Nunca a Ópera de Berlim esteve tanto na berra, por razões absolutamente estranhas ao mérito das suas produções!
O caso Idomeneo é patético e paradoxal!
A propósito de uma alegada ameaça fanática, a directora da citada ópera decidiu retirar da programação da actual temporada uma produção de Idomeneo, de Mozart.
A ópera - de segunda linha -, na produção em questão, incluía uma exibição das cabeças de Jesus Cristo, Buda e Maomé, entre outros, numa clara alusão à fragilidade dos profetas.
Daí a outras críticas, extensíveis às religiões que os ditos profetas representam, vai um tirinho!
Aqui para nós, apesar de ser agnóstico, creio que a renúncia categórica ao divino merece ser enquadrada no âmbito da (nossa) omnipotência criadora: negar / exterminar o criador - seja ele qual for - equivale a concentrar no humano toda a génese!
Se a tese pode vingar, em termos científicos, o que dizer do simbolismo subjacente a tal renúncia?
Bem ou mal, o nosso imaginário encontra-se ancestralmente dominado pela ideia de fragilidade = humana vs omnipotência = divina.
Idomeneo, na criação mozartiana, questiona estas últimas equações; a produção da Ópera de Berlim, vai mais longe!
Dir-se-ia tratar-se da omnipotência elevada ao quadrado!
Eis senão quando, face a uma simples ameaça, a dita produção é retirada de cena, numa claro volte-face impregnado da mais pura fragilidade humana.
Interessante é, justamente, esta capacidade de, num momento enaltecer a soberania humana - governada pela toute-puissance -, para, no momento seguinte, paradoxalmente, se assumir a incontornável dependência e fragilidade (tão tipicamente) humanas!
Intolerável este "medo do fundamentalismo islâmico". Grande Bento XVI, que, embora não quisesse "ofender " aquelas almas hipersensíveis, não foi tão inocente quanto proclama.
ResponderEliminarEm relação à reacção de retirar a encenação,posso compreender que haja medo de qualquer atentado na Ópera de Berlim. Aquela gente odeiam a cultura ocidental. A solução passava por se representar a ópera noutro local. Quanto à encenação propriamente dita, eu nunca a iria ver, não porque temesse o fundamentalismo (no ano passado cheguei a Londres no dia a seguir às bombas e andei de metro: conservo o bilhete), mas porque não alinho em delírios de encenação.
Raul