(Domingo e Malfitano, em Tosca)
Zeffirelli, como é sabido, é um dos meus ódios líricos de estimação. As suas encenações – típicas de um Visconti de segunda categoria – causam-me uma enorme náusea, excepção feita à La Traviata do Met.
Desta vez, porém, é tempo de dar a mão à palmatória!
Acabo de descobrir uma afinidade com o encenador italiano, que partilha do meu ponto de vista (igualmente explicitado aqui), relativamente ao desejo inconfessável de Floria Tosca pelo Barão Scarpia!
Embora a grande Malfitano – doravante encenadora, pretérita Tosca de primeira água – despreze esta tese, considerando-a misógina e sexista, devo enaltecer o olhar lúcido de Zeffirelli!
“Franco Zefirelli suggested Tosca discovers a desire for Scarpia that so horrifies her, she has to kill him in order to destroy it. Malfitano laughs uproariously: "That is such a male fantasy! It's that outdated way of looking at women as if they had these wild, insatiable sexual tendencies. That hysteria – that's such a cliche."”
Moral da histó(e)ria: enquanto Malfitano, histericamente, reprime o desejo, Zeffirelli, de forma lúcida, explicita-o! Pour une fois, Zeffirelli fala como um psicanalista! Pode ser que Mestre Visconti lhe tenha transmitido as virtudes do trabalho psicanalítico!
Enfim, uma afinidade!
Zeffirelli, como é sabido, é um dos meus ódios líricos de estimação. As suas encenações – típicas de um Visconti de segunda categoria – causam-me uma enorme náusea, excepção feita à La Traviata do Met.
Desta vez, porém, é tempo de dar a mão à palmatória!
Acabo de descobrir uma afinidade com o encenador italiano, que partilha do meu ponto de vista (igualmente explicitado aqui), relativamente ao desejo inconfessável de Floria Tosca pelo Barão Scarpia!
Embora a grande Malfitano – doravante encenadora, pretérita Tosca de primeira água – despreze esta tese, considerando-a misógina e sexista, devo enaltecer o olhar lúcido de Zeffirelli!
“Franco Zefirelli suggested Tosca discovers a desire for Scarpia that so horrifies her, she has to kill him in order to destroy it. Malfitano laughs uproariously: "That is such a male fantasy! It's that outdated way of looking at women as if they had these wild, insatiable sexual tendencies. That hysteria – that's such a cliche."”
Moral da histó(e)ria: enquanto Malfitano, histericamente, reprime o desejo, Zeffirelli, de forma lúcida, explicita-o! Pour une fois, Zeffirelli fala como um psicanalista! Pode ser que Mestre Visconti lhe tenha transmitido as virtudes do trabalho psicanalítico!
Enfim, uma afinidade!
Caro João,
ResponderEliminarestá a desiludir-me. Afinidades com Zeffirelli? :)
Numa pequena e notável obra --Dawson, S. W. (1975), O Drama e o Dramático, Lisboa, Lysia -- este especialista afirma a páginas tantas que na peça "António e Cleópatra" de Shakespeare o carácter de Cleópatra, personagem histórica, não interessa para a análise da peça, pois apenas o texto, a personagem Cleópatra, e que ela diz e o que as outras personagens dizem dela é que nos interessa.
ResponderEliminarO texto de uma peça é uma estrutura fechada e sair dele é pura divagação. Qualquer pessoa pode pensar o que quiser de um texto dramático, correspondendo a presumíveis desejos secretos, mas são tudo devaneios, pois não está lá nada do que quer.
Ora o que se aplica ao drama aplica-se igualmente ao melodrama, pois da música nada se tira, pois tudo nela é convencional.
Conclusão: dizer que a Tosca deseja sexualmente Scarpia posso compreender em Zeffirelli, que caminha para os noventa, mas no João só se for o seu lado Dissoluto:)
Raul
Olá Dissoluto,
ResponderEliminarEu acho muito interessante esta tese de uma Tosca realista que mata Scarpia também porque não consegue deixar de ter algum desejo implícito por ele. É de facto uma ideia muito pertinente sobre a qual vou reflectir.
Tem algumas fontes que possa citar? Agradeço.
Caros Raul e Plácido,
ResponderEliminarAlém da perspectiva de Zeffirelli, o meu olhar psicanalítico habituou-me a olhar para além do manifesto, centrando-me no latente. Nem tudo o que parece, é... A repulsa de Floria pelo Barão, pode ser vista como uma formação reactiva - transformação da pulsão no seu contrário...
Meu Caro João,
ResponderEliminarQue eu tanto respeito e admiro, mas a psicanálise trabalha com pessoas a quem interroga as vezes necessárias para sondar os subterrâneos da mente. Não o pode tentar com Tosca, porque ELA NÃO EXISTE, é produto de ficção e só responde ao que o texto diz, texto esse muito convencional, pois está dependente da música.
RAUL
Meu caro Raul, pergunte a um qq psicanalista o q pensa de Tosca e ele lhe dirá... A psicanálose parte da compreensão de mecanismos inconscientes, comuns à espécie humana. Os gestos, por vezes - creio ser o caso de Tosca - encontram-se ocultos por desejos antagónicos (formação reactiva)...
ResponderEliminarMeu caro João,
ResponderEliminarNunca passaria pela cabeça perguntar a qualquer psicanalista quando o João enquanto psicanalista deu a sua opinião. Neste campo não nos entendemos. Recentemente visionei um dvd de fabulosas masterclasses de Julia Varady. Nelas, falando com as suas alunas, refere uma encenação do Eugen Onegin onde existe uma paixão gay entre Onegin e Lensky. A grande artista diz que precisa de fazer uma palestra contra estes "assassínios" da Arte. É o problema da paixão de Iago por Otelo que punha os cabelos em pé a Jon Vickers e da paixão da Dona Ana pelo Don Giovanni. Pelo menos no texto de Boito Iago diz que é fiel a Otelo com as palavars "io t' amo", se não estou erro.
Raul
Que conversa tão aborrecida.
ResponderEliminarPorquê?
ResponderEliminarRaul
Por que já tivemos esta conversa e não há informações novas e a mim é um assunto que não me interessa.
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