(Nicolae Ceausescu)
A Autobiografia de Nicolae Ceausescu é um notável documentário de Andrei Ujica, integralmente concebido com imagens da propaganda romena.
O filme retrata a ascensão e queda do regime liderado por Nicolae Ceauscescu (1918-1989). Tendo início com a morte de Gheorghiu-Dij e transmissão do poder ao seu sucessor “dinástico”, culmina com o julgamento sumário de Nicolae e sua mulher, Elena.
Recordo a morte do deplorável ditador e respectiva concubina, numa manhã de final de Dezembro de 1989, era eu um jovem adulto. Por ocasião do filme, temi que as impressionantes imagens do fuzilamento do casal fossem exibidas. Na época, correram mundo e chocaram-me profundamente.
Percebi que o gesto grotesco – a exibição dos troféus de caça – correspondia a uma prova fálica do triunfo, porventura reclamada por um povo oprimido e desejoso de vingança.
Inteligentemente, Ujica não embarca neste dificilmente resistível cliché!
Sempre nutri interesse pela personalidade de Nicolae Ceausescu. O seu despostismo (quase) ilimitado intrigava-me sobremaneira. Por esta razão, num movimento impulsivo, acorri à sala do Monumental, assim que soube da estreia do filme, hoje mesmo.
Evidentemente, a figura do ditator é omnipresente. O retrato que se observa é de um homem absolutamente fundido com o poder, reclamando em permanência gratificações narcísicas – a aclamação por parte do objecto (povo, colegas de ofício, nomenclatura, etc.), diante da sua suprema glória edificante (assaz megalómana), é transversal a toda a obra.
A personagem que as imagens reais revelam enferma de um narcisismo patético e caricatural, que a todo o instante exige do outro um reconhecimento das suas excelsas capacidades.
De permeio, deparamos com uma criatura profundamente desinteressante, roçando a rudeza. Embora frugal em público, no racato, a película revela um sábio culto aburguesado do ócio e demais prazeres capitalistas, sempre na companhia de Elena e restante séquito.
Imperdível!
FanáticoUm,
ResponderEliminarNão perca ;-)
(o seu comentário foi apagado por lapso do blogger ;-) )
A mim também me intriga a personalidade deste homem. Mas mais me intriga como foi possível, num mundo que se dizia comunista.
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