(DG 477 9878)
Este Don conta com pérolas que o transformam num putativo
eterno sobrevivente, num universo discográfico prolixo.
Doravante, em matéria de pós-4D, este registo será um dos
(escassos) incontornáveis.
Além da magnífica interpretação de Haitink – que tem
em Allen (Don) e Vaness (Donna Anna) duas coroas de glória – e do Don Giovanni
proposto por Muti – haverá Donna Anna comparável à de Cheryl Studer?! E servo
da magnitude de Ramey?! -, a leitura de Nézet-Séguin afirma-se como digna
alternativa aos clássicos diamantes – Giulini (1959), Krips, Mitropoulos,
Furtwängler (dvd) e Muti (dvd).
D’Arcangelo é O Don da sua geração. Subiu as escadas todas
do edifício mozarteano, começando por Masetto, passando por Leporello
(Gardiner)... O seu protagonista é um Dissoluto Punito pleno: imoral, narcísico,
sedutor e... gracioso! Declama com uma teatralidade e ousadia invulgares.
Ladeia-o o superlativo Leporello de Pisaroni: tacanho, mordaz e sarcástico. A
parelha que ambos formam é – porventura – a mais feliz da discografia: unidos e
sintonizados na vileza, expressam-na, ora de forma prosaica (Leporello), ora
com panache (Don Giovanni).
O Don Ottavio de Villazón – pós fase hipomaníaca, que lhe
corroeu a carreira – será outro dos pilares desta leitura. A contenção e
disciplina encontram-se envoltas num extraordinário lirismo, absolutamente
comovedor – Il mio tesoro... Recordou-me o Ottavio de Simoneau, que maravilhou
os mozarteanos dos 1950’s.
A grande decepção desta interpretação será a Donna Anna de
Damrau, desconfortável na tessitura, com uma estridência permanente, a par de um alemão parasitário.
Didonato cumpre, como Donna Elvira, não alcançando a glória
dos colegas mencionados.
O restante elenco prima pela homogeneidade e aprumo, não se
destacando particularmente de intérpretes das interpretações pretéritas.
Por último, refira-se a magistral condução de Nézet-Séguin,
nervosa, mas certeira, com tempi uniformes e precisos. Séguin propõe-nos um Don Giovanni
grandioso, disciplinadíssimo e rigoroso, absolutamente lírico e teatral,
camarístico até ao âmago!
Um valor seguríssimo!
* * * * *
(5/5*)