Retomo o assunto do post anterior, desta feita para uma divagação psicanalítica sobre a vitória de Salazar, no concurso promovido pela RTP.
Com alguma perplexidade, constato ser dada ampla importância a uma questão menor, embora merecedora de uma reflexão.
Pessoalmente, convém-me a tese da não-representatividade: à l’époque de Salazar, pelo pouco que sei do "antigo regime" (a não confundir com o próprio, francamente antecessor), era possível, a um só cidadão, votar infinitas vezes; ironicamente, no concurso de Maria Elisa, tal façanha encontrava-se ao alcance de qualquer um.
Pela parte que me toca, não sei se será pertinente a ilação que muitos retiram da proeza, a saber: o esgotamento da democracia, enquanto modelo de organização global, que peca pela corrupção que propaga, indefinidamente.
Já em termos psicanalíticos, a questão ganha outro colorido e densidade.
Embora a figura de Salazar me repugne visceralmente, pelo estilo e pelo conteúdo, não me adiantarei a bater no ceguinho, por ora.
O que me interessa, aqui, é perceber a motivação mais profunda de um colectivo que, de forma muito explícita – para não dizer esmagadora -, equacionou Salazar – a figura e o legado (?) – à maioridade e grandiosidade.
Ora, não sendo eu um grande conhecedor da História Lusa, arrisco-me a errar, no meu delírio...
Nos meus tempos de liceu, dominava a tese da reencarnação sebastiânica, como a mais elaborada explicação do triunfo de António de Oliveira Salazar.
Não sei se ainda vinga...
Do meu ponto de vista, o suporte dado a Salazar - no citado programa e bem assim noutro tipo de manifestações, mais ou menos dispersas, mais ou menos episódicas - radica num apelo tremendo ao paterno primitivo, símbolo por excelência da autoridade, ordem, determinação, por isso castrante, por isso implacável.
Embora o estilo do ditador primasse pelo provincianismo - entre o saloio e o campestre glicodoce -, na sua mais pura essência, encontram-se características bem afins com uma imago paterna (representação psíquica paterna inconsciente) omnipotente: extrema autoridade, controlo absoluto e poder discricionário.
Creio que, na Lusitânia, o paterno encontra-se, desde longa data, algo oculto por um universo feminino-materno subliminarmente poderoso, não de forma assumida, não de forma explícita. Efectivamente, há já muito que as mães latinas-lusas são mulheres sem homens – ora marinheiros, ora cruzados, ora emigrantes.
Posto isto, apenas vejo no apelo ao despotismo Salazarista - de ontem e de hoje - uma demanda de ordem, rectidão e autoridade. É de um desesperado apelo ao paterno, na sua expressão fálica - actuante - não mais ausente! - que se trata, tão só, do meu ponto de vista!
Com alguma perplexidade, constato ser dada ampla importância a uma questão menor, embora merecedora de uma reflexão.
Pessoalmente, convém-me a tese da não-representatividade: à l’époque de Salazar, pelo pouco que sei do "antigo regime" (a não confundir com o próprio, francamente antecessor), era possível, a um só cidadão, votar infinitas vezes; ironicamente, no concurso de Maria Elisa, tal façanha encontrava-se ao alcance de qualquer um.
Pela parte que me toca, não sei se será pertinente a ilação que muitos retiram da proeza, a saber: o esgotamento da democracia, enquanto modelo de organização global, que peca pela corrupção que propaga, indefinidamente.
Já em termos psicanalíticos, a questão ganha outro colorido e densidade.
Embora a figura de Salazar me repugne visceralmente, pelo estilo e pelo conteúdo, não me adiantarei a bater no ceguinho, por ora.
O que me interessa, aqui, é perceber a motivação mais profunda de um colectivo que, de forma muito explícita – para não dizer esmagadora -, equacionou Salazar – a figura e o legado (?) – à maioridade e grandiosidade.
Ora, não sendo eu um grande conhecedor da História Lusa, arrisco-me a errar, no meu delírio...
Nos meus tempos de liceu, dominava a tese da reencarnação sebastiânica, como a mais elaborada explicação do triunfo de António de Oliveira Salazar.
Não sei se ainda vinga...
Do meu ponto de vista, o suporte dado a Salazar - no citado programa e bem assim noutro tipo de manifestações, mais ou menos dispersas, mais ou menos episódicas - radica num apelo tremendo ao paterno primitivo, símbolo por excelência da autoridade, ordem, determinação, por isso castrante, por isso implacável.
Embora o estilo do ditador primasse pelo provincianismo - entre o saloio e o campestre glicodoce -, na sua mais pura essência, encontram-se características bem afins com uma imago paterna (representação psíquica paterna inconsciente) omnipotente: extrema autoridade, controlo absoluto e poder discricionário.
Creio que, na Lusitânia, o paterno encontra-se, desde longa data, algo oculto por um universo feminino-materno subliminarmente poderoso, não de forma assumida, não de forma explícita. Efectivamente, há já muito que as mães latinas-lusas são mulheres sem homens – ora marinheiros, ora cruzados, ora emigrantes.
Posto isto, apenas vejo no apelo ao despotismo Salazarista - de ontem e de hoje - uma demanda de ordem, rectidão e autoridade. É de um desesperado apelo ao paterno, na sua expressão fálica - actuante - não mais ausente! - que se trata, tão só, do meu ponto de vista!
A culpa da vitória do Salazar, sob o qual vivi 17 anos, foi principalmente dos comunistas, que tudo fizeram para o opor ao Cunhal, que seria, como governante, bem pior do que o Senhor Presidente do Conselho.Eu no tempo dele nem sabia bem o que era um primeiro-ministro. E a resposta foi a que se viu. Quanto ao Aristides Sousa Mendes, certamente um grande homem, um grande coração e uma enorme coragem. Mas digam-me o que fez ele como português e para os portugueses para estar entre os dez melhores ? Claro que tenho os meus top 10, mas reservo essas coisas para a ópera.
ResponderEliminarRaul
Ao escreveres "glicodoce", pretenderias escrever "delicodoce"?
ResponderEliminarDeliciou-me, esse novo adjectivo tão pleonástico num sentido nutricional, já que os doces, tecnicamente, são glícidos, embora também sejam, quando bem confeccionados, deliciosos.
Raul,
ResponderEliminarPode avançar com o seu top-10 Herói Luso ;-)))
David,
ResponderEliminarÀ la Camões, "Viste claramente visto"!
D.Afonso Henriques
ResponderEliminarD.Dinis
Dom Nuno Álvares Pereira
Infante Dom Henrique
D. João II
Vasco da Gama
Dom Francisco de Almeida
Afonso de Albuquerque
Luís de Camões
Marquês de Pombal
Quam mais poderia ser ?
Raul
E que tal os dez piores ?
ResponderEliminarRaul
Raul,
ResponderEliminarTarde a a más horas, aqui vai uma proposta:
António de Oliveira Salazar
Fátima Felgueiras
Valentim Loureiro
Avelino Ferreira Torres
Armando Vara
Joaquim Pina Moura
Mário Vieira de Carvalho
João Soares
Teresa Costa Macedo
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