sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Elisabeth SCHWARZKOPF: best of Opera (EMI)



Como tive ocasião de referir inúmeras vezes, a meu ver, Schwarzkopf foi o soprano lírico mozartiano e straussiano dos anos 1950, tendo apenas disputado este estatuto com Lisa Della Casa (sendo que, no essencial, Elisabeth levou a melhor...).

À semelhança do que havia prometido, por ocasião do desaparecimento da mítica intérprete, consagro este post a um (pessoalíssimo) best of opera discográfico de Elisabeth Schwarzkopf, apenas e só no tocante às edições da EMI Classics, a sua casa de referência, por razões sobejamente conhecidas de todos os apreciadores de lírica.

Advirto o leitor para a circunstância louvável de dispormos de uma trilogia mozartiana ao quadrado!

Schwarzkopf teve a ocasião de interpretar em estúdio (excepção feita ao primo Don, captado ao vivo em Salzburgo) a célebre trilogia, em dois momentos da sua carreira: Così Fan Tutte, 1955 & 1963, Le Nozze di Figaro, 1952 & 1961 e Don Giovanni, 1954 (live) & 1961.



Se é verdade que a frescura vocal marca as interpretações da década de 1950, as da década seguinte contêm a marca inabalável da mestria teatral. É só escolher, como se tal fosse possível!

Já no tocante a Richard Strauss, infelizmente não dispomos de igual sorte...

Ainda assim, a discografia deste compositor conta com leituras absolutamente indispensáveis, protagonizadas por Elisabeth Schwarzkopf: Ariadne auf Naxos, Capriccio e Der Rosenkavalier. Pergunto-me por que razão não gravou A Mulher sem sombra, Daphne ou mesmo Arabella?!



De facto, em todas elas, teria de afrontar as titulares discográficas e cénicas dos papeis principais femininos, respectivamente Ryzanek, Guden e Della Casa (esta última imbatível, na época!!!)

Termino com um registo não - operático absolutamente incontornável, porventura o maior, mais belo e eloquente legado de La Schwarzkopf (ex equo com a Condessa d´As Bodas de Fígaro, preferencialmente no registo de 1961, sob a batuta genial de Giulini): ...Vier Letzte Lieder, de Richard Strauss, na extraordinária e soberana interpretação de 1966, tão bela e pueril quanto melancólica, diáfana e dilacerante!
Um monumento lírico com poucos paralelos!!



nota: caso o leitor pretenda a lista integral de registos da intérprete, disponíveis na EMI, clique aqui.

22 comentários:

  1. Não estou a ver a Schwarzkopf na Mulher sem sombra e na Daphne, mas acredito que se transformaria numa imperatriz; quanto à Daphne, não sei se a voz chegaria às notas da cena final. No tocante à Arabela, temos registos de trechos e, embora eu não aprecie muito esta ópera, penso que seria uma Arabela ideal, até porque a linha de canto não está muito longe da Marchallin. O que eu lamento é o facto da sublime cantora não ter gravado a Chrysotemis da Elektra.
    Raul

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  2. Raul,

    Essa é que me surpreende! A Schwarzkopf na Chrysotemis??? Não consigo imaginá-la!!!

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  3. João,
    Quem canta idealmente as Quatro Últimas Canções por que não a Chrysotemis ? Estou a lala no plano vocal, pois que o interpretativo tenho a certeza que a genial cantora encontraria a personagem.
    Raul

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  4. Eu sei que não vão concordar comigo mas eu nunca tive muita paciência para a Schwarzkopf.
    Irrita-me muitíssimo e acho-a afectada ao extremo. E sinceramente vocalmente também não é intocável, longe disso.... na famosa gravação do Cosi com o Karajan emite sons muito desagradáveis e nada musicais....
    Enfim uma openião diferente.

    J. Ildefonso.

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  5. E completamente diferente. Sem dúvida que é um pouco afectada, mas qual é o problema ? Essa afectação é feita dentro da música e ao serviço da interpretação.
    Eu tenho a Cosi com o Bohm e está entre as ***** da minha cdteca, não só pela Schwarzkopf como também pelo resto do elenco. Nunca ouvi a Cosi do Karajan.
    Raul

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  6. Carissímo amigo... não o ofende que o considere um amigo apesar de praticamente não nos conhecermos pois não?
    Informo que exigo resposta à pergunta formulada:-)))

    Antes peço desculpa por só agora ter oportunidade de responder ao seu mail mas tenho trabalhado terrivelmente.

    Indo direito ao assunto o que me pareçe é que a Schwarzkopf mostra uma intelêgencia fina na análise dos papeis que cantou explorando o potencial do personagem à exaustão, até aqui de acordo consigo. Mas o que me pareçe também é que falta um trabalho posterior de sintese onde se opta por um determinado caminho em deterimento das outras possibilidades e também que falta uma certa espontâniedade, o que não invalida o trabalho anterior, no momento da execução músical o que faz com que os seus personagens pareçam duma intelectualidade e frigidez glacial.
    Também vocalmente não me pareçe tão perfeita como geralmente se afirma os agudos muitas vezes são muito desagradáveis e duros.... e se se analisa e discute se nenhum tipo de pudor os insucessos vocais duma duma cantora mitica como a Callas porque não fazer o mesmo com uma cantora igualmente mitica e de excepção como a Schwarzcopf?
    Devo também acrescentar que sinceramente na geração da referida cantora existem outras que me pareçem igualmente de excepção e que estão um pouco mais esquecidas, o que considero injusto, como a Lisa della Casa, a Janowitz, Ludwig, etc, etc.
    Um grande abraço.

    J. Ildefonso.

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  7. Meu amigo,
    Só não foi resposta imediata, porque tive o fim de semana fora, mais precisamente em Pequim - imagino que sabe que vivo há uns anos em Macau - onde fui festejar com outra pessoa a nossa chegada há 20 anos àquela cidade que tanto adoro. Embora para mim seja hora de ir para a cama, e deixando para amanhã o comentário à sua resposta e igualmente a participação na polémica sobre a Mme Butterfly, queria aqui reafirmar-lhe a minha abordagem sempre amiga e de admirador dos seus conteúdos quando leio o que escreve. Tenho consciência que às vezes o "pico" um bocadinho, mas isso é vital para o nosso relacionamemto blogótico. Não acha ? Amigos, amigos, polémicas àparte.
    Não amigo americana, mas o Amigo Raul. UM ABRAÇIO

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  8. Um grande abraço e bons sonhos amigo Raúl:-))

    P.S.- Também eu acho que às vezes o "pico" um pouco a si da forma mais propositada possivel...

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  9. João Ildefonso,
    Não há muito a discordar do que diz sobre a Schwarzkpf, porque a distância um pouco glacial em nada diminuem as virtudes da cantora. Quanto ao canto, que para mim é o mais importante, aqui e acolá depois dos seus quarentas haverá uma pequena imperfeição, inclusive no Don Giovanni do Giulini, mas toda a linha de canto é tão bela de ouvir. Artificial, sim , talvez, "but who cares ?". Sim, mas as personagens que ela escolheu foram sempre tão artificiais. Era o seu campo.
    Outra coisa: eu nunca disse que não queria discutir a Schwarzkopf. Discuto tudo, inclusive as minhas deusas: Flagstad, Lehmann, Callas, Tebaldi, Crespin, Los Angeles, Price, Nilsson, ...
    Também nos esquecemos que a Schwarzkopf não é só a cantora de ópera,é também de lied e aí...
    Raul

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  10. João Ildefonso,

    Já sabemos da tua pouca afinidade com a dita senhora.
    Quanto ao Così do Karajan, é magnífico! A Schwarzkopf é uma grande, grande Fiordiligi, ainda que nem sempre seja intocável vocalmente (como ninguém, aliás)!

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  11. Raul,

    Não há amizades sem polémicas! Concordo consigo em tudo, menos na Madama (Brrrrrrrrrrrrrr)!
    Um abraço

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  12. Caro Raúl.

    Personagens artificiais como a Marachala porque cantados pela Schwarzkopf... porque quando cantados pela Sena Jurinac, Régine Crespin ou a Ludwig são plenos de "humanidade":_)))

    J. Ildefonso.

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  13. Caro Raúl.

    Personagens artificiais como a Marachala porque cantados pela Schwarzkopf... porque quando cantados pela Sena Jurinac, Régine Crespin ou a Ludwig são plenos de "humanidade":_)))

    J. Ildefonso.

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  14. Caro João Ildefonso,
    Eu tenho a Crespin que como referi é uma deusa para mim. Sem dúvida que a Marechala da Cespin é mais terrena. Mas eu continuo a pensar que o trabalho da E.S. não é uma limitação, mas um trabalho artístico deliberado apontado para uma versão decadente da personagem. A Rysanek não gostava desta Marechala, mas dizia que era uma opinião pessoal.
    Raul

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  15. Okay então eu sou como a RysaneK!
    A propósito também ouvi a Fleming no Trovador e não gostei absolutamente nada. Muitos problemas vocais e desconforto na cabaleta especialmente...

    J. Ildefonso.

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  16. Mas o João Ildefonso não acha que a Fleming tomou liberdades interpretativas inadmissíveis para o Tacea la notte ? Nem a Sutherlan, a menos Leonora do mundo, teve essa ousadia. A Fleming, como castigo devia ouvir 50 vezes a versão da Price e outras 50 a da Callas.
    Raul

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  17. Ou até a gravação da Gencer ou da pobre Tucci.... à Fleming só faria bem!

    J. Ildefonso.

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  18. E mais:
    Depois far-lhe-íamos, os dois, um exame. Eu debruçava-me mais na ária e o João na cabaleta. Seríamos de uma exigência exemplar. Caso ela não fosse aprovada, seria condenada a permanecer durante seis meses no Coro de Santo Amaro de Oeiras, onde cantaria cantatas de Lopes-Graça. :)
    Raul

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  19. Bem pensado Raúl:-)))

    Sabe que gosto muito da pobre Gabriela Tucci apesar de não ser uma grande cantora:

    J. Ildefonso.

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  20. Da Tucci só conheço a versão do Trovador com o Corelli e, como não tenho a gravação, já não me lembro bem da voz dela. Há uns tempos vi um dvd onde ela cantava o dueto final do primeiro acto da Butterfly, mas confesso que não me lembro bem da interpretação. Na minha subconsciente memória (onde eu me fui meter !)tenho a Tucci como um cantora com uma voz aceitável e só isso.
    A sua grande época foi o final dos 50s e princípio dos 60s. Esteve na deslocação em 1961 a Tóquio do Scala, que incluiu a Tebaldi, a Simionato e o del Mónaco. Dessa digressão tenho em videolaser com a Cavellaria Rusticana pela Simionato (Fantástico!). A Tucci, se não me engano, cantou a Aida e na internet existem fragmentos da sua actuação.
    Raul

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  21. Sim naquele tempo, o tempo da Callas, Tebaldi, Scotto, Freni, era realmente isso.... uma cantora de voz aceitável e pouco mais... só que nessa altura "o pouco mais" hoje em dia seria muito... uma técnica sólida, uma adequação da voz aos papeis cantados, intelegencia interpretativa,etc, etc....
    Lembrei-me dela por causa do Trovador da Fleming que tem uma voz muito mais bela do que a Tucci e uma técnica igualmente sólida mas que se afunda sem remédio na Leonora.

    J. Ildefonso.

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  22. Tem toda a razão. A sobrevivência nessa época era muito difícil. A própria Freni teve de esperar pelos anos setenta, para ser ouvida como um dos melhores sopranos que existiam. Volto a carregar na Fleming, cantora maravilhosa. Como foi capaz de cantar tão mal o "Tacea la notte", essa joia musical !
    Vi hoje a Tucci na Internet. Cantava o "Caro nome". Muitas dificuldades nas coloraturas, como era de esperar.
    Raul

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