Através de dois grandes e muito queridos amigos dos tempos do Colégio Moderno – Maria e Joaquim -, tomo conhecimento de um facto absolutamente histórico: os ultra-geniais Homens da Luta limparam o festival da canção 2011! Quase me comovo com esta façanha!
Para quem não sabe, o Festival da Canção é a mais reles manifestação artística com que a pequena burguesia se lambuza, animando alguns serões pré-primaveris. A pequena burguesia, por sua vez, é a mais tacanha e perigosa força social portuguesa. Estão por todo o lado! Gostam da ordem a qualquer preço e de Cancun, votam no Cavaco, odeiam os gays, arrepiam-se com os apoiantes da descriminalização do aborto; à boca pequena, acham que os pretos deviam era voltar pá terra deles. No passado, temiam os comunistas. Hoje em dia, a mais sofisticada já arma ao queque, tratando os piquenos por Voci, e vestindo na Massimo Dutti. De quando em vez, compram um Calvin Klein, com que ornamentam o pulso em ocasiões festivas. Bebem as palavras do Professor Marcelo – este e o outro, o que botava uma faladura bafienta, falsa e moralista, no estertor do antigo regime. É uma gente horrorosa, que devemos evitar.
Segundo consta, os ditos Homens da Lutam perverteram a insuportável lógica do miserável Festival da Canção. Que bom!
Nascido em inícios dos anos 1970, cresci com aquela efeméride cultural. A dada altura, dei com um bando de meninas aputalhadas – boazudas, é certo -, de uma vulgaridade provinciana, berrando e desafinando “Bem bom”. Davam pela graça de Doce. Aí, não aguentei mais. Doravante, o Festival mencionado passou a ser um acontecimento a evitar.
E não é que – pasme-se! -, em inícios de 2011, o refinado humor, inspirado na música e ideologia de intervenção vinga, enterrando o que de mais reles espelhava o execrável festival?!
Ainda há quem insista na nossa condição miserável e decadente! Nada disso! Se os Homens da Lutam chegam ao poder é porque uma certa irreverência domina, brotando!
Segundo consta, um bando de ofendidinhos, por ocasião da vitória dos Homens da Luta, abandonou a sala em protesto. Miseráveis! Devem ser dignos representantes da já descrita pequena burguesia. Já se esqueceram do tempo em que usavam meinha branca, de turco!
Ao nosso jeito, seguramente mais insignificante, também eu, a Maria, o Joaquim, a Susana e a Guida, fomos homens da luta, noutro tempo e lugar :)
«É uma gente horrorosa, que devemos evitar.»
ResponderEliminarTolerância admirável, a sua. Parece que a ópera não lhe ensinou nada, afinal de contas.
José García Pimentel
Há claro na história dos festivais da canção uma excepção. O festival de 1976 em que há em minha opinião 4 ou 5 grandes canções e uma das minhas preferidas de sempre: Estrela da Tarde de Ary dos Santos com música de Fernando Tordo ... Esse festival teve muito nível ... Novo Fado Alegre, Flor de Verde Pinho, No Teu Poema são algumas das que me lembro mas eram 8 canções de grande nível acho eu.
ResponderEliminarFernando, e há, também a Simone, o Paulo de Carvalho... ;-)
ResponderEliminarJosé García Pimentel,
ResponderEliminarA Ópera ensina-me muitas coisas; de entre as mais elementares, a tolerar as opiniões diferentes da minha, sem que tenha de lhes querer dar chá requentado!
Também me ensina a rebuscar o humor, que me enche de graça - o meu e dos demais!
sim claro ... apenas falei desse porque o nível global foi altíssimo. foram apenas 8 canções se bem me lembro mas nenhuma delas era propriamente má. Grandes poemas música interessante. Não foi um festival "normal" ...
ResponderEliminarBem, Joao, que critica arrasadora.
ResponderEliminarEu desde puto que é tradição ver o festival com a familia. E foi assim que aprendi mais depressa que os outros lá da escola os nomes das capitais europeias! hehe
Concordo que o festival português se tenha tornado completamente decrepito sob muitos aspectos, mas pontualmente tem surgido boas canções. tens a prestação da Vânia em 2007 com uma canção cuja letra é um belo poema. Ao qual ela deu uma enorme força.
Do que foi visto ontem, roçou tudo o medonho. nao havia musica que se aproveitasse. Mas entre todas as que surgiram, estou em crer que a vencedora é das mais desadequadas a levar à Alemanha. Ou daí até talvez nao, que o pessoal gosta é de palhaçada.
A verdade é que ninguem lá fora está minimamente interessado em canções sobre portugal, lisboa, bairro alto, fado ou o raio que os parta. é um festival de musica pop/comercial ao qual interessa que os 3 minutos de musica sejam facilmente memoráveis e ponham o pessoal a dançar.
Agora, a descrição que fizeste da pequena burguesia parece-me arrepiante e um pouco desfasada da realidade.
Embora seja possível quase descreve-la de uma forma orwelliana, a verdade é que ela também já começa a entrar nas casas de ópera, muitas das vezes pelas portas dos bastidores.
O importante é que haja espaço para todos.
Caro João,
ResponderEliminarObrigado pelo seu texto, cheio de humor, caustico para alguns, mas tão verdadeiro! Mando-lhe esta mensagem de Nova Iorque, onde estou a assitir a umas produções do Met que em breve relatarei. Nem me apercebi que teríamos esse festival por esta altura, pois já há muitos anos que o não vejo.
Cumprimentos
Foi o máximo! Só soube hoje e fartei-me de rir! Espectacular! :)
ResponderEliminarTirando o fado nunca gostei, na generalidade, de música portuguesa. Quanto ao Festival da CanÇão é acima de tudo muito piroso como o são todas as galas da canção e tudo o que se relaciona com futebóis e quejandos. É o popularucho. Como dizia Horácio "Odi profano vulgo", que no século XVI o nosso António Ferreira imitou, dizendo "Detesto tudo o que é vulgar", significando isso "popular". É por tal que eu gosto de música clássica, que é universalista e não atende ao "particular".
ResponderEliminarQuanto à crítica do João, acho que cai em alguns estereótipos.
Raul,
ResponderEliminarGostei muito de ler as suas doutas palavras! Como é vil e triste a vulgaridade ;-)
FanáticoUm,
ResponderEliminarEntão na minha terra operática, ein? O que anda a ver? Que inveja!!!
Um abraço e boas soirées!
Romeu e Julieta, Lucia di Lammermoor e Armida. Com algumas surpresas e decepções pelo meio, o Met continua a ser uma das catedrais mundiais da ópera.
ResponderEliminarCumprimentos (já de Portugal).
"...meinha branca, de turco!"
ResponderEliminarRá, rá, rá, rá, rá... :-D :-D :-D
Que saudades da meinha branca, de turco!
Está de parabéns, Dissoluto. ;-))
Na Mouche! ;-D
LG
Caro dissoluto:
ResponderEliminarAs suas palavras cairão em muitos dos seus leitores como a canção dos Homens da Luta caiu na generalidades dos comentadores que a consideram "uma vergonha" e já noutro nível "demagógica". Só que ambos se esquecem que a canção leva ao limite o ridículo e o pirosismo de um festival bafiento onde a vergonha está em hoje levá-lo a sério. Sábias palavreas as suas.