos exemplos eloquentes da maternidade violenta, destrutiva e mortifera - Norma e Medea, nomeadamente -, que nos mostram que Luz e Trevas podem ser duas faces de uma mesma moeda.

quarta-feira, 29 de março de 2006

5 Stars (from Met)

Em matéria de lírica, diz a regra que os vencedores de concursos raramente singram.
Em todo o caso, imagino que o narcisismo destas 5 estrelas esteja em alta, depois de tamanhas façanhas.

Só me resta desejar-lhes sucesso, glória e triunfo!

From Washington with Gold



A propósito da nova produção de Das Rheingod, na Washington National Opera, diz-nos o New York Times: " If you put on a production of Wagner's monumental "Ring" cycle, you'd better have a novel concept."

Desde a extraordinária produção d´O Anel, de Chéreau, não tive conhecimento de outras produções assentes em concepções verdadeiramente sólidas...

...veremos se a estreia, em breve, de uma outra encenação (signed Graham Vick!!! Yesssssssssss) da mesma ópera, no TNSC, não dá razão à máxima popular "não há duas, sem três"!

Coming Soon (ou Disse-me um passarinho)

Thieleman, em Wagner, ora me agrada e surpreende, ora me decepciona (e surpreende).
A sua leitura de Tristan und Isolde foi decepcionante...



Quanto ao Parsifal, com Domingo e Meier, live from Vienna, ver-se-á...


sábado, 25 de março de 2006

Alagna: bravo, bravo!


Roberto Alagna é capaz de mostrar a sua genialidade, sempre que explora o seu repertório específico!
Bravo, Cyrano!

TERFEL & Offenbach

Esta noite, pelas 20:50h, no canal MEZZO (hora local), oportunidade rara de assistir a esta récita de Os Contos de Hoffmann, de J. Offenbach.



Não sou um apreciador particular deste tipo de repertório. Acresce a esta circunstância a má recepção desta produção, tanto pela crítica, como pelo público da Bastilha...

A razão da sinalização da efeméride? A presença de TERFEL na pela dos quatro vilões!

DECCA: o Império contra-ataca...

Depois de a DG se entregar a reabilitações de fundo-de-catálogo, é agora a vez de a DECCA/PHILIPS se lançar em semelhante empresa.

Gratos ficamos nós, os apreciadores de música, que tanto lutamos por aceder aos fundos-de-catálogo das grandes editoras!

Eis uma pequena amostra das referências obrigatórias, a meu ver, claro está (para felicidade minha, salvo uma ou outra excepção, tinha-as quase todas!)



Aproveitem a maré que aí vem!
(para aceder à lista completa, clicar aqui
)

sexta-feira, 24 de março de 2006

REALMENTE!

Procurando um lugar de destaque - quase invariavelmente detido (em exclusivo) pelo imenso Liceu -, o madrileno Teatro Real lança-se noutras aventuras, na próxima temporada.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Don Giovanni: o Retorno do Recalcado

O material recalcado (felizmente) tende a regressar à consciência, de forma disfarçado: via sonhos e actos falhados, o mor das vezes...

Desta feita, vieram-me à consciência representações bastante explícitas de uma experiência assaz traumática: a perda do mítico Don Giovanni, comemorativo dos 50 anos de vida do Lyric Opera of Chicago.
Ei-las!!


(Terfel, Il Dissoluto Assoluto)

(Graham, Elvirissima, Mattila, Annnnnnnnnnissima...)

[Kundry, terapeuticamente, procedeu ao levantamento de recalcado...]

quarta-feira, 22 de março de 2006

Met Opera House: Ansiedade de Castração

O rocambolesco acidente que vitimou James Levine, impedindo-o de dirigir, untill the end of the present season, criou no Met um clima de impotência, semelhante à ansiedade de castração, tal como Freud a definiu: é como se o monstro Met - no melhor dos sentidos - se encontrasse privado de um apêndice, circunstância que o torna algo inapto (apesar de a sua identidade se encontrar preservada, sublinhe-se)!

Ainda assim, parece que a divina Mattila (re)triunfou! Apesar da ausência do apêndice-Levine, a coisa brilhou!

Estive prestes a ir assistir a esta reprise, mas por vicissitudes da paternidade, tal não aconteceu!



Em todo o caso, para os sequiosos, aqui vai uma oportunidade de assistir a esta aclamada - exagero do crítico... - produção de Fidelio, por escassos 30 euros (em alternativa, a 14,99 euros!!)

"Ms. Mattila dominates, as any great Leonore must. She holds back nothing, leaping on and off tables, climbing up bars on prison cells hoping to discover her husband. When Fidelio brings in bags of food supplies he has been sent for, Ms. Mattila, utterly in character, eats an entire banana right before singing her arching lines in the great quartet. When she confronts Pizarro in the climactic scene, her voice shimmers with defiance and intensity. At the end, when the freed prisoners lift Leonore to their shoulders and carry her around the square, you wanted to leap on stage and join the celebration."

segunda-feira, 20 de março de 2006

Da Ópera Americana...

Glass, Thomsosn, Menotti, Adamo, Heggie, Previn, Danielpour e Corigliano!!

Eis uma escassa amostra de compositores americanos que criam ópera (entre outro tipo de peças musicais).

Polémicos e controversos - alguns demasiado pop, aos olhos da elite europeia possidónia e intelectualóide -, a verdade é que, no Velho Continente, não há movimento de criação que chegue aos calcanhares do citado grupo!

Desafio o leitor a elencar os compositores europeus de ópera, cujas obras figurem em teatros líricos!!!

Dizia eu, ontem, que as salas americanas de ópera se encontram na dianteira, em matéria de elencos...
Mal havia eu tomado consciência da dimensão da criação lírica do / no Novo Continente...

A propósito da ultra-dinâmica americana, no que se refere ao universo da lírica, sugiro este interessante artigo do New York Times.

São Carlos vanguardista???

Diz-nos VELA DEL CAMPO (El PAIS), a propósito de Il Dissoluto Assolto, Santa Susanna e Erwartung, em estreia no nosso Teatro Nacional de S. Carlos:

«Hay teatros de ópera donde continuamente "pasan cosas". El de São Carlos de Lisboa es uno de ellos. Con un presupuesto modestísimo se ha situado en lo que va de siglo, gracias a la imaginación y audacia de su director Paolo Pinamonti.» (clicar aqui, para aceder ao resto da notícia)

Não é todos os dias que o TNSC colhe elogios desta espécie, figirando (quase) entre os teatros de ópera mais vanguardistas! :-)

Que tal uma saltada ao São Carlos?

domingo, 19 de março de 2006

LYRIC OPERA OF CHICAGO...

O excelente nível dos elencos dos teatros líricos norte-americanos ? vide Met e, muito particularmente, LYRIC OPERA OF CHICAGO ? reforçam uma convicção pessoal de há muito: a lírica americana será o epicentro do fenómeno operático do século XXI.

Sejamos realistas: além dos notáveis (ainda que dispersos) fenómenos de música barroca - que têm lugar em França, sobretudo - e das programações de ópera de Paris e de Londres (Milão, já era, tal como Viena e Salzburgo), pouco mais há a destacar, no que se refere à qualidade da lírica no velho continente.

Depois da nova-iorquina Met e da californiana Opera de S. Francisco, CHICAGO afirma-se como um dos vértices da música lírica americana e ? assumamo-lo, sem rodeios ? mundial.

sexta-feira, 17 de março de 2006

ENO...

Novas: compromissos entre o musical e o lírico puro, na English National Opera.

Norah Amsellem: a seguir de perto










Eis uma das novas estrelas lirico-spinto!
Segundo reza a crónica, é triunfal (parece que a Gheorghiou ficou a odiá-la, tal não era o talento da jovem francesa...)!


E esta?

Para a temporada 2009-2010, a cereja em cima do bolo é...

Tosca will feature Karita Mattila singing the title role for the first time at The Met, Marcelo Álvarez as Cavaradossi, and Bryn Terfel as Scarpia

Melhor do que isto, não pode haver :-)))

Quem elenca assim, não é gago!

Ildar Abdrazakov (Faust), Carlos Alvarez (Rigoletto), Olga Borodina (Don Carlo and Gioconda), Johan Botha (Meistersinger), Dwayne Croft (Butterfly), José Cura (Tosca), Diana Damrau (Barbiere and Helena), David Daniels (Cesare), Plácido Domingo (First Emperor), Renée Fleming (Onegin), Juan Diego Flórez (Barbiere), Ferruccio Furlanetto (Boccanegra), Cristina Gallardo- Domâs (Butterfly), Angela Gheorghiu (Boccanegra), Marcello Giordani (Butterfly, Bohème and Tosca), Andrea Gruber (Tosca and Turandot), Maria Guleghina (Cavalleria), Nathan Gunn (Zauberflöte), Thomas Hampson (Boccanegra), Ben Heppner (Chénier and Idomeneo), Hei-Kyung Hong (Traviata and Turandot), Dmitri Hvorostovsky (Don Carlo and Onegin), Jonas Kaufmann (Traviata and Zauberflöte), Salvatore Licitra (Pagliacci and Tabarro), Lorraine Hunt Lieberson (Orfeo), Peter Mattei (Barbiere), Karita Mattila (Jenufa), James Morris (Meistersinger), Anna Netrebko (Puritani and Bohème), René Pape (Don Carlo), Patricia Racette (Pagliacci and Don Carlo), Dorothea Röschmann (Idomeneo), Ruth Ann Swenson (Faust and Cesare), Violeta Urmana (Chénier and Gioconda), Ramón Vargas (Faust and Onegin), Rolando Villazón (Bohème), Deborah Voigt (Helena), and Dolora Zajick (Cavalleria).

Nada mais, nada menos que uma amostra do elenco que assegurará a temporada 2006 - 2007 da minha sala de ópera!

(a vermelho, os GRANDES

EM GRANDE, OS MAIORES)

quinta-feira, 16 de março de 2006

Pavarotti: live (or dead?) in Lisbon, a 1 de Abril


Acredite o leitor, se assim o entender, que a primeira vez que deparei com um cartaz alusivo a esta desgraça, em lugar de 21 de Abril, apenas pude ler 1 de Abril, dado que o 2 estava ausente!

Pense, cogitei, meditei e reflecti:

1. Será um lapso, à la Freud, revelador do meu mais profundo desejo, sabiamente reprimido - leia-se recalcado -, de remeter esta inominável notícia para as calendas da mentira?

2. Será que o tenor siciliano pretende fazer uma incursão no repertório dramático, levando ao extremo a sua encarnação, à la Wagner, perecendo em palco?

3. Será que, à semelhança do que por cá se passa, a Caixa Nacional de Aposentações italiana se encontra falida, obrigando os idosos retirados a fazerem-se à estrada, dando o corpinho ao manifesto, à la Segurança Social do Burkinafaso (leia-se, "Não há reformas pra ninguém!!! Queres reforma? Trabalha! Mostra do que és capaz!")?

4. (e última: reflexão) Será que Luciano Pavarotti se move pela inveja, pretendendo arredar dos palcos circenses António Calvário, ocupando-os em grande estilo italiano?

No more words... (antevisão de uma tragicomédia)

quarta-feira, 15 de março de 2006

Da sofreguidão e da ganância

Ainda os restos terrenos de la Nilsson clamava por repouso, já os senhores da yellow lab se moviam, sofregamente, no intuito de rentabilizarem o ocaso da grande cantora, convertendo o seu desaparecimento em vil metal.

Não é caso raro, diga-se (vide o caso Callas, que todos os anos, por altura do Natal, leva a EMI fazer operações vergonhosas de maquilhagem sobre colectâneas de árias reunidas desde há décadas, como se tal correspondesse a um produto original!!! Pasme-se!!!)



[Eis a track list deste artigo:


Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791)
Don Giovanni, ossia Il dissoluto punito, K.527
1
"Or sai chi l'onore"
2
"Crudele!-Ah no, mio bene!" - "Non mi dir, bell'idol" (Donna Anna)
Birgit Nilsson, Orchestre du Théatre National de Prague, Karl Böhm

Carl Maria von Weber (1786 - 1826)
Oberon
3
Rezitativ und Arie: "Ozean, du Ungeheuer!"
4
Kavatine: "Trauere, mein Herz"
Birgit Nilsson, Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks, Rafael Kubelik

Ludwig van Beethoven (1770 - 1827)
5
Ah perfido!, Op.65
Birgit Nilsson, Vienna Symphony Orchestra, Ferdinand Leitner

Richard Wagner (1813 - 1883)
Tannhäuser
6
"Dich, teure Halle, grüß ich wieder"
7
"Allmächt'ge Jungfrau, hör mein Flehen!"
Birgit Nilsson, Orchester der Deutschen Oper Berlin, Otto Gerdes

Tristan und Isolde
8
"Mild und leise wie er lächelt" (Isoldes Liebestod) (Isolde)
Birgit Nilsson, Orchester der Bayreuther Festspiele, Karl Böhm

Richard Strauss (1864 - 1949)
Salome, Op.54
9
"Ah! Du wolltest mich nicht deinen Mund"
Birgit Nilsson, Metropolitan Opera Orchestra, Karl Böhm]


Vil e dispensável é o registo que ora propõem da dita cuja, sob o manto falaciosos da homenagem!
E por quê?

La Nilsson nunca foi uma mozartiana, para começo de conversa!

La Nilsson gravou os seus melhores registos até meados da década de 1960. Ora, os excertos que este disco reúne são de uma fase claramente menos interessantes da carreira de Birgit Nilsson, dado que datam de um período compreendido entre 1969 e 1971.

La Nilsson nunca foi uma Elisabeth de referência, muito menos uma Vénus (Tannhhäuser)!

A razão de ser desta pretensa colectânea corresponde, apenas e só - em minha opinião -, aos únicos registos da intérprete sueca de que a DG dispõe, voilà!

O resto é treta!

Caso o leitor pretenda dispor de um vasto leque de registos - de elevada qualidade técnica - desta grande figura da lírica, sugiro-lhe esta lista, da minha autoria.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Slobodan Milosevic: suicídio e narcisismo

O suicídio tem a particularidade de convocar enfoques mil, do ponto de vista estritamente psicológico.

Corolário da melancolia - expressão major da ansiedade de perda -, o suicídio é, também, inquestionavelmente a manifestação absoluta da revolta pela não-revolta, como bem frisa António Coimbra de Matos, um dos meus mestres.

Pela parte que me toca, encaro-o na sua vertente mais narcísica, enquanto manifestação magna da omnipotência.



A morte de Slobodan Milosevic, ao que tudo indica, resultou de um acto deliberado do próprio, com o intuito expresso de pôr termo à vida.

Habituado ao poder quase-absoluto, triunfal, Slobodan, com este gesto, torna-se autor do seu próprio destino, fixando o termo da sua existência.

O seu gesto é, pois, de um triunfalismo absoluto, decorrente de uma prepotência magnânima: escapa a tudo e todos, o mesmo é dizer à justiça dos humanos...



[Pode ser que outros déspotas lhe sigam o exemplo... Alguém ouviu falar de Augusto Pinochet?]

Fado: para além dos estereótipos

Cristina Branco e Mariza questionam os estereótipos construídos em torno do FADO.
A ler, no New York Times.

Der Ring: itinerâncias

Gergiev, na companhia do seu Marinsky (qual globetrotter) passeia-se pelo muno inteiro, para exibir a sua aclamada produção de Der Ring.

Depois da América, da Coreia - e de outros felizardos -, agora é a vez de Cardiff.

Há gente com sorte...

Nós por cá, ficamos com uma ópera do dito ciclo por temporada - digo eu -, partindo do princípio que a programação das futuras temporadas dará continuidade ao O Ouro do Reno...

Veremos se assim é.

Expressões d´a Falha (III)


(Virgin Classics 0946 344733 2 3)

Dissoluto Punito, algures entre a perda e a excitação, prossegue o seu labor de luto.

Desta feita, o alvo das suas considerações é Rolando Villazón, il tenorissimo (os epítetos valem o que valem...)

O seu derradeiro registo é altamente projectivo, dado que espelha o seu funcionamento psíquico predominante: a hipomania.

Villazón canta, apenas, em italiano, francês, alemão e russo... Rien que ça...
Paralelamente, aborda um ínfimo repertório: do belcanto (Donizetti), ao verismo (Puccini, Mascagni e Giordano), passando por Verdi, Bizet, Offenbach, Flotow, Strauss e Tchaikovsky... Coisa pouca!

Enfim...

Bom, a verdade é que o tenor mexicano tem uma belíssima voz lírica, quente, cativante e envolvente, capaz de uma notável expressividade (quando está para aí virado!).

Estas considerações são tanto mais verdadeiras quanto o senhor em causa for capaz de se manter fiel ao domínio puramente lírico, abstendo-se de incursões verdianas e veristas, de pendor mais dramático, domínio que lhe escapa, tanto vocalmente - a voz não tem, nem robustez, nem resistência -, como em termos interpretativos - Villazón será um comediante convicto, porventura um declamador de emoções, mas nunca um actor dramático mais pesado!

A meu ver, o erro crasso deste cd radica na pretensa omnipotência do intérprete, que tudo quer abordar, sem atender às suas limitações vocais e interpretativas (confesso que, dada a extensão e variedade dos autores abordados, não me teria surpreendido ouvir o tenor cantar Berg ou Wagner...)!!!

Dito isto, se é verdade que o timbre conquista, não menos verdade é que, no caso deste registo, a Falha se expõe, sem pudor algum: homogeneidade e superficialidade das caracterizações (pouco ricas e diversificadas, apenas brilhantes no domínio puramente lírico - Hoffman e D. José).

Atrever-me-ia a considerar que, caso este intérprete tenha juízo, ocupará no repertório de tenor lírico (sobretudo italiano) a posição cimeira que Flórez - tenor assumidamente ligeiro - detém no belcanto.

Villazón será, sem sombra de dúvida, um notável Hoffman, um convincente D. José, eventualmente um interessante Carlo (Don Carlo, de Verdi), um Alfredo arrebatado, quanto ao resto, mantenho a minha prudência...

O percurso ditado pelo star-system, em que o intérprete deslumbradíssimo participa - diga-se! -, recorda-me uma tirada célebre e sábia do Grande Alfredo Kraus, senhor de um estilo e disciplinas raríssimos: "Não faltam talentos! O que faltam são Mestres, que disciplinem os talentos!"

Anseio por que Villazón invista num repertório mais específico, conforme às suas potencialidade - à la Kraus, que apenas cantava cerca de 12 papeis, consciente que estava dos seus efectivos dotes -, opção que, no meu modesto entender, dele fará um lendário intérprete.

domingo, 12 de março de 2006

Anna Moffo: "Addio del passato"



Anna Moffo, uma das mais belas e singulares sopranos-spinto-star´s do Met - dos idos anos 1960 - faleceu, aos 73 anos de idade.

Este artigo presta-lhe uma sentida e sincera homenagem, colocando a tónica numa das virtudes-vícios da intérprete: a extrema vulnerabilidade.

Eis, a meu ver, um ínfimo excerto, que define a carreira de Anna Moffo" (...) her career could be seen as a cautionary tale about doing too much too soon."

L´Univers d´ARMANI (futilidades II)

Falar de moda e ignorar o mago Giorgio, é como apreciar ópera, ignorando WAGNER.
Vá-se lá saber por que motivo identifico os dois...

O que o primeiro tem de discreto, tem o segundo de magnânimo.
Será que a discrição de Giorgio é tão imensa e soberana como a (inigualável) dimensão de Richard?

Para os que - como eu - enaltecem a estética depurada e minimal de GA, eis algumas imagens da colecção Outono / Inverno 2006 - 2007.




(para os mais curiosos pelas coisas da moda, aqui está um rico endereço)

ps se a comparação me é permitida, ARMANI é o Bob WILSON da moda ;-)))

L´Univers d´Issey (futilidades...)



Apesar de excessivamente andrógina e excêntrica para o meu gosto, achei graça à nova colecção Outono / Inverno (2006 - 2007) de Issey Miyake.

sexta-feira, 10 de março de 2006

Expressões d´a Falha (II)


(RCA 09026 68920 2)

Este recital de la Rysanek constitui uma raridade, dado que é integralmente preenchido por árias de ópera italiana (verdiana e verista).

Leonie Rysanek foi, porventura, a mais reputada straussiana da sua geração, brilhando com ninguém no papel de Imperatriz. Míticas, de igual modo, foram as suas Marschallin, Salomé, para não mencionar os três papeis femininos da Elektra, que interpretou em momentos diferentes da sua carreira.

Ora, o presente registo compreende parte substancial do repertório italiano que a grande senhora interpretou. Deste repertório específico, destacaria duas encarnações absolutamente transcendentes, que constituíram pedras de toque da sua carreira internacional; falo da Lady Macbeth - que interpretou no Met, em substituição da Callas, que recusara alternar este papel, em 1958, com o de Violeta - e de Desdemona.

O repertório deste cd, tendo um mesmo denominador comum - o italiano -, é assaz dispare, dado que cobre o spinto puro - Lady Macbeth, Leonora (d´A Força do Destino), Amélia e Aïda -, o lírico - Desdemona e Madalena (Andrea Chénier) - e o dramático - Tosca, Turandot e Santuzza.
Ecletismo mais eclético, não há!

Este cd tem o mérito de revelar de forma absolutamente fidedigna o talento e limites da intérprete, sendo que os segundos se esbatem...

Leonie Rysanek revela, aqui - tal como em cena, a avaliar pelo espólio existente -, uma técnica falível e particular, à la Callas: emissão sustentada a custo, com flutuações e oscilações (particularmente visível numa linha melódica insegura), agudos algo estridentes, médios encorpados e graves bem apoiados.

Paralelamente, aqui e ali, emerge um italiano algo parasitado pelo seu alemão materno (vide a declamação de Madalena, em particular)...

Mas, mas... tudo se dilui diante do seu extraordinário talento interpretativo!

Rysanek entrega-se em absoluto ao jogo dramático, sem pudor, nem limites.
Não hesito um segundo em apelidar a sua caracterização de imperial: possui uma inusitada capacidade de dar sentido ao heroísmo de Aïda, à dor asfixiante de Amélia, à insanidade altaneira de Lady Macbeth, ao sofrimento de Madalena; à côté, pincela uma Desdemona pueril e dócil, mas aristocrática, uma princesa Turandot fria e orgulhosa...

O calor abunda nas suas personagens, sendo a vitalidade das mesmas de uma convicção transparente!
Respiram, revitalizando-se, a cada instante! Nelas pulsa o sangue, fervilha a humanidade...

Que regalo! Que talento!

Para quem conhece o Strauss e o Wagner de la Rysanek, recomendo vivamente este recital italiano, dada a elevadíssima qualidade das composições dramáticas aqui presentes, sobretudo.

Bartók: a perversão (ou para além do universo esquizoide)

O Castelo de Barba Azul, de Bartók, constitui uma das mais magistrais composições líricas que conheço.

Num clima frio, gélido e muito sombrio, Bela Bartók compõe uma trama apoiada na morbidez libidinosa, que se explana até ao limite do concebível: a necrofilia.
Sangue, morte e sexo participam numa equação trágica, que constitui o sumo exemplo da perversão, na lírica.

Longe do clima (o mor das vezes) esquizóide, característico dos seus quartetos de cordas, por exemplo - onde a frieza e o retraimento se combinam, num universo insólito, em tudo antagónico ao afecto (essência do mundo esquizóide) -, em O Castelo de Barba Azul, Bartók entrega-se ao sórdido, caracterizando-o com argúcia, requinte e fineza, ao mesmo tempo que recusa liminarmente o dina
mismo e movimento.

Como nunca, nesta ópera, o singular paradoxo da exigência de estática constitui um imperativo.


Corroído pela inveja, Dissoluto Punito lamenta a sua ausência da plateia desta memorável interpretação.

Ainda assim, Punito Dissoluto propões duas lendárias leituras desta indispensável peça lírica:


(EMI 7243 5 56162 2 7)


(CBS MK 44523)

quinta-feira, 9 de março de 2006

Eduardo Lourenço: o Ocaso do Paradigma Laico

Extraordinária e singela, a visão do mundo contemporâneo pelo grande ensaísta português.
A ler, em castelhano, aqui.
Palavra do Senhor...

quarta-feira, 8 de março de 2006

Novas da ENO

A English National Opera conta com um novo director musical, de sua graça E. Gardner, de 31 anos de idade.

Pergunto-me se terá o génio de (John Eliot) GardIner (um dos meus mestres)?
Para tal, aparentemente, apenas lhe falta o I...

A Flauta de Abbado



Tenho por Claudio ABBADO uma desmesurada admiração, sobretudo quando interpreta o repertório do final do Romantismo em diante.

Acho-o absolutamente admirável em Mahler, Debussy, Ravel e Berg, por exemplo. Em Strauss, manifesto as minhas reservas. Quanto a Mozart... sempre me decepcionou!

No caso específico do último compositor, no meu modesto entender, o problema, invariavelmente, radica na escolha de intérpretes desadequados, face ao repertório lírico mozartiano. Sylvia McNair, Cheryl Studer, Lucio Gallo, C. Remegio, S. Keenlyside, entre outros, não são intérpretes mozartianos!

Ora, vem esta prosa inicial a propósito de uma estreia de Abbado, em matéria de lírica mozartiana: acaba de gravar, para a DG, A Flauta Mágica!!!

Numa rápida passagem pela distribuição, destacaria a presença de dois pesos pesados da lírica, particularmente felizes na interpretação de papeis deste compositor: René Pape e Dorothea Röschmann...

Sem grandes entusiasmos, aguardarei pacientemente.

Entretanto, aqui podem ouvir-se alguns excertos desta interpretação.

Expressões d´a Falha (I)


(DECCA 452 602-2)

Este registo é a expressão da falha, na sua acepção mais narcísica: marca da incompletude, da imperfeição e da finitude.

Fleming aborda, aqui, um dos compositores mais queridos e destacados dos primórdios da sua notável carreira lírica: Mozart.

René Fleming sempre foi uma mozartiana de mão cheia.
A sua voz imensamente lírica, radiosa e luminosa até ao âmago, possui um timbre de uma indiscutível elegância e graciosidade; a técnica segue a graça da emissão, suportando-a com uma perfeição diplomática: omnipresente mas diáfana, eficaz mas invisível, materializa o brilho vocal, como se não existisse, et pourtant, elle est toujours là!

O temperamento cénico da Fleming combina com Mozart, sobretudo no tocante às personagens puramente líricas - Susanna, Pamina e Donna Elvira (qualquer delas abordadas neste registo) -, cuja expressão dramática é soft e algo esbatida, diluindo-se numa emissão que se pretende delicada, suave, elegante e contida.

Dito isto, a soprano americana marca pontos na abordagem das ditas figuras, revelando-se uma hábil e cautelosa cultora e difusora do estilo mozartiano lírico mais ortodoxo. Ainda assim, é legitimo destacar-se alguma falta de densidade interpretativa... Por exemplo, Pamina tem um quê de melancólico que escapa à diva; Susanna é mais ágil e espontânea do que a personagem ora retratada.

Hélas, la Fleming não resiste a outros voos, nomeadamente por territórios da linha coloratura, algo avessos aos seus dotes, que consubstanciam o calcanhar-de-Aquiles deste registo.

Esquivando-se a Donna Anna - que mais tarde abordará, pelas mãos de Solti e Levine, sem grande brilho, sublinhe-se -, não aguenta a "pirotecnia", nomeadament de Konstanze (para não falar da dificilmente tolerável inabilidade da sua Fortuna, de Il Sogno di Scipione), cuja flexibilidade e capacidade de ornamentação, manifestamente, René Fleming não possui.

De facto, as árias ornamentadas, precisamente nas passagens mais agudas, revelam uma voz em esforço, claramente menos dominada, sendo que o brilho e luminosidade cedem lugar a uma perturbadora aspereza e acidez.

Em duas palavras, a falha está presente num repertório excessivamente eclético, em termos técnicos, que René Fleming não pode abranger, por limites vocais incontornáveis.

Anos mais tarde, esta soprano percebeu, inteligentemente, que o seu temperamento e dotes vocais combinavam, em absoluto, com a figura da Condessa, papel em que, ainda hoje, quase dez anos volvidos sobre as míticas Nozze do Met - que a juntaram a Terfel e Bartoli - não tem rival !

terça-feira, 7 de março de 2006

Labor de Luto: desidealizações

O trabalho de luto vai prosseguindo, paulatinamente...

Dissoluto regozija-se com a descoberta e aceitação d´a falha, que é a marca suma da humanidade!

Eis algumas expressões d´a falha, na sua acepção mais narcísica: sinal de incompletude, de imperfeição e de finitude.



Punito promete retomar a questão, justificando o seu encanto diante da imperfeição que estes quatro registos revelam.

sexta-feira, 3 de março de 2006

quinta-feira, 2 de março de 2006

Obsessões (in)Decentes... ou Excitações Confessáveis!!!



Se é verdade que a Fleming possui a mais bela voz (puramente) lírica da actualidade - o que a torna inigualável em Mozart e Strauss, qual Schwarzkopf... -, La MATTILA é a rainha do sex appel lírico-dramático do momento (categoria que acabo de criar).

Já não nos viamos desde esta altura, na cidade-luz.

Estou feliz e radiante por nos encontrarmos em breve ;-))



[A NÃO PERDER! (Keep your condoms on, for your own safety)]

O Verde...

... já foi sinónimo de esperança e aventura.

Desde há três anos, é sinónimo de uma genialidade desarmante, onde o trivial acede à categoria de objecto de arte!

[AA: je ne peux pas me passer de ton espace ;-))) ]

Parabéns, pois!

Um abraço,

João

quarta-feira, 1 de março de 2006

"l'insoutenable légèreté du Châtelet"

D´après le nouveau directeur artistique du Théâtre du Châtelet, l´un de mes préférés, lors de la présentation publique de la prochaine saison du théatre de la ville.