sexta-feira, 10 de março de 2006

Bartók: a perversão (ou para além do universo esquizoide)

O Castelo de Barba Azul, de Bartók, constitui uma das mais magistrais composições líricas que conheço.

Num clima frio, gélido e muito sombrio, Bela Bartók compõe uma trama apoiada na morbidez libidinosa, que se explana até ao limite do concebível: a necrofilia.
Sangue, morte e sexo participam numa equação trágica, que constitui o sumo exemplo da perversão, na lírica.

Longe do clima (o mor das vezes) esquizóide, característico dos seus quartetos de cordas, por exemplo - onde a frieza e o retraimento se combinam, num universo insólito, em tudo antagónico ao afecto (essência do mundo esquizóide) -, em O Castelo de Barba Azul, Bartók entrega-se ao sórdido, caracterizando-o com argúcia, requinte e fineza, ao mesmo tempo que recusa liminarmente o dina
mismo e movimento.

Como nunca, nesta ópera, o singular paradoxo da exigência de estática constitui um imperativo.


Corroído pela inveja, Dissoluto Punito lamenta a sua ausência da plateia desta memorável interpretação.

Ainda assim, Punito Dissoluto propões duas lendárias leituras desta indispensável peça lírica:


(EMI 7243 5 56162 2 7)


(CBS MK 44523)

4 comentários:

  1. Tenho acompanhado e lido com interesse, esta excelente série de posts em que efectua a "operacionalização" - como muita gente gosta de dizer, nos últimos tempos ;)- dos conceitos da psicologia na sua análise de figuras relevantes do universo da música. Não tenho comentado porque a preguiça me tem impedido de teclar os meus pensamentos ...

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  2. Helena,

    Espantava-se se lhe dissese que é uma das destinatárias desta colecção de post´s?
    Haja quem aprecie esta fusão!

    Um abraço

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  3. Sinto-me muito honrada por ser um elemento do público-alvo destes posts, e só desejo que continue com esta linha editorial :)

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  4. Prosseguirei, Helena, até que a voz me doa... ;-)

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