(ainda) Bravi, bravi, bravi!

Nem tudo são rosas, está bem de ver!

Contudo, mantenho o meu entusiasmo inicial, quanto à qualidade destas Le Nozze di Figaro.


(DG 073 4245)

Evidentemente, os tempi arrastados de Harnoncourt, por vezes, roçam o maneirismo... Pessoalmente, o ritmo e toada desta magnífica peça lírica convocam uma celeridade esfuziante, à la Gardiner.

A meu ver, são inúmeros os pontos de interesse destas As Bodas de Figaro, a começar pela encenação e qualidade dos intérpretes.

A encenação esforça-se, do meu ponto de vista, por revelar a distorção, perversidade e (imensa) mácula que subjazem à trama. Habitualmente, as mise-en-scèneA Louca Jornada traçam um universo algo pueril e diáfano. Pois bem, Claus Guth, neste trabalho bem orquestrado de encenação, investe na ousadia camuflada, sem nunca cair na vulgaridade.

O motor da trama é Cherubino – ora anjo, ora demónio -, que manipula a seu bel-prazer os cordelinhos de uma teia de relações muito complexas, que se interpenetram e cruzam, por vezes de modo brutal...

O cenário, tão grandioso e amplo quanto desnudo e deteriorado, serve de pano de fundo para a explicitação dos aspectos menos nobres dos vínculos que unem os personagens.

Sempre numa lógica de sugestão – contrária, portanto, à exibição crua -, como disse, do universo relacional d’As Bodas, neste trabalho, sobressaem dimensões mais animalescas da natureza humana (habitualmente reprimidas, leia-se anuladas da representação...): uma condessa lânguida e sexualmente ávida, um conde perverso, um Fígaro atontalhado, um Bártolo sacana até ao âmago...

Vocal e artisticamente, reina o brilho e equilíbrio, apesar de alguns reparos.

Ildebrando d’Arcangelo – a mais bela voz de baixo desde há décadas, lírica e viril, fluida e densa – compõe um Fígaro notável, senhor de uma perfeita articulação, bem aberta e explícita. Os recitativos são graciosos, pontuados por humor e ironia.
Ouvi-o, pela primeira vez, por via de Gardiner, como Leporello (ARCHIV 445 8702). Deslumbro-me pelo timbre! Anos e anos volvidos, D’Arcangelo (re)abraça a glória!!!

O Conde de Skovhus seria perfeito – na linha do filho-da-puta, perverso e aristocrata -, não fora o indisfarçável acento, que lhe parasita o italiano...

Netrebko padece do mal de sempre: uma dicção tão trôpega quanto incompreensível! Sinon, compõe uma Susanna radiosa e sagaz, algo convencional, apesar da graciosidade.

Brilhantes, brilhantes, são a Condessa de Röschmann e o Cherubino de Schäfer. A primeira revela uma linha melódica imaculada, absolutamente controlada, de uma pureza notável, que inunda de melancolia... e voracidade. Já o personagem de Christine Schäer triunfa pela androginia alcançada, tão inusitada, quanto desejável!


Caro leitor, apesar dos reparos, se procura uma interpretação de inegável qualidade, cénica, artística e vocal, eis as suas As Bodas de Fígaro! Ainda assim, advirto-o para a viciosa direcção de Harnoncourt – porventura o maior calcanhar de Aquiles desta leitura! -, cujas liberdades, por vezes, exasperam o mais tolerante espectador...

É certo que este artigo não destrona as faustosas Le Nozze de Giulini, nem as (primeiras) de Von Karajan, muito menos as de Kleiber! Mas, seguramente, os amantes da ousadia, irão descobrir nas ditas algo de cintilante e irresistível...

Só os doentiamente saudosistas consideram que Salzburgo já não é o que era!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Contra as verdades feitas...

...lutar, lutar!
Eis duas que urge combater:

1. Elvino – de La Sonnambula – tem de ser um tenor ligeiro, lírico – ligeiro, estilo Kraus ou Pavarotti. É MENTIRA!

Francesco Meli, o Elvino que ladeia Nat Dessay, de timbre baritonal, voz ampla, cheia e grande, diz-nos que tal exigência não passa de uma verdade feita, preconceituosa.
Escutem-no, atentamente!


(Francesco Meli)


2. Scarpia tem de ser um grande barítono-actor, sendo secundaríssima a beleza do timbre, à la Gobbi, à la Raimondi. É MENTIRA!

Não só Terfel nos diz que um actor magnífico, por vezes, é um extraordinário cantor, como Milnes – o maior barítono verdiano americano da década de 1970 – nos prova que há um Scarpia de timbre absolutamente deslumbrante, solar, brônzeo, o seu!


(Sherrill Milnes)

O «Olho» de Gelb

Peter Gelb tem conduzido o Met com indesmentível mestria e ousadia.

Primeiro, firmou contratos com cadeias de cinema para divulgar (e rentabilizar) a lírica, em geral, e a lírica do met, muito em particular. A lírica desta superlativa sala é das mais competentes, assumidamente comerciais e agressivas que conheço.

Agora, Gelb brinda-nos com outro golpe de génio: substituir estrelas, por ... estrelas! Nem Mais!

«Mr Gelb's decision to ask big-name stars to fill in for sick colleagues is highly unusual. The Met has traditionally employed understudies who must remain within 15 minutes of the stage during all performances, ready for any eventuality. But when he became manager last year Mr Gelb took a new approach - shuffling his stars around so as to field the best cast available.»

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Macbeth no Met

To appreciate the performance of the longtime soprano Maria Guleghina in the role, you must remember that Verdi wanted his Lady Macbeth to be “ugly and evil,” and her voice to be “harsh, stifled and dark,” as he put it in a letter. Though often strident, Ms. Guleghina’s singing was chillingly powerful. Her sustained, full-voiced lyrical phrases may have been hard-edged, but they filled the house. And her blazing top notes sliced through the combined sound of the chorus and orchestra.

But I was bothered by her rhythmic carelessness, as she tried to get her earthy and unstable voice around Verdi’s often ornate phrases. In Lady Macbeth’s crucial sleepwalking scene, I wanted more tenderness and ethereal phrasing. Ms. Guleghina faked it.

She certainly embodied the character. In her opening scene, when Lady Macbeth receives the letter from her husband reporting the predictions of the witches, she is awakened in bed. And after her aria, that’s where Macbeth finds her. Their tussling on the mattress makes clear that part of her sway over her malleable husband comes through sex.

As Banquo, Macbeth’s comrade general, the bass John Relyea was excellent, singing with robust power, dark colorings and dignity. Macduff, who finally kills the tyrannical Macbeth, is essentially a one-aria role for tenor. The young New York-born Dimitri Pittas sang it with melting sound and dramatic urgency.

It was hard to resist the overall production and variable vocal performances when Mr. Levine was conducting the work so splendidly.»

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Bela por fora…

...medíocre por dentro.

Não é um lugar-comum! É a triste realidade que este registo espelha, a cargo de Danielle de Niese, interpretando árias de ópera e oratório de Handel.

É bem verdade que, segundo a imprensa especializada, De Niese deu alma a uma Cleópatra memorável, em Glyndebourne.

Pois bem, em estilo curto e grosso, aqui vão as minhas considerações sobre o dispensável e medíocre registo.

Sem a mínima disciplina barroca, entre a estridência e a berraria indisfarçável, Danielle expõe um vibrato descontrolado, a par de um timbre grosseiro. Os agudos são esforçados, feios e sem o menor laivo de luminosidade. As mudanças de registo revelam uma inconcebível falta de homogeneidade, etc. etc.

Fora do registo de bravura, com boa vontade, ainda se tolera a linha mais lírica...

Ora, se a técnica não é o que deveria ser, a interpretação é digna de uma actriz esforçada, mas menor!

Inadmissível em palcos dignos, a artista tenta o registo discográfico, movida pela ganância da major DECCA (e pelo seu deslumbramento!), roçando o ultraje!

Choro os meus quase €20 até à exaustão...


(DECCA 475 8746)

domingo, 21 de outubro de 2007

Isokoski Strauss

Concerto de 18 de Outubro de 2007, Fundação Calouste Gulbenkian.
Orquestra Gulbenkian, Lawrence Foster (maestro), Soile Isokoski (soprano)
Richard Strauss



Privei com Isokoski (de quem aqui e aqui muito falei), pela primeira vez, em 2000, em Paris, numa extraordinária récita de Don Giovanni, na Bastilha. Soile Isokoski interpretou uma fabulosa Donna Elvira, ladeada pelos não menos magnéticos Don, de Skovhus, e Don Ottavio, de Richard Croft.

Na temporada seguinte, desta feita no Théâtre des Champs-Élysée, na companhia do Alexandre e do David, Isokoski brindou-nos com uma soberba leitura de Vier Letzte Lieder. Na sala, além de nós, não estavam mais de 30 espectadores…

Isokoski – soprano lírico por temperamento e voz – segue o trilho de Schwarzkopf, no tocante à interpretação: opta pela elegância e graciosidade, que cultiva até ao infinito...

A intérprete é senhora de uma voz relativamente pequena, muito disciplinada e refinadíssima. O timbre, longe de ser dos mais belos, tem uma clara afinidade com o requinte e melancolia, circunstância que faz da cantora uma notável mozartiana e straussiana.

Quis o destino que me atrasasse, quinta-feira... Consequentemente, não assisti ao início do epílogo de Capriccio, de Richard Strauss. Nem tão pouco sei se, além do prólogo da ópera, a cena final da mesma foi introduzida pela Mondscheinmusik

O concerto, para mim, teve início com o monólogo final de Capriccio, que Isokoski iluminou, com a depressividade que o texto convoca. Consciente da perda subjacente à escolha que se impõe (!?), entre poesia e música - respectivamente personificadas por Olivier e Flamand -, a intérprete balanceou, esvoaçante, com uma notável elegância vocal, apoiada numa dicção sem mácula.

O concerto prosseguiu com uma xaropada – a suite para orquestra Le Bourgeois Gentilhomme, op. 60 de Richard Strauss -, dirigida por um xarope-maestro, Foster de sua graça.
Nem um, nem outro merecem mais comentários.

Enfim, a glória foi atingida, por via da leitura de dois excertos de Ariadne auf Naxos, ópera do mesmo Richard Strauss, tendo Isokoski interpretado um Es gibt ein Reich transcendente, radioso e solar, impecavelmente cantado, com uma graciosidade e elegância de antologia.

Aos 50 anos, a voz de Soile Isokoski mantém intactas as qualidades cristalinas que lhe trouxeram fama, sem resquícios de fadiga. Hábil e rica na expressão da dor depressiva (que Richard Strauss tão bem explorou, nomeadamente nas Quatro Últimas Canções, e em personagens como Ariadne e Marschallin) – em todas as suas cambiantes, desde a tristeza até à melancolia absoluta -, Isokoski revelou qualidades técnicas notáveis, apoiando-se numa linha melódica imperturbável, de uma invulgar nobreza.

Posto isto, na actualidade, em matéria de Strauss e Mozart puramente líricos, não há rival para esta intérprete!

Caro leitor, se pretende iniciar-se na arte desta esplêndida intérprete, eis três incontornáveis registos:


(Don Giovanni, dirigido por Abbado, DG)


(Vier Letzte Lieder, dirigidos por Janowski, ONDINE)


(Mozart Aria, direcção de Peter Schreier, ONDINE)

Don Giovanni, d'après Jacobs III

Desta feita, a crítica pouco abonatória vem do Thelegraph:

«René Jacobs sets out his stall in the booklet note to this provocative new recording. Whereas Mozart composed a quicksilver dramma giocoso, he argues, the Romantics turned Don Giovanni into a heroic tragedy. This is a fair point. But in claiming to present the opera "in its original colours", Jacobs ignores John Eliot Gardiner, Charles Mackerras and others, who have already recorded bristling period-style performances void of spurious fat or undue reverence.
That said, Jacobs's recording of the 1788 Vienna version (with the discarded Prague numbers included in an appendix) is always exhilarating, occasionally frustrating. The orchestral playing is brilliantly alive, with the woodwind relishing their ironic, disruptive or cajoling commentaries. More controversial are the fortepiano's twiddles and flourishes in the recitatives, witty to some (including me), irritating to others. Contentious, too, is Jacobs's fondness for sudden spurts in tempo. Though his conducting generates plenty of dramatic excitement, the effect can sometimes be a shade frenetic.
For Jacobs, Donna Elvira rather than Donna Anna is the opera's central female character. Accordingly, Anna is sung here by the lightish-voiced Olga Pasichnyk, who makes up in grace and agility what she lacks in grandeur. Alexandrina Pendatchanska's Elvira, conversely, is almost hysterically obsessive: a charismatic performance, though not without its squally moments.
Following Jacobs's anti-Romantic conception, Johannes Weisser's Don Giovanni is more Jack-the-lad than demonic anti-hero. He is casually seductive in his scenes with Sunhae Im's coquettish Zerlina, rapier-sharp in his exchanges with Leporello, where his tenorish timbre contrasts well with Lorenzo Regazzo's lubricious Leporello. With its eccentricities, this may not be a first-choice Don Giovanni. But I found its zest and mercurial spirit refreshing, often compelling»



Bem vistas as coisas, a lógica da crítica, até à data, no tocante a este Don Giovanni, tem sido “uma no cravo, outra na ferradura!”

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Hoje, não estarei lá...


... assumida, deliberada e preconceituosamente!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Bryn Scarpia

Gravada ao vivo em Amesterdão, em 1998, esta Tosca conta com três grandes glórias: o Scarpia de Terfel, a interpretação de Malfitano e a direcção de Chailly.


(DECCA 074 3201)

Pessoalmente, creio que se o Scarpia desta leitura não fosse Terfel, jamais a dita cuja teria sido editada em dvd...

Terfel debutara, nesta produção, no papel mais perverso que a ópera alguma vez concebeu, revitalizando o sadismo e a distorção. A sua interpretação, gloriosa e fascinante, atinge níveis absolutamente pornográficos.

Em meu entender, até à data de publicação desta Tosca, dois intérpretes marcaram (e condicionaram!) a interpretação do abjecto barão: Gobbi, nos anos 1950 - 1960, e Raimondi, em finais do século passado.
O resto é paisagem...

Gobbi investia na malícia e Raimondi na distorção de carácter. Ambos eram fabulosos, mas algo pudicos... Terfel vai mais longe do que os antecessores, fazendo da lascívia o esqueleto da sua incarnação.

A voz é colossal, ultra-viril, vincada por despudor, requinte, asco e uma ousadia impressionantes, nunca bordejando a grosseria! Bryn Terfel movimenta-se cenicamente como se de um falcão se tratasse: preciso e certeiro, sem clemência, ávido de carne desprotegida...

Em Scarpia, sexo rima com poder - tanto mais se for praticado por via da “imposição-sugerida” -, sendo o poder, gratuita e indiscriminadamente utilizado, essencial no seu funcionamento. Como poucos, Terfel sabe-o, intuitivamente.


(Bryn Terfel)

Catherine Malfitano, nesta produção, interpreta a figura de Floria Tosca.
Malfitano nunca foi grandemente acarinhada pelas editoras, quiçá pelo vibrato, por vezes muito incómodo, que se foi acentuando com a idade...

Em 1992, no Covent Garden, tornou-se conhecida do grande público operático ao interpretar uma extraordinária Salomé (que alguém que muito prezo, em boa hora, me ofereceu!) À época, com 42 anos, o dito vibrato já fazia das suas, maculando a mítica dramatização.

Por ocasião desta Tosca, Catherine contava com 50 primaveras. A prestação cénica camufla-as, iludindo-nos; a voz, nem tanto...

De facto, vocalmente, trata-se de uma Tosca de final de carreira, estando o registo agudo bastante comprometido. Ainda assim, o talento dramático da intérprete compensa as fragilidades vocais.

Malfitano desenha uma Tosca arrebatada, ora pueril, ora fogosa, profundamente caracterizada. Pessoalmente, prefiro as interpretações mais ousadas, que não camuflam o desejo... A artista nova-iorquina opta pela repulsa do desejo, no confronto com Scarpia. Não se pode falar em ousadia, neste capítulo!

Na morte do barão, contudo, a soprano transcende-se, literalmente vomitando um Muori de antologia, que repete à exaustão. Eis Floria Tosca fêmea selvática, por fim despudorada!


(Catherine Malfitano)

Richard Margison compõe um Cavaradossi convencional, apesar da qualidade do spinto. A caracterização é superficial, a mímica pobre e a figura em nada ajuda.

No capítulo das interpretações, restam-me duas longas palavras para saudar a magnífica leitura orquestral do Royal Concertgebouw e a direcção de Chailly. Do trabalho conjunto resulta uma interpretação monumental, privilegiando as grandes cenas, em detrimento das passagens mais líricas. A entrada de Scarpia e o Te Deum são estrondosos, em requinte e grandiosidade, sobretudo.

Definitivamente, Chailly, por via do rigor e meticulosidade, destaca o valor dramático da partitura, sublinhando o trágico e monumental. A meu ver, trata-se da Tosca mais wagneriana que conheço, nada tendo que ver com as leituras mais pueris e líricas!


(Riccardo Chailly)

Por fim, resta-nos uma curta reflexão sobre a encenação, que pouco mais faz do que tudo subjugar à tragédia inexorável e finitude.

A concepção cénica é demasiadamente grandiosa e dispersa, particularmente no acto I, propondo décors de gosto duvidoso - embora a eficácia teatral seja indiscutível. A proposta cénica é mais subtil e requintada no segundo acto, particularmente na ornamentação barroca do Barão Scarpia e respectivo ambiente.

Os figurinos são requintados e adequados, particularmente ricos em subtilezas, no caso de Tosca. Quanto às vestes de Scarpia, apesar da ousadia, pecam pelo toque algo "abichanado"... O Barão é um garanhão, sem sombra de dúvidas, caramba!

O trabalho de iluminação revelou-se igualmente eficaz, sobretudo no tratamento das cenas lúgubres – actos I e III.

Dito isto, fiel leitor, se procura uma Tosca plenamente dramática – quiçá à la Sarah Bernhardt?! -, sobretudo centrada na teatralidade, esta é A Tosca. Quanto ao lirismo, elegância e subtileza vocais... procure outra, apesar do mítico Scarpia Terfeliano.

domingo, 14 de outubro de 2007

Guerra (e Paz)


…for a Met Performance!

A 10 de Dezembro, no Met, estreia uma nova produção de Guerra e Paz, de Procofiev.
Para o efeito, dadas as exigências megalómanas da produção, estão a recrutar-se figurantes masculinos.

«Yesterday morning, dozens of men — middle-aged fathers and spiky-haired 30-somethings, psychiatrists and editors — flocked to Good Shepherd-Faith Presbyterian Church on the Upper West Side of Manhattan. They came not to pray but to pretend: The Metropolitan Opera was in need of about 160 good men.

The Met was holding auditions for extras in its coming production of “War and Peace,” an epic opera based on Tolstoy’s epic novel. It will be one of the largest productions in the Met’s history: 1,200 costumes, 52 soloists singing the parts of 68 characters, 118 choristers, 41 ballet dancers, about 250 extras and a horse, a dog, a goat and four chickens»



I’ll be there, for sure!

What about you?!

sábado, 13 de outubro de 2007

Promessas (vãs) ?

50 óperas integrais, em 100 cd’s, a menos de €100?!
Parece que sim! As majors juntaram-se, para o efeito.

Prudência e dúvida, recomendam-se...

For the moment, ainda não há detalhes relativos às interpretações.



Eis a lista dos títulos que compõem a colecção:


Aïda
Ariodante
O Barbeiro de Sevilha
La Bohème
Boris Godounov
Carmen
Cavalleria Rusticana
La Cenerentola
Les Contes d’Hoffmann
Cyrano de Bergerac
La Damnation de Faust
Dido e Enéias
Don Giovanni
O Elixir do Amor
L’Enfant et les sortilèges
O Rapto do Serralho
Eugène Onéguine
Erwartung
Faust
Fidelio
A Flauta Mágica
Der Freischütz
Hippolyte et Aricie
A Italiana em Argel
Lakmé
Lucia di Lammermoor
Madame Butterfly
Manon Lescaut
Mireille
As Bodas de Fígaro
Norma
Orfeo
Orfeo ed Euridice
Otello
Palhaços
Pelléas et Mélisande
Rigoletto
Salome
A Sonambula
Thaïs
La Traviata
O Trovador
Tosca
Turandot
Um Baile de Máscaras
O Navio Fantasma
La Wally
A Valquíria
Werther
Wozzeck

Romeu e Julieta ou A Viúva Alegre?

Todos sabemos quão ensombrado é o futuro de Romeu, no original de Shakespear, Romeu e Julieta. Na ópera homónima de Gounod, a vida do dito cujo segue o trilho da tragédia.

O curioso é que a reprise da produção de Romeu e Julieta - que o Met estreou no ano passado - se encontra, também ela, dominada pela signo do infortúnio: não há Romeu que lhe resista!

Primeiro foi Villazón, que "roeu a corda", a pretexto de problemas vocais, depois Giordani, que "fez uma perninha", logo saltando fora, e agora Kaiser, cuja louvável prestação foi parasitada por um resfriado mal curado.

Está bem de ver que, até ao termo das récitas desta produção, muitos outros Romeu’s surgirão... resta saber quantos mais e se algum resistirá!

Posto isto, pergunto-me se Netrebko e a sua invencibilidade não mudarão o nome da peça lírica para A Viúva Alegre, d'après Gounod!?


(Joseph Kaiser, o tenor canadiano que interpretou Romeu, na récita de 13 de Outubro de Romeu e Julieta, de Gounod)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Disse-me um passarinho...

... que a DECCA está em vias de editar um La Traviata... com Renée Fleming, VIllazón & Bruson!

(keep it for you, pois parece que a coisa ainda não é do domínio público!)



Eis a fece do dito artigo:


(ainda) Pavarotti

No dia de aniversário de Luciano Pavarotti - que comemoraria 72 primaveras, hoje -, eis o presente da GOOGLE:

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Últimas Aquisições (!)



Um best of de Rysanek, live from Wiener Staats Oper, em dois mágnificos cd's!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Appomattoxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

...de Glass, estreou-e em S. Francisco, no passado fim-de-semana.

«It addresses the topical question of war head on through the frame of history, taking as its setting the final days of America's 19th-century civil war - Appomattox is the tiny village in Virginia where the south surrendered to the north in April 1865.

Those days have acquired an almost mythological status in some American eyes for the spirit of magnanimity and reconciliation between the two sides. President George Bush himself is said to have studied them for enlightenment. Yet the civil war did not end with the surrender. Racial divisions continued to be vicious and, in some ways, the war is still being fought today. As Glass and Hampton are at pains to show, race remains the open wound that cuts across contemporary American life, a century and a half after Abraham Lincoln freed the slaves. It is the dominant theme of this new opera.
»



Pois bem, o que P. Glass demonstra, através desta síntese (supostamente baseada no libreto da ópera), não é a possibilidade do termo do conflito, em termos latos - situação que, a meu ver, remete para o final da história, porquanto renega uma das mais fundamentais dimensões do homem , a saber, justamente a conflitualidade -, mas antes a possibilidade da metamorfose (ou actualização) da expressão conflitual.

Como dizia Freud, sabiamente (como quase sempre, aliás), e cito de cor: "Se quiserem a paz, procurem-na nos cemitérios."

Com franqueza, não nutro especial admiração por Glassssssssssssssssssssssssss, está bem de ver! Mas - caramba! - limitar o sentido desta composição a uma apologia da paz é, no mínimo, patético!

Só faltava convocar a pobre da Yemanjá, ladeada pelo Duo Ouro Negro entoando alegremente "Vou Levar-te comigo..."



Enfim, mudando de registo, fiquei mais tranquilo por saber que o Senhor Glass abandonou a ortodoxia minimalista! Assim reza esta notícia do The New York Times:

«It is sometimes forgotten that in the early days of Minimalism, Mr. Glass’s music seemed radical in its willingness to reiterate riffs and linger over lushly tonal and modal harmonies. Then came his more Romantic style, thick with chromatic harmony and less assertive in its rhythmic repetitions.»

domingo, 7 de outubro de 2007

Disse-me um passarinho...

...que está para muito breve a saída do album da bela Danielle De Niese, integralmente consagrado à ópera de Handel.

Recordo que De Niese foi a última grande Cleópatra de Glyndburne, conforme se disse aqui.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Dilemas narcísicos...



... de Il Dissoluto Punito!
Ou seja, posto que a disponibilidade é curta, a questão da escolha impõe-se: relógio ou caneta ?

Aceitam-se sugestões ;-)

Don Giovanni, d'après Jacobs II

Nestas coisas de crítica, cada cabeça, sua sentença. O The Guardian pouco diz de abonatório, enquanto a Gramophone enaltece o recentíssimo Don Giovanni, de René Jacobs:

«Simon Keenlyside had been pencilled in for the title-role for this recording, with Johannes Weisser only playing it in the warm-up live performances. Apparently, however, conductor René Jacobs was so impressed with his young baritone that he got the gig, as they say. No Giovanni can fully encompass every aspect of this multi-faceted role but (and I know I am even more enthusiastic about him than our reviewer, Richard Wigmore) I feel that he has reinvented the role for our age. Weisser is young, only 26 when this was recorded, and sounds it. If his tone sounds a touch callow, that is actually an advantage for a Don who here is presented as utterly narcissistic, shallow in every respect except his deeply felt love for himself. He is not evil, just spoilt. Doubtless thanks to those live performances, the cast feel like a played-in ensemble and they create real drama and genuine comedy (graced by some of the most sparkling recitative accompaniments you will hear). Three cheers for someone having the sense to record Kenneth Tarver’s graceful, agile Ottavio. And, despite the odd pipey moment from Pendatchanska’s impassioned Elvira, there are no real weak links.»



A acreditar no entusiasmo da Gramophone, a glória desta interpretação tem um nome, a reter:
Johannes Weisser.


(Johannes Weisser, o protagonista do Don Giovanni de Jacobs)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Don Giovanni, d'après Jacobs: há duas sem três, sim senhor!

À semelhança do que por aqui se diz, Jacobs revitalizou (parte) da trilogia Da Ponte - Mozart, perpetuando Le Nozze di Fígaro, por via da originalidade, e Cosi Fan Tutte, através da elegância.

Dir-me-ão que o maestro belga pouco ou nada acrescentou às citadas obras, infinitamente interpretadas. Talvez. Contudo, não dispenso, nem uma, nem outra!

Quanto à leitura que Jacobs propõe de La Clemenza di Tito, não me aquece, nem arrefece (apesar da louvável Vitellia).

Desta feita, René J. brinda-nos com A Ópera, ossia Don Giovanni.
O atento leitor, por certo, ateve-se ao que a respeito desta acontecimento escrevi, acontecimento que há muito aguardo com indesmentível ansiedade, não fora eu (um dos muitos) Il Dissoluto Punito!

Pois bem, apesar de ainda não contar com a pérola (?) em minha mão, desde já vou preparando uma hipotética (?!) decepção, a avaliar pela critica do The Guardian, de que cito a introdução:

«In his previous Mozart opera recordings for Harmonia Mundi (Cosi Fan Tutte, Le Nozze di Figaro and La Clemenza di Tito), René Jacobs set prodigiously high standards, and expectations for Don Giovanni were sky-high. But while there is much to admire in the new set, especially from the playing of the Freiburg Baroque Orchestra as primed by Jacobs's tensely dramatic phrasing and pacing, it never quite reaches the vocal or theatrical heights of its predecessors


Toujours La Malibran!



«Depuis le 15 septembre et jusqu'au 18 décembre, de Munich à Londres en passant par huit pays, le muséobus suivra le "Maria Malibran Tour" de Cecilia Bartoli, soit plus de 20 000 kilomètres de musique.»

E só vai quem quer (ou pode)!
Seguramente, não irei, não por não desejar, mas por não poder.

Não irá, de igual modo, o cortejo de sobranceiros, habitués fóbicos da joie, seja ela ou não popular!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Do profissionalismo

Vá lá saber-se por que razões, Angela Gheorghiu decidiu não comparecer à maioria dos ensaios de La Bohème, onde iria interpretar Mimi, na ópera de Chicago.

«“It is with tremendous regret and sadness that we are compelled to take this action, but Miss Gheorghiu’s actions have shown total disregard for Lyric Opera’s dedicated personnel and for her fellow artists,” William Mason, the opera’s general director, said in a statement yesterday.»

Sem meias palavras, a direcção da ópera despediu-a.

Definitivamente, em Chicago, não há lugar para liberdades de estrela.

Agora, pergunto eu: fará a decisão jurisprudência?