sábado, 17 de julho de 2010

Habemus Sachs!!!

(Die Meistersinger von Nürnberg - Welsh National Opera)


Interpretar Hans Sachs, o Sábio (Die Meistersinger von Nürnberg), requer maturidade e humanismo, indubitavelmente. Será uma das maiores aspirações – e legítimas! – de um grande barítono wagneriano.

A partir dos 40 anos, creio estarem reunidas as indispensáveis condições para uma recriação sólida, à altura da concepção do génio de Wagner.

Para os espíritos mais tacanhos, que se lambuzam identificando o criador com o nazismo e demais ideologias miseráveis, não será de mais enfatizar a grandiosidade da figura de Sachs – sublinho -, também originada na mente de Richard Wagner. É certo e sabido que Hans Sachs existiu, na realidade, mas Wagner baseou-se na figura, recriando uma outra, que se perpetuou!

Dito isto, além dos deuses pervertidos e irmãos incestuosos, Wagner foi, também, autor de figuras maiores e grandiosas.

Pergunto: haverá, no panorama lírico, meia-dúzia de figuras que ladeiem Hans Sachs?

Evidentemente, Terfel será o maior e mais eloquente Sachs da actualidade. Não lhe chegava ser o mais destacado Figaro, Don Giovanni, Wotan, Falstaff, Mefistófeles, Holandês...

Para os que – como eu – veneram o génio e imensidão de Bryn Terfel (um quarentão pleno), eis as críticas à sua estreia no papel protagonista de Os Mestres Cantores de Nuremberga:

«Bryn Terfel sang his first Sachs. It was no disappointment: the central monologues were superbly declaimed, and the man’s suppressed anger at the stupidity surrounding him was as powerfully drawn as his rueful wisdom.»

«Ultimately, though, the production is built around Bryn Terfel, taking on the role of Sachs for the first time, and providing its point of reference. He portrays the cobbler as a significantly younger man than the norm, giving much sharper piquancy to his relationship with Amanda Roocroft's credibly girlish Eva; Terfel's sound was less warm and velvety than we are used to, which suggests he is still coming to terms with the monumental part and that his Sachs has further psychological depths to explore and musical riches to exploit.»

Pacientemente, aguardemos pela ocasião de testemunhar Hans Terfel, live!


ps gentilemnte, o Valquirio enviou-me este excerto! Desde já, os meus agradecimentos ao P.

7 comentários:

  1. E agora a alegria é completa !
    Um Sachs à altura da maravilhosa ópera de Wagner. Nos ecos de Die Meistersinger podemos aperceber a importância dos educadores e da transmissão da cultura, da essência da alma e do saber do povo qual à figura dos " griots " na África !
    Para mim, um educador, " Meistersinger " tem comicidade, é ópera cômica, mas essencialmente seu final é uma ode à figura do professor, do educador. Sachs é um pedagogo de mão cheia, antevendo Wagner o que diria sobre a arte de ensinar Wallon e Vygotsky !
    Ave, Sachs ! Ave, Terfell !

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  2. Num dvd que possuo sobre a arte de Dietrich Fischer-Diskau, o grande intérprete de Sachs, afirma que Os Mestres Cantores são a melhor obra de Wagner. É um DFDiskau dixit, mas por causa de quem parte, é matéria de reflexão. Gosto bastante da ópera, mas demorou anos a ser digerida. Eu fui educado pela versão Karajan, ainda em LP, talvez a melhor que conheço, embora muitos dos cantores me tenham saído da memória. Anteriormente possuí um LP de excerptos com o Ferdinand Frantz, onde tomei contacto com o que provavelmente é mais belo nesta tão longa ópera. A versão cd que tenho é uma referência e possui o melhor Hans Sachs do seu tempo: o mesmo Ferdinand Frantz. A direcção do excepcional Rudolf Kempe e a presença de Elisabeth Grummer e Rudolf Schock, entre outros, fazem, como disse superlativizar esta versão da EMI.
    Eu vi a ópera uma vez no Coliseu em 1978 com um intérprete totalmente desconhecido para mim: Gunther Reich. Do elenco lembro-me que fazia parte Kurt Rydl, que vi posteriormente no Barão Ochs. Não guardo grandes memórias da interpretação, embora me lembre perfeitamente do célebre monólogo de Sachs no segundo acto.
    Quanto a Byrn Terfel, acho que o papel lhe assenta como uma luva dado o seu carácterr bonacheirão. Melhor do que o Wotam.
    Nesta encenação é muito interessante o relativizar as idades de Sachs e Eva, um dos tópicos da ópera e que se traduz pela grande verdade que é o facto de a idade passar, tal como o espelho e o corpo nos vai dizendo, mas, dentro, a pessoa é a mesma.

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  3. Adorei "Bryn Sachs" em Cardiff. Uma gota de água no deserto que é Cardiff, absolutamente pacóvia.

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  4. Caro Raul,

    lembro-me de uma série de comentários que trocamos neste espaço, há alguns meses, relativamente ao facto de, a partir de meados da década de 70, a apresentação de segundos elencos nas récitas do Coliseu se ter tornado mais frequente. Pelo que me recordo das minhas consultas, a produção dos Meistersinger a que o Raul faz menção contava, nas récitas de São Carlos, com Franz Ferdinand Nentwig em Hans Sachs, Kurt Rydl como Pogner, Gottfried Hornick no papel de Sixtus Beckmesser, Thomas Tipton como Kothner e Frieder Stricker na personagem David. O par romântico era composto por William Johns e Kay Griffel. A direcção orquestral, salvo erro, estava a cargo de Gustav Kuhn.

    Uma última referência ao barítono alemão Gunter Reich, cuja discografia inclui duas assunções do papel de Moisés na ópera Moses und Aaron de Schonberg, respectivamente, para Boulez (Sony) e Gielen (Philips).

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  5. Caro Hugo,
    Consultando os meus arquivos Os Mestres cantores que eu vi no Coliseu em 1978 foi cantado por:
    Gunther Reich, Key Griffel, William Johns, Gottfried Hosnik,
    Frioder Strieker, Kurt Rydl, Thomas Tipton, Aurelia Schenniger. Franz Ferdinand Nentwig vi-o no Gunther em 1976 no Crepúsculo dos Deuses no São Carlos ao lado Birgit Nilsson. Nem sei se a Nilsson foi ao Coliseu. Eu vi-a da quarta fila da plateia e foi uma das minhas experiências inesquecíveis em ópera.

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