Duas grandes cantoras, sem dúvida, mas com pouco repertório comum. Penso que a Netrebko, cuja voz está cada vez mais bonita e a "spintar-se", podia pensar numa Sieglinde ou numa Senta. Por que não? Recomendo a Siglinde da cantora holandesa numa gravação um pouco esquecida da Valquíria, que conta também com a Nilsson no pico da sua carreira.
Caro Raul, Netrebko no Holandês? Discordo absolutamente. Se a voz está a ficar dramática, a meu ver, é no sentido do bel canto, e não desse outro género dramático. Mesmo gostando muito da Netrebko, continuo a achar que, para ela, La Bohème vai aquém do seu repertório de excelência. Cumprimentos.
Há algum Verdi que eu acho que a Netrebko podia perfeitamente cantar como a Amélia Grimaldi, a Desdemona, a Luisa Miller ou talvez até a Elisabete do D. Carlos. A Freni cantava os Puritanos, a Susana e o Elixir do Amor, quando começou a explorar esses papéis e não se saiu nada mal.
interrogo-me sobre um eventual grau de afinidade do soprano russo com o reportório germânico, designadamente, o wagneriano. Inversamente, estou em crer que, a breve trecho, poderemos assistir à assunção de papéis tais como os mencionados pelo João Ildefonso, ao conjunto dos quais me permito acrescentar a Leonora do Trovador, tendo por base a visualização da sua leitura da ária do acto quarto. O apuro técnico, bem como o sentido e inteligência dramáticas patenteados por Netrebko vêm-se consolidando de modo assinalável.
Tenho de concordar com o Hugo e com o Ildefonso. Nao me parece nada que netrebko sinta qualquer tipo de afinidade pelo reportorio germanico. Mais depressa a vejo no Trovador, sem duvida alguma ou no Otello.
Caro Hugo, Não estou a converter a Netrebko no repertório germânico, mas nalguns papéis que gostaria de ouvir cantos por uma voz de timbre muito bonito, líquido e muito limpo, uma voz que pode caminhar para uma Tebaldi do seu início. A Sieglinde foi tão bem cantada por Gundula Janowitz e a Senta que me veio à cabeça foi a de Elisabeth Retheberg. O caminho que me parece mais interessante para a cantora russa será mais o da Freni nos anos oitenta e não o bel-canto nem a Leonora do Trovador. Pode ser que eu me engane.
na minha modesta óptica, Mirella Freni é uma intérprete dotada de enorme inteligência, factor que lhe permitiu, constituindo-se basicamente um soprano lírico, abordar papéis associados a tipologias vocais diversas como a Aida, a Elvira do Ernani, a Elisabetta do Don Carlo, a Tatiana do Eugene Onegin, a Lisa da Dama da Espadas ou a Adriana Lecouvreur (tomando a década de 80 como elemento de referência). Por outro lado, creio que o instrumento de Netrebko se vem abeirando de latitudes consonantes com o reportório lírico-spinto.
No que se reporta à identificação do soprano russo com o reportório wagneriano, a questão por mim levantada, ainda que perpassada por aspectos de ordem vocal, será, sobretudo, de natureza estilística. Recorde-se, a este propósito, que, em Itália na década de 70, produções wagnerianas no idioma de Dante apresentavam Katia Ricciarelli na Elsa do Lohengrin ou mesmo Virginia Zeani como Senta.
Em termos comparativos, Freni reteve sempre um manifesto lirismo ao longo da sua longeva carreira, enquanto Netrebko evidencia um timbre básico tingido a tons mais sombrios cuja maturação poderá habilitá-la a toda uma galeria de personagens que o supracitado reportório alberga. Neste momento, creio que a competência demonstrada na execução das “fioriture”, aliada a uma suficiente plasticidade e volume vocal generoso legitimam Netrebko no afrontamento de papéis bel-cantistas de cariz mais dramático, designadamente, as remanescentes rainhas de Donizetti.
Duas grandes cantoras, sem dúvida, mas com pouco repertório comum. Penso que a Netrebko, cuja voz está cada vez mais bonita e a "spintar-se", podia pensar numa Sieglinde ou numa Senta. Por que não? Recomendo a Siglinde da cantora holandesa numa gravação um pouco esquecida da Valquíria, que conta também com a Nilsson no pico da sua carreira.
ResponderEliminarCaro Raul,
ResponderEliminarNetrebko no Holandês? Discordo absolutamente. Se a voz está a ficar dramática, a meu ver, é no sentido do bel canto, e não desse outro género dramático. Mesmo gostando muito da Netrebko, continuo a achar que, para ela, La Bohème vai aquém do seu repertório de excelência.
Cumprimentos.
Caro Plácido
ResponderEliminarHá algum Verdi que eu acho que a Netrebko podia perfeitamente cantar como a Amélia Grimaldi, a Desdemona, a Luisa Miller ou talvez até a Elisabete do D. Carlos. A Freni cantava os Puritanos, a Susana e o Elixir do Amor, quando começou a explorar esses papéis e não se saiu nada mal.
Caro Raul,
ResponderEliminarinterrogo-me sobre um eventual grau de afinidade do soprano russo com o reportório germânico, designadamente, o wagneriano. Inversamente, estou em crer que, a breve trecho, poderemos assistir à assunção de papéis tais como os mencionados pelo João Ildefonso, ao conjunto dos quais me permito acrescentar a Leonora do Trovador, tendo por base a visualização da sua leitura da ária do acto quarto. O apuro técnico, bem como o sentido e inteligência dramáticas patenteados por Netrebko vêm-se consolidando de modo assinalável.
Tenho de concordar com o Hugo e com o Ildefonso. Nao me parece nada que netrebko sinta qualquer tipo de afinidade pelo reportorio germanico.
ResponderEliminarMais depressa a vejo no Trovador, sem duvida alguma ou no Otello.
Caro Hugo,
ResponderEliminarNão estou a converter a Netrebko no repertório germânico, mas nalguns papéis que gostaria de ouvir cantos por uma voz de timbre muito bonito, líquido e muito limpo, uma voz que pode caminhar para uma Tebaldi do seu início. A Sieglinde foi tão bem cantada por Gundula Janowitz e a Senta que me veio à cabeça foi a de Elisabeth Retheberg. O caminho que me parece mais interessante para a cantora russa será mais o da Freni nos anos oitenta e não o bel-canto nem a Leonora do Trovador. Pode ser que eu me engane.
Eu só sei, que este cd da Netrebko me desiludiu um pouco. Só a achei verdadeiramente notável na Guerra e Paz e no Romeu e Julieta.
ResponderEliminarCaro Raul,
ResponderEliminarna minha modesta óptica, Mirella Freni é uma intérprete dotada de enorme inteligência, factor que lhe permitiu, constituindo-se basicamente um soprano lírico, abordar papéis associados a tipologias vocais diversas como a Aida, a Elvira do Ernani, a Elisabetta do Don Carlo, a Tatiana do Eugene Onegin, a Lisa da Dama da Espadas ou a Adriana Lecouvreur (tomando a década de 80 como elemento de referência). Por outro lado, creio que o instrumento de Netrebko se vem abeirando de latitudes consonantes com o reportório lírico-spinto.
No que se reporta à identificação do soprano russo com o reportório wagneriano, a questão por mim levantada, ainda que perpassada por aspectos de ordem vocal, será, sobretudo, de natureza estilística. Recorde-se, a este propósito, que, em Itália na década de 70, produções wagnerianas no idioma de Dante apresentavam Katia Ricciarelli na Elsa do Lohengrin ou mesmo Virginia Zeani como Senta.
Em termos comparativos, Freni reteve sempre um manifesto lirismo ao longo da sua longeva carreira, enquanto Netrebko evidencia um timbre básico tingido a tons mais sombrios cuja maturação poderá habilitá-la a toda uma galeria de personagens que o supracitado reportório alberga. Neste momento, creio que a competência demonstrada na execução das “fioriture”, aliada a uma suficiente plasticidade e volume vocal generoso legitimam Netrebko no afrontamento de papéis bel-cantistas de cariz mais dramático, designadamente, as remanescentes rainhas de Donizetti.