(Virgin Classics 0946 344733 2 3)
Dissoluto Punito, algures entre a perda e a excitação, prossegue o seu labor de luto.
Desta feita, o alvo das suas considerações é Rolando Villazón, il tenorissimo (os epítetos valem o que valem...)
O seu derradeiro registo é altamente projectivo, dado que espelha o seu funcionamento psíquico predominante: a hipomania.
Villazón canta, apenas, em italiano, francês, alemão e russo... Rien que ça...
Paralelamente, aborda um ínfimo repertório: do belcanto (Donizetti), ao verismo (Puccini, Mascagni e Giordano), passando por Verdi, Bizet, Offenbach, Flotow, Strauss e Tchaikovsky... Coisa pouca!
Enfim...
Bom, a verdade é que o tenor mexicano tem uma belíssima voz lírica, quente, cativante e envolvente, capaz de uma notável expressividade (quando está para aí virado!).
Estas considerações são tanto mais verdadeiras quanto o senhor em causa for capaz de se manter fiel ao domínio puramente lírico, abstendo-se de incursões verdianas e veristas, de pendor mais dramático, domínio que lhe escapa, tanto vocalmente - a voz não tem, nem robustez, nem resistência -, como em termos interpretativos - Villazón será um comediante convicto, porventura um declamador de emoções, mas nunca um actor dramático mais pesado!
A meu ver, o erro crasso deste cd radica na pretensa omnipotência do intérprete, que tudo quer abordar, sem atender às suas limitações vocais e interpretativas (confesso que, dada a extensão e variedade dos autores abordados, não me teria surpreendido ouvir o tenor cantar Berg ou Wagner...)!!!
Dito isto, se é verdade que o timbre conquista, não menos verdade é que, no caso deste registo, a Falha se expõe, sem pudor algum: homogeneidade e superficialidade das caracterizações (pouco ricas e diversificadas, apenas brilhantes no domínio puramente lírico - Hoffman e D. José).
Atrever-me-ia a considerar que, caso este intérprete tenha juízo, ocupará no repertório de tenor lírico (sobretudo italiano) a posição cimeira que Flórez - tenor assumidamente ligeiro - detém no belcanto.
Villazón será, sem sombra de dúvida, um notável Hoffman, um convincente D. José, eventualmente um interessante Carlo (Don Carlo, de Verdi), um Alfredo arrebatado, quanto ao resto, mantenho a minha prudência...
O percurso ditado pelo star-system, em que o intérprete deslumbradíssimo participa - diga-se! -, recorda-me uma tirada célebre e sábia do Grande Alfredo Kraus, senhor de um estilo e disciplinas raríssimos: "Não faltam talentos! O que faltam são Mestres, que disciplinem os talentos!"
Anseio por que Villazón invista num repertório mais específico, conforme às suas potencialidade - à la Kraus, que apenas cantava cerca de 12 papeis, consciente que estava dos seus efectivos dotes -, opção que, no meu modesto entender, dele fará um lendário intérprete.
Dissoluto Punito, algures entre a perda e a excitação, prossegue o seu labor de luto.
Desta feita, o alvo das suas considerações é Rolando Villazón, il tenorissimo (os epítetos valem o que valem...)
O seu derradeiro registo é altamente projectivo, dado que espelha o seu funcionamento psíquico predominante: a hipomania.
Villazón canta, apenas, em italiano, francês, alemão e russo... Rien que ça...
Paralelamente, aborda um ínfimo repertório: do belcanto (Donizetti), ao verismo (Puccini, Mascagni e Giordano), passando por Verdi, Bizet, Offenbach, Flotow, Strauss e Tchaikovsky... Coisa pouca!
Enfim...
Bom, a verdade é que o tenor mexicano tem uma belíssima voz lírica, quente, cativante e envolvente, capaz de uma notável expressividade (quando está para aí virado!).
Estas considerações são tanto mais verdadeiras quanto o senhor em causa for capaz de se manter fiel ao domínio puramente lírico, abstendo-se de incursões verdianas e veristas, de pendor mais dramático, domínio que lhe escapa, tanto vocalmente - a voz não tem, nem robustez, nem resistência -, como em termos interpretativos - Villazón será um comediante convicto, porventura um declamador de emoções, mas nunca um actor dramático mais pesado!
A meu ver, o erro crasso deste cd radica na pretensa omnipotência do intérprete, que tudo quer abordar, sem atender às suas limitações vocais e interpretativas (confesso que, dada a extensão e variedade dos autores abordados, não me teria surpreendido ouvir o tenor cantar Berg ou Wagner...)!!!
Dito isto, se é verdade que o timbre conquista, não menos verdade é que, no caso deste registo, a Falha se expõe, sem pudor algum: homogeneidade e superficialidade das caracterizações (pouco ricas e diversificadas, apenas brilhantes no domínio puramente lírico - Hoffman e D. José).
Atrever-me-ia a considerar que, caso este intérprete tenha juízo, ocupará no repertório de tenor lírico (sobretudo italiano) a posição cimeira que Flórez - tenor assumidamente ligeiro - detém no belcanto.
Villazón será, sem sombra de dúvida, um notável Hoffman, um convincente D. José, eventualmente um interessante Carlo (Don Carlo, de Verdi), um Alfredo arrebatado, quanto ao resto, mantenho a minha prudência...
O percurso ditado pelo star-system, em que o intérprete deslumbradíssimo participa - diga-se! -, recorda-me uma tirada célebre e sábia do Grande Alfredo Kraus, senhor de um estilo e disciplinas raríssimos: "Não faltam talentos! O que faltam são Mestres, que disciplinem os talentos!"
Anseio por que Villazón invista num repertório mais específico, conforme às suas potencialidade - à la Kraus, que apenas cantava cerca de 12 papeis, consciente que estava dos seus efectivos dotes -, opção que, no meu modesto entender, dele fará um lendário intérprete.
Queridissimo João.
ResponderEliminarFaço minhas as tuas palavras. Não podias ter espresso de forma mais clara os meus pensamantos relativamente ao Villazon. Aliás já tinha nestas páginas, de forma breve, emitido os meus comentários ao rumo da carreira do Villazon.
A voz é realmente muito bonita e domineo técnico apreciável mas se com uma voz relativamente anónima e intelegencia se pode fazer uma grande carreira com uma bellissima voz e pouca intelegencia a carreira não dura muito.... di Stefano, del Monaco...... É uma pena mas os tenores que têm um timbre escuro normalmente acabam por se iludir e cantar papéis demasiado pesados para a sua constituição vocal. O di Stefano dizia que a Tosca tinha sido o maior erro da sua vida. Pareçe que o Villazon já tem uma Tosca agendada....
O último mail é meu.... Sorry:-)))
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Caro João,
ResponderEliminarEsperemos que o rapaz aprenda com os erros dos mestres... Mas, aqui para nós, o seu deslumbramento é tão desmesurado, que não sei, não!
Meus amigos,
ResponderEliminarDesculpem o desacordo, mas ele é total. Este recital vem confirmar aquilo que eu penso: vivemos uma geração onde a voz de tenor está muito bem fornecida e a melhor é o do Villazon. O Homem, se ele quer ser vedeta ou não, é secundário, apenas um pormenor, a Voz é que interessa.
Comprei o CD seguindo as críticas elogiosas (um dos 10 CDs do mês) da Gramophone e não podia estar mais de acordo, o que algumas vezes não acontece, porque devemos pensar pela nossa cabeça.
Raul
Raul,
ResponderEliminarConhece a voz do Flórez???
QUanto ao cd do Villazón, obviamente que é notável, com tudo o que tem de frágil, como tive ocasião de referiri!
João,
ResponderEliminarClaro que conheço a voz do Florez e tenho 2 CDs dele e é um grande cantor, mas é um tenor ligeiro. A voz é muito boa, mas a voz de tenor por excelência está mais próxima das características da voz de Villazon.
Raul
Caro Raúl
ResponderEliminarConforme referi agrada-me a voz do Villazon, as minhas reservas são de outro tipo, mas sinceramente acho que ganhamos muito com um c.d. do tipo do anterior. Só Massenet e Gounod. Pareçe-me muito mais interessante do que andar a saltar de estilo e escola musical no mesmo disco. Já para não falar de tipo de voz... Porque um Cavaradossi não é seguramente um Lensky:-))) Ou vice-versa.
J. Ildefonso.
J. Ildefonso.
Caro J. Ildefonso,
ResponderEliminarMas não sente curiosidade quando um grande tenor aborda um outro papel, mesmo que não esteja virado para o seu reportório habitual, mas a que a sua voz responde ? É nesse sentido que gosto de ouvir o Villazon a cantar o Lensky, é como se fosse outra cor na música.
Raul
O Lensky pareçe-me bastante adequado aos seus recursos o Cavaradossi é que não. Porque a mim pareçe-me que o Villazon é essencialmente um tenor lírico apesr do timbre escuro da voz. Não me pareçe que tenha uma voz mutio grande para suportar um papel dramático, se bem que curto, com uma orquestração pesada como a Tosca.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Sim, o Villazon é um tenor lírico. É o Fausto ideal assim como o Duque, Alfredo, Rudolfo, Pinkerton,...Chegará ao Radamés e mais tarde ao Otelo (na linha do del Monaco, Domingo, não da do Vinay , Vickers) e será sempre bom.
ResponderEliminarRaul
Raul,
ResponderEliminarPara mi, não há O tenor... Há tenores líricos, ligeiros, helden, spinto etc! Dentro de cada uma das categorias, há epecialistas.
Raul,
ResponderEliminarConcordo até ao Radames e Otello, excluindo ambos! Falta-lhe potência, resistência, força... o spinto!
João,
ResponderEliminarEu não disse que havia o Tenor. Todos são tenores, porque assim se resolver chamar: tenor + adjectivo.
À minha mente quando penso num tenor, ele será mais próximo dum Villazon, Corelli, Windgassen do que do Florez ou do meu muito adorado Stolze.
No meu comentário eu não digo que o Villazon será o Radamés e Otelo ideais. Mas pode chegar ao Radamés
(o Gigli cantou-o e bem ) e alargando a voz talvez chegue ao Otelo. O Domingo é o Otelo do seu tempo, mas eu ligo mais à personagem a linha do Vinay, Vickers para este papel. Nem sempre o reportório inicial de uma voz se mantem inalterado ao longo da carreira do cantor. Veja a Freni, que de Mimi e Desdémona ideais acrescentou a para os anos oitenta a Tosca, a Aida, ...
Raul