terça-feira, 31 de maio de 2005

Arabella, de R. Strauss I - detalhes...

Sou um admirador confesso da ópera straussiana !

De entre os compositores modernos seus contemporâneos - Janacek, Schoenberg, Bartok e Berg -, Richard Strauss foi claramente o mais expressivo, em termos de produção operática. Aliás, são várias as óperas deste compositor que se mantêm em repertório, nos nossos dias.

Arabella foi a derradeira obra nascida da colaboração entre Richard Strauss e Hugo von Hofmannsthal, dupla ilustríssima, responsável por composições como Elektra, O Cavaleiro da Rosa, Ariadne de Naxos, A Mulher sem Sombra ou Helena do Egipto.
Desta feita, o propósito da dupla centrava-se na composição de uma peça estruturalmente similar a Der Rosenkavalier, capaz de alcançar igual sucesso.
Tragicamente, a colaboração entre Strauss e von Hofmannsthal foi interrompida pela súbita morte deste último, escassos dias após o suicídio do próprio filho, quando apenas o primeiro acto da ópera se encontrava concluído...

A première teve lugar a 1 de Julho de 1933, em Dresden, sob a direcção de Clemens Krauss, contando com Viorica Ursuleac na pela da protagonista.

À semelhança de O Cavaleiro da Rosa, Arabella é trespassada pela comédia. Em ambas as óperas, envoltos em clima de inefável ligeireza, são expostos aspectos menos nobres e, forçosamente mais encapotados, da sociedade vienense, respectivamente, de setecentos e de finais do século XIX.
Efectivamente, em Arabella, autenticidade, nobreza de carácter, fidelidade, castidade e pureza, coexistem com vício, ocultismo, oportunismo e superficialidade das aparências, mantidas a qualquer preço !
Não foi sempre assim, afinal...


De entre as mais famosas produções straussianas, Arabella jamais passou de distante enteada ! A prová-lo, veja-se o reduzido número de gravações de que esta obra foi alvo, sendo que, a maioria das mesmas, resultou de gravações ao vivo !

Quiçá
, falta-lhe o arrojo de Salomé e de Elektra - óperas avant-garde -, ou a profundidade de Capriccio e de Ariadna, criações meta-operáticas, capazes de relançar, em moldes singulares, questões tão nobres e prosaicas, à la fois, como trágico vs cómico, sério vs bufo ou ainda a eterna questão em torno da primazia da palavra ou da música, tema essencial e transversal a toda a criação lírica.

(continua...)

Le retour de la grande Natalie Dessay...

Sur Le Monde d´aujourd´hui, nous apprenons le désiré retour de la souveraine Dessay, la plus remarquable représentante du soprano léger de sa génération !

"Cette oeuvre, dédiée au jubilé de la visite de feu Jean Paul II à Saint-Denis, consacrait surtout, pour les mélomanes, le retour de la soprano Natalie Dessay après de longs mois de rééducation vocale.

La chanteuse avait en effet subi, en novembre 2004, l'ablation d'un polype sur la corde droite, deux ans et quatre mois après une première intervention pour un pseudo-kyste de la corde vocale gauche. Sa reprise au printemps 2003 avait rapidement tourné court : dès octobre, elle avait déclaré forfait en annulant l'Opéra Bastille, où elle devait chanter Zerbinette de l'Ariane à Naxos de Richard Strauss.

Ce second retour à la voix, Natalie Dessay le fait en douceur, dans la lumière d'une musique imprégnée d'idées fraternelles et maçonni-ques, au côté de son mari, Laurent Naouri, qui est aussi son Adam au paradis terrestre. C'est émouvant de la retrouver chantant l'archange Gabriel, d'entendre à nouveau son timbre clair et chaud, de savourer sa belle musicalité, et cette manière de facilité qui n'appartient qu'à elle.

La voix est là, nul doute. Même s'il faudra attendre, pour retrouver la flamboyante colorature et la tragédienne née, le grand récital qu'elle donnera le 7 juillet au Théâtre des Champs-Elysées - Rossini, Bellini, Donizetti."

Bon retour, Zerbinetta/Olympia/Reine-de-la-Nuit/Ophélia/Amina... bientôt Violetta !

segunda-feira, 30 de maio de 2005

Des cadeaux musicaux de Paris...

Voici les cd´s que j´ai ramenés de Paris (je les sorts vite de ma valise en plastique :) )















Les commentaires, je les ferai plus tard, forcément...

sábado, 28 de maio de 2005

Arabella... infinitamente memoravel... Bella, bella !

Duas questoes me impedem de tecer um comentario a recita de Arabella, que hoje, sabado, teve lugar no Théatre du Châtelet: a extrema emocao e a circunstancia de me encontrar privado de um teclado portugues...
Fica a promessa, para breve, de uma opiniao mais detalhada e fundamentada !

Para ja, ficam algumas imagens, de qualidade mais do que duvidosa - mea culpa -, do final da recita e dos bastidores.


(Aplausos - Final da recita)


(Aplausos - Final da recita)


(Bastidores - Thomas Hampson)


(Bastidores - Karita Mattila)


(Bastidores - Karita Mattila)

de Bastille à Chatelet...

Après le détour à Bastille, hier soir, au sujet de De la maison des morts - quelle belle mise en scène et quelle fabuleuse musique, si bien jouée et si soigneusement interprétée -, je me prépare pour l`événement lyrique de la saison parisienne: L`Arabella de ce soir, avec, dans les rôles-titres, Mattila, Hampson, Bonney et l`autrefois grandiose Rosalind Plowright !
Malheureusement, je viens d'apprendre que la direction musicale ne sera pas assurée par von Dohnányi, souffrant, qui sera remplacé par Neuhold.
On verra comment les choses roulent...

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Lugares-comuns e trivialidades...

Duas imagens da Opéra National de Paris...


(Palais Garnier, cette après-midi)


(Bastille, cette après-midi)

Et une petite provocation...

Ça sera ma soirée du vendredi prochain ! Il restaient quelques places pour la representation de De la maison des morts, de Janacek...

terça-feira, 24 de maio de 2005

Arabella, Mattila, Hampson, Bonney e ...Paris, enfim !

Parto amanhã, ao final da tarde, rumo à minha segunda pátria.
O móbil (oficial) da viagem é a Arabella que a soberba Mattila vai reinterpretar, no Châtelet. Tenciono, ainda, passar pela Bastille, para assistir a uma récita de De la maison des morts, de Janacek.

Na minha mala de viagem, com vista a uma cuidada audição, vão: Debussy - Integral para piano, vol. I, por Thibaudet -, Stravinsky - Pétrouchka & Le sacre du printemps, por Boulez -, Verdi - Falstaff, por Toscanini -, Scarlatti - Sonatas, vol I e II, por Hantaï - e um mágnífico registo de lieder de Strauss, Berg e Korngold, pela inigualável Von Otter, a quem Jorge Calado teceu intermináveis e legítimos elogios, n´O Expresso !



(Lisa della Casa, como Arabella)

Na alma, levo duas maravilhosas interpretações de Arabella: a de Solti - com Della Casa, no papel titular - e a de Böhm - com Maria Reining, na pele de jovem Arabella, Della Casa, ainda, na pele de Zdenka e... nem de propósito... Hotter, como Mandryka!
Opte-se pela primeira, na dúvida... sobretudo pela Belíssima Arabella que a grande Lisa Della Casa interpretou, tanto em cena, como no estúdio !


(Della Casa, Arabelissima, como se tornou conhecida, entre os straussianos)

domingo, 22 de maio de 2005

Da perfeição...

Hans Hotter e Birgit Nilsson são dois dos mais destacados vultos da interpretação wagneriana.
Foi com eles que me iniciei na ópera wagneriana, graças à tetralogia dirigida por Solti que, em meu entender, constitui um dos mais verosímeis milagres da discografia.

Na referida interpretação do Ring, Hotter encarna Wotan, representante supremo da humanidade divina, figura de síntese entre o profano-terreno e o celeste-transcendente.
Muitos são os Wotans da história da discografia; de cor, cito Fischer-Dieskau, Adam e Frantz.
Nenhum confere ao Senhor do Walhalla a densidade, a humanidade e a robustez de Hans Hotter. Jamais ouvi um Leb Wohl tão extenso na sua humana dor e tão profundo ! Transcendente, divino...

Se alguma vez na vida me cruzasse com este Monstro, vergar-me-ia, eternamente.
Tive uma imensa dor quando soube que, aos 94 anos, partiu para sempre. Consolei-me quando me apercebi que o lugar dele, efectivamente, não era entre nós: o Walhalla, por decreto divino, pertence-lhe.

Na mencionada interpretação de Solti, La Nilsson compõe uma Brünnhilde de antologia. A robustez da sua emissão, o seu fraseado estão repletos de uma soberba sem paralelo ! O seu orgulho é imenso ! Incomensurável...

O motivo deste post prende-se com uma propedêutica à monumental tetralogia que Solti dirigiu, entre 1959 (Das Rheingold) e 1966 (Die Walküre).
Quando, nesta interpretação, encarnaram as personagens de Wotan e Brünnhilde, Hotter e Nilsson já as haviam amadurecido, cada uma em toda a sua extensão ! À data da gravação d´A Valquíria, Hotter contava com 57 anos e Nilsson com 48. A maturidade das respectivas caracterizações e a plenitude das suas expressões contrastava com sinais de fadiga e de declínio vocais, particularmente mais proeminentes no caso de Hotter.



TESTAMENT SBT 1201

Esta obra maior, que data de 1958, para mim, é superlativa, sendo absolutamente indispensável em qualquer colecção de ópera, particularmente no caso da interpretação do mestre de Bayreuth.

No caso desta gravação, Nilsson encarna alguns dos seus cavalos-de-batalha, no que a Wagner concerne, destacando-se a sua Senta, pela insanidade, e a sua Brünnhilde, pela ousadia.

Hotter - à semelhança de Birgit Nilsson - assume, no caso específico desta gravação, duas das mais míticas das suas interpretações: o Holandes e o já referido Wotan.

No essencial, esta colectânea de árias e duetos - se me são permitidos os termos... - prima pela grandiosidade, pela inigualável carga dramática, que se expressa em momentos de verdadeira ternura e volúpia !
Destacaria, sobretudo, as passagens Wie aus der Ferne, d´O Navio Fantasma, e War es so schmählich, bem como o Adeus de Wotan, ambas d´A Valquíria. Qualquer uma destas passagens roça o sublime, que se projecta num canto exaltante, assente em leituras interpretativas de uma profundidade inigualável !

(embora seja avesso a este tipo de tiradas, não resisto... sei que na Fnac do Chiado, este cd se encontra a uma preço particularmente interessante: Euro 13.95, se não me engano...)

Levantar a ponta do véu...

Se vos disserem que a Callas nunca gravou um integral de Wagner, não acreditem !

Não ?! Schwarzkopf - no que a Mozart concerne -, além de Donna Elvira, Fiordiligi e da Condessa, também foi Cherubino, Susanna, Zerlina, Donna Anna Ilia, Pamina e - pasme-se - Konstanze !

sábado, 21 de maio de 2005

DG propõe mais ópera barroca, menos main-stream !

A yellow-label - via Archiv - acaba de acrescentar ao seu catálogo duas óperas barrocas, que nunca havia gravado !

Alan Curtis dirige uma RODELINDA, de Handel, com a magnífica Marijana Mijancovíc (que, na indispensável recente gravação de Giulio Cesare, sob a direcção de Minkowwski, interpretou o papel titular).



Noutro quadrante, McCreesh propõe-na a raramente gravada Paride ed Elena, de Glück, com Kozena, entre outros pontos de atracção !


A escutar... para opinar !

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Satie, que pour des debutants...



(DECCA 470 290-2)

Ce n´est que depuis quelques jours que j´ai fait connaissance de ce compositeur - issu de ma deuxième patrie -, que j´ignorais absolument, je l´avoue...

Chez Satie, d´après moi - qui n´en sais pas beaucoup... - ce qui frappe, d´abord, c´est le climat d´intimisme, d´interminable légèreté, qui nous mènent vers la plus douce et tendre mélancolie !

Jean Yves Thibaudet - pianiste admirable, aussi bien chez Debussy (obrigado pelo conselho, Teresa !), que chez les romantiques -, sur ce disque, nous propose une lecture à la fois délicate et sincèrement fragile, bien dans l´esprit des oeuvres de E. Satie.

Particulièrement touchantes sont les interprétations proposées de Gymnopédie No. 1 e bien aussi des Gnossiennes, que nul n´aurait de mal à reconnaître .

À écouter !

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Vivaldi: Stabat Mater

Stabat Mater dolorosa
juxta crucem lacrimosa
dum pendebat Filius
...

Desta obra divina, reveladora da dor suprema, proponho duas interessantes leituras, ambas interpretadas por dois dos grandes contra-tenores da actualidade: Daniels e Scholl (enquanto Jaroussky não se lança na aventura transcendente desta obra maior...)

A leitura de David Daniels - americaníssimo, exímio Handeliano e prodigioso mozartiano - prima pelo virtuosismo, pela cuidada declamação, bem articulada, clara e aberta.
A interpretação é desigual, ora mais, ora menos envolvente, tendo como ponto alto Quis est home, que arrebata de comoção.

(VERITAS 7243 545474 2 3)

A. Scholl oferece uma interpretação mais pueril, mais diáfana, mas menos tocante.
O timbre é ímpar, pela candura e pela frescura.


(HMC 901571)

Não faço escolhas...

Janacek: des morts-vivants à Bastille...

...quoi qu´axée, surtout, sur la mise en scène, en voici la critique !



terça-feira, 17 de maio de 2005

Quoi de neuf au Monde

Au monde, il y a toujours de bonnes et de mauvaises nouvelles.

Autrement dit, face à la décadente persistance de Pavorotti qui, à chaque fois, ajourne son départ à la retraite, Vienne accueille le génial metteur en scène Luc Bondy, dont la dernière production de Salome, de Strauss, à Salzburg (ultérieurement reprise à Londres, au ROH) demeure un inoubliable exemple de son génial talent !

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Arabella

Recebi esta interessante proposta, que declinei, por já ter bilhetes.
En tout cas, la voici:


je souhaite revendre 2 très bonnes places pour Arabella de Richard Strauss, le 25 mai 2005 au Châtelet à Paris. Amateur? jpdebefve@hotmail.com

La crise du disque, éternellement

Le dernier éditorial du magazine DIAPASON - signé par Jean-Marie PIEL, son rédacteur en chef - relance la question (toujours pertinente, car sans issue apparente) de la crise du marché du disque. A un moment donné, l´auteur en propose une solution : « Baisser le prix du disque est une bonne réponse à la crise et, accessoirement, à l´essor de la copie privée. Encore faut-il que cette baisse soit significative.».

Bien que la mise en place de cette politique ne soit pas évidente, le label NAXOS en est un remarquable exemple de succès ! Effectivement, les chiffres de cet éditeur ne cessent jamais d´augmenter, malgré le climat de crise dans lequel nous sommes plongés, depuis des années ! Il faudra souligner que, chez NAXOS, le choix, soit des interprètes, soit des compositeurs, n´est pas soumis a un esprit strictement commercial, comme c´est le cas d´autres labels, bien plus réputés en matière de qualité.

De ma part, cet exemple devrait faire l´objet d´une profonde réflexion !

Parabéns !

A GRANDE Senhora que hoje aqui me traz é de um ecletismo notável !

Nos anos 60, destacou-se como interprete de papeis bel-cantistas (Elvira e Maria); seguiram-se Susana, Nanetta e Mimi. Aliás, a interpretação desta personagem pucciniana valeu-lhe um lugar na história e inúmeras presenças discográficas...

Uma década mais tarde, pela mão de Von Karajan, abordou o repertório verdiano mais maduro - Aïda e Desdemona - enquanto, incitada pelo mesmo maestro, deslumbrava o mundo como intérprete inolvidável de Micaëla.

Há cerca de quinze anos, apenas em estúdio, foi Floria Tosca e Cio-Cio San, por duas vezes !

A circunstância de ter casado, em segundas núpcias, com um tremendo interprete búlgaro, particularmente apreciado no repertório russo, poderá ter estado na origem do seu interesse mais recente por este mesmo território interpretativo.

A maior companhia de ópera do mundo, por ocasião do seu 70º aniversário, preparou-lhe uma merecida homenagem... a kind of farewell concert !

Pelo caminho, ficaram alguns percalços, como a famigerada La Traviata, que os milaneses patearam sem piedade ! Nem tudo foram rosas...

Não sendo um seu admirador confesso, nutro por esta interprete um particular interesse, sobretudo pela inteligência da sua carreira, bem patente na sua longevidade vocal !
Um fenómeno, apenas comparável às igualmente longas e gloriosas carreiras de Magda Olivero e Leonie Rysanek.

De quem estarei a falar ?

sábado, 14 de maio de 2005

Preludio e Nascimento de (uma) Isolda

Da Escandinávia - comme par hasard... - têm emergido Isoldas lendárias !
Depois de Varnay, Nilsson (conterrâneas de Nina) e de Flagstad, é agora a vez de Stemme brilhar.
Glyndebourne já se rendeu, Bayreuth aguarda-a...

A seguir...



Nina Stemme, voz sólida, profunda, ampla e robusta, será a próxima inquilina do Walhalla...
O tempo nos dirá se estou ou não certo...



A sua Isolda, pelo que consta, entrará para a história !

Por aqui me fico, ansiosamente, aguardando a saída da derradeira gravação em estúdio de Tristan und Isolde (EMI), onde Stemme interpreta a mais complexa das heroínas wagnerianas.

1bsk

Agradeço e retribuo a lisonjeira referência que A.A. faz a este espaço, no seu 1bsk.
A.A., entre outras façanhas, conseguiu a proeza única no mundo de comigo ter assistido a duas magníficas interpretações dos
Vier Letzte Lieder ! É obra !

sexta-feira, 13 de maio de 2005

Don Giovanni I - Epítetos

Signori miei, il catalogo è questo,
Dei CD che amò il padron mio,
Un catalogo egli è che ho fattío,
Osservate, leggete con me.

(os epítetos valem o que valem...)


O Histórico...




O Sério...





O Perfeito...




O Equilibrado...



O Indispensável...




O heterodoxo...




O Impostor...



O Rigoroso...





O Ousado...



O Alternativo...





O Imperfeito...




O Bargain...

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Que Norma ?

A definição do belcanto - escola a que pertenciam ilustres compositores do início do século XIX, onde se destacaram Bellini, Rossini e Donizetti -, como movimento romântico que privilegia a ornamentação vocal e o virtuosismo, em detrimento da interpretação dramática, pode pecar por um manifesto e redutor simplismo !

Porque razão as grandes interpretes dos papeis belcantistas não são sopranos ligeiros ?
Na sua grande maioria, as interpretes mais destacadas deste repertório pertencem à categoria de lírico spinto, i.e., suficientemente líricas e ágeis quanto baste.

Hilde Güden, Roberta Peters, Erna Berger, Mady Mesplé, destacadas e notáveis sopranos ligeiros do passado, Rainhas-da-noite inesquecíveis, Zerbinettas ilustres, entre outras personagens do repertório erradamente dito coloratura, com raras excepções, fizeram poucas incursões no território belcantista.
Tanto quanto me recordo, apenas Mesplé encarnou a Lucia, de Donizetti, sem grande sucesso...

Esta tarde, enquanto trabalhava, escutei uma obra paradigmática deste movimento musical: Norma, de Bellini.
A interprete - La Divina - fez-me pensar na redutora definição que acima enunciei.
Pensei nos requisitos que o papel titular da ópera exige: agilidade (vulgo "agudo fácil"), firmeza, convicção dramática, densidade interpretativa e, last but not least, robustez física. Rien que ça !
Estes atributos fizeram-me pensar numa polémica categoria de sopranos, que goza da designação de soprano completo.
Na minha ignorância, esta categoria parece ter sido talhada à imagem e semelhança d´a Callas que, como é sabido, juntamente com Sutherland e Sills, (re)trouxeram para a ribalta o repertório Belcantista...

Na minha discografia, há várias interpretações desta célebre ópera de Bellini: 5 com a soprano greco-americana (Gui´52 - EMI 7243 5 562668 2 7 -, Serafin´53 - 7243 5 56271 2 4 -, Votto´55 - Gala GL 100.511 -, Serafin´55 - Hommage 7001830 e Serafin´61 - EMI 7243 5 66428 2 9), uma com Sutherland (Bonynge´65 - DECCA 467 054-2), uma com Scotto (Levine - Sony) e uma com Caballé (RCA).

Embora todas elas tenham inquestionáveis atributos, destacaria duas.
A gravação da editora Gala, com Maria Callas, captada em 1955, ao vivo em Milão, evidencia uma protagonista invejável pela plenitude de meios exibidos.
Vocalmente Imperfeita, como sempre, não obstante, a identificação com a heroína é absoluta. Nunca ouvi uma Norma deste calibre...
Nesta tremenda interpretação, nenhuma nuance do papel é descurada. Aqui, como jamais ouvi, temos uma Norma implacável, generosa, dócil, corroída pelo ciúme, mortífera, ferida no seu imenso orgulho, ousada, autoritária, soberana...



Noutro quadrante, numa linha mais cuidada, no que à técnica diz respeito, mas infinitamente mais superficial no que se refere à assimilação do papel, temos Sutherland, exemplo sumo da perfeição vocal.



Não se impõe escolha alguma...
Uma questão a debater, quiçá...

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Stockhausen em Milão...



... na catedral, prepara a criação de uma nova obra Primeira Hora, desta feita !
Mais detalhes aqui.
Ainda neste âmbito... entrevista com Don Luigi Garbini, director do Laboratório de música contemporânea ao serviço da Liturgia (LmcsL).

domingo, 8 de maio de 2005

Live in Italy...



(DECCA 289 455 981-2)

Comprei este monumental disco há anos, em NY... Receio bem que, um dia deste, o dito disco cesse de tocar, por excesso de leitura !

A propósito do repto que César Viana - do agradável e inteligente bajja - lança, ao divulgar a sua lista de cd´s a levar para uma ilha, ocorreu-me referir este imperdível registo.

Apesar de ser muito chic menosprezar as divas - Gheorghiu, Fleming e a própria Callas, mesmo nos seus tempos de glória (mid-50), etc. -, ignorar o talento da Bartoli é quase grotesco !

Este recital, gravado ao vivo, em Vicenza, em 1998, destaca-se pela ousadia do repertório - barroco, clássico, romântico - e pelo inigualável virtuosimo !
Se é verdade que, no território interpretativo, a Bartoli dá cartas, sobretudo, no domínio buffo, falar dela, apenas, como uma Rosina, Angelina ou demais heroínas belcantistas rossinianas é, acima de tudo, muito limitativo !

Live in Italy é de uma ousadia heróica, sem precedentes... e sem rede, pois não foi alvo de intervenções técnicas que o aperfeiçoassem !

Destaque para a única ária de Vivaldi que o disco contém, de seu nome Agitata da due venti... se conseguirem respirar...
Quando penso no Belo e no Perfeito, ocorre-me sempre esta interpretação de Vivaldi !

Julia, a olvidada...

Julia Varady é um soprano completo !
Se tivesse de classificá-la, em termos vocais, teria grande dificuldade em situá-la num registo mais específico, dentro do universo soprano.



Hábil na ornamentação vocal - vulgo coloratura - (Abigaille - Nabucco, de Verdi), majestosa no território dramático (Brünnhildes - Göterdämmerung, de Wagner), dócil no registo lírico puro (Arabella, Ariadne ou Condessa - Capriccio, óperas Straussianas de repertório) e exímia no universo spinto (Lady Macbeth - Macbeth -, Amelia - Un Ballo in Maschera - ou Leonora - Il Trovatore, de Verdi), La Varady, apesar de consagrada no teatros líricos, sobretudo da Alemanha (BSO), estranhamente, só muito tarde conquistou (um mais do que merecido) espaço no mercado da edição discográfica !



Romena, por nascimento, e alemã por casamento - é mulher do mais ilustre barítono alemão vivo, Fischer-Dieskau -, esta versátil e talentosa interprete encarna personagens do mundo lírico desde a década de 60, tendo-se estreado na sua terra natal.



Nos anos 70 conquistou o público alemão, iniciando uma estreita colaboração com a Ópera do Estado da Baviera (BSO), provavelmente o seu teatro de referência.

Apesar de não serem raras as interpretações que contam com a sua preciosa colaboração - cito, de cor, O Morcego, de J. Strauss, sob a direcção de Kleiber (DG), La Clemenza di Tto, dirigida por Gardiner (Archiv), A Mulher sem Sombra, de R. Strauss, com direcção de Solti, entre outras -, tanto quanto sei, apenas a editora ORFEO lhe ofereceu a possibilidade de gravar recitais líricos a solo !
Mais estranha, ainda, é a circunstância de a maioria das suas gravações datarem da década de 90, depois da cantora ter celebrado cinquenta primaveras...



Neste post, optei por divulgar a quase totalidade dos registos que gravou para a citada ORFEO, tendo apenas excluído um disco de árias de Puccini, não pela qualidade da interpretação, mas pela minha falta de afinidade com o compositor...

Além de perpetuarem uma voz única, generosa, límpida, segura e aristocrática, cujo timbre se impõe pelo aveludado, estes registos constituem verdadeiras lições de interpretação e de técnica.
Além da Salomé e da Tatiana, são poucas as passagens onde se vislumbra alguma fadiga ou declínio...

Apesar de não dispensar nenhum destes discos, se tivesse de eleger um, não hesitaria em escolher o que é consagrado a Wagner, particularmente pela cena da Imolação de
Brünnhildes, que se impõe pela nobreza da declamação, pela firmeza e pelo porte...




quinta-feira, 5 de maio de 2005

A mulher de verde


A mulher de verde
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A felicidade II ou Cenas da conjugalidade I
Vinte anos foram precisos para o meu primeiro José de Guimarães...






quarta-feira, 4 de maio de 2005

Stéphane Lissner alla Scala di Milano

Depois de anos à frente do Théâtre du Châtelet (Théâtre de la Ville), em Paris, e após a direcção do Festival d´Aix-en-provence, o francês Stéphane Lissner torna-se no primeiro estrangeiro a dirigir o Teatro alla Scala, mítica sala de Milão, porventura a mais prestigiada de Itália.

Nesta primeira entrevista, após a nomeação para os cargos de presidente e director artístico da opera de Milão, Lissener esboça, de forma ténue, os seus projectos: mais música contemporânea e novas produções.

Se é verdade que a escolha desta personalidade dá conta do mérito do seu percurso profissional, as primeiras declarações do novo Signor do alla Scala revelam grande contenção nos propósitos... Menos palavras e mais actos ? Ver-se-á !

Fado, evolução e heterodoxia

Este interessante artigo do Le Monde, apesar das imprecisões, faz-nos pensar na heterodoxia do canto nacional...

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Debussy: Préludes, I & II

Num fim-de-semana marcado pelo trabalho em torno de (mais) uma interminável tradução, deleitei-me com o novo sistema operativo da MAC, de seu nome TIGER, que acabou de sair e promete !

Deleitei-me, ainda, com este marco da interpretação de Debussy, que desconhecia, e que parece constituir uma leitura etérea dos Préludes, peças absolutamente metafísicas !



Dadas as limitações orçamentais, fui obrigado a preterir as leitura de Zimerman e de Benedetti Michelangeli... Melhores dias virão !