sábado, 31 de março de 2007

"C’est chic ! Madonna m’appelle, et moi je n’y vais pas !"

Imperdível: Nat Dessay - o maior soprano ligeiro de há quinze anos a esta parte (doravante spinto, quiçá?!) -, nesta descontraída entrevista televisiva, revela espontaneidade, humor, simplicidade, descontracção e uma imensa graça!



Para fans, sobretudo! Bah, moi j’en suis un, quoi!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Andrea Chénier, no Met...

... é apenas notícia pela envergadura do tenor, que debutou no papel, na mítica Met!

Heppner sempre me fascinou pelo ecletismo: heldentenor, lirico-spinto, lírico-puro, dramático e, agora, (mais) lírico!

Paris: e vão 4!!!

Não há 3, sem 4!!!

Outro argumento musical para justificar uma deslocação (par)a Paris? A Apresentação de Nelson Freire, e da Osesp, no Châtelet!!!

Sûrement inoubliable !

Paris ao Cubo!!!

Regresso imaginariamente à minha cidade, plena de brilho e luz.

Desta feita, Paris - lírica, ao cubo.

Eis, pois, três bons argumentos musicais em favor de uma urgente ida (par)a Paris:

1. Paixão Segundo S. João, dirigida por Haïm e encenada por Wilson, com Scholl (entre outros intérpretes).
2. Netrebko & Villazon, em concerto.
3. Uma prestação de Van Dam, em Louise (pouco importa a soprano, no caso…).

Posto isto, ainda me pergunto se são necessários argumentos, desta ou de outra natureza?!

terça-feira, 27 de março de 2007

Ópera ou Demais Interesses: eis a questão

Eu não lhe disse, incauto leitor: "Este blog já não é o que era"?!

E a tese da Paternidade???

Retomo o assunto do post anterior, desta feita para uma divagação psicanalítica sobre a vitória de Salazar, no concurso promovido pela RTP.



Com alguma perplexidade, constato ser dada ampla importância a uma questão menor, embora merecedora de uma reflexão.

Pessoalmente, convém-me a tese da não-representatividade: à l’époque de Salazar, pelo pouco que sei do "antigo regime" (a não confundir com o próprio, francamente antecessor), era possível, a um só cidadão, votar infinitas vezes; ironicamente, no concurso de Maria Elisa, tal façanha encontrava-se ao alcance de qualquer um.

Pela parte que me toca, não sei se será pertinente a ilação que muitos retiram da proeza, a saber: o esgotamento da democracia, enquanto modelo de organização global, que peca pela corrupção que propaga, indefinidamente.

Já em termos psicanalíticos, a questão ganha outro colorido e densidade.

Embora a figura de Salazar me repugne visceralmente, pelo estilo e pelo conteúdo, não me adiantarei a bater no ceguinho, por ora.

O que me interessa, aqui, é perceber a motivação mais profunda de um colectivo que, de forma muito explícita – para não dizer esmagadora -, equacionou Salazar – a figura e o legado (?) – à maioridade e grandiosidade.

Ora, não sendo eu um grande conhecedor da História Lusa, arrisco-me a errar, no meu delírio...

Nos meus tempos de liceu, dominava a tese da reencarnação sebastiânica, como a mais elaborada explicação do triunfo de António de Oliveira Salazar.
Não sei se ainda vinga...

Do meu ponto de vista, o suporte dado a Salazar - no citado programa e bem assim noutro tipo de manifestações, mais ou menos dispersas, mais ou menos episódicas - radica num apelo tremendo ao paterno primitivo, símbolo por excelência da autoridade, ordem, determinação, por isso castrante, por isso implacável.

Embora o estilo do ditador primasse pelo provincianismo - entre o saloio e o campestre glicodoce -, na sua mais pura essência, encontram-se características bem afins com uma imago paterna (representação psíquica paterna inconsciente) omnipotente: extrema autoridade, controlo absoluto e poder discricionário.

Creio que, na Lusitânia, o paterno encontra-se, desde longa data, algo oculto por um universo feminino-materno subliminarmente poderoso, não de forma assumida, não de forma explícita. Efectivamente, há já muito que as mães latinas-lusas são mulheres sem homens – ora marinheiros, ora cruzados, ora emigrantes.

Posto isto, apenas vejo no apelo ao despotismo Salazarista - de ontem e de hoje - uma demanda de ordem, rectidão e autoridade. É de um desesperado apelo ao paterno, na sua expressão fálica - actuante - não mais ausente! - que se trata, tão só, do meu ponto de vista!

domingo, 25 de março de 2007

E surgiu BALTAZAR!

Desde já confesso a minha aversão à televisão e respectivos programas de entretenimento, a que raríssimamente assisto. Ainda assim, a propósito de uma reunião de família, deitei um olho ao programa Os Grandes Portugueses de Sempre - será assim? -, onde figuras iluminadas da nossa sociedade defendem com passionalidade os respectivos ídolos nacionais.

Logo a abrir, deparo com Jaime Nogueira Pinto defendendo a figura de Salazar; nada de surpreendente…

De seguida, a histriónica Odete Santos - que obviamente idealiza Cunhal - ridiculariza a figura do déspota bafiento: «O povo que o apoiava era ignorante! Um homem, à chagada a Lisboa, declarou, certo dia:” Estou aqui para ver o BALTAZAR»

Genial, genial!


Mas... Caro leitor... Pergunto agora:" ONDE SE ENCONTRAM OS DEFENSORES DA SÃOZINHA???"

Zedda & Rossini

Nesta notícia, Alberto Zedda - director artístico do Festival de Pesaro e grande, grande maestro rossiniano - compara Molière a Rossini:

"Rossini es el Molière de la ópera. Hace un estudio psicológico de los personajes que contrasta con su música abstracta."

sábado, 24 de março de 2007

Topi Lehtipuu



Cada vez mais, a Finlândia firma a sua centralidade no mundo da lírica!

Depois do colossal Talvela, Salminen, Krause, Silvasti, Groop e das soberbas Mattila e Isokoski, é agora a vez de Topi Lehtipuu, um tenor em franca ascensão!

A seguir?!

sexta-feira, 23 de março de 2007

Do Triunfo



Perguntará o leitor - não sem razão - o que une figures tão radicalmente distintas (?) como Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro e Avelino Ferreira Torres, por exemplo?

Do meu ponto de vista, a resposta é pronta e curta: o Triunfo.

A psicopatologia psicanalítica cedo identificou as noções de Triunfo e Omnipotência, sendo que a primeira dimensão mais não é do que uma manifestação da segunda.

No caso das personalidades enunciadas, o Triunfo denuncia uma impressionante Omnipotência, expressando-se ambas, por exemplo, na impunidade !

Em 1920, Freud publica um texto capital - Para Além do Princípio do Prazer -, onde postula a existência de um outro princípio - o da Realidade -, contrário ao do Prazer.

Ora, justamente por força do Princípio da Realidade - que é introduzido pelo paterno -, instaura-se o primado da lei, na sua acepção mais ampla, vasta e simbólica, portanto.

Por força da instauração do Princípio da Realidade, entre outras consequências, aprendemos - não sem uma elevada dose de frustração, há que dizê-lo! - a submeter-nos à autoridade, abandonando as nossas precoces aspirações hegemónicas. Compreendemos que, independentemente do nosso desejo, o mundo é como é. Queiramos ou não, vivemos entre pares, sendo a coabitação regida pelo princípio universal da submissão à lei!

Criaturas há, contudo, que por razões de vária ordem não integram este fundamental princípio. O mor das vezes, assumem uma conduta triunfal, arrogante, em que, ilusoriamente, a realidade se submete ao desejo individual - e não o inverso. Espantosamente - ou não ! -, com bastante frequência, há uma efectiva submissão da lei ao desejo individual... Nestes casos, assistimos ao triunfo da autarcia.

Até à data, Fátima Felgueiras triunfou sobre a lei, Valentim Loureiro segue-lhe o rasto, já para não mencionar o incontornável Avelino Ferreira Torres, exemplo sumo do despotismo ultra – patológico.

Opéra Comique - 2007 / 2008

Jérôme Deschamps revela a nova temporada da l'Opéra-Comique.

A reter: Gardiner e Christie irão dirigir peças líricas francesas, bem estranhas ao barroco...

Moral da história: os grandes não temem o (dito) repertório menos erudito!

GLUG Didon GLUG & GLUG Aeneas GLUG



Paradoxalmente, Dido and Aeneas, de Purcell, de acordo com a (fascinante) encenação de Sasha Waltz, mete água até à glória!


Apressado, corro a um balcão de uma low cost company, com destino a Londres!!!

A não perder, em Londres - Sadler's Wells -, até Domingo.

Have a nice trip :-)

ps se deseja uma amostra desta prodigiosa recriação, clique aqui.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Da Polémica em torno do Teatro Nacional de São Carlos



Aos beligerantes, prosaicamente, o meu pai recomenda que desfrutem dos prazeres da vida! Tomem uma bebida fresca na esplanada do Largo de São Carlos, comam uma bela e saborosa salada, na mesma esplanada, passeiem com os vossos rebentos, caso os tenham – senão, façam-nos; consta que não é tarefa árdua…

domingo, 18 de março de 2007

Disse-me um passarinho…

…que a DECCA vai reabilitar (mais) alguns tesouros do fundo de catálogo, nomeadamente A Italiana em Argel, com Berganza e Alva, e Agrippina, dirigida por Sir Gardiner!!!



É esperar - ou desesperar, no caso português… - pela chegada destas verdadeiras pérolas da discografia clássica!!!

Die Ägyptische Helena, Met Opera House

A Helena de Tróia de Deborah Voigt parece ter sido notável, na estreia da intérprete no papel, no Met.

Na actualidade, a lírica straussiana mais suave - Ariadne, Daphne, Capriccio, Arabella - tem vindo a ser servida, com grande qualidade, pela magnífica escola americana - Anderson, em Daphne, Fleming, em Capriccio, Voigt, em Ariadne, e Helena de Tróia.

Quanto a Arabella, pessoalmente, acho que a criatura virou finlandesa... if you see what I mean! Guess who?!

Ainda há quem fale em falta de talentos!

TOP 20 - Sopranos

Para os (depressivos) partidários da nostalgia, cultores do passado - ideal, eis uma (quase irrelevante) discussão em torno dos famigerados TOP Something – Sopranos, no caso.

A discussão atinge o seu ponto máximo da esterilidade, ao se produzirem afirmações do seguinte calibre: "Singing isn't what it used to be."

Para ler, à vol d’oiseaux, e esquecer.

sábado, 17 de março de 2007

Talentos líricos nacionais: vencedores do Sequim D´Oiro



Mário Vieira de Carvalho, vencedor na categoria de baixo-baixíssimo, cantor de gabari & charme, domina os papéis do repertório lírico pesado, interpretando-os com grande sentido artístico: mescla O Barão Ochs (O Cavaleiro da Rosa), Basílio (O Barbeiro de Sevilha), Mefistófeles (Fausto, de Gounod, de preferência…) e Scarpia (Tosca).

Quem conhecer os papeis em causa, saberá, por certo, que o denominador comum dos mesmos é a decência, além da verticalidade e da transparência, está claro.

Isabel Pires de Lima, vencedora na categoria de soprano-deslatado, mantém no activo Eboli (Don Carlos), Lulu (da ópera homónima, de Berg), Vitellia (A Clemência de Tito), Marcellina (As Bodas de Fígaro), Azucena (O Trovador), Abigail (Nabucco), para além de Clitemnestra (Electra) e Herodíades (Salomé).

Docinhas, docinhas, ternurentas e bondosas, as personagens criadas por IPL (não confundir com esse pilar da cultura livresca, Instituto Português do Livro!) ameaçam destronar a Sãozinha de todos nós, em matéria de candura e quietude.

Recordo, caro leitor, que o galardão não era atribuído a cantores nacionais, desde os tempos de Maria Armanda Ó Vi Un Rospo, antes do exílio na Brandoa.

E mais não digo, pois para bom entendedor, meia opereta basta...

sexta-feira, 16 de março de 2007

Opéra National de Paris - 2007/2008

À primeira vista, tirando o Wozzeck de Simon Keenlyside, não há grandes motivos para uma deslocação lírica à ONP, na próxima saison.

É esperar pela concorrência parisience - Châtelet e Théâtre des Champs-Élysées.

Entrementes, eis o critério de Mortier, o actual director artístico da Opera Nacional de Paris: "(...) Mortier voit 2007-2008 centrée sur l'homme : l'homme opprimé, dans Wozzeck ou Le Prisonnier, l'artiste dans Tannhäuser ou Cardillac, ou la question de l'initiation dans Parsifal."

Ver-se-á!

Narciso Hvorostovsky Triunfal

Dmitri Hvorostovsky, recital de 13 de Março de 2007, Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian



Há longos anos que sigo a extraordinária carreira do barítono Hvorostovsky.
O intérprete siberiano tem tido um percurso algo sinuoso, com hesitações - Rossini -, logros - Mozart - e triunfos - Verdi e os conterrâneos russos, particularmente da linha romântica.

Dmitri Hvorostovsky, como tive ocasião de dizer, possui uma das mais esplêndidas vozes de barítono lírico que alguma vez escutei. Pouco tendo em comum com Fischer-Dieskau - mais afim com o recato -, Dmitri com ele partilha uma invulgar técnica, circunstância que lhes permite terminarem uma apresentação com a mesma frescura com que a haviam iniciado: sem sombra de fadiga, sem mácula, sem hesitações, nem fraquejos.

Desde há cerca de oito anos - depois do malogrado papel-titular de Don Giovanni que interpretou em Salzburgo -, Hvorostovsky tem vindo a trilhar uma carreira mais decidida: menos ambiciosa, mais centrada num repertório específico.
Verdi, Tchaikovsky, Mussorgsky, Glinka, Borodin e Rimsky-Korsakov, de entre os mais visíveis, vêm conquistando um espaço crescente na carreira do intérprete, com evidente mestria e brilho.

Cada vez mais, os grandes intérpretes da cena lírica mundial fazem apresentações em terras lusas, na plenitude das suas carreiras. Tal foi o caso de Dmitri Hvorostovsky, cuja voz parece ter atingido o seu apogeu.

Embora não seja particularmente grande, a voz deste cantor goza de uma invulgar projecção, propagando-se sem esforço algum. Se o timbre é belo e aristocrático, pleno de virilidade e robustez, a técnica é olímpica, apoiando decididamente os graves, sustentando com brilho hercúleo os agudos.
Sem a mais discreta nota de esforço, sem estridência, nem acrobacias de mau gosto.
É obra, digo-vos!

Hvorostovsky tem, contudo, um indisfarçável calcanhar-de-Aquiles: a vaidade, que o trai, invariavelmente, ditando maneirismos - a mímica de macho (por exemplo, nem sempre consentânea com a tonalidade dos textos), os arrebates, as tiradas histriónicas despropositadas, etc.

Os grandes como tu, caro Dmitri, enfatizam a palavra e a melodia, servindo-as com humildade; dão vida, sentido e brilho à obra, não a ofuscando com a figura!

No essencial, o recital centrou-se no repertório russo, particularmente no romantismo - , Tchaikovsky, Mussorgsky, Glinka e Dargomizhsky - e nas extensões mais contemporâneas do mesmo movimento - Rachmaninov e Medtner.

São conhecidas as afinidades do romantismo com a lógica depressiva, cuja psicologia se enlaça estreitamente com masoquismo, perda e idealização. A poesia romântica expressa o vivido depressivo, recorrendo a uma simbólica não muito diversificada, que reenvia, o mor das vezes, à noite, ocaso, crepúsculo, trevas e finitude, para citar as mais recorrentes.

Ora, do meu ponto de vista, Hvorostovsky revelou dificuldades interpretativas na expressão desta dinâmica ditada pela ansiedade de perda, respondendo paradoxalmente à solicitação dos textos! Por exemplo, onde Tchaikovsky convoca tristeza e finitude, o intérprete responde com pujança e tenacidade, bordejando a bravura!

Arrisco considerar que o cantor se socorreu primordialmente de mecanismos de defesa maníacos, expressando a depressão sob a capa da euforia...

Ainda assim, considerei particularmente feliz a sua leitura das Canções e Danças da Morte, de Mussorgsky, ciclo marcado pela vertente mais macabra da morte, onde a necrofilía e a perversidade se expandem, afirmando-se o triunfo da pulsão de morte!

Neste capítulo, que para mim constituiu o ponto alto do recital, Dmitri Hvorostovsky foi tremendo, ilustrando com indesmentível genialidade a substância da poesia: pura necrofilia vocal e artística, eivada de malícia, onde o horror e a brutalidade dilacerante se afirmam! Arrepiante...

Caso o fiel e paciente leitor pretenda uma amostra deste ciclo - embora em versão orquestral, que ainda me agrada mais - , interpretado pelo barítono Hvorostovsky, despudoradamente remeto-o para este artigo!

segunda-feira, 12 de março de 2007

Helena von Voigt



Nesta notícia, temos uma antevisão da Ägyptische Helena, de Richard Strauss, proposta por Deborah Voigt, que interpretará muito em breve o papel titular da ópera no Met.

A Ópera do(s) Malandro(s)?



A última vez que um jornal português - Expresso - se associou à ópera, foi a catástrofe!
Desta feita, é o DN...

À medida que a coisa for correndo, direi de minha justiça. Prometo!

Dmitri Hvorostovsky, em Lisboa



Na próxima terça-feira, dia 13 de Março, o barítono siberiano Dmitri Hvorostovsky apresenta-se em recital, na Gulbenkian, num programa inteiramente dedicado à canção russa. Destaco as Canções e danças da morte, de Modest Mussorgsky, que Hvorostovsky interpreta como ninguém, na actualidade (vide este post)

Em meu entender, caro leitor, nos dias que correm, há três baritonos de excepção: Terfel, na ópera, Goerne, no lied, e Hvorostovsky, na canção (e ópera) russa.

Há bem pouco tempo, tive a felicidade de o ver actuar, como Onegin (na opera homónima), no Met. Inolvidável!!!

Trata-se, sem sombra de dúvida, da mais bela voz de barítono lírico que conheço, nos nossos dias.

A não perder!!!

Comme d’habitude, Dissoluto & Dissoluta lá estarão, ele sem smoking, ela sem peles.

domingo, 11 de março de 2007

I Puritani – Metropolitan Opera House – Récita de 05.02.2007



Os Puritanos, de Bellini, representam com propriedade a ópera belcantista, característica de inícios do século XIX: sobre uma trama histórica sem grande relevância, as vozes são convidadas a piruetas pelos domínios do sobre-agudo; requer-se muita disciplina, muita técnica, muito floreado e apenas algum talento dramático.

De entre a produção operática de Bellini, I Puritani é um produto de segunda, abafado por A Sonâmbula, esmagado por Norma.

Se é verdade que o belcanto demanda uma técnica vocal superlativa, não menos verdadeira é a circunstância de reclamar a presença de uma primadonna. De facto, a escola belcantista – Rossini, Donizetti e Bellini –, como nenhuma outra, escrevia e produzia, sobretudo, para estrelas femininas.

Ora, esta récita não foi excepção à regra! O Met contratara, nem mais, nem menos, do que a estrela lírica do momento: Anna Netrebko. No passado, para o mesmo papel, contámos com Sutherland e Sills, além de Swenson, que vestiu a pele de Elvira em finais de 1990.

Este conjunto de récitas de I Puritani apoiou-se numa já velha e datada produção dos anos 1970, estreada pelas estrelas líricas da época – Sutherland & Pavarotti, Milnes e Morris.

A produção de Sandro Sequi assenta num hiper-realismo grandioso, prolixo em efeitos marmoreados, com veludo a metros; tudo muito à l´époque, com cenários de dimensões impressionantes: castelos imensos, fontes grandiosas, jardins amplos, enfim... A pobre bela-adormecida, perto desta grandiosidade, corroer-se-ia de inveja!

Da encenação, pouco há a destacar. Sharon Thomas investe no ultra-convencional: as “meninas” exprimem a felicidade dando piruetas sobre si mesmas, os rapazes falam de amor com a mão direita sobre o coração...
Diria tratar-se de uma movimentação cénica muito datada, e algo bafienta...

No tocante a intérpretes, a coisa piou mais fininho.
Globalmente, a distribuição revelou grande homogeneidade, pautando-se pela mestria.

Pessoalmente, nada tenho contra as divas, sobretudo se o estatuto de que gozam decorre de um talento invulgar. Ora, se além de talentosa, a diva for bela, tanto melhor.

Netrebko é, no mínimo, de uma beleza espantosa, cálida e envolvente; uma actriz sólida e de uma elegância assinalável.

Anna Netrebko compôs uma Elvira pueril e complexa - na inocência, na joie, na insanidade -, vocalmente... arrebatadora! Até vê-la ao vivo, sempre duvidei do seu real valor artístico, devo assinalar.

Sem sombra de estridência e / ou de esforço, projecta agudos naturalíssimos e graciosos, quase luminosos. O timbre é belíssimo, singular, não sendo a voz particularmente grande.

Peca pela dicção deficiente - absolutamente incompreensível, sobretudo nas passagens de coloratura -, sendo indiscutivelmente mais lírica do que spinto - a técnica, a ornamentação, a coloratura, contêm hesitações...

Do meu ponto de vista, Netrebko será tanto mais convincente, quanto investir nos recitativos e na técnica.

Quanto a Gregory Kunde - Lord Arturo -, estupidamente, há muito que lhe vaticinam o ocaso vocal. É mentira!

Recordo o notável Elvino que compôs no TNSC, em 1999, ladeado pela estupenda Swenson (que, no MET, precedeu Netrebko, justamente em I Puritani, em 1998, como disse).

Kunde mantém o estilo belcantista, disciplinado e rico em ornamentos. Porventura, estará um pouco menos seguro nas vocalizações; ainda assim, os agudos mantêm a solidez de há anos.

O Arturo de tenor norte-americano é rico em emoção e afecto, sendo bastante convincente teatralmente.

Por fim, uma palavra para Patrick Summers, que dirigiu uma das mais extraordinárias orquestras do mundo, em matéria de ópera (romântica, sobretudo, diga-se em abono da verdade...). Embora a sua direcção privilegiasse o peso da massa orquestral, Summers revelou mestria, cuidado e atenção no lirismo, permitindo aos cantores brilharem, nunca os abafando. Confesso que, de início, temi o pior, tal não era o volume da orquestra !
Numa palavra, diria ter realizado um trabalho convencional, mas eficaz.

Enfim, esta récita de I Puritani constituiu um momento marcado pelo brilho vocal, apesar do descrito convencionalismo, teatral, musical e visual.

I´m Back ;-)

Depois de uma intensa e absorvente actividade clínica e académica, regresso à carga!
Para já, como prometido, aqui vai uma detalhada apreciação crítica do que vi por terras do tio Sam!

sábado, 3 de março de 2007

(4º)1bsk



Parabéns, meu Caro Alexandre!
Não me canso de repetir que, pela tua mão, o VERDE assumiu outro brilho.
Na blogosfera, não tens paralelo.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Disse-me um passarinho



Eis uma boa nova, que teima em chegar...

Stemme, no meu entender, combina melhor com o lírico-dramático wagneriano - Elisabeth, do Tannhäuser, Elsa, de Lohengrin, Senta, para não mencionar os Wesendonck Lieder - do que com o eminentemente dramático do mesmo Wagner - Isolde.

Ainda assim, creio que a sua leitura de As Quatro Últimas Canções, de Richard Strauss, obra maior, frequentemente interpretada por sopranos líricos - Schwarzkopf, Della Casa, Studer, Fleming, Isokoski, and so on - constituirá motivo de interesse.

Ver-se-á...

Viagra, Impotência ou a Derrota do Narcisismo Fálico



O duelo de titãs - Granadeiro vs Belmiro - parece ter terminado.
Granadeiro leva a melhor, desferindo um duro golpe em Belmiro.

A derrota do Sr. SONAE só prova que a omnipotência lhe é estranha.

Com todo o mérito, há em Belmiro de Azevedo um inquestionável espírito empreendedor.
Desde há muito que nos habituámos à sua procura de identificação absoluta com o poder, procura essa subsidiária de um narcisismo de tipo claramente fálico.

O poder, nas suas múltiplas acepções, mais não é do que o supremo revelador da aspiração fálica.

Mas, Senhor Engenheiro, queira V.Exa ou não, a famigerada ansiedade de castração, que Freud tão bem definiu, ainda é um organizador psíquico, prova da nossa finita e imperfeita - mas suprema! - condição humana.


Moral da história: Belmiro não mais poderá dizer "Isto nunca me tinha acontecido… Não sei o que se passou…" diante de uma prosaica investida amorosa falhada, if you see what I mean