(Patrizia Ciofi)
Depois do que aqui foi dito, a respeito desta La Traviata, pouco haverá a acrescentar.
A glória da interpretação assenta, repito, na superlativa encenação de Carsen – que sublinha a conflitualidade Giorgio vs Alfredo (pela posse de Violetta), enfatizando a dimensão materialista, efémera e crua de uma trama, o mor das vezes, excessivamente romanceada –, bem como na prestação de Hvorostovsky.
Saccà cumpre, como Alfredo. A sua performance reitera a impossibilidade de ombrear com o rival: a figura é mais fraca, o timbre algo caricatural e a prestação cénica, pouco acima da mediania. Este Alfredo é um pobre neurótico – psicanaliticamente falando -, castrado e incapaz de afrontar a soberania paterna.
Quanto a Ciofi...
Patrizia Ciofi é uma actriz extraordinária, com provas dadas (o que dizer da sua Marie?!). No drama de Violetta, Ciofi leva a melhor, sublinhando a conflitualidade da sua personagem, ora mais puta (perversa), ora mais ambivalente (neurótica: ossia, balanceando entre o amor por Alfredo ou por Giorgio...). Vocalmente, há evidentes problemas de afinação, particularmente no acto I, cuja coloratura é assassina e implacável. Mais à vontade, nos derradeiros actos, a voz alia-se ao teatro, o seu forte.
Mazzel dirige uma orquestra mediana, morna e arrastada em excesso, com deslizes discretos.
Esta La Traviata reveste-se de algum interesse musical adicional, na medida em corresponde à versão original, estreada, justamente, no La Fenice, a 6 de Março de 1853. Os números desconhecidos do grande público não são assim tão negligenciáveis...
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(3,5/5)
Falar da " conflitualidade Giorgio vs Alfredo (pela posse de Violetta)" é o maior disparate que tenho ouvido sobre a Traviata, como se a beleza ou não beleza de um intérprete condicionasse o trama. E por que carga de água a Ciofi tem de achar o barítono bonito e o tenor feio e com cara de imbecil? E se o Hvorostovsky tivesse o problema de saúde e fosse substituído por tipo feio como os trovões e, por acaso o Saccà, que pode ser bonito para alguns, fosse substituído pelo Kaufmann. Lá se ia a ideia do encenador que tem um cenário da casa da Violeta bem insuportável.
ResponderEliminarPróxima vez há que arranjar uma Annina boazona para criar "história".
Raul,
ResponderEliminar"E se..." a minha avó não estivesse morta, estaria viva! Vá saber-se por que razão, o que imagino que Carsen concebeu, sucedeu :-)D
Isto não é um problema de "ses", mas sim um problema do caro Dissoluto. Será que o tenor Saccà saberia desta ideia maquiavélica do encenador.
ResponderEliminarAcho mais interessante a Amina "gamar" o casaco de peles da patroa, a Violeta andar a ler a Manon do Abade Prevost no segundo acto.... Esses apontamentos sim parecem apontar para uma ideia do encenador o que não invalida que o Germont se possa sentir atraido pela Violeta. Aparentemente o Dumas pai teve de facto um relacionamente breve com a Violeta historica. Seja como for acho que o que prevalece é a moralidade burguesa e hipócrita que obriga a Violeta a sacrificar-se para poder triunfar o amor conjugal lícito da irmã do Alfredo. O que é indescutivel é que o tema apelava ao Verdi e lhe permitiu construir uma obra prima. pessoalmente não lhe podia ser indiferente dado a situação da sua 2ª mulher que criou 2 filhos como mãe solteira e que terá sido vitima do estigma social que tal acarretava no sec. XIX. Se calhar não é à toa que trabalhava e habitava em Paris e não na sua Italia natal que seria muito mais conservadora. Convenções sociais rigidas ou não não impediram que Verdi fizesse dela sua segunda esposa.... mas só depois do ex-sogro e patrono dos primeiros tempos deixa-se este mindo.
ResponderEliminarQue tem o Dumas pai a ver com a Violeta !? Se calhar uma antepassada dela foi a Lady de Winter! Não me consta que o D' Artagnan frequentasse os salões da cortesã, Não àquele nome feio que o Dissoluito lhe chamou.
ResponderEliminarPor lhe ter chamado puta?
ResponderEliminarO problema não é chamar puta à Violeta mas sim reduzi-la a unicamente a essa dimensão. Era puta, provavelmente muito boa, atraente, com carisma se não não estaria no topo da profissão. Mas também era um ser humano apaixonado, abnegado, ético, terno, meigo, altruísta.... e por aí além. Não me faz confusão chamar as coisas pelo nome, mesmo que seja feio ou politicamente incorrecto, mas termos uma visão redutora que nos impeça de ver o "todo". Essa falha neste caso especifico acho que a podemos apontar ao nosso amigo Galamba.
O último comentário é meu.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.