Concerto de 18 de Outubro de 2007, Fundação Calouste Gulbenkian.
Orquestra Gulbenkian, Lawrence Foster (maestro), Soile Isokoski (soprano)
Richard Strauss
Privei com Isokoski (de quem aqui e aqui muito falei), pela primeira vez, em 2000, em Paris, numa extraordinária récita de Don Giovanni, na Bastilha. Soile Isokoski interpretou uma fabulosa Donna Elvira, ladeada pelos não menos magnéticos Don, de Skovhus, e Don Ottavio, de Richard Croft.
Na temporada seguinte, desta feita no Théâtre des Champs-Élysée, na companhia do Alexandre e do David, Isokoski brindou-nos com uma soberba leitura de Vier Letzte Lieder. Na sala, além de nós, não estavam mais de 30 espectadores…
Isokoski – soprano lírico por temperamento e voz – segue o trilho de Schwarzkopf, no tocante à interpretação: opta pela elegância e graciosidade, que cultiva até ao infinito...
A intérprete é senhora de uma voz relativamente pequena, muito disciplinada e refinadíssima. O timbre, longe de ser dos mais belos, tem uma clara afinidade com o requinte e melancolia, circunstância que faz da cantora uma notável mozartiana e straussiana.
Quis o destino que me atrasasse, quinta-feira... Consequentemente, não assisti ao início do epílogo de Capriccio, de Richard Strauss. Nem tão pouco sei se, além do prólogo da ópera, a cena final da mesma foi introduzida pela Mondscheinmusik…
O concerto, para mim, teve início com o monólogo final de Capriccio, que Isokoski iluminou, com a depressividade que o texto convoca. Consciente da perda subjacente à escolha que se impõe (!?), entre poesia e música - respectivamente personificadas por Olivier e Flamand -, a intérprete balanceou, esvoaçante, com uma notável elegância vocal, apoiada numa dicção sem mácula.
O concerto prosseguiu com uma xaropada – a suite para orquestra Le Bourgeois Gentilhomme, op. 60 de Richard Strauss -, dirigida por um xarope-maestro, Foster de sua graça.
Nem um, nem outro merecem mais comentários.
Enfim, a glória foi atingida, por via da leitura de dois excertos de Ariadne auf Naxos, ópera do mesmo Richard Strauss, tendo Isokoski interpretado um Es gibt ein Reich transcendente, radioso e solar, impecavelmente cantado, com uma graciosidade e elegância de antologia.
Aos 50 anos, a voz de Soile Isokoski mantém intactas as qualidades cristalinas que lhe trouxeram fama, sem resquícios de fadiga. Hábil e rica na expressão da dor depressiva (que Richard Strauss tão bem explorou, nomeadamente nas Quatro Últimas Canções, e em personagens como Ariadne e Marschallin) – em todas as suas cambiantes, desde a tristeza até à melancolia absoluta -, Isokoski revelou qualidades técnicas notáveis, apoiando-se numa linha melódica imperturbável, de uma invulgar nobreza.
Posto isto, na actualidade, em matéria de Strauss e Mozart puramente líricos, não há rival para esta intérprete!
Caro leitor, se pretende iniciar-se na arte desta esplêndida intérprete, eis três incontornáveis registos:
(Don Giovanni, dirigido por Abbado, DG)
(Vier Letzte Lieder, dirigidos por Janowski, ONDINE)
(Mozart Aria, direcção de Peter Schreier, ONDINE)
Orquestra Gulbenkian, Lawrence Foster (maestro), Soile Isokoski (soprano)
Richard Strauss
Privei com Isokoski (de quem aqui e aqui muito falei), pela primeira vez, em 2000, em Paris, numa extraordinária récita de Don Giovanni, na Bastilha. Soile Isokoski interpretou uma fabulosa Donna Elvira, ladeada pelos não menos magnéticos Don, de Skovhus, e Don Ottavio, de Richard Croft.
Na temporada seguinte, desta feita no Théâtre des Champs-Élysée, na companhia do Alexandre e do David, Isokoski brindou-nos com uma soberba leitura de Vier Letzte Lieder. Na sala, além de nós, não estavam mais de 30 espectadores…
Isokoski – soprano lírico por temperamento e voz – segue o trilho de Schwarzkopf, no tocante à interpretação: opta pela elegância e graciosidade, que cultiva até ao infinito...
A intérprete é senhora de uma voz relativamente pequena, muito disciplinada e refinadíssima. O timbre, longe de ser dos mais belos, tem uma clara afinidade com o requinte e melancolia, circunstância que faz da cantora uma notável mozartiana e straussiana.
Quis o destino que me atrasasse, quinta-feira... Consequentemente, não assisti ao início do epílogo de Capriccio, de Richard Strauss. Nem tão pouco sei se, além do prólogo da ópera, a cena final da mesma foi introduzida pela Mondscheinmusik…
O concerto, para mim, teve início com o monólogo final de Capriccio, que Isokoski iluminou, com a depressividade que o texto convoca. Consciente da perda subjacente à escolha que se impõe (!?), entre poesia e música - respectivamente personificadas por Olivier e Flamand -, a intérprete balanceou, esvoaçante, com uma notável elegância vocal, apoiada numa dicção sem mácula.
O concerto prosseguiu com uma xaropada – a suite para orquestra Le Bourgeois Gentilhomme, op. 60 de Richard Strauss -, dirigida por um xarope-maestro, Foster de sua graça.
Nem um, nem outro merecem mais comentários.
Enfim, a glória foi atingida, por via da leitura de dois excertos de Ariadne auf Naxos, ópera do mesmo Richard Strauss, tendo Isokoski interpretado um Es gibt ein Reich transcendente, radioso e solar, impecavelmente cantado, com uma graciosidade e elegância de antologia.
Aos 50 anos, a voz de Soile Isokoski mantém intactas as qualidades cristalinas que lhe trouxeram fama, sem resquícios de fadiga. Hábil e rica na expressão da dor depressiva (que Richard Strauss tão bem explorou, nomeadamente nas Quatro Últimas Canções, e em personagens como Ariadne e Marschallin) – em todas as suas cambiantes, desde a tristeza até à melancolia absoluta -, Isokoski revelou qualidades técnicas notáveis, apoiando-se numa linha melódica imperturbável, de uma invulgar nobreza.
Posto isto, na actualidade, em matéria de Strauss e Mozart puramente líricos, não há rival para esta intérprete!
Caro leitor, se pretende iniciar-se na arte desta esplêndida intérprete, eis três incontornáveis registos:
(Don Giovanni, dirigido por Abbado, DG)
(Vier Letzte Lieder, dirigidos por Janowski, ONDINE)
(Mozart Aria, direcção de Peter Schreier, ONDINE)
Caro João:
ResponderEliminarE o CD dedicado a Sibelius que lançou em 2006? Vale a pena. Lembro-me de ter passado o Verão desse ano maravilhada por ele.
Gostei do nosso (re)encontro no intervalo do concerto. Abraço.
Cara Teresa,
ResponderEliminarVou aceitar a tua sugestão!
Também gostei muito do nosso rendez-vous, casualíssimo, comme d'habitude ;-)
Mas podemos retomar os encontros - cafés programados, não?
Um beijo para ti