A proximidade dos quarenta – ainda longínquos, quand même... – tem produzido efeitos surpreendentes na mente de um certo Dissoluto: primeiro, o dito cujo toma-se de amores pelas gueixas; depois – ainda não recomposto do deslize – Il Dissoluto Punito entrega-se à poligamia...
Há muitos anos, na defunta Valentim de Carvalho, ao Chiado, o João Ildefonso apresentou-me, via cd, uma das mulheres (líricas) da minha vida: Cheryl Studer.
No registo da Senhora – um Best of absolutamente estrondoso, sem concessões comerciais, nem vulgaridades artísticas de espécie alguma – sobressai uma leitura triunfal de um dos mais extraordinários trechos líricos de A Mulher sem Sombra, de Richard Strauss: Vater bist du’s?
(Cheryl Studer)
Não fora a insistência do João, provavelmente, A Mulher sem Sombra não figuraria ainda tão prolixamente na minha cdteca: doravante, iniciei-me nos encantos da dita, envolvendo-me libidinosamente com cada uma das suas protagonistas: Rysanek, Studer, Varady, Studer(2)...
(Böhm'54 - DECCA -, Sawallisch'88 - EMI -, Solti'91 - DECCA - e Solti´93 - DECCA, edição dvd)
Todas me agradaram, mas apenas uma me fascinou: La Studer! Surpreendido, caro leitor? Rysanek sempre foi tida como A protagonista definitiva de A Mulher sem Sombra, A Kaiserin derradeira...
Pois bem, ainda que a minha paixão por Cheryl S. se mantenha, não resisti a mais uma "escapadela": de novo, entreguei-me de corpo e alma a Leonie R.
Irresistível, não? Não tendo a luminosidade de Studer, Leonie Rysanek, em termos de densidade interpretativa e elegância, é soberana, tanto mais que o registo em que se deu o nosso encontro amoroso corresponde ao apogeu da carreira da grande A Mulher, os mid-60’s, em Viena, sob a batuta de um certo Von Karajan.
(Leonie Rysanek)
Segundo consta, não foram muitos os encontros posteriores dos dois monstros, Leonie e Herbert.
Anos mais tarde – nos seventies -, sobranceiramente, Von Karajan menosprezou a putativa Salome de Rysanek. Tramou-se! Karl Böhm, tomado pelos encantos mil da austríaca, não hesitou um só segundo e... Leonie Salome, quarentona convicta, indisfarçável e assumida, triunfou!
Von Karajan, quiçá vexado, quis contra-atacar, escolhendo Hildegard Behrens para protagonista, de novo em solo austríaco. Não se deu mal, não Senhor!
Claro está, Rysanek fez escola, inclusive em Salome: Mattila, à semelhança de Leonie, ousou a protagonista de Salome, já depois dos quarenta. Evidentemente, Karita tirou-me do sério, nua, escaldante, tórrida...
(Karita Mattila, protagonista de Salome, no Met, em 2004)
Regressemos à terra, que seja a Staatsoper, algures em 1964: o elenco é um verdadeiro luxo!
(Von Karajan'64 - DG)
Enjoy it!
Pessoalmente, estou deleitado! Comprei o artigo há poucos minutos, a escassos €25, numa certa loja lisboeta, que de nacional nada tem...
Moral da história: na lírica - particularmente em Strauss, em A Mulher sem Sombra -, a poligamia é incontornável...
Há muitos anos, na defunta Valentim de Carvalho, ao Chiado, o João Ildefonso apresentou-me, via cd, uma das mulheres (líricas) da minha vida: Cheryl Studer.
No registo da Senhora – um Best of absolutamente estrondoso, sem concessões comerciais, nem vulgaridades artísticas de espécie alguma – sobressai uma leitura triunfal de um dos mais extraordinários trechos líricos de A Mulher sem Sombra, de Richard Strauss: Vater bist du’s?
(Cheryl Studer)
Não fora a insistência do João, provavelmente, A Mulher sem Sombra não figuraria ainda tão prolixamente na minha cdteca: doravante, iniciei-me nos encantos da dita, envolvendo-me libidinosamente com cada uma das suas protagonistas: Rysanek, Studer, Varady, Studer(2)...
(Böhm'54 - DECCA -, Sawallisch'88 - EMI -, Solti'91 - DECCA - e Solti´93 - DECCA, edição dvd)
Todas me agradaram, mas apenas uma me fascinou: La Studer! Surpreendido, caro leitor? Rysanek sempre foi tida como A protagonista definitiva de A Mulher sem Sombra, A Kaiserin derradeira...
Pois bem, ainda que a minha paixão por Cheryl S. se mantenha, não resisti a mais uma "escapadela": de novo, entreguei-me de corpo e alma a Leonie R.
Irresistível, não? Não tendo a luminosidade de Studer, Leonie Rysanek, em termos de densidade interpretativa e elegância, é soberana, tanto mais que o registo em que se deu o nosso encontro amoroso corresponde ao apogeu da carreira da grande A Mulher, os mid-60’s, em Viena, sob a batuta de um certo Von Karajan.
(Leonie Rysanek)
Segundo consta, não foram muitos os encontros posteriores dos dois monstros, Leonie e Herbert.
Anos mais tarde – nos seventies -, sobranceiramente, Von Karajan menosprezou a putativa Salome de Rysanek. Tramou-se! Karl Böhm, tomado pelos encantos mil da austríaca, não hesitou um só segundo e... Leonie Salome, quarentona convicta, indisfarçável e assumida, triunfou!
Von Karajan, quiçá vexado, quis contra-atacar, escolhendo Hildegard Behrens para protagonista, de novo em solo austríaco. Não se deu mal, não Senhor!
Claro está, Rysanek fez escola, inclusive em Salome: Mattila, à semelhança de Leonie, ousou a protagonista de Salome, já depois dos quarenta. Evidentemente, Karita tirou-me do sério, nua, escaldante, tórrida...
(Karita Mattila, protagonista de Salome, no Met, em 2004)
Regressemos à terra, que seja a Staatsoper, algures em 1964: o elenco é um verdadeiro luxo!
(Von Karajan'64 - DG)
Enjoy it!
Pessoalmente, estou deleitado! Comprei o artigo há poucos minutos, a escassos €25, numa certa loja lisboeta, que de nacional nada tem...
Moral da história: na lírica - particularmente em Strauss, em A Mulher sem Sombra -, a poligamia é incontornável...
Viva João,
ResponderEliminarNão vou falar do minha preferência pela Varady. Percebo perfeitamente a sua preferência pela Studer.
A "minha" Mulher é outra versão do Bohm que não trocaria por nenhuma outra, Ele é da DG e a nos papeis principais temos:
Birgit Nilsson, Leonie Rysanek, James King, Walter Berry e Ruth Hesse
Para mim, nada se pode comparar à interpretação da Nilsson. Já com 59 anos os seus agudos, extremamente ácidos, são únicos. E a sua "selvajaria" ? Uma perfeição.
Outra coisa: o João conhece uma interpretação da Price da ária da Imperatriz num CD da RCA, onde veem as 4 Últimas e o Zarathustra?
Um abraço
RAUL
Esta Poligamia (por enquanto) ainda não é punida. Pode estar descansado que a ASAE não lhe vai bater á pota dizendo ... "Mas que é isto? Estou aqui a ver várias ... Onde está a licença e o alvará?"
ResponderEliminarViva Raul!
ResponderEliminarSei bem da interpretação de que fala, embora não a tenha... Apenas a encontrei disponível em França. Eu dia, estou certo de que a juntarei à minha lista :)
Quanto ao cd da Price, curiosamente, ontem li óptimas referências! Encontrá-lo é que serão elas, não?!
Fernando,
ResponderEliminarE se ousarem aparecer, não se inquiete que eu sei bem para onde os mandar!
Um abraço
JGA
João,
ResponderEliminarSe eu encontrar o cd da Price compro-lho e terei todo o prazer em oferecer-lho. Se, entretanto, quando eu voltar aí, ainda o não possuir, eu levarei o meu, para que o possa ouvir.
RAUL
Por acaso, ando à procura da Farberin da Inge Borkh numa gravação dirigida por Joseph Keilberth (DG). Talvez a encontre online.
ResponderEliminarAproveito este espaço para anunciar que a grande Leyla Gencer faleceu esta manhã em Milão.
ResponderEliminarEu conheço essa interpretação da Price e é soberba. Querido joão tenho tanta nostalgia desses tempos em que vendia discos na VC. Sentia-me perfeitamente realizado profissionalmente. Também tenho nostalgia dos bons velhos tempos da Studer e com frequência escuto-a no youtube a cantar a Condessa.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Morreu a Gencer? Afinal a Olivero sempre levou a melhor:-))) Havia uma grande rivalidade entre as duas senhoras pós-reforma relativamente aos convites para júris de concursos! Até certo ponto gosto da Gencer. Foi importante historicamente na reabilitação de muitas óperas (Stuarda, Devereux, etc) que posteriormente a Caballé e a Sutherland gravaram. Infelizmente a voz era bastante ligeira e os excepcionais dotes interpretativos nem sempre compensam o esforço vocal que é sempre muito perceptivel. Agora então depois de anos dae belcanto da Sutherland, Caballé e Gruberova a gravações da Gencer pareçem muito datadas.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Subscrevo a apreciação que o João Ildefonso faz da Gencer. Eu tenho-o, num duplo CD de árias e em Verdi (Macbeth, Trovador, Vésperas Sicilianas e Aida). Na Aida, em dvd da Arena de Verona (1966) é totalmente "esmagada" pela Cossoto e o Bergonzi. Nas outras óperas está muito bem, sem ser extraordinária. Tem sempre um "choro" na voz que para mim nem sempre encaixa melodicamente na linha de canto.
ResponderEliminarPelo que li dela e pela postura nas entrevistas não me parecia uma pessoa simpática.
Eu acho que veio a Portugal, mas não tenho a certeza.
RAUL
Sim. Ela veio a Portugal cantar exactamente a Butterfly na primeira fase da carreira, antes da aventura Belcantista, num pacote que também incluio a Tucci a cantar a Dama de Espadas.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Sim, não era muito simpática e quem contactou com ela diz que fez mal a muita gente. Quem pode esclareçer é a Zampieri que foi sua aluna e que também não me pareçe nada simpática.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Das célebres a quem pedi autógrafos as simpáticas eram a Suliotis, a Barbieri (uma bem disposta), a Cossoto e a Stella. A Scotto e a Caballé divíssimas e muitíssimo simpático o Ivo Vinco. Lembro-me de, eu nos meus 20 anos, depois de uma Aida, e depois de eu lhe ter feito uma pergunta tonta (Qual era para ele o modelo de baixos?), ele descer as escadas do Coliseu, dando-me o braço (!?) e dizer-me "Giulio Neri".
ResponderEliminarGino Bechi era meio parvo e julgava que tinha piada. Eu ainda mais jovem, também no Coliseu à saída dos artistas, eu disse-lhe "Eu tenho a sua Aida". Resposta pronta: "Deite-a ao Tejo".
Teve uma graça que vou ali e já venho.
Ele já não cantava.
RAUL
Eu li algures que a senhora Cossotto tanto podia irradiar simpatia como ser do mais insuportável imaginável enquanto o (actualmente ex-)marido era um amor de pessoa, sempre bem disposto.
ResponderEliminarSim a Cossoto tem fama de ter sido muito temperamental. Foi ela que despoletou um escândalo aquando duma digressão do Scalla a Moscovo nos anos 60 e também não seportou de forma muito digna nas Normas com a Callas em Paris.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
A polémica Cossoto-Callas, que provocou a ira e o corte de relações do Zefirelli, é bem conhecida. Pediram-lhe para baixar um pouco a sua zona mais alta, por causa dos problemas da Callas e ela recusou. A prestação da Callas foi desastrosa coma voz da Cossoto, no seu apogeu, a sobrepor-se totalmente à da Callas. Essa récita (Paris, 1965) está gravada e eu tenho-a. A Callas faz pena. Se nunca ouviram, nem imaginam. No fundo não acho que a Cossoto não tenha razão. Mas é verdade que ela, Cossoto, se pudesse tratar mal o soprano, não perdia tempo. Alguns sopranos (Sutherland, Caballe) impunham-se à Cossoto, outros não levavam a melhor (Scotto).
ResponderEliminarRaul
Caro Hugo Santos,
ResponderEliminarSou um grande admirador de Inge Borkh. Tenho-a na Salome, dirigida pelo Bohm, e depois tenho uma preciosidade: a cena inicial e a cena final da Elektra e da Salome, respectivamente, dirigidas magistralmente por um dos maiores maestros de sempre: Fritz Reiner.
RAUL
Esse disco da RCA é muito interessante. Tenho-a na Farberin numa récita do MET de 1971 mas o som é mau, para dizer o mínimo.
ResponderEliminarJá que o caro Raul parece ter um óptima memória no que diz respeito ao que viu e ouviu no São Carlos gostaria que me pudesse tirar a seguinte dúvida: em 1975 ou 1976 houve um Rigoletto com o Alfredo Kraus e a Ileana Cotrubas. Segundo o Jorge Calado o papel titular era cantado pelo Piero Cappuccilli enquanto outras fontes apontam o Franco Bordoni como intérprete nessas récitas. Alguma destas hipóteses está correcta ou os dois cantores partilharam o protagonista nessa produção.
Caro Hugo Santos,
ResponderEliminarInfelizmente não vou poder esclarecê-lo convenientemente, pois em 1975 eu estive a primeira metade do ano em Moçambique na tropa.
O que lhe posso dizer é o seguinte:
Em 1970 vi o Franco Bordoni no Ernani e na Bohéme. Lembro-me de ter uma voz grande e ressonante e cantar muitíssimo bem.
Em 1971 vi o Cappucilli no Rigoletto com o Kraus e não a Cotrubas.
Acontece que me lembro perfeitamente de ter visto no programa do Rigoletto de 1979, com o Bruson, o nome do Bordoni numa interpretação anterior. Se eu estivesse em Portugal podia verificar imediatamente, pois guardo os programas das óperas que vejo. O que pode acontecer - é apenas uma hípótese - é ter havido um intérprete para o São Carlos e outro para o Coliseu.Às vezes acontecia.
RAUL
A Gilda dessas récitas do Rigoletto com o Cappuccilli era a Margherita Guglielmi, se não estou em erro. Mesmo assim, muito obrigado pelas informações. Eu gostaria ainda de lhe colocar mais algumas questões mas julgo que não ser próprio estar a usar este espaço para tal. Agradecia que, quando tivesse disponibilidade, me contactasse.
ResponderEliminarFui ver a Tosca da TNSC.
ResponderEliminarConforme se previa uma encenação brilhante com um palco dentro do palco cheia de ironias muito apropiadas numa Ópera que tem como protagonista uma cantora de opera .-)) Confirmou o Robert Carson como o meu encenador favorito. O maestro apesar de reputação é competente mas completamente anónimo.... depois do Sabata, Karajan e Sinopoli é dificil causar impacto. O tenor é mediocre mas honesto. O baixo é maravilhoso conforme tivemos oportunidade de constatar no Boris, Sadko e Cavaleiro Avarento mas no Scarpia está completamente miscast! A Elisabete Matos estaria mais defendida numa encenação convencional mas cantou muito bem o "vissi d'arte". Infelizmente a voz que nunca foi muito homogénea está com os agudos cada vez mais duros e estridentes e com o registro médio opaco mas é trabalhadora, honesta e tem um desempenho apreciável. Sinceramente acho que o cenário não ajuda muito à projecção da voz pois foi um campo em que todos se mostraram deficientes. Alguém mais conhecedor poderá esclarecer-me?
J. Ildefonso.
Eu ouvi a récita de ontem pela rádio.
ResponderEliminarGostei do som da orquestra embora, por vezes, faltasse algum vigor e propulsão por parte do maestro.
O timbre do Evan Bowers é agradável e tem noção do estilo pucciniano. Não é brilhante mas não deixou de cumprir. Curiosa a forma como aborda as notas mais agudas, parece usar uma técnica diferente...
Por vezes, o papel de Scarpia escapa vocalmente ao Vladimir Vaneev, no entanto, a valorização do texto é excelente e os instintos dramáticos nunca lhe faltam. Uma óptima prestação.
A Elisabete Matos entrou um pouco a frio mas acabou por fazer uma belíssima Tosca. A voz começou algo baça mas foi ganhando algum brilho à medida que a ópera foi progredindo. Os agudos foram um pouco gritados mas, felizmente, não perderam a cor que sempre tiveram. Dramaticamente respondeu aos desafios do papel, defendendo-se bem no confronto com Vaneev.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTodas fantásticas, de facto. Mas, no que a Strauss diz respeito, nenhuma cantora me fascina mais do que Ljuba Welitsch em "Salome" (preferencialmente, na gravação de 1949).
ResponderEliminarSim. Nos últimos tempos do TNSC foi a única produção que funcionou a todos os níveis se não de forma exemplar pelo menos meritória.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
Raul, Fico ansiosamente à espera da preciosidade da Price!
ResponderEliminarCarlos A.,
ResponderEliminarPor acaso, não está a falar de uma Salome live, gravada no Met?
Estou precisamente a falar de uma gravação ao vivo no Met.
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