Demain!
Et demain encore le soleil brillera,
et sur la route que j´emprunterai,
il nous réunira, êtres bienheureux,
au sein de cette terre respirant sa lumière...
Et nous descendrons à pas lents et paisibles
vers cette grève immense aux vagues bleues,
sans dire un mot, nous nous regarderons dans les yeux,
enveloppés dans le silence du bonheur...
John Henry Mackay
Sobre esta interminável e singela alusão à Felicidade - uma das mais expressivas -, Richard Strauss compôs um dos mais sublimes lieder que conheço...
A história conta com interpretações notáveis deste lied.
Fleming (DECCA 458 858-2) pela pureza, Schwarzkopf (EMI 7243 5 66908 2 0) pela melancolia, Isokoski (ODE 982-2) pela singeleza, Schäfer (DG 457 582-2) pela humanidade...
Para a minha Mulher...
Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
quinta-feira, 28 de abril de 2005
quarta-feira, 27 de abril de 2005
Peter Sellers e Bill Viola: (ainda) Wagner como pano de fundo
Eis a resposta de Bill Viola, quando questionado pelo L´EXPRESS, sobre a temática da monumental ópera wagneriana:
"(...) Wagner a créé là un véritable mythe. Dans notre vision de Tristan, il y a donc avant tout des êtres humains: les chanteurs sur la scène. Ils font face à la religion et à la nature. Ils ont un pied dans le monde réel, celui des passions et des déceptions, et un autre dans l'univers spirituel. C'est là qu'intervient mon film, projeté sur le fond de scène pendant les quatre heures que dure la représentation. Une tension naît de la confrontation constante entre ces deux mondes, une tension qui est l'essence même de la vie. Avec la vidéo, je souhaitais créer un monde d'images existant parallèlement à l'action scénique, un monde poétique pouvant servir de support à nos vies intérieures. "
A não perder a entrevista conjunta desta dupla, ainda a propósito da já mítica nova produção de Tristão e Isolda, na Bastille...
A não perder a entrevista conjunta desta dupla, ainda a propósito da já mítica nova produção de Tristão e Isolda, na Bastille...
terça-feira, 26 de abril de 2005
Apparition...
Pouco-a-pouco, as comemorações das efemérides vão-se esbatendo...
Sinal dos tempos, que não renegando os momentos de ruptura, os assimilam, tornando-os seus...
...cravos vermelhos...assentes em verde, num fundo luminoso...
A posteriori, eis a minha singela referência à efeméride.
Penso, como muitos, que o 26º dia do mês de Abril contém a marca indelével da mudança.
O que terá isto a ver com Christine Schäfer?
Comecei o post a pensar nela...
A 25, trocaram-nos as voltas, para sempre.
A 26, foi a vez de Schäfer nos trocar as voltas, alterando radicalmente o programa do seu recital, a ponto de não ter havido tempo para a elaboração de uma nova brochura, que o serviço de música da Gulbenkian sempre cria com esmero e dedicação.
Havia-nos acenado com Wolf, Wagner e Purcell. Acabou a dar-nos Brahms, Debussy e Crumb.
Pelo que depreendo, o propósito de qualquer um dos programas visava, além de exibir as afinidades de Schäfer com os citados compositores, expressar a sua abrangência de repertório, a sua versatilidade interpretativa.
No que a mim me diz respeito, teria dado um ano da minha vida para escutar a proposta de leitura da interprete alemã dos Wesendonck-Lieder, ciclo que Wagner dedicara a uma das suas muitas musas... Matilde W., no caso.
Hélas... Assim não o permitiram as circunstâncias...
Confesso ter apreciado esta mudança de planos ! É assim que nos criam surpresas, que se exibem talentos novos, que se conhecem outros criadores !
By the way, foi numa substituição de última hora que Renata Scotto - a par de muitos outros caso de sucesso na lírica e demais territórios da música - rompeu com o anonimato, ao substituir a Callas, numa récita de La Sonnambula, de Bellini.
A circunstância de não ter programa, em lugar de me aborrecer, fascinou-me ! Imaginei-me em Tóquio, perdido, à procura de coisa nenhuma... não dominando o idioma nativo: O belo é-o, independentemente das palavras, pensei, nesta tarde de surpresas.
O recital teve início com Brahms, que sempre me entedia, a menos que se trate de Um Requiem Alemão, peça maior do repertório.
Apenas a figura de Schäfer rompeu com a tradição, na interpretação deste autor ainda romântico: vestido negro, bem cintado, com transparências ousadas, a bela Christine, contida, não ousou grande coisa... Brahms não me pareceu excitá-la, sendo que, a mim, quse me adormeceu...
As leituras dos lieder, invariavelmente, rimavam com monotonia, sendo pouco expressivas e muito limitadas nas interpretações. A própria técnica parecia algo comprometida. Imaginei-me em frente a uma tela, sem variações algumas nos tons...
Parti para o intervalo em «banho-maria»... à espera de um rasgo, de uma nova troca de voltas !
Em Debussy, começou a vislumbrar-se a tão desejada mudança.
O primeiro ciclo da noite - As Cantilenas Esquecidas - foi interpretado com mais empenho.
Apreciei as impressões - termo tão caro, quando se evoca Debussy... - expressas.
A interpretação das canções revelou mais envolvência e afinidades com o território abordado.
Plus on avance, plus elle est à l´aise...
Recordo que, apesar da versatilidade a que Schäfer aspira (nem sempre óbvia...), a cantora destacou-se e afirmou-se na interpretação de compositores pós-românticos - como Debussy e Chausson - e, sobretudo, Modernos, tais como Richard Strauss, Berg e Schoenberg.
Quando Eric Schneider e C. Shäfer regressaram ao palco, para interpretarem o último compositor da noite, deu-e o milagre ! Adianto a minha ignorância assumida, tanto no que ao criador toca - Crumb -, como à criatura - Apparitions...
Segundo reza o policopiado distribuido pelo serviço de música da FCB, George Crumb (Charleston, West Virginia - EUA -, nascido em 1929) é um compositor algo marginal, remetendo as suas criações para temas caros à metafísica.
O tema de Apparitions assenta numa referência descritiva a experiências relacionadas com a morte, sendo inspirado num poema de Walt Whitman - When Lilacs Last in the Dooryard Bloom´s, integrado numa colectânea de poemas organizados sob a designação Memories of President Lincoln, composição de contornos elegíacos, inspirada na morte do presidente americano assassinado.
Schneider regressou em camisa, de um branco maculado; Schäfer abeirou-se do piano, dele e nele retirando e colocando, alternadamente, partituras !
Branco e negro, numa simbiose que se avizinhava perfeita, plena de ousadia, rasgo e espontaneidade - a fazer (re)lembrar o clima de uma revolução, eternamente presente -, a dupla brilhou, rompendo com as mais elementares regras da apresentação em palco !!
Tudo constituiu uma surpresa... Visual, sonora, estética, plástica...
O pianista convencional, rigoroso e contido, num ápice, tornou-se num exímio percussionista, de uma agilidade e fulgor estonteantes; Schäfer, despudorada, seguiu-o... A emissão dos vocalizos roçou a luminosidade absoluta ! As Apparitions eram constantes, envolvidas numa jogo técnico seguro e sólido... O brilho era outro !!
Levitei... a metafísica do texto, por si só, não teria produzido semelhante efeito !
Nesta genial interpretação, marcada pela ruptura, pelo despudor e pela transcendência, reconheci o talento de uma das mais hábeis (re)criadoras da música Moderna...
Qual crisálida imóvel, presa de uma dolorosa e penosa metamorfose, eis que Schäfer atingiu a plenitude, esvoaçando graciosa...
dIVINA(OS)...
Sinal dos tempos, que não renegando os momentos de ruptura, os assimilam, tornando-os seus...
...cravos vermelhos...assentes em verde, num fundo luminoso...
A posteriori, eis a minha singela referência à efeméride.
Penso, como muitos, que o 26º dia do mês de Abril contém a marca indelével da mudança.
O que terá isto a ver com Christine Schäfer?
Comecei o post a pensar nela...
A 25, trocaram-nos as voltas, para sempre.
A 26, foi a vez de Schäfer nos trocar as voltas, alterando radicalmente o programa do seu recital, a ponto de não ter havido tempo para a elaboração de uma nova brochura, que o serviço de música da Gulbenkian sempre cria com esmero e dedicação.
Havia-nos acenado com Wolf, Wagner e Purcell. Acabou a dar-nos Brahms, Debussy e Crumb.
Pelo que depreendo, o propósito de qualquer um dos programas visava, além de exibir as afinidades de Schäfer com os citados compositores, expressar a sua abrangência de repertório, a sua versatilidade interpretativa.
No que a mim me diz respeito, teria dado um ano da minha vida para escutar a proposta de leitura da interprete alemã dos Wesendonck-Lieder, ciclo que Wagner dedicara a uma das suas muitas musas... Matilde W., no caso.
Hélas... Assim não o permitiram as circunstâncias...
Confesso ter apreciado esta mudança de planos ! É assim que nos criam surpresas, que se exibem talentos novos, que se conhecem outros criadores !
By the way, foi numa substituição de última hora que Renata Scotto - a par de muitos outros caso de sucesso na lírica e demais territórios da música - rompeu com o anonimato, ao substituir a Callas, numa récita de La Sonnambula, de Bellini.
A circunstância de não ter programa, em lugar de me aborrecer, fascinou-me ! Imaginei-me em Tóquio, perdido, à procura de coisa nenhuma... não dominando o idioma nativo: O belo é-o, independentemente das palavras, pensei, nesta tarde de surpresas.
O recital teve início com Brahms, que sempre me entedia, a menos que se trate de Um Requiem Alemão, peça maior do repertório.
Apenas a figura de Schäfer rompeu com a tradição, na interpretação deste autor ainda romântico: vestido negro, bem cintado, com transparências ousadas, a bela Christine, contida, não ousou grande coisa... Brahms não me pareceu excitá-la, sendo que, a mim, quse me adormeceu...
As leituras dos lieder, invariavelmente, rimavam com monotonia, sendo pouco expressivas e muito limitadas nas interpretações. A própria técnica parecia algo comprometida. Imaginei-me em frente a uma tela, sem variações algumas nos tons...
Parti para o intervalo em «banho-maria»... à espera de um rasgo, de uma nova troca de voltas !
Em Debussy, começou a vislumbrar-se a tão desejada mudança.
O primeiro ciclo da noite - As Cantilenas Esquecidas - foi interpretado com mais empenho.
Apreciei as impressões - termo tão caro, quando se evoca Debussy... - expressas.
A interpretação das canções revelou mais envolvência e afinidades com o território abordado.
Plus on avance, plus elle est à l´aise...
Recordo que, apesar da versatilidade a que Schäfer aspira (nem sempre óbvia...), a cantora destacou-se e afirmou-se na interpretação de compositores pós-românticos - como Debussy e Chausson - e, sobretudo, Modernos, tais como Richard Strauss, Berg e Schoenberg.
Quando Eric Schneider e C. Shäfer regressaram ao palco, para interpretarem o último compositor da noite, deu-e o milagre ! Adianto a minha ignorância assumida, tanto no que ao criador toca - Crumb -, como à criatura - Apparitions...
Segundo reza o policopiado distribuido pelo serviço de música da FCB, George Crumb (Charleston, West Virginia - EUA -, nascido em 1929) é um compositor algo marginal, remetendo as suas criações para temas caros à metafísica.
O tema de Apparitions assenta numa referência descritiva a experiências relacionadas com a morte, sendo inspirado num poema de Walt Whitman - When Lilacs Last in the Dooryard Bloom´s, integrado numa colectânea de poemas organizados sob a designação Memories of President Lincoln, composição de contornos elegíacos, inspirada na morte do presidente americano assassinado.
Schneider regressou em camisa, de um branco maculado; Schäfer abeirou-se do piano, dele e nele retirando e colocando, alternadamente, partituras !
Branco e negro, numa simbiose que se avizinhava perfeita, plena de ousadia, rasgo e espontaneidade - a fazer (re)lembrar o clima de uma revolução, eternamente presente -, a dupla brilhou, rompendo com as mais elementares regras da apresentação em palco !!
Tudo constituiu uma surpresa... Visual, sonora, estética, plástica...
O pianista convencional, rigoroso e contido, num ápice, tornou-se num exímio percussionista, de uma agilidade e fulgor estonteantes; Schäfer, despudorada, seguiu-o... A emissão dos vocalizos roçou a luminosidade absoluta ! As Apparitions eram constantes, envolvidas numa jogo técnico seguro e sólido... O brilho era outro !!
Levitei... a metafísica do texto, por si só, não teria produzido semelhante efeito !
Nesta genial interpretação, marcada pela ruptura, pelo despudor e pela transcendência, reconheci o talento de uma das mais hábeis (re)criadoras da música Moderna...
Qual crisálida imóvel, presa de uma dolorosa e penosa metamorfose, eis que Schäfer atingiu a plenitude, esvoaçando graciosa...
dIVINA(OS)...
quinta-feira, 21 de abril de 2005
Uma antevisão de Fausto, no Met
Estreia amanhã, no Met, uma nova produção de Fausto, com a assinatura de Serban - alvíssaras !
Ironicamente, há alguns posts, a propósito da crise que a Metropolitan Opera House atravessa, sugeria eu, na minha humildade, que se entregassem produções - necessariamente mais ousadas, de ruptura - a figuras mais controversas !
Nem de propósito, na maior das salas do Lincoln Center, eis uma nova produção, com a marca de Serban - a segunda, note-se, sendo que a primeira (Benvenuto Cellini, de Berlioz) data de 2003 !
Não sendo grande apreciador desta ópera de Gounod, recomendo uma olhadela pelo trabalho de Andrei Serban - de quem vi uma Lucia, na Bastilha, em 2001, que desencadeou reacções antagónicas, viscerais, algumas bem coléricas !
Pelo menos, este produtor romeno tem o condão de não gerar consensos... qual Zeffirelli, pela negativa !
Aqui, o N Y Times apresenta-nos uma antevisão desta nova produção, que conta com um elenco promissor, a começar pelo mais elegante dos actuais tenores, no repertório francês do século XIX: Alagna. O que dele se diz à côté - vedetismo, luxúria, etc. -, para o caso, não tem relevância alguma !
Em Berlioz, Donizzetti - Lucie, versão francesa da Lucia - e em Gounod - no Fausto, em especial -, pela nobreza, pelo lirismo, pelo estilo e pelo domínio da língua, não tem rivais !
A ver vamos...
Ironicamente, há alguns posts, a propósito da crise que a Metropolitan Opera House atravessa, sugeria eu, na minha humildade, que se entregassem produções - necessariamente mais ousadas, de ruptura - a figuras mais controversas !
Nem de propósito, na maior das salas do Lincoln Center, eis uma nova produção, com a marca de Serban - a segunda, note-se, sendo que a primeira (Benvenuto Cellini, de Berlioz) data de 2003 !
Não sendo grande apreciador desta ópera de Gounod, recomendo uma olhadela pelo trabalho de Andrei Serban - de quem vi uma Lucia, na Bastilha, em 2001, que desencadeou reacções antagónicas, viscerais, algumas bem coléricas !
Pelo menos, este produtor romeno tem o condão de não gerar consensos... qual Zeffirelli, pela negativa !
Aqui, o N Y Times apresenta-nos uma antevisão desta nova produção, que conta com um elenco promissor, a começar pelo mais elegante dos actuais tenores, no repertório francês do século XIX: Alagna. O que dele se diz à côté - vedetismo, luxúria, etc. -, para o caso, não tem relevância alguma !
Em Berlioz, Donizzetti - Lucie, versão francesa da Lucia - e em Gounod - no Fausto, em especial -, pela nobreza, pelo lirismo, pelo estilo e pelo domínio da língua, não tem rivais !
A ver vamos...
terça-feira, 19 de abril de 2005
Bajazet de Vivaldi, d´après Biondi
Après un Stabat Mater sublime (veritas 7243 5 45474 2 3), une interprétation légendaire de Les Quatre Saisons, Fábio Biondi et l´orchestre Europa Galante reviennent sur Vivaldi, cette fois-ci pour enregistrer Bajazet, l´un des opéras du célèbre compositeur vénitien.
J´avoue ne pas le posséder, pour le moment... Mais, bientôt, je compte l´acquérir, surtout suite aux interminables compliments du journal Le Monde et du magazine Diapason (Diapason d´Or en avril dernier).
Cliquez ici pour en avoir d´autres détailles.
segunda-feira, 18 de abril de 2005
Crónica d´O Desejo - I: histeria, perversão, psicanálise (e Mattila, enfim continuada)
Nos (diversos) posts que consagrei ao percurso e à minha devoção incondicional por La Mattila, sempre evitei falar, em profundidade, da sua interpretação de Salomé...
C´est vrai que l´argent fait (presque) tout ! Et, quand on n´en a pas... Quando temos um orçamento limitado, a coisa torna-se complicada: temos de fazer opções !
Assim fiz !
Na passada temporada, graças à tradução de um livro (Psicologia da Personalidade - CLIMEPSI) - tarefa que empreendi, estoicamente, durante três intermináveis meses -, eu e a minha mulher fomos a Nova-Iorque, entre outras coisas (leia-se, entre outras récitas...) para assistir à nova produção da citada ópera de R. Strauss, especialmente concebida para a cantora finlandesa.
Se o vil-metal não constituísse problema para as nossas finanças, não teria hesitado em assistir à Salome-Mattila da Bastilha, asseguro-vos !
A personagem Salomé, tanto na caracterização de Wild, como na de Strauss, é de uma complexidade tremenda, do ponto de vista psicológico.
Ambos são exímios no delineamento da perversão, que resume o essencial do funcionamento psicológico da personagem central, tanto da peça, como da ópera.
Aliás - permita-se-me o parêntesis -, o libreto é quase um decalque da peça, tendo Strauss, aqui e ali, suprimido alguns trechos da dita peça, que considerou acessórios e dispensáveis, depreendo eu.
Ao falar de perversão, faço-o em termos psicanalíticos.
Quando Freud utilizava este termo, na sua acepção clínica - nomeadamente, a propósito da sexualidade infantil... lá iremos, um dia -, fazia-o com um intuito muito claro, que pouco tinha que ver com depreciação, desvalorização, ou qualquer outra intenção pejorativa, como hoje se observa.
A sexualidade perversa, na lógica freudiana, é aquela que não envolve os genitais, ou seja, tudo o que se situa aquém ou além da cópula. Voilà !
Na actualidade, o termo perversão - mercê das múltiplas e desconfortáveis conotações com o desvio, a imoralidade e a promiscuidade, para citar, apenas, os mais correntes -, em termos psicopatológicos, foi substituído pela designação parafilía.
Quoi qu´il en soit, admitamo-lo: entre os clínicos, continuamos a falar de perversão e de carácter perverso !
Efectivamente, como disse, a personagem Salomé, da ópera homónima de Strauss, é imensamente complexa !
Comecei pelo fim, na minha interpretação do seu funcionamento, quando concluí pela linha da perversão.
Entre outros aspectos, o que há de fascinante na construção da personagem é a sua progressão - refiro-me à leitura de inspiração psicopatológica...
Salomé, desde o início da ópera, apresenta traços claramente histéricos.
Uma tremenda e irresistível sedutora, Salomé é uma jovem insinuante, que tudo procura alcançar por via da sedução. O contacto e as relações têm, invariavelmente, a marca da erotização... Acresce a estes traços, o capricho !
A própria natureza da relação que mantém com a mãe e com o padrasto - marcada pela rivalidade, com a mãe, e pelo desejo vs repulsa pelo padrasto, que ousa disputar com a progenitora - apresenta contornos edipianos, tão caros às personalidades histéricas.
À medida que a trama progride, o volte-face começa a vislumbrar-se... Diante a resistência de João Baptista - quiçá o primeiro a resistir aos encantos da princesa -, ferida de morte no seu narcicísmo, a jovem exibe outra dimensão, bem mais complexa e perturbada.
O desejo da posse assume, então, contornos obsessivos, mas Salomé - hélas - é uma mulher perversa.
O seu estilo relacional cede lugar a uma lógica de subordinação ao interesse e desejo, sendo que estes têm subjacente a marca de uma sexualidade distorcida, na sua acepção mais plena: do desejo, inicial, pelo homem pleno, à obstinação pela parte do mesmo...
A jovem, num rasgo insano e necrófilo - perverso, em absoluto -, acaba por copular com uma parte de João Baptista.
A parte, em lugar do todo, constitui outra das diferenças que separa a sexualidade genital - a adulta -, da perversa ! A explicitação deste traço fundamental, na ópera, via Salomé, é imensa ! Única, diria eu, tanto quanto a memória me permite alcançar...
Regressemos a Mattila, que foi perversa por dez récitas: cinco na Bastilha, cinco no Met...
Não tendo formação psicológica alguma - les grands acteurs n´en ont pas besoin, car il leur suffit le talent ! -, Karita Mattila foi capaz de assimilar todas as dimensões que enunciei, compondo uma personagem densa e exuberante; foi particularmente bem conseguida a expressão da tríade capricho-desejo-sedução ! Aliás, a própria interprete manuseia estes traços com particular habilidade... em todas as suas interpretações.
Durante a récita, no ar, sentia-se o odor do desejo, a volúpia pairava...
Notável, ainda, foi a ousadia com que deu corpo à sensualíssima dança dos sete véus... Quanto(a) e(x / r)otismo...
Recordo que a grande maioria das interpretes que encarnaram, on stage, a Salomé, socorreram-se de um duplo, neste momento da ópera. Mais que não seja, como se imagina, dançar durante cerca de oito minutos para, quase de seguida, ter de afrontar uma colossal cena final - que arranca as visceras à cantora -, de mais de um quarto de hora, é ousado !
Obviamente que La Mattila recusou o recurso à dupla, tal como Malfitano, na saudosa produção de Bondy... Embora por razões diferentes, creio eu...
A cena final foi um orgasmo... Longo, longo, longo ! LE petit-mort absolu !
Quanta entrega, quanta insanidade...
Inépuisable, telle était-elle...
Pelo caminho, deixo a referência da minha Salomé de eleição: Sinopoli, 1991 (DG 431 810-2), com Studer, no papel titular, de uma luminosidade inigualável, plena de sensualidade e beleza... vocais !
O João Baptista desta interpretação é Terfel. Não conheço nenhum melhor ! Seguramente o mais sólido e viril, malgré son choix...
Mais il n´y a jamais deux sans trois ! A Herodias desta gravação é uma das mais sólidas Salomés de outrora: Rysanek.
A interpretação de Solti (DECCA), com B. Nilsson no papel titular é outra referência. Apesar das inúmeras virtude desta gravação e da plenitude de meios da interprete sueca, pessoalmente, soa-me sempre a Brunnhilde, numa espécie de figura composita... uma síntese de Salomé com a citada heroína wagneriana, a roçar o brutal !
Por aqui me fico, pois a prosa vai longa e o trabalho (ainda) me espera !
Aqui ficam mais algumas fotos (interditas a menores de 18, como se dizia no tempo da outra senhora) da produção nova-iorquina desta monumental encarnação de Karita Mattila.
Um agradecimento muito especial a CAD, em nota de roda-pé.
Por tudo.
Será esta uma identificação plena ?
C´est vrai que l´argent fait (presque) tout ! Et, quand on n´en a pas... Quando temos um orçamento limitado, a coisa torna-se complicada: temos de fazer opções !
Assim fiz !
Na passada temporada, graças à tradução de um livro (Psicologia da Personalidade - CLIMEPSI) - tarefa que empreendi, estoicamente, durante três intermináveis meses -, eu e a minha mulher fomos a Nova-Iorque, entre outras coisas (leia-se, entre outras récitas...) para assistir à nova produção da citada ópera de R. Strauss, especialmente concebida para a cantora finlandesa.
Se o vil-metal não constituísse problema para as nossas finanças, não teria hesitado em assistir à Salome-Mattila da Bastilha, asseguro-vos !
A personagem Salomé, tanto na caracterização de Wild, como na de Strauss, é de uma complexidade tremenda, do ponto de vista psicológico.
Ambos são exímios no delineamento da perversão, que resume o essencial do funcionamento psicológico da personagem central, tanto da peça, como da ópera.
Aliás - permita-se-me o parêntesis -, o libreto é quase um decalque da peça, tendo Strauss, aqui e ali, suprimido alguns trechos da dita peça, que considerou acessórios e dispensáveis, depreendo eu.
Ao falar de perversão, faço-o em termos psicanalíticos.
Quando Freud utilizava este termo, na sua acepção clínica - nomeadamente, a propósito da sexualidade infantil... lá iremos, um dia -, fazia-o com um intuito muito claro, que pouco tinha que ver com depreciação, desvalorização, ou qualquer outra intenção pejorativa, como hoje se observa.
A sexualidade perversa, na lógica freudiana, é aquela que não envolve os genitais, ou seja, tudo o que se situa aquém ou além da cópula. Voilà !
Na actualidade, o termo perversão - mercê das múltiplas e desconfortáveis conotações com o desvio, a imoralidade e a promiscuidade, para citar, apenas, os mais correntes -, em termos psicopatológicos, foi substituído pela designação parafilía.
Quoi qu´il en soit, admitamo-lo: entre os clínicos, continuamos a falar de perversão e de carácter perverso !
Efectivamente, como disse, a personagem Salomé, da ópera homónima de Strauss, é imensamente complexa !
Comecei pelo fim, na minha interpretação do seu funcionamento, quando concluí pela linha da perversão.
Entre outros aspectos, o que há de fascinante na construção da personagem é a sua progressão - refiro-me à leitura de inspiração psicopatológica...
Salomé, desde o início da ópera, apresenta traços claramente histéricos.
Uma tremenda e irresistível sedutora, Salomé é uma jovem insinuante, que tudo procura alcançar por via da sedução. O contacto e as relações têm, invariavelmente, a marca da erotização... Acresce a estes traços, o capricho !
A própria natureza da relação que mantém com a mãe e com o padrasto - marcada pela rivalidade, com a mãe, e pelo desejo vs repulsa pelo padrasto, que ousa disputar com a progenitora - apresenta contornos edipianos, tão caros às personalidades histéricas.
À medida que a trama progride, o volte-face começa a vislumbrar-se... Diante a resistência de João Baptista - quiçá o primeiro a resistir aos encantos da princesa -, ferida de morte no seu narcicísmo, a jovem exibe outra dimensão, bem mais complexa e perturbada.
O desejo da posse assume, então, contornos obsessivos, mas Salomé - hélas - é uma mulher perversa.
O seu estilo relacional cede lugar a uma lógica de subordinação ao interesse e desejo, sendo que estes têm subjacente a marca de uma sexualidade distorcida, na sua acepção mais plena: do desejo, inicial, pelo homem pleno, à obstinação pela parte do mesmo...
A jovem, num rasgo insano e necrófilo - perverso, em absoluto -, acaba por copular com uma parte de João Baptista.
A parte, em lugar do todo, constitui outra das diferenças que separa a sexualidade genital - a adulta -, da perversa ! A explicitação deste traço fundamental, na ópera, via Salomé, é imensa ! Única, diria eu, tanto quanto a memória me permite alcançar...
Regressemos a Mattila, que foi perversa por dez récitas: cinco na Bastilha, cinco no Met...
Não tendo formação psicológica alguma - les grands acteurs n´en ont pas besoin, car il leur suffit le talent ! -, Karita Mattila foi capaz de assimilar todas as dimensões que enunciei, compondo uma personagem densa e exuberante; foi particularmente bem conseguida a expressão da tríade capricho-desejo-sedução ! Aliás, a própria interprete manuseia estes traços com particular habilidade... em todas as suas interpretações.
Durante a récita, no ar, sentia-se o odor do desejo, a volúpia pairava...
Notável, ainda, foi a ousadia com que deu corpo à sensualíssima dança dos sete véus... Quanto(a) e(x / r)otismo...
Recordo que a grande maioria das interpretes que encarnaram, on stage, a Salomé, socorreram-se de um duplo, neste momento da ópera. Mais que não seja, como se imagina, dançar durante cerca de oito minutos para, quase de seguida, ter de afrontar uma colossal cena final - que arranca as visceras à cantora -, de mais de um quarto de hora, é ousado !
Obviamente que La Mattila recusou o recurso à dupla, tal como Malfitano, na saudosa produção de Bondy... Embora por razões diferentes, creio eu...
A cena final foi um orgasmo... Longo, longo, longo ! LE petit-mort absolu !
Quanta entrega, quanta insanidade...
Inépuisable, telle était-elle...
Pelo caminho, deixo a referência da minha Salomé de eleição: Sinopoli, 1991 (DG 431 810-2), com Studer, no papel titular, de uma luminosidade inigualável, plena de sensualidade e beleza... vocais !
O João Baptista desta interpretação é Terfel. Não conheço nenhum melhor ! Seguramente o mais sólido e viril, malgré son choix...
Mais il n´y a jamais deux sans trois ! A Herodias desta gravação é uma das mais sólidas Salomés de outrora: Rysanek.
A interpretação de Solti (DECCA), com B. Nilsson no papel titular é outra referência. Apesar das inúmeras virtude desta gravação e da plenitude de meios da interprete sueca, pessoalmente, soa-me sempre a Brunnhilde, numa espécie de figura composita... uma síntese de Salomé com a citada heroína wagneriana, a roçar o brutal !
Por aqui me fico, pois a prosa vai longa e o trabalho (ainda) me espera !
Aqui ficam mais algumas fotos (interditas a menores de 18, como se dizia no tempo da outra senhora) da produção nova-iorquina desta monumental encarnação de Karita Mattila.
Um agradecimento muito especial a CAD, em nota de roda-pé.
Por tudo.
Será esta uma identificação plena ?
domingo, 17 de abril de 2005
Met: crise, finanças, audiências, estrelas e demais questões
Este artigo (The New York Times) descreve e explica, parcialmente, a crise que o Met atravessa.
Apresentar-se no Met, para qualquer cantor lírico, constitui um momento-chave. Doravante, tudo pode mudar: du jour au lendemain, a carreira pode sofrer uma verdadeira revolução ! Um artista semi-desconhecido pode ser catapultado para o estrelato, depois de uma récita feliz na célebre sala de Nova-Iorque.
Pelo menos, era assim que a coisa funcionava, até há bem pouco tempo...
O que será que explica a tremenda quebra das audiências - com tudo o que se lhe associa - que a mais mítica das salas de ópera do mundo atravessa ?
Segundo M. GUREWITSCH - autor do artigo em questão -, a crise explica-se por uma constelação de acontecimentos: 11/09, depreciação do USD face ao euro - que se reflecte nos cachets pagos aos artistas, muitos furos abaixo dos auferidos nos teatros líricos do velho continente -, etc.
Curiosamente, não se aponta o dedo a aspectos como a falta de apostas determinadas em novos talentos, a manutenção de um estilo canastrão das produções, um conservadorismo decadente, etc. !
Uma vez, numa fase outonal da sua singular e gloriosa carreira, Kraus disse: «Não faltam talentos, faltam é mestres !». Teria ele razão ?
Apetece-me lançar um desafio: se quisermos estrear uma nova produção do Ring, no Met, no Châtelet ou ailleurs, teremos à nossa disposição um naipe de cantores à altura do acontecimento, como se verificava até aos anos 70 ?
J´en doute fort !
Bom... esta é outra questão, para debater num outro post...
No meio de toda esta polémica, não deixa de ser verdade que adquirir bilhetes para as grandes salas líricas europeias constitui um desafio à criatividade...
Ainda assim, no Met, contrariamente ao que o autor do artigo diz, já assisti a várias récitas esgotadíssimas, algumas delas, na mesma temporada...
Sou um optimista e acho que as crises são geradoras de mudanças, muitas das vezes benéficas !
Pode ser que a nova administração do Met (da era pós-Volpe) passe a encomendar mais produções a gente ousada - Bondy, Serban, Vick, Freyer e Sellars, entre outros -, pode ainda ser que cantores como Véronique Gens, Sophie Koch, Patricia Ciofi, Lorenzo Regazzo, A. Hagley, etc., menos conhecidos, mas tão ou mais talentosos do que outros que regularmente aí se apresentam, passem a encabeçar os elencos !
Espera-se uma viragem !
Apresentar-se no Met, para qualquer cantor lírico, constitui um momento-chave. Doravante, tudo pode mudar: du jour au lendemain, a carreira pode sofrer uma verdadeira revolução ! Um artista semi-desconhecido pode ser catapultado para o estrelato, depois de uma récita feliz na célebre sala de Nova-Iorque.
Pelo menos, era assim que a coisa funcionava, até há bem pouco tempo...
O que será que explica a tremenda quebra das audiências - com tudo o que se lhe associa - que a mais mítica das salas de ópera do mundo atravessa ?
Segundo M. GUREWITSCH - autor do artigo em questão -, a crise explica-se por uma constelação de acontecimentos: 11/09, depreciação do USD face ao euro - que se reflecte nos cachets pagos aos artistas, muitos furos abaixo dos auferidos nos teatros líricos do velho continente -, etc.
Curiosamente, não se aponta o dedo a aspectos como a falta de apostas determinadas em novos talentos, a manutenção de um estilo canastrão das produções, um conservadorismo decadente, etc. !
Uma vez, numa fase outonal da sua singular e gloriosa carreira, Kraus disse: «Não faltam talentos, faltam é mestres !». Teria ele razão ?
Apetece-me lançar um desafio: se quisermos estrear uma nova produção do Ring, no Met, no Châtelet ou ailleurs, teremos à nossa disposição um naipe de cantores à altura do acontecimento, como se verificava até aos anos 70 ?
J´en doute fort !
Bom... esta é outra questão, para debater num outro post...
No meio de toda esta polémica, não deixa de ser verdade que adquirir bilhetes para as grandes salas líricas europeias constitui um desafio à criatividade...
Ainda assim, no Met, contrariamente ao que o autor do artigo diz, já assisti a várias récitas esgotadíssimas, algumas delas, na mesma temporada...
Sou um optimista e acho que as crises são geradoras de mudanças, muitas das vezes benéficas !
Pode ser que a nova administração do Met (da era pós-Volpe) passe a encomendar mais produções a gente ousada - Bondy, Serban, Vick, Freyer e Sellars, entre outros -, pode ainda ser que cantores como Véronique Gens, Sophie Koch, Patricia Ciofi, Lorenzo Regazzo, A. Hagley, etc., menos conhecidos, mas tão ou mais talentosos do que outros que regularmente aí se apresentam, passem a encabeçar os elencos !
Espera-se uma viragem !
Linha dos Nodos... A não perder !
Ah, malandro, retribuo eu !
Então revitalizas o teu blog e não dizes nada ?
De estilo inusitado, escrita fluida, humor (inspirado no) inglês, o mais físico dos meus amigos retoma uma actividade há muito (?) interrompida... o endereço do dito blog virá no fim, para terem de ler tudo, até lá !
Somos muito amigos, conhecemo-nos em Paris, tomámos litros de chá na RAG, e assistimos a alguns concertos memoráveis.
Se estou, hoje, na mais do que virtual blogosfera, é graças ao empurrão que ele me deu !
By the way, ele sabe mais de Saturno do que eu de ópera, o que não sei se é muito abonatório...
Aqui está o endereço do blog do David.
Um abraço :))
Então revitalizas o teu blog e não dizes nada ?
De estilo inusitado, escrita fluida, humor (inspirado no) inglês, o mais físico dos meus amigos retoma uma actividade há muito (?) interrompida... o endereço do dito blog virá no fim, para terem de ler tudo, até lá !
Somos muito amigos, conhecemo-nos em Paris, tomámos litros de chá na RAG, e assistimos a alguns concertos memoráveis.
Se estou, hoje, na mais do que virtual blogosfera, é graças ao empurrão que ele me deu !
By the way, ele sabe mais de Saturno do que eu de ópera, o que não sei se é muito abonatório...
Aqui está o endereço do blog do David.
Um abraço :))
sábado, 16 de abril de 2005
La vie parisienne, d´Offenbach, à Paris
Cet article, paru sur le Monde, m´a fait penser aux problèmes de la défense des produits culturels nationaux - portugais, en l´occurrence.
Bien que je n´apprécie pas ce sub-type d´opéra, j´en reconnais l´indéniable importance, notamment en France.
A mon avis, produire et mettre-en-scène un opéra-bouffe d´Offenbach - le grand Minkowski le fait, depuis trois saison au Théâtre du Châtelet - fait preuve d´une fierté qui devrait faire l´object d´une réflexion de la part des intellectuels portugais: au fond, il s´agit de défendre, diffuser et perpétuer un produit culturel national!
A moins que je me trompe, depuis dix ans, au Teatro Nacional de São Carlos - l´opéra national de Lisbonne - un seul opéra portugais - et encore... -, d´un compositeur portugais non contemporain, a été à l´affiche : A Serrana, de A. Keil
Bien que je n´apprécie pas ce sub-type d´opéra, j´en reconnais l´indéniable importance, notamment en France.
A mon avis, produire et mettre-en-scène un opéra-bouffe d´Offenbach - le grand Minkowski le fait, depuis trois saison au Théâtre du Châtelet - fait preuve d´une fierté qui devrait faire l´object d´une réflexion de la part des intellectuels portugais: au fond, il s´agit de défendre, diffuser et perpétuer un produit culturel national!
A moins que je me trompe, depuis dix ans, au Teatro Nacional de São Carlos - l´opéra national de Lisbonne - un seul opéra portugais - et encore... -, d´un compositeur portugais non contemporain, a été à l´affiche : A Serrana, de A. Keil
Incontornáveis I: Prima la opera...
Coloquei algumas das minhas referências musicais predilectas, em matéria de ópera (em exclusivo) - Prima la opera... - na coluna da direita, bem mais abaixo...
...dopo, la musica (aquém e além da ópera...), numa próxima ocasião...
...dopo, la musica (aquém e além da ópera...), numa próxima ocasião...
quinta-feira, 14 de abril de 2005
Musiques au coeur
Musiques au coeur est une émission entièrement consacrée à la diffusion musicale, pas du tout pédante, qui compte avec la participation de différents intervenants, assez à l´aise dans le métier de la critique, qui proposent des bilans sur de nombreuses interprétations, sans pour autant les détruire - chose rare !
Sur France 2, tous les lundis, à 1:25 h (une heure de plus au Portugal !) ... heureusement que ça passe aussi sur Mezzo, tous les jeudis, à 20:50 !
Sur France 2, tous les lundis, à 1:25 h (une heure de plus au Portugal !) ... heureusement que ça passe aussi sur Mezzo, tous les jeudis, à 20:50 !
...ainda Tristão
Eis o site oficial de Ben Heppner, exemplo sumo do Heldentenor, que encarna Tristão, na nova produção da ópera de Wagner (montada por Sellars, em Paris), acontecimento a que tenho aludido nos últimos dias.
Heppner é senhor de uma potência estonteante, que alia a um lirismo memorável !
A sua versatilidade é um prodígio.
Inigualável e sem concorrentes - no presente - em Wagner (Tristão, Lohengrin e Walter), intensamente dramático em Verdi (particularmente no Otello, que encarnou, nesta temporada, no Met), interpreta Britten (Peter Grimes) com uma densidade espantosamente humana ! Vi-o neste último papel, em 2001, na Bastilha... Comecei a lacrimejar, terminei a soluçar... A fazer lembrar Vickers - seu conterrâneo -, peso-pesado Wagneriano (Tristão), Verdiano (Otello e Radamés) e Grimes incontornável.
Ironicamente, alguma imprensa reputada - e algo necrófila, diria eu... - vislumbrou o canto-do-cisne, na temporada de 2001, em virtude das (passageiras) dificuldades vocais exibidas pelo tenor canadiano.
Heppner aí está, esbofeteando com a luva branca do seu desmesurado talento aqueles que o enterraram antes de tempo !
Nesta temporada, apresentou-se na Gulbenkian, perante uma plateia reduzida a metade. Lisboa tem destas coisas...
Deixo-vos com o mais luminoso e ágil Walter da discografia, que Ben Heppner encarnou três vezes - Sawallisch (DECCA´1994), Solti (DECCA´1997) e Levine (DG´02, em dvd).
Se o primeiro registo beneficia de uma frescura e jovialidade vocais, da parte de Heppner, apresenta um naipe de solistas algo heterogéneo - Weikl, em particular, claramente desadequado; o segundo - que é uma preciosidade, com o inigualável Hans Sachs de Van Dam -, e o terceiro registos têm o plus da mais sólida e completa Eva da actualidade... de seu nome... Karita Mattila !
Aqui vai, então, a referência que contém a mais extraordinária interpretação de Ben Heppner, na pele de Walter von Stolzing:
Tristan und Isolde à Bastille: enfin, la critique
Je viens de lire l´une des critiques (parue sur Le Monde) de la première de Tristan und Isolde, qui a eu lieu hier soir, à Bastille...
Soit l´opinion émise est partielle, soit le miracle s´est effectivement produit...
J´ai les larmes aux yeux, pendant cette rédaction et je n´arrête pas de maudire le jour où je n´ai pas pris de places pour cette soirée, prévisiblement remarquable...
Un moment d´interminable poésie, telle était le désir du compositeur...
Au fond, j´écoute la légendaire ouverture de l´opéra, sous la baguette de Kleiber...
Soit l´opinion émise est partielle, soit le miracle s´est effectivement produit...
J´ai les larmes aux yeux, pendant cette rédaction et je n´arrête pas de maudire le jour où je n´ai pas pris de places pour cette soirée, prévisiblement remarquable...
Un moment d´interminable poésie, telle était le désir du compositeur...
Au fond, j´écoute la légendaire ouverture de l´opéra, sous la baguette de Kleiber...
quarta-feira, 13 de abril de 2005
Ainda e Sempre Wagner... O Crepúsculo das gravações em estúdio
Em Janeiro passado, o The Independent, o New York Times e a Diapason oficializaram um rumor que há muito circulava nos meios editoriais: Tristão e Isolda, com Domingo e Stemme, dirigidos por Pappano, seria a derradeira gravação em estúdio de uma ópera.
Como amante de ópera que sou, não fiquei indiferente diante deste facto - tudo leva a crer - inexorável...
A polémica Live vs Estudio, no que à gravação de opera concerne, tem animado, desde há décadas, um aceso debate.
Se os partidários das gravações ao vivo, nos espaços próprios - que são as salas de ópera - se assumem como defensores acérrimos da espontaneidade e do purismo, os apoiantes da gravação em estúdio fundamentam a sua opção, nomeadamente, no respeito escrupuloso pelas partituras e na possibilidade de se produzirem artigos próximos da perfeição, ainda que, em certo sentido, artificialmente...
A minha posição - que não é ortodoxa - não se revê em nenhuma destas extremadas teses. Creio haver espaço para ambos os registos.
Aliás, a história da edição de música é prolixa em artigos que desmentem as extremadas posições que acima caracterizei, desconstruindo os argumentos que cada uma delas aduz !
Senão, vejamos o caso de Tristão e Isolda.
Desta monumental ópera, tenho 9 registos, sendo dois em dvd.
Porque será que figura entre as melhores interpretações a de Furtwangler, com Flagstad ?
Et pourtant, todos sabemos que, nas passagens mais agudas, Schwarzkopf emprestou a sua ágil voz à interprete oficial da gravação, já entradota na idade, by the time !
A gravação de Bohm, com Windgassen e Nilsson, em meu entender, encontra-se, também, entre as melhores interpretações desta ópera. Trata-se de um live, captado em 66... e sem batota !
E a fogosa leitura de Fritz Reiner, com Melchior e Flagstad (novíssima !), igualmente captada ao vivo, em Covent Garden ??
Baralhemos a coisa...
Carlos Kleiber realizou, da ópera em debate, uma prodigiosa gravação, paradigmática do artificialismo.
O (divino) maestro escolheu M. Price para encarnar a heroína feminina...
Na altura, esta escolha fez correr tinta e mais tinta, tendo alguns vaticinado uma catástrofe !
O milagre produziu-se, estando aí para quem tiver dúvidas.
Price - que nunca abordou o papel, em cena, por lhe escaparem os recursos necessários - aceitou o desafio do maestro. Acedeu em gravar o papel, ao longo de intermináveis sessões (durante dois anos !), em estúdio.
Domingo chegou a assinar contrato com a direcção de Bayreuth para interpretar Tristão, sob proposta de Barenboim. Porém, à última da hora, cancelou as récitas. Num gesto de inteligência e de humildade disse que, se o tivesse encarnado, a sua voz pagaria uma factura elevadíssima, comprometendo o resto da sua carreira ! Note-se que este episódio teve lugar em inícios da década de 90, quando o interprete se lançou, em pleno, na interpretação dos papeis de heldentenor !
Para finalizar - e para provar quão etéreas são as ortodoxas posições pró e contra o estúdio / live - proponho que se comparem as duas gravações realizadas por Karajan.
A primeira, captada em Bayreuth, com Modl e Vinay, é prodigiosa, rica, colossal e homogénea; a segunda, apenas é salva pelo Tristão de Vickers, contando com uma das mais desastrosas Isoldas da discografia: Dernesch... Nem o estúdio ajudou !
Creio haver espaço para ambas as formas de registo, cuja qualidade em nada tem que ver com o local e a forma de captação !
Outra coisa é o final das gravações em estúdio - trágica notícia, essa sim...-, por questões estritamente financeiras, absolutamente estranhas à polémica a que aludi neste post...
Como amante de ópera que sou, não fiquei indiferente diante deste facto - tudo leva a crer - inexorável...
A polémica Live vs Estudio, no que à gravação de opera concerne, tem animado, desde há décadas, um aceso debate.
Se os partidários das gravações ao vivo, nos espaços próprios - que são as salas de ópera - se assumem como defensores acérrimos da espontaneidade e do purismo, os apoiantes da gravação em estúdio fundamentam a sua opção, nomeadamente, no respeito escrupuloso pelas partituras e na possibilidade de se produzirem artigos próximos da perfeição, ainda que, em certo sentido, artificialmente...
A minha posição - que não é ortodoxa - não se revê em nenhuma destas extremadas teses. Creio haver espaço para ambos os registos.
Aliás, a história da edição de música é prolixa em artigos que desmentem as extremadas posições que acima caracterizei, desconstruindo os argumentos que cada uma delas aduz !
Senão, vejamos o caso de Tristão e Isolda.
Desta monumental ópera, tenho 9 registos, sendo dois em dvd.
Porque será que figura entre as melhores interpretações a de Furtwangler, com Flagstad ?
Et pourtant, todos sabemos que, nas passagens mais agudas, Schwarzkopf emprestou a sua ágil voz à interprete oficial da gravação, já entradota na idade, by the time !
A gravação de Bohm, com Windgassen e Nilsson, em meu entender, encontra-se, também, entre as melhores interpretações desta ópera. Trata-se de um live, captado em 66... e sem batota !
E a fogosa leitura de Fritz Reiner, com Melchior e Flagstad (novíssima !), igualmente captada ao vivo, em Covent Garden ??
Baralhemos a coisa...
Carlos Kleiber realizou, da ópera em debate, uma prodigiosa gravação, paradigmática do artificialismo.
O (divino) maestro escolheu M. Price para encarnar a heroína feminina...
Na altura, esta escolha fez correr tinta e mais tinta, tendo alguns vaticinado uma catástrofe !
O milagre produziu-se, estando aí para quem tiver dúvidas.
Price - que nunca abordou o papel, em cena, por lhe escaparem os recursos necessários - aceitou o desafio do maestro. Acedeu em gravar o papel, ao longo de intermináveis sessões (durante dois anos !), em estúdio.
Domingo chegou a assinar contrato com a direcção de Bayreuth para interpretar Tristão, sob proposta de Barenboim. Porém, à última da hora, cancelou as récitas. Num gesto de inteligência e de humildade disse que, se o tivesse encarnado, a sua voz pagaria uma factura elevadíssima, comprometendo o resto da sua carreira ! Note-se que este episódio teve lugar em inícios da década de 90, quando o interprete se lançou, em pleno, na interpretação dos papeis de heldentenor !
Para finalizar - e para provar quão etéreas são as ortodoxas posições pró e contra o estúdio / live - proponho que se comparem as duas gravações realizadas por Karajan.
A primeira, captada em Bayreuth, com Modl e Vinay, é prodigiosa, rica, colossal e homogénea; a segunda, apenas é salva pelo Tristão de Vickers, contando com uma das mais desastrosas Isoldas da discografia: Dernesch... Nem o estúdio ajudou !
Creio haver espaço para ambas as formas de registo, cuja qualidade em nada tem que ver com o local e a forma de captação !
Outra coisa é o final das gravações em estúdio - trágica notícia, essa sim...-, por questões estritamente financeiras, absolutamente estranhas à polémica a que aludi neste post...
ainda Isolda...
Wlatraud Meier - interprete alemã de estirpe - tem a particularidade inusitada de abordar papeis de mezzo e de soprano dramático.
Na sequência dos recentes post dedicados à nova produção de Tristão e Isolda, a ter lugar na Opéra Bastille, dedico este à mais consistente cantora wagneriana da actualidade, que interpretará o mais complexo papel de soprano que Wagner alguma vez compôs.
Meier iniciou-se em papeis de mezzo, dedicando-se em pleno, sensivelmente a partir de finais dos anos 80, às grandes figuras wagnerianas - Kundry, Vénus, Ortrud, Sieglinde, Isolda -, cujas soberbas interpretações a catapultaram para os grandes teatros líricos.
No momento presente, apesar do seus imensos dotes interpretativos permanecerem intocáveis, a voz começa a dar sinais de fadiga, que se expressam num vibrato algo incómodo... Ainda assim, vê-la em cena é um privilégio ! Tanto mais que, além da grande, jovem e bela Nina Stemme - que triunfou no papel de Isolda, no último festival de Glyndebourne e que acaba de gravar o papel para a EMI, ao lado de Domingo -, não existem cantoras aptas a encarnar a orgulhosa princesa !
Falar-me-ão de Eaglen e de Voigt...
Bom, Jane Eaglen canta, não interpreta ! É certo que a sua compleição física a limita em grande escala... A verdade é que, apesar de possuir uma resistência e uma robustez ímpares, as suas encarnações da amante de Tristão não convencem o maior dos deslumbrados ! Veja-se a sua Isolda, em dvd, ao lado de Heppner, dirigida por Levine, no Met...
Voigt, que gravou o papel em questão, em Viena, sob a direcção de Thielemann, nada acrescenta às lendárias interpretações da heroína da Cornualha.
Waltraud Meier, por altura da sua estreia em Bayreuth na pele de Isolda, obteve o que poucos interpretes podem orgulhar-se de alguma vez aí terem tido: uma standing-ovation, durante loooooongos minutos !
Se é verdade que o Festival de Bayreuth já contou com melhores intérpretes, em abono do rigor, deve dizer-se que o público que frequenta a sala da colina é particularmente exigente, não pactuando com exibições histriónicas inconsistentes, nem com maneirismo !
Razões de sobra, pois, para assistir a uma das récitas, que terão lugar de 12 de Abril a 7 de Maio !
A interprete alemã conta com dois registos da personagem: um em cd (com Jerusalem, dirigidos por Barenboim) e um em dvd (com West, sob a direcção de Mehta).
Em meu entender, nenhum dos registos merece grande investimento, ainda que a Isolda de qualquer um deles se destaque, pela densidade, pela nobreza, pela fierté, enfim !
Recentemente, descobri o site oficial desta grande artista, que contém informações interessantes, particularmente no que se refere à discografia e à agenda !
Na sequência dos recentes post dedicados à nova produção de Tristão e Isolda, a ter lugar na Opéra Bastille, dedico este à mais consistente cantora wagneriana da actualidade, que interpretará o mais complexo papel de soprano que Wagner alguma vez compôs.
Meier iniciou-se em papeis de mezzo, dedicando-se em pleno, sensivelmente a partir de finais dos anos 80, às grandes figuras wagnerianas - Kundry, Vénus, Ortrud, Sieglinde, Isolda -, cujas soberbas interpretações a catapultaram para os grandes teatros líricos.
No momento presente, apesar do seus imensos dotes interpretativos permanecerem intocáveis, a voz começa a dar sinais de fadiga, que se expressam num vibrato algo incómodo... Ainda assim, vê-la em cena é um privilégio ! Tanto mais que, além da grande, jovem e bela Nina Stemme - que triunfou no papel de Isolda, no último festival de Glyndebourne e que acaba de gravar o papel para a EMI, ao lado de Domingo -, não existem cantoras aptas a encarnar a orgulhosa princesa !
Falar-me-ão de Eaglen e de Voigt...
Bom, Jane Eaglen canta, não interpreta ! É certo que a sua compleição física a limita em grande escala... A verdade é que, apesar de possuir uma resistência e uma robustez ímpares, as suas encarnações da amante de Tristão não convencem o maior dos deslumbrados ! Veja-se a sua Isolda, em dvd, ao lado de Heppner, dirigida por Levine, no Met...
Voigt, que gravou o papel em questão, em Viena, sob a direcção de Thielemann, nada acrescenta às lendárias interpretações da heroína da Cornualha.
Waltraud Meier, por altura da sua estreia em Bayreuth na pele de Isolda, obteve o que poucos interpretes podem orgulhar-se de alguma vez aí terem tido: uma standing-ovation, durante loooooongos minutos !
Se é verdade que o Festival de Bayreuth já contou com melhores intérpretes, em abono do rigor, deve dizer-se que o público que frequenta a sala da colina é particularmente exigente, não pactuando com exibições histriónicas inconsistentes, nem com maneirismo !
Razões de sobra, pois, para assistir a uma das récitas, que terão lugar de 12 de Abril a 7 de Maio !
A interprete alemã conta com dois registos da personagem: um em cd (com Jerusalem, dirigidos por Barenboim) e um em dvd (com West, sob a direcção de Mehta).
Em meu entender, nenhum dos registos merece grande investimento, ainda que a Isolda de qualquer um deles se destaque, pela densidade, pela nobreza, pela fierté, enfim !
Recentemente, descobri o site oficial desta grande artista, que contém informações interessantes, particularmente no que se refere à discografia e à agenda !
terça-feira, 12 de abril de 2005
Au sujet de la nouvelle production de Tristan und Isolde...
... a entrevista que B. Viola concede ao Le Monde, a propósito da nova produção de Tristão e Isolda, na Bastilha, deixa-nos água na boca, além de nos fazer pensar na (complexa) visão wagneriana do amor, particularmente na ópera em questão, onde - de forma (ainda) mais grandiosa - amor é equacionado a purificação, redenção e morte, epítetos complementares à já trivial transcendência...
Du coup, proponho duas interpretações notáveis (entre outras) desta ópera:
Du coup, proponho duas interpretações notáveis (entre outras) desta ópera:
domingo, 10 de abril de 2005
Divino Wotan...
Terfel encarnou o mais terreno dos deuses: Wotan, magistral criação wagneriana, desta feita n´A Valquíria...
O New York Times dá conta desta fabulosa interpretação, que teve lugar em Covent Garden, prosseguindo até 15 de Julho, e que conta, ainda, com as presenças de Meier e Domingo, verdadeiras referências da interpretação wagneriana..."Arriving there with Mr. Pappano and the orchestra is Bryn Terfel in the role of Wotan, which he is singing for the first time, outstandingly. This is a god becoming a man, and growing. In the early stages of the second act, he finds places where he can let a phrase run loose a little, green and fresh, before he pulls it tight again. Then, as he is cornered by his wife, Fricka -- sternly and strongly portrayed by Rosalind Plowright -- he exchanges the easy confidence of command for a force born of awareness and experience. You hear this happening in his slow, soft turns within a trap from which he cannot escape. ''I can do what I will'' is changing into ''I will do what I must.''
The ''will'' is the same. Mr. Terfel's Wotan from this point abandons suavity to gain massively and musically in power. He sings, of course, what is written. Yet he seems to be improvising: to be Wotan. Just as, in his physical presence, he makes every gesture and movement come from the character, so his singing -- always absorbing, always purposeful -- projects the consciousness of the flawed immortal. The more he goes down, the more he rises.
His rage as he enters in the last act is stark, a rage Wotan is directing at himself, for his powerlessness. At the end he reaches up to magnificent pride. Wotan's farewell to Brünnhilde is also a farewell to his own divinity, yet he goes like a god."
Para abrir o apetite, eis uma incontornável referência da moderna interpretação wagneriana, plena de vigor, vitalidade e... humanidade, que constitui o primeiro registo de Terfel integralmente dedicado ao mestre de Bayreuth.
(DG 471 348-2)
sábado, 9 de abril de 2005
CHRISTINE SCHÄFER recital na Gulbenkian
Vi-a no Met, em 2001, num dos seus papeis de eleição: Lulu...
Também com esta interprete estabeleci uma relação especial !
SCHÄFER pertence a uma geração de cantoras que se afirmou e notabilizou no início da década de 90. São suas copines de route, entre outras, Dessay e Jo, ambos reputados sopranos ligeiros (embora Dessay comece a explorar o território spinto - Lucie -, tudo levando a crer que não se retirará sem antes encarnar a tentadora Violeta, da La Traviata).
SCHÄFER é a mais versátil das citadas colegas, recordando - noutro registo vocal - Von Otter, pela abrangência do repertório ! Aborda Debussy, Chausson e Berg com a mesma facilidade com que interpreta Bach ou encarna personagens mozartianas (Susana ou Konstanze - que gravou para a ERATO, sob a direcção de Christie), donizettianas (Lucia), straussianas (Sophie e Zdenka) e verdianas, do período intermédio (Gilda, por exemplo, que lhe valeu uma verdadeira aclamação, há poucos anos, em Covent Garden).
Nascida em Frankfurt, Christine beneficiou dos sábios ensinamentos de grandes figuras do canto lírico de outrora: Augér, Fischer-Dieskau e Jurinac, entre outros.
Em 88, pela primeira vez, viu reconhecido o seu talento, tendo sido galardoada com um prémio no concurso alemão VDMK.
A fama internacional adveio de uma célebre Konstanze, que interpretou em Salzburgo, se não estou em erro, em 1997. Salzburgo, aliás, vê-la ia, no ano seguinte, interpretar o (até à data) maior sucesso da sua carreira... Lulu, da obra homónima de Berg.
Para felicidade de todos nós, há um registo desta interpretação avassaladora, não em Salzburgo, mas em Glyndebourne, onde obteve um êxito tremendo com a encarnação da heroína em questão.
Se é verdade que prima pela polivalência - se me é permitida a expressão - em termos vocais e interpretativos, em meu entender, SCHÄFER é notável, sobretudo, em compositores como Schoenberg (Pierrot Lunaire, que gravou para a DG com o maestro Boulez), além do já citado Berg.
No post que consagrei à apresentação da temporada da Opéra National de Paris, saudei as interpretações de Christine S. que aí terão lugar, ambas mozartianas - Cherubino e Donna Anna.
Haja meios para me deslocar à Bastilha...
Por agora, proponho o recital que a interprete vai dar na Gulbenkian, a 26 de Abril, onde abordará Purcell e Wolf, numa exibição da abrangência do seu repertório.
quinta-feira, 7 de abril de 2005
Intervenções terapêuticas em grupos de crianças e adolescentes - "Aprender a Pensar"
Hoje, dia 7 de Abril, pelas 19.00 h., na livraria CLIMEPSI - Rua Pinheiro Chagas, 44 a - é apresentado por António Coimbra de Matos o livro (editora Trilhos) Intervenções terapêuticas em grupos de crianças e adolescentes - "Aprender a Pensar", de que sou co-autor, juntamente com outros colegas.
Estão todos convidados !
Estão todos convidados !
quarta-feira, 6 de abril de 2005
Muti demite-se do alla Scala
O conflito que opunha Riccardo Muti a Carlo Fontana, Mauro Meli e grande parte dos trabalhadores do mais prestigiado teatro lírico italiano teve o seu epílogo no passado sábado, conforme noticia o Le Monde.
Ao cabo de 18 anos como director musical do Teatro alla Scala, Muti demite-se, alegadamente por não abdicar de seguir uma política centrada na divulgação de obras marginais ao repertório popular - recorde-se que, para abrir a última temporada, o maestro escolheu Europa Riconosciuta, ópera de Salieri, bem desconhecida do público... Esta opção não teria suscitado polémica alguma, não fora a suposta crise de audiências da ópera de Milão, crise essa que, inevitavelmente, se repercute no cada vez mais parco orçamento do teatro !
Estranha justificação, diria eu ! Se é verdade que a citada ópera de Salieri não prima pela popularidade, a restante temporada parece-me ter sido pensada para o grande público - Rinaldo, Elektra, Otello, Tannhauser, A dama de Espadas, etc.
Das últimas temporadas, destacaria o formidável Falstaff que dirigiu, com Maestri (que vimos no São Carlos, na pele de G. Germont e, mais recentemente, como Simon Boccanegra, da ópera homónima de Verdi), Frittoli (a Dona Elvira do último Don Giovanni que teve lugar no nosso teatro lírico), Flórez, entre outros. A produção desta ópera é notável, em termos plásticos, rivalizando com a que Vick dirigiu, em Covent Garden, por ocasião da reabertura da Royal Opera House.
Mais polémico foi o último Il Trovatore que o maestro italiano dirigiu no alla Scala...
Com um elenco competente, mas pouco ajustado às exigências desta ópera - Licitra superficial, Frittoli ligeira (a Leonora não é, definitivamente, adequada a esta soprano, que é uma exímia mozartiana !), Urmana pesada (já andava de olho nos papeis de soprano verdiano, que parece encarnar com um talento invulgar) e Nucci decadentíssimo -, o maestro viu-se envolto numa dispensável polémica por - imagine-se - impedir que o tenor emitisse o famoso dó de peito, que Verdi não escreveu, mas que o público se habituou a ouvir (e a exigir), no final da ária Di quella pira...
Once again, este pretexto parece-me sintomático de um desejo de mudança, cuja legitimidade não ouso discutir ! Afinal, já lá vão 18 anos...
Cá por casa, na minha discoteca pessoal, figuram algumas pérolas dirigidas por Muti que - diga-se em abono da verdade - não é dos meus maestros predilectos...
Quoi qu´il en soit, em matéria de Verdi, são dignos de referência registos como Macbeth (com Milnes e Cossotto), La Traviata (com Scotto e Kraus, ambos talentosíssimos, embora numa fase outonal...), La Forza del Destino (magistral, com Freni, Domingo e... Bruscantini !) e Nabucco, para citar os mais emblemáticas.
Menos feliz a dirigir Mozart do que Rossini ou Verdi, o maestro Muti tem o mérito de ter convencido Studer a gravar a Donna Anna, do Don Giovanni ! Aliás, parece-me que com ele partilho o fascínio por esta cantora americana, incontestavelmente a mais luminosa das vozes dos anos 90 !
Ainda no capítulo Mozartiano, dirigiu um Don Giovanni - disponível em DVD - com Allen que, durante anos, era insuperável no papel titular desta ópera.
Por fim, destaco a leitura que realizou d´As Bodas de Figaro, onde contou com uma Condessa de antologia: M. Price.
Confesso ainda que, como Muti, tenho um declarado fascínio e admiração por uma cantora praticamente desconhecida do público português: June Anderson, La June, como lhe chamam os milaneses, depois da sua arrebatadora Lucia (a fazer recordar o epíteto de Stupenda, com que distinguiram Sutherland, em 59, quando interpretou o mesmo papel, com igual sucesso).
Se não estou em erro, quando a cantora interpretou, pela primeira vez, no alla Scala, a Lucia, era Muti que dirigia a orquestra ! Milão ia sucumbindo de êxtase, depois das récitas desta ópera de Donizetti.
Há alguns anos, via-a nesse mesmo papel, em duas récitas, na Bastilha. O maestro era Campanella. Não sei como teria sido se fosse Muti a dirigi-la...
Jamais assisti a tamanha ovação ! Estive a pontos de tomar um tranquilizante, tal não era a minha agitação ! Anderson foi a mais impressionante e convincente interprete que vi, em palco, nos dias da minha vida... A cena da loucura foi prodigiosa, pela técnica, pela interpretação... felizmente, estava com o Tiago - o meu melhor amigo -, que comigo testemunhou aquele momento histórico !
Muti escolheu-a para gravar algumas heroínas do Rossini sério, nomeadamente Elena (La Donna del Lago) - disponível em cd e dvd.
Ah ! Ia-me esquecendo... Há uma Cavalleria Rusticana, dirigida por Muti e interpretada por Meier e Cura, que merece ser vista !!! Infelizmente, só a tenho em vhs, gravada de uma noite de ópera, na 2...
Ao cabo de 18 anos como director musical do Teatro alla Scala, Muti demite-se, alegadamente por não abdicar de seguir uma política centrada na divulgação de obras marginais ao repertório popular - recorde-se que, para abrir a última temporada, o maestro escolheu Europa Riconosciuta, ópera de Salieri, bem desconhecida do público... Esta opção não teria suscitado polémica alguma, não fora a suposta crise de audiências da ópera de Milão, crise essa que, inevitavelmente, se repercute no cada vez mais parco orçamento do teatro !
Estranha justificação, diria eu ! Se é verdade que a citada ópera de Salieri não prima pela popularidade, a restante temporada parece-me ter sido pensada para o grande público - Rinaldo, Elektra, Otello, Tannhauser, A dama de Espadas, etc.
Das últimas temporadas, destacaria o formidável Falstaff que dirigiu, com Maestri (que vimos no São Carlos, na pele de G. Germont e, mais recentemente, como Simon Boccanegra, da ópera homónima de Verdi), Frittoli (a Dona Elvira do último Don Giovanni que teve lugar no nosso teatro lírico), Flórez, entre outros. A produção desta ópera é notável, em termos plásticos, rivalizando com a que Vick dirigiu, em Covent Garden, por ocasião da reabertura da Royal Opera House.
Mais polémico foi o último Il Trovatore que o maestro italiano dirigiu no alla Scala...
Com um elenco competente, mas pouco ajustado às exigências desta ópera - Licitra superficial, Frittoli ligeira (a Leonora não é, definitivamente, adequada a esta soprano, que é uma exímia mozartiana !), Urmana pesada (já andava de olho nos papeis de soprano verdiano, que parece encarnar com um talento invulgar) e Nucci decadentíssimo -, o maestro viu-se envolto numa dispensável polémica por - imagine-se - impedir que o tenor emitisse o famoso dó de peito, que Verdi não escreveu, mas que o público se habituou a ouvir (e a exigir), no final da ária Di quella pira...
Once again, este pretexto parece-me sintomático de um desejo de mudança, cuja legitimidade não ouso discutir ! Afinal, já lá vão 18 anos...
Cá por casa, na minha discoteca pessoal, figuram algumas pérolas dirigidas por Muti que - diga-se em abono da verdade - não é dos meus maestros predilectos...
Quoi qu´il en soit, em matéria de Verdi, são dignos de referência registos como Macbeth (com Milnes e Cossotto), La Traviata (com Scotto e Kraus, ambos talentosíssimos, embora numa fase outonal...), La Forza del Destino (magistral, com Freni, Domingo e... Bruscantini !) e Nabucco, para citar os mais emblemáticas.
Menos feliz a dirigir Mozart do que Rossini ou Verdi, o maestro Muti tem o mérito de ter convencido Studer a gravar a Donna Anna, do Don Giovanni ! Aliás, parece-me que com ele partilho o fascínio por esta cantora americana, incontestavelmente a mais luminosa das vozes dos anos 90 !
Ainda no capítulo Mozartiano, dirigiu um Don Giovanni - disponível em DVD - com Allen que, durante anos, era insuperável no papel titular desta ópera.
Por fim, destaco a leitura que realizou d´As Bodas de Figaro, onde contou com uma Condessa de antologia: M. Price.
Confesso ainda que, como Muti, tenho um declarado fascínio e admiração por uma cantora praticamente desconhecida do público português: June Anderson, La June, como lhe chamam os milaneses, depois da sua arrebatadora Lucia (a fazer recordar o epíteto de Stupenda, com que distinguiram Sutherland, em 59, quando interpretou o mesmo papel, com igual sucesso).
Se não estou em erro, quando a cantora interpretou, pela primeira vez, no alla Scala, a Lucia, era Muti que dirigia a orquestra ! Milão ia sucumbindo de êxtase, depois das récitas desta ópera de Donizetti.
Há alguns anos, via-a nesse mesmo papel, em duas récitas, na Bastilha. O maestro era Campanella. Não sei como teria sido se fosse Muti a dirigi-la...
Jamais assisti a tamanha ovação ! Estive a pontos de tomar um tranquilizante, tal não era a minha agitação ! Anderson foi a mais impressionante e convincente interprete que vi, em palco, nos dias da minha vida... A cena da loucura foi prodigiosa, pela técnica, pela interpretação... felizmente, estava com o Tiago - o meu melhor amigo -, que comigo testemunhou aquele momento histórico !
Muti escolheu-a para gravar algumas heroínas do Rossini sério, nomeadamente Elena (La Donna del Lago) - disponível em cd e dvd.
Ah ! Ia-me esquecendo... Há uma Cavalleria Rusticana, dirigida por Muti e interpretada por Meier e Cura, que merece ser vista !!! Infelizmente, só a tenho em vhs, gravada de uma noite de ópera, na 2...
Mattila, Arabella, Paris e o meu amor por Elas !
Tomado por um súbito surto maníaco - os psis não estão imunes a estas coisas... -, eis que decidi apanhar o avião... para Paris... Mattila oblige !
Depois de uma soberba Lisa (A Dama de Espadas), após uma inolvidável Desdemona (Otello), uma Salomé de antologia e mais uns quantos recitais, a Arabella da fascinante Mattila espera-me... A emoção ia-me dando cabo do coração, quando adquiri o bilhete, via net !
Depois de uma soberba Lisa (A Dama de Espadas), após uma inolvidável Desdemona (Otello), uma Salomé de antologia e mais uns quantos recitais, a Arabella da fascinante Mattila espera-me... A emoção ia-me dando cabo do coração, quando adquiri o bilhete, via net !
terça-feira, 5 de abril de 2005
Paris annonce la prochaine saison lyrique !
Paris, como vem sendo hábito, é a primeira das grandes capitais europeias a anunciar oficialmente o programa da próxima temporada lírica. Pour le moment, apenas a Opéra National de Paris (Bastille e Palais Garnier) e o Châtelet divulgaram os respectivos programas.
Da temporada do Châtelet, destacaria O Anel dos Nibelungos, numa produção de Bob Wilson. O ciclo será dirigido por Eschenbach, contando com alguns nomes de peso, em matéria de canto wagneriano: Leiferkus, Seiffert, Domingo, Schnitzer, Rydel, West, Henschel e Watson, entre outros.
Lá estaremos, pois não é todos os dias que pode assistir-se à mais famosa e sublime das tetralogias !
Ainda no Châtelet, Gergiev (à frente do Mariinski) dirigirá um Boris Godounov e Rousset, em versão de concerto, recria dois pilares da ópera de Handel - Tamerlano e Alcina -, contando com prestações notáveis: Mehta, Ford, Piau (na primeira) e, na segunda, preparem-se... C. Schafer que, no que à interpretação operática diz respeito, alarga o seu repertório aos períodos barroco e clássico ! Recordo que, na mesma temporada, na ONP (Ópera National de Paris), ao que julgo, pela primeira vez, interpretará o Cherubino, d´As Bodas de Fígaro e a Donna Anna, do Don Giovanni !
Schafer, a grande musa da interpretação contemporânea, à vontade em Berg - Lulu plena de sensualidade e perversão -, bem como em Schoenberg - onde o sprechstimme que o Pierrot Lunaire requer não lhe levanta dificuldade alguma.
Boulez dirige, também, O Castelo de Barba-Azul, com J. Norman, no papel de Judite... Norman cantará, ainda, na versão de concerto da obra-prima de Purcell, a personagem Dido...
Não teço comentários à presença da (outrora grande) cantora americana, que persiste em não abandonar os palcos.
O último O Castelo de Barba-Azul que vi, justamente no Châtelet, sob a direcção de Boulez, foi esplendoroso, com a dupla Polgar / Urmana !
O que pretende Boulez ao (re)propor a Norman este papel ? É certo que a caprichosa cantora o interpretou, há uns anos... sob a batuta do mesmo Boulez. Ver-se-á !
Por fim - ainda no Châtelet -, para glória de muitos (entre os quais me encontro) Mattila e Heppner cantarão Fidelio !
Se puder, vou vê-la ao Met, onde Heppner estará presente, ladeando-a !
Quanto à ONP, entre outras, conta com uma nova produção da trilogia Mozart / Daponte. Neste âmbito, sublinho a presença de interpretes como Bonney e Raimondi, no Cosí , Oelze (a magnífica Pamina de Gardiner), Regazzo (o Figaro de Jacobs), Delunsch (a Armida de Minkowski) e Grant Murphy, n´As Bodas e, no Il Dissoluto Punito, o soberbo Peter Mattei, que cantou o papel titular desta mesma opera, se não me engano, em Aix, no festival do ano passado. Mattei será, também, o Conde d´As Bodas !!!
Mozart estará em óptimas mãos ! Folgo em ver papeis atribuídos a jovens (embora, todos eles, já rodados...) e talentosos interpretes !
Refira-se, ainda, a nova produção de Iphigénie en Tauride, com Minkowski na direcção e a sumptuosa Graham, no papel titular.
Destaque, também, para a criação mundial de Adriana Mater, de Saariaho, com libreto de Amin Maalouf (autor, entre outros, de Samarcanda, obra singular e portentosa). Esta ópera será dirigida por Salonen, coadjuvado pelo IRCAM.
A produção estará a cargo do venerado Peter Sellars.
Gergiev dirigirá, na Bastilha, uma reprise de Tristão e Isolda, com Clifton Forbis - o Tristão aclamado em Genève, nesta temporada.
Já agora, se puderem assistir à estreia desta produção, nesta temporada, - entre 12 de Abril e 7 de Maio -, não hesitem, pois os papeis titulares estarão a cargo de Meier (cujo vibrato começa a tornar-se incómodo, apesar de tudo o resto, que não é pouco) e Heppner.
Agora vou terminar as minhas obrigações académicas (leia-se corrigir testes !)...
Da temporada do Châtelet, destacaria O Anel dos Nibelungos, numa produção de Bob Wilson. O ciclo será dirigido por Eschenbach, contando com alguns nomes de peso, em matéria de canto wagneriano: Leiferkus, Seiffert, Domingo, Schnitzer, Rydel, West, Henschel e Watson, entre outros.
Lá estaremos, pois não é todos os dias que pode assistir-se à mais famosa e sublime das tetralogias !
Ainda no Châtelet, Gergiev (à frente do Mariinski) dirigirá um Boris Godounov e Rousset, em versão de concerto, recria dois pilares da ópera de Handel - Tamerlano e Alcina -, contando com prestações notáveis: Mehta, Ford, Piau (na primeira) e, na segunda, preparem-se... C. Schafer que, no que à interpretação operática diz respeito, alarga o seu repertório aos períodos barroco e clássico ! Recordo que, na mesma temporada, na ONP (Ópera National de Paris), ao que julgo, pela primeira vez, interpretará o Cherubino, d´As Bodas de Fígaro e a Donna Anna, do Don Giovanni !
Schafer, a grande musa da interpretação contemporânea, à vontade em Berg - Lulu plena de sensualidade e perversão -, bem como em Schoenberg - onde o sprechstimme que o Pierrot Lunaire requer não lhe levanta dificuldade alguma.
Boulez dirige, também, O Castelo de Barba-Azul, com J. Norman, no papel de Judite... Norman cantará, ainda, na versão de concerto da obra-prima de Purcell, a personagem Dido...
Não teço comentários à presença da (outrora grande) cantora americana, que persiste em não abandonar os palcos.
O último O Castelo de Barba-Azul que vi, justamente no Châtelet, sob a direcção de Boulez, foi esplendoroso, com a dupla Polgar / Urmana !
O que pretende Boulez ao (re)propor a Norman este papel ? É certo que a caprichosa cantora o interpretou, há uns anos... sob a batuta do mesmo Boulez. Ver-se-á !
Por fim - ainda no Châtelet -, para glória de muitos (entre os quais me encontro) Mattila e Heppner cantarão Fidelio !
Se puder, vou vê-la ao Met, onde Heppner estará presente, ladeando-a !
Quanto à ONP, entre outras, conta com uma nova produção da trilogia Mozart / Daponte. Neste âmbito, sublinho a presença de interpretes como Bonney e Raimondi, no Cosí , Oelze (a magnífica Pamina de Gardiner), Regazzo (o Figaro de Jacobs), Delunsch (a Armida de Minkowski) e Grant Murphy, n´As Bodas e, no Il Dissoluto Punito, o soberbo Peter Mattei, que cantou o papel titular desta mesma opera, se não me engano, em Aix, no festival do ano passado. Mattei será, também, o Conde d´As Bodas !!!
Mozart estará em óptimas mãos ! Folgo em ver papeis atribuídos a jovens (embora, todos eles, já rodados...) e talentosos interpretes !
Refira-se, ainda, a nova produção de Iphigénie en Tauride, com Minkowski na direcção e a sumptuosa Graham, no papel titular.
Destaque, também, para a criação mundial de Adriana Mater, de Saariaho, com libreto de Amin Maalouf (autor, entre outros, de Samarcanda, obra singular e portentosa). Esta ópera será dirigida por Salonen, coadjuvado pelo IRCAM.
A produção estará a cargo do venerado Peter Sellars.
Gergiev dirigirá, na Bastilha, uma reprise de Tristão e Isolda, com Clifton Forbis - o Tristão aclamado em Genève, nesta temporada.
Já agora, se puderem assistir à estreia desta produção, nesta temporada, - entre 12 de Abril e 7 de Maio -, não hesitem, pois os papeis titulares estarão a cargo de Meier (cujo vibrato começa a tornar-se incómodo, apesar de tudo o resto, que não é pouco) e Heppner.
Agora vou terminar as minhas obrigações académicas (leia-se corrigir testes !)...
domingo, 3 de abril de 2005
Henryk Górecki
(L´air du temps...)
Symphony No.3
Dawn Upshaw
London Sinfonietta
David Zinman
(7559 79282 2 ELEKTRA NONESUCH)
Dawn Upshaw
London Sinfonietta
David Zinman
(7559 79282 2 ELEKTRA NONESUCH)
sábado, 2 de abril de 2005
Rolando Villazon triunfa em Paris
O Théâtre des Champs-Élysées constitui a quarta sala de maior importância, em matéria de música dita erudita, em Paris.
Na maioria dos casos, a programação é muito cuidada e eclética, sendo os interpretes (habitualmente...) estrelas, ou em ascensão, ou em franca decadência. Raramente assisti, no teatro em questão, a triunfos protagonizados por desconhecidos.
Recordo - com mágoa - alguns recitais de grandes figuras da lírica dos anos 70, 80 e 90, marcados pela degradação e depreciação vocais: Hendricks (99), Lott (2000) e Te Kanawa (2001); à l´autre extrème, relembro a estrondosa prestação de Isokoski - então em franca ascensão, na velha Europa e nos EUA -, numa sala com pouco mais de 50 pessoas !
Segundo o Le Monde - edição de 1 de Abril -, o tenor mexicano Rolando Villazon, cuja carreira tem sido meteórica, em matéria de reconhecimento, levou a sala da av. Montaigne ao rubro :
"Avec Rolando Villazon, cela fait bien longtemps que le Théâtre des Champs-Elysées n'avait été à pareille fête. Un public qui en aurait pour un peu oublié ses bonnes manières tant l'artiste possède ce don rare de mettre une salle en état d'amour et d'enthousiasme par la seule grâce de sa présence. Tout n'était pas parfait, notamment dans les airs d'opéra français : une intonation un peu basse dans l'air "En fermant les yeux" du Manon de Massenet, un manque de legato dans "Source délicieuse" du Polyeucte de Gounod, quelques attaques improbables dans Le Cid (Massenet).
Mais la voix de Rolando Villazon éclaboussait une telle joie de musique, dardait une telle concentration dans l'expression, que le chanteur lui-même en restait pantelant à la fin des airs. Le maximum fut donné et révélé dans le vérisme italien de Donizetti (Il Duca d'Alba), Verdi (Macbeth) et plus encore Cilea et Puccini et ce, en dépit d'un "E lucevan le stelle" de Tosca, magnifiquement interprété, mais malheureusement précédé de son récitatif idée théâtralement pertinente, musicalement malencontreuse. Très loin derrière Rolando Villazon, il y avait l'Orchestre de l'Opéra royal de Wallonie, dirigé par Marco Zambelli."
Villanzon parece perpetuar a mestria, o talento e a fama de tenores latino-americanos como Alva, Lima, Araiza, Vargas, Alvarez e Giménez, para não mencionar o igualmente jovem Flórez.
No que me diz respeito, o interprete mexicano ainda não me conquistou em absoluto... Ouvi o primeiro cd que gravou para a etiqueta Virgin, que apenas me impressionou pela beleza do timbre ! Côté interpretatif, il n´apporte rien de vraiment nouveau, pour l´instant...
À suivre...
No que me diz respeito, o interprete mexicano ainda não me conquistou em absoluto... Ouvi o primeiro cd que gravou para a etiqueta Virgin, que apenas me impressionou pela beleza do timbre ! Côté interpretatif, il n´apporte rien de vraiment nouveau, pour l´instant...
À suivre...
sexta-feira, 1 de abril de 2005
Verdi - libretos
No site oficial de G. Verdi, encontram-se os libretos de todas as óperas do compositor italiano. Pena é que não sejam disponibilizadas traduções...