(Anna Nicole Smith)
Anna Nicole Smith era uma pobre de Deus, desafortunada e prima representante da decadente sociedade plástica em que vivemos. Loira, tonta, nascida pobre e tornada estrela graças a (excitantes mas de péssimo gosto!) atributos sucedâneos do silicone.
Na mais absoluta miséria (não material, presumo), entregou a alma a Deus a 8 de Fevereiro de 2007. Nesse dia, eu encontrava-me em Nova Iorque, preparando-me para assistir a uma reprise de I Puritani, que – escassos três dias antes – me havia estarrecido. Já a minha mulher não alinhou no meu entusiasmo, presumo que por razões estranhas à artistry...
A cobertura noticiosa dada ao desaparecimento da miserável criatura deixou-nos perplexos! Horas e horas de emissão consagradas a um fait divers...
Anos mais tarde – mais atonito ainda – dou com a notícia de uma ópera que versa sobre a vida de Anna Nicole Smith!!!!! Aí, estrabuchei! Há limites para tudo. Para mais, o acontecimento teria lugar na selecta Royal Opera House!!!
Muitos terão embarcado n'a coisa, que – segundo consta – resvala para o musical de reles categoria. Outros – lúcidos? – desprezam a mesma coisa.
Serei preconceituoso, sim. A mim, não me apanham nesta! Nem que a vaca tussa! Para mais – tão certo como dois e dois serem quatro -, pelas nossas bandas, a obra terá honras de estreia no Teatro Politeama, pela mãozinha sabuja e chica-esperta do insuportável La Féria.
Há quem goste de pão com ranho!
Ide bardamerda com esta trampa!
Coitada da sra. eu acho que uma ópera é capaz de ser demais mas nem uma cancãozita mereceria?
ResponderEliminarloooooooooool
ResponderEliminar'tá bom, tá xD
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ResponderEliminarA ópera que fizerem terá de valer pela música e pelo libreto.
ResponderEliminarAfinal quem era Violeta (ou Marguerite Gautier)? Um bom romance porque o escritor prestava,porque a personagem nada mais era que uma prostituta de luxo. O mesmo preconceito teve Verdi de ultrapassar. Depois Puccini teve heroínas como Mimi, Museta ou Manon.
Onde está a diferença?
Anna Nicole poderá ser uma excelente personagem. O talento do argumentista e do músico é que o determinarão. Preconceito pateta, digo eu.
Xico,
ResponderEliminarA Anna Nicole nem sequer uma prostituta de luxo era! Tinha muito que comer, para chegar aos calcantes das mencionadas cortesãs ;-)
Não ponha é tudo no mesmo pacote! Mais estudo, meu caro! Misturar a Mimi com a Violetta, no way! Quanto à Musetta, tinha graça e era divertida! A Sra Smith é um caso de miséria...
Então o que legitima que se tenha feito uma ópera acerca de Marie Duplessis (aka Violetta Valéry) é o tipo de clientela que tinha? Os actos são-nos pelas consequências ou têm significado moral em si próprios?
ResponderEliminarEnfim. São opiniões. Eu acho que arrasar um trabalho desta forma -sem nunca o ter visto ou ouvido- é um pouco injusto. Aconselho muito respeitosamente a leitura deste interessante artigo no Washington Post de Anne Midgette ( http://voices.washingtonpost.com/the-classical-beat/2011/02/on_anna_nicole_and_the_critics.html ). A ela não a pode acusar de ter "estudado pouco".
Opiniões são sempre opiniões, mas a forma como se expressam é que determina se merecem respeito ou não.
Misturar Mimi com Violeta? Ambas eram prostitutas. Embora Mimi fosse costureira, ganhava por fora para os alfinetes. Não seja tão pequeno burguês como os que critica no post acima ):
ResponderEliminarSinceramente não vejo tanta diferença entre esta "senhora" e Manon. Mas enfim. Não estará a confundir as personagens literárias com a realidade das mesmas? O dissoluto é que percebe disso...
Concordo com o Xico. Do artigo que referi:
ResponderEliminar"What I find regrettable in this field is the tendency to divide into camps and brand as idiots anyone who has a different opinion."
"This is no different from those 19th-century purists who castigated Verdi for writing an opera about a real-life courtesan (though I bet these “Anna Nicole” haters just adore “La traviata” today). What is wrong with an opera by a first-rate composer that examines a bizarre and perhaps amoral pop culture icon? (There are plenty of sex- and/or money-obsessed, amoral heroines in opera, from Manon and Carmen to Lulu.)"
Tinha-me esquecido da Lulu. Dessa, então, nem vale a pena falar...
Xico,
ResponderEliminarNão sabia que a Mimi era prostituta. Ignorância minha! Se calhar, a Donna Elvira também, e a Aïda idem... Com jeitinho, a Amnéris dirigia um bordel! Não sei o que significa, para si, ser prostituta, mas enfim... Deve ter uma visão muito lata da coisa ;-)
tenho de concordar com o Xico e com o R Duarte Ferreira.
ResponderEliminarBem, nao sei bem se a Mimi ganhava por fora. Nunca li a la Vie de Boheme e do Libretto nao se pode concluir nada a esse respeito.
Mas a todas as que aqui mencionaram, tenho ainda de juntar a Zaza e a Thais, que também não eram nada beatas.
R Duarte Ferreira e Xico,
ResponderEliminarNão vou estar a discutir moralismos, coisa muito imprória, para mim! Não discuto actos, nem condutas!
O que me parece é que, com a evolução literária e artística, há cânones que se foram abandonando, não? Em pleno século XXI, consagrar uma obra à carreira e vida de uma criatura como Anna Nicole Smith é repisar um território abandonado há cem anos!
Deixemos as putas, como mote, e dediquemo-nos a outros assuntos! Os compositores contemporâneos estão noutra, meus caros!
As visões anacrónicas cheiram a bafio!!! O romantismo e verismo já era, ou não repararam?
Já agora, Duarte, quem lhe disse que não vi, nem ouvi a obra? E olhe que não o considerei idiota! Se a minha posição o fez sentir-se tratado como tal, por alinhar com os que não apaparicam esta "obra", é problema seu!
Dissoluto,
ResponderEliminarMimi, tal como Violeta, tinham homens que as sustentavam. O visconde de Mimi lá está no libretto para o provar. Aliás, quem conhece a vida daquela época sabe que era assim.
Mas não discutamos moralismos, até porque Mimi é uma favorita minha, bem como Musetta. E como Musetta se parece tanto com esta Anna.
Se estas heroínas apareceram há cem anos, foi porque se pretendia criticar uma sociedade hipócrita, mostrando o seu lado sombrio. Agora, parece que esse lado sombrio se tornou demasiado luminoso, com direito e jornais, revistas e televisão. As jovens até se permitem imitá-las, o que antes só se falava às escondidas. Não acha que este facto é suficiente para uma abordagem moderna? Não para uma visão anacrónica, mas para criticar uma sociedade que afinal se revê, às claras, neste tipo de modelo?
Xico,
ResponderEliminarA Musetta é outra conversa! Mas chamar prostituta à Mimi é um abuso! Aqui e ali, entregava-se a uns "protectores". A Transviada - La Traviata -, será uma cortesã, próxima da prostituta, mas com reservas...
Quanto à temática de Anna... Não acho que reflicta nada de particularmente característico do tempo presente... Mais parece uma actualização de uma problemática tão velha como a humanidade.
Caramba! O Adams pega em questões políticas e místicas, o Glass recupera momentos históricos e literários, Manoury reabilita Kafka, and so on!
O protagonismo atribuído à pobre Smith é - também ele -, além de patético, bafiento!
Num universo tão rico em temáticas, creio que a escolha de ANS se afigura, elle aussi, assez médiocre!
A Mimi da Bhoéme é um personagem muito diferente da "Mimi" da obra literária. Na verdade Puccini e os seus libretistas ao criar o apepl da protagonista fizeram uma composição que condensa 2 dois personagens do livro.
ResponderEliminarA Mimi talvez para marcar o constraste com a Musseta é tornada numa boa rapariga meiga e sensivel cheia de bons sentimentos. Só o romance com o Visconde. de decorre inteiramente fora de cena, revela a sua natureza volúvel.
João,
ResponderEliminarEu não conheço a Mimi do livro, mas a da ópera - definitivamente - não é uma prostituta! É um abuso considerá-la como tal!
e na la Boheme de Leoncavallo é possivel conhecer-se esse caso com o visconde?
ResponderEliminarBlogger,
ResponderEliminarDesconheço essa La Bohème, apenas recordando uma ou outra ária... Mas que tal dares uma espreitadela ao libreto de Leoncavallo?
Pois João, foi o que fui fazer.
ResponderEliminarEfectivamente, na
La Boheme de Leoncavallo no fim do segundo acto Mimi retira-se secretamente com um certo Visconte Paolo, num episódio em que ele lhe pede para se apressar e ela suspira " morire mi sento".
O que não invalida o que disseste sobre a Mimi de Puccini. Essa, para todos os efeitos, é só uma simples costureira.
Dissoluto
ResponderEliminarPesa-me a consciência por o sentir, talvez magoado, por ter insultado de forma vil a Mimi por quem tenho estima, eu que a vi e ouvi na voz e figura da Cotrubas.
Chamar-lhe prostituta será certamente um exagero, somente perdoável devido à enfase que pretendi colocar nos argumentos sobre a qualidade dos libretos e da criação das personagens, independentemente das pessoas reais.
A si, à Mimi e a todos os seus admiradores, um sincero pedido de desculpas.
Xico,
ResponderEliminarNO WAY! Com elevação e respeito, neste espaço, tudo se pode discutir! Por dever de ofício, procuro e ajudo a procurar a verdade de cada um, pelo que me habituei a poder questionar tudo...
Nada de melindres, portanto :)
Keep in touch!
Um abraço,
JGA
Embora Mimi não seja uma mulher de vida fácil, é lícito considerar que procurou facilitar a sua existência por intermédio de determinados "esquemas proteccionistas".
ResponderEliminarPois tal como salvaguardei no meu anterior post a Mimi literária é diferente da Mimi operática. São ambas encantadoras.
ResponderEliminarA Mimi da Bhoéme é uma rapariga moderna, religiosa mas não puritana ou falsa moralista. "Não vou sempre à missa mas oro frequentemente ao Senhor", diz ela. No entanto presume-se que logo após o primeiro encontro com o Rodolfo partilham o mesmo leito. Como dizia é uma rapariga moderna:-)))
É curioso porque que me parece impensável este discurso relativamente a qualquer outro compositor italiano contemporâneo de Puccini. Grande mestre!
Eu acho que neste mundo,toda a gente tenta desenrascar-se,a coitada na Anne Nicole também tentou a sua sorte e deu-se bem enquanto durou a coisa.
ResponderEliminarSe a vida da senhora é motivo para fazer uma Ópera....bem isso não sei dizer,se ela merece uma Opera eu tambem mereço,mais até que ela,que nunca vivi ás custas de ninguém em troca de carne mal passada.Aliãs,toda a gente merecia ter uma Opera.
Confesso que pouco me importa se ela é pretexto de Opera,desde que a Opera fosse boa,bem cantada e tudo isso,era bom.
Coppola também fez O PADRINHO e afinal aquilo era tudo uma cambada de bandidos e criminosos e foi o êxito que se sabe,com grandes actores.Portanto.....quem sabe a Nicole revisitada será um sucesso :) venha ela.