Não está em causa o grande barítono Byrn Terfel e este CD, mas sobre O "Tre sbirri, una carozza" que o cd da Gramophone divulgou e que eu ouvi. Uma decepção. Tudo muito forçado, a forçar uma caracterização, num italiano que deixa muito a desejar, pleno de aspirações (Tosca...dimenticare), inexistentes no italiano. Gobbi, Taddei, Guelfi, todos italianos cantando na sua língua, e Milnes infinitamente superiores.
Já ouvi alguns discos do Bryn Terfel e a voz é impressionante tal como a personalidade. No entanto acho que, à falta de melhor definição, o artista tem qualquer coisa de primário e grosseiro o que segundo o meu gosto não convêm a todos os papéis. Daí gostar bastante do seu Leporello, cujo timbre é maravilhosamente constrastado com o do Symon Keenlyside, mas não apreciar nada o seu D. Giovanni que não tem nada de aristocrático e elegante.... se bem que o D. Giovanni imaginado pelo Mozart talvez não fosse assim tão aristocrático como isso!
Estou de acordo consigo quanto à caracterização, mas, diversamente, e como penso que a relação Don Giovanni - Leporello constitui um dos maiores mistérios da lírica, creio que a aposta num Don mais grosseiro, quase "rasca", vil e mesquinho, talvez por contraposição a um Leporello nobre e generoso (se ouvir o de Samuel Ramey, com Muti, perceberá o que digo), pode ser uma interpretação muitíssimo interessante, uma troca de identidades que, quem sabe, talvez seja, antes, uma representação da verdade última de toda a história. Não digo que seja um valor absoluto, porque o Leporello que mais aprecio, que é o de Furlanetto (que representa verdadeiramente com a voz, servindo-se dela para dizer o que quer, quase como um camaleão se manifesta com as cores, se é que me percebe), genialmente teatral, não se define propriamente pela nobreza de carácter.
Num trio de luxo, protagonizado por Samuel Ramey (porventura o melhor Don Giovanni da sua geração), Ferruccio Furlanetto (um Leporello superlativo!!!) e pelo grandioso Kurt Moll, encontro a vossa encarnação, com cores quase wagnerianas, fazendo-nos recordar a Justiça Divina. Trata-se um momento sublime na história da lírica, incompreensivelmente esquecido pelas editoras, que pode ser revivido em:
Muito bem Signore Froes. Vamos lá ver a minha encarnação. Mas, se me permite, o meu amigo Gottlob Frick, que há já alguns anos deixou o mundo dos vivos e que outro dia, quero dizer altra notte, veio visitar-me, também era um pouco wagneriano. Tanto ele como o Kurt Moll são do melhor que há.
Não está em causa o grande barítono Byrn Terfel e este CD, mas sobre O "Tre sbirri, una carozza" que o cd da Gramophone divulgou e que eu ouvi. Uma decepção. Tudo muito forçado, a forçar uma caracterização, num italiano que deixa muito a desejar, pleno de aspirações (Tosca...dimenticare), inexistentes no italiano. Gobbi, Taddei, Guelfi, todos italianos cantando na sua língua, e Milnes
ResponderEliminarinfinitamente superiores.
Já ouvi alguns discos do Bryn Terfel e a voz é impressionante tal como a personalidade. No entanto acho que, à falta de melhor definição, o artista tem qualquer coisa de primário e grosseiro o que segundo o meu gosto não convêm a todos os papéis.
ResponderEliminarDaí gostar bastante do seu Leporello, cujo timbre é maravilhosamente constrastado com o do Symon Keenlyside, mas não apreciar nada o seu D. Giovanni que não tem nada de aristocrático e elegante.... se bem que o D. Giovanni imaginado pelo Mozart talvez não fosse assim tão aristocrático como isso!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro J. Ildefonso,
ResponderEliminarEstou de acordo consigo quanto à caracterização, mas, diversamente, e como penso que a relação Don Giovanni - Leporello constitui um dos maiores mistérios da lírica, creio que a aposta num Don mais grosseiro, quase "rasca", vil e mesquinho, talvez por contraposição a um Leporello nobre e generoso (se ouvir o de Samuel Ramey, com Muti, perceberá o que digo), pode ser uma interpretação muitíssimo interessante, uma troca de identidades que, quem sabe, talvez seja, antes, uma representação da verdade última de toda a história.
Não digo que seja um valor absoluto, porque o Leporello que mais aprecio, que é o de Furlanetto (que representa verdadeiramente com a voz, servindo-se dela para dizer o que quer, quase como um camaleão se manifesta com as cores, se é que me percebe), genialmente teatral, não se define propriamente pela nobreza de carácter.
Cumprimentos
Caro Luis
ResponderEliminarNão conheço o D. Giovanni do Muti mas fiquei interessado e irei investigar. Obrigado.
Depois de amanhã é meio de mês e só dois postes. O blog está muito doente. Como é que eu me entretenho no outro mundo?
ResponderEliminarMeu Caro Comendatore,
ResponderEliminarNum trio de luxo, protagonizado por Samuel Ramey (porventura o melhor Don Giovanni da sua geração), Ferruccio Furlanetto (um Leporello superlativo!!!) e pelo grandioso Kurt Moll, encontro a vossa encarnação, com cores quase wagnerianas, fazendo-nos recordar a Justiça Divina.
Trata-se um momento sublime na história da lírica, incompreensivelmente esquecido pelas editoras, que pode ser revivido em:
http://www.youtube.com/watch?v=dK1_vm0FMAU
Cumprimentos
Muito bem Signore Froes. Vamos lá ver a minha encarnação. Mas, se me permite, o meu amigo Gottlob Frick, que há já alguns anos deixou o mundo dos vivos e que outro dia, quero dizer altra notte, veio visitar-me, também era um pouco wagneriano. Tanto ele como o Kurt Moll são do melhor que há.
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