sábado, 27 de março de 2010

Wolfgang Wagner (II), ossia o Gestor Cultural



Associar Wolfgang Wagner ao nazismo parece-me ser tão desprezível como identificar a sumptuosa obra wagneriana com o miserável discurso nazi. Como disse e mantenho, se os nazis apreciavam Wagner, tal facto apenas prova que a bestialidade acéfala que os governava era imperfeita, no mais nobre dos sentidos!

A 21 de Março, com 90 primaveras, falece Wolfgang Wagner. Com grande pena minha, acrescento e sublinho.

Wolfgang sempre foi ofuscado pelo génio do irmão Wieland, cujas sublimes encenações mantêm, hoje como ontem, toda a actualidade e deslumbramento. Onde Wieland era criativo, Wolfgang era astuto e pragmático. Com punho de aço ou sem ele, Wolfgang geriu o
Festival de Bayreuth sabiamente sendo, desde o prematuro falecimento do irmão, em 1966, o sumo farol do mesmo evento.

Provas da sua fantástica gestão? A dupla Boulez / Chéreau, que encenou o centenário d’
O Anel, em 1976, trabalhou e criou, apenas e só, por Wolgang Wagner. Toda a nata da mise-en-scène que pisou Bayreuth, desde meados da década de 1960, fê-lo conduzida pelo hábil e astuto braço de Wolfgang. And so on...

Aqui para nós, fiel e paciente leitor, se os abomináveis cancros que têm passado pelo nosso São Carlos tivessem um décimo do talento de WW, outro galo cantaria na sala lisboeta!

É certo que as encenações do Senhor W. Wagner rapidamente passaram à história. E então? Gobbi, que era um intérprete genial, como metteur-en-scène, nunca saiu do anonimato...

Com ou sem talento artístico, mais ou menos ligado ao nazismo, prepotente ou não, Wolfgang Wagner era uma referência na gestão cultural. Indubitavelmente.

Paz à sua Alma.

«Mr. Wagner was considered an able administrator if a rather stolid opera director. (In 2001, The New Criterion called him the “supremely less talented” of Siegfried Wagner’s two sons.) Over the decades, he was described variously as a savior and a dictator.















8 comentários:

  1. O documentário referido "the Wagner family" passou na Cinemateca no Outono passado inserido na programação do Congresso dedicado a Wagner pela Universidade Nova na versão filme mais extensa em estreia absoluta e é muito elucidativo quanto ao relacionamento da familia Wagner com a ideologia Nazi. Também esclarece a intricada história de rivalidades e traições familiares. Não é nada bonito de se ver.

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  2. Se existe tão pouca informação e documentação sobre as encenações de Wieland Wagner a razão é porque o irmão ao assumir a direcção do festival as destruiu. Essa é uma das informações que desconhecia e foi divulgada no documentário e confirmada pela Sila e pela filha presente na Cinemateca.

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  3. Pois quanto as suas ligações ao Nazismo, não sei e na verdade possivelmente não existiram. Já de outros membros da sua família talvez não se possa dizer o mesmo. Certo é que desse facto Wolfgang não é culpado tal como também não é claramente culpado do gosto que esses outros tinham pela obra de Wagner. Confesso que me é no entanto dificil distanciar dessa parte da história (ninguém é perfeito) mas do talento de Wolfgang não tenho a mínima dúvida quer do ponto de vista artístico quer sobretudo do ponto de vista de "gestor cultural". De resto o julgamento dos seus eventuais pecados cabe a outras entidades. Paz à sua alma.

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  4. Mr. LG, el Mister28 março, 2010 16:55

    J. Ildefonso,
    quanto ao seu primeiro Post, não sabia da existência desse Doc. que promete e que devia ser transmitido pela nossa TV pública.
    Quanto ao seu segundo, já sabia dessa triste realidade. Se não estou em erro, é referida no Livro de Nike Wagner (Filha de Wieland e a nova arqui-rival da actual Sra. gerente artística de Bayreuth: Katharina Wagner)"Les Wagner. Une histoire de famille" editado pela Gallimard.
    Ora aqui estão, minhas Senhoras e meus Senhores, 3 grandes Posts bem esclarecedores e dignos desse nome.
    Mandem sempre.
    See ya.
    LG

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  5. Mr. LG, el Mister28 março, 2010 17:25

    Essa destruição das encenações de Wieland também se alargou aos seus cenários, como é óbvio, e eram sempre os primeiros elementos a desaparecer.
    Quem também o afirma é a grande Birgit Nilsson na sua auto-biografia LA NILSSON editado pela Northeastern University Press - Boston, a propósito de ter-lhe ficado como herança da sua lendária Isolde para Wieland em Bayreuth de 62 a 70 a caixa das poções de Isolda, tendo sido este elemento o único, que se saiba, que sobreviveu e que hoje deve estar no espólio particular da família Nilsson ou herdeiros.
    ... a miraculosa caixa de Isolde pertencente à encenação de Wieland, foi-lhe dada pelo próprio Wolfgang Wagner, se não estou em erro e se a minha memória da leitura deste fascinante livro não me falha.
    LG

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  6. Estou-lhe muito grata pela homenagem póstuma ao Wolfgang Wagner.
    O seu nome foi/é Bayreuth!!!
    O seu nome vai ficar para sempre ligado ao melhor festival de ópera do mundo.

    Saudação de Düsseldorf!

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  7. Wolfgang Wagner deixará indubitáveis saudades. Tantas, como as de um boa récita de Wagner (Richard), condigna, em São Carlos.

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  8. O nome do realizador é Tony Palmer e creio que mais cedo ou mais tarde acabará por estar disponivel na internet.

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